Fanfic: A Dama e o Guerreiro - AyA | Tema: AyA (adaptada)

As duas mulheres entraram em seguida. A loira aproximou-se de Anahí, rindo e fazendo uma exagerada reverência a sua frente.

— Sabão, milady? — ofereceu num tom jocoso.

— Um pano para se esfregar? — completou a outra, jogando-lhe um pedaço de tecido para que pudesse se levar de maneira apropriada.

Anahí ergueu o rosto e as fitou com um ódio crescente. Foi isso também que a fez conter as lágrimas de frustração e aproveitar o abraço cálido da água perfumada.

— Isto é para seus cabelos, senhora. — disse a loira, oferecendo-lhe um pequeno frasco amarronzado. — Sente-se direito e eu a ajudarei.

— Não ouse me tocar! — bradou Anahí.

A gigante loira olhou para a amiga menor e as duas começaram a rir.

— Veja só, Anne-Marie... A moça está com medo de mim!

Anne-Marie riu ainda mais alto e, aproximando-se de Anahí, segurou um caracol dos cabelos avermelhados entre os dedos.

— Ah, chérie! Não há razão para nos temer... Nem Hélène nem eu temos preferência por mulheres, não é mesmo, Hélène?

— Não, a não ser que ela valha muitas moedas de ouro. — Hélène respondeu, com uma sonora gargalhada.

Observando-as, Anahí desconfiou que talvez tivesse sido levada para uma espécie de prostíbulo e que aquelas mulheres bem que poderiam ser meretrizes que serviam ao mascarado e a seu amigo de baixa estatura. Tal pensamento a fez arregalar os olhos, horrorizada, o que suscitou mais risos.

Então, de repente, fez-se silêncio e a loira chamada Hélène a fitou com uma ponta de simpatia.

— Fique calma, não vamos machucá-la. — falou, baixando o tom de voz. — Poderia ficar muito doente se continuasse usando aquelas roupas molhadas. Aliás, o que pensou estar fazendo ao se atirar no mar gelado em pleno inverno? Especialmente depois de ter...

— Hélène! — Anne-Maríe a repreendeu num tom cortante.

Havia um banco rústico ao lado da banheira e Hélène deixou o frasco ali.

— É para seus cabelos. — repetiu o que já havia dito. — Vamos deixá-la sozinha, mas estaremos do lado de fora. Portanto, não tente nenhuma bobagem, entendeu?

— Perfeitamente. — murmurou Anahí.

As duas se entreolharam e então saíram, fechando a porta atrás de si.

Anahí abaixou a cabeça e suspirou, deixando que o calor da água aquecesse seu corpo frio. Recostou-se contra a louça branca e tentou parar de tremer, rezando para que os céus a ajudassem a pensar em um plano seguro para sair dali. Por mais que tentasse, não conseguia entender o que estava acontecendo e muito menos fazia idéia de quem seriam aquelas figuras estranhas. Meretrizes? Mascarados? Ladrões que se vestiam como cavalheiros? A julgar pela simplicidade do lugar, eles precisavam de dinheiro, mas, quando lhes oferecera a possibilidade de serem recompensados regiamente, haviam recusado. Por quê?

Um novo tremor a percorreu quando se lembrou do mascarado, o homem que a rendera na praia e que até então não dissera uma única palavra. Sim, ele parecia ser o líder tio grupo. Mas será que aquilo teria alguma importância? Se o mascarado estivesse, de fato, doente, com lepra, como presumira...

Anahí sentou-se ereta no mesmo instante, lembrando-se das mãos firmes em seu corpo. Sim, quando o mascarado a despira, as mãos estavam livres das luvas que ele usara anteriormente e, mesmo em pânico, ainda pudera estudar detalhadamente aquelas mãos.

Eram saudáveis, sem o menor sinal de uma doença tão impiedosa e destruidora quanto a lepra. O que significava que ele não era um leproso e que escondia o rosto por outro motivo. Será que tinha cicatrizes tão horrendas que precisava escondê-las? Ou seria um fora-da-lei tão procurado pela coroa francesa que não ousava mostrar o rosto em público?

Enquanto Anahí refletia sobre todas as possibilidades, a porta foi aberta outra vez.

Era Hélène.

— Terminou, milady? Ah, ainda nem começou a lavar seus cabelos! Eu a ajudo.

— Como quiser.

Anne-Marie também entrou e sussurrou algumas palavra no ouvido da outra, das quais Anahí só conseguiu ouvir o final: “está tentando barganhá-la”.