Fanfic: A Dama e o Guerreiro - AyA | Tema: AyA (adaptada)

Sim, ele estava falando sério. Pelo canto dos olhos, viu que a embarcação pirata estava bem próxima agora e que o navio do capitão Abraham mais parecia um barril velho perto da nau de velas altas e casco reluzente que se aproximava deles com todas as velas içadas.

— Anahí!

Diante do chamado imperioso, ela se virou.

— Você é surda, menina? Os piratas estão quase nos alcançando e fica aí parada como se tivesse tempo para apreciar a paisagem! — empertigou-se Birdie, sua criada pessoal e também amiga e companheira de toda uma vida.

Birdie estava parada nos degraus que conduziam à cabine do capitão e parecia bastante preocupada.

Anahí arqueou as sobrancelhas, pois apesar da grande afeição que obviamente existia entre as duas, a outra jovem nunca antes havia lhe falado com tanto atrevimento e ousadia.

— Birdie, escute. Não creio que... — Mas não teve tempo de concluir a frase, pois, em vez de dar-lhe atenção e escutá-la como pedira, Birdie subiu os degraus que conduziam até o convés e, desviando-se dos marujos que a essa altura já se movimentavam desesperadamente, segurou-a pelas mãos e começou a puxá-la para a cabine do capitão.

Alta, magra e apenas três anos, mas velha que Anahí, Birdie sempre fora uma companheira fiel, dedicada e obediente, mas agora parecia fazer questão de demonstrar que não iria deixá-la matar-se sozinha.

— Escute, você! — Birdie falou, enlaçando-a pelo ombro e continuando a empurrá-la para longe do tumulto. — Eu também estava lá naquele dia. Sei que é corajosa. Vi quantos homens conseguiu defender e como lutou sozinha com um daqueles loucos seguidores de Wallace. Mas não é mais hora para isso. Pelo amor da Virgem Santíssima, milady, venha comigo! Será que já não chega de ver sangue e tanta desgraça?

A coragem e determinação de Anahí viram por terra diante do bom senso contido nas palavras de Birdie. Sim, odiava aquele derramamento de sangue desnecessário, detestava a ânsia voraz dos homens que viviam se matando por tão pouco. Mesmo três anos depois da batalha de Falkirk, ainda tinha pesadelos e rezava constantemente para que Deus desse paz às almas dos pobres infelizes que vira morrer em combate.

— Por favor, milady! — a criada insistiu, ao vê-la parar poucos metros antes de chegar às escadas que conduziam à cabine do capitão.

— Certo, iremos lá para baixo. — Anahí seguiu Birdie até a parte inferior do navio, onde ficavam os aposentos dos capitão.

O navio sacolejava muito mais do que o habitual e as ondas batiam com força contra as vigias. Mas Anahí não tinha medo do mar; o que a atemorizava mais do que tudo era a possibilidade de ficar trancada para sempre naquela pequena cabine. Desde o dia em que vira muitos dos homens de seu pai morrerem, trancafiados no celeiro que os escoceses haviam queimado, tinha verdadeiro pavor de lugares fechados.

Estava justamente pensando nisso quando o navio foi atingido por um forte solavanco e ela e a criada caíram no piso de madeira. Não precisou de muita perspicácia para perceber que a embarcação inimiga havia finalmente se acoplado à deles. Podia-se ouvir o burburinho lá em cima, marujos gritando, e o capitão ordenando a todos que pegassem suas armas e lutassem.

— Milady, a senhora está bem? — perguntou Birdie, obviamente apavorada.

Anahí limitou-se a menear a cabeça afirmativamente, então espiou pela vigia e pôde ver a luta feroz que se travava no convés. Ali, muitos homens já estavam feridos e outros pareciam não ter chance de vitória diante da destreza do inimigo. Mas, afinal, o que esperar? Aqueles marujos eram treinados para navegar, não para lutar contra saqueadores e mercenários.

Atordoadas, as duas mulheres tentaram se proteger em um dos cantos da cabine do capitão Abraham, mas logo o refúgio acabou se tomando mais um palco para a luta que se tratava por toda a embarcação.

Dois homens, um dos quais Anahí reconhecia como sendo o imediato do navio, e outro que por certo era um dos piratas, entraram lutando na cabine. Pelo que podia ver, o inimigo estava ganhando e não demoraria muito para que o imediato fosse totalmente subjugado.

Obedecendo a um impulso, Anahí pegou a pesada Bíblia que havia sobre a escrivaninha do capitão e, erguendo-a o mais alto possível, desferiu um golpe fortíssimo contra a cabeça do pirata.

Ao vê-lo cair sem sentidos no chão, Birdie se aproximou e pegou o livro sagrado.

— Ah, o Senhor está do nosso lado! — suspirou a criada.

— Será que está mesmo? — perguntou uma voz impregnada de sotaque francês.

As duas mulheres se voltaram a tempo de descobrir um homem alto e forte parado à porta da cabine do capitão.

— Ora, ora, mademoiselles. Lamento informar, mas creio que estão enganadas em sua crédula suposição. — Ele deu dois passos à frente e parou no centro da cabine.

— Permita-me me apresentar. Sou Thomas de Longueville e, neste exato momento, o Senhor está comigo e meus homens.