Fanfic: A Dama e o Guerreiro - AyA | Tema: AyA (adaptada)

Anahí ficou parada onde estava, respirando ofegante, então levantou-se e começou a andar de um lado para outro. A bandeja com comida continuava no mesmo lugar e ela serviu-se de um copo de vinho. Foi nesse instante que viu a faca deixada para cortar o peixe e o pão. Era uma navalha longa e afiada, e, com um pouco de sorte, talvez pudesse ajudá-la a sair dali.

Movida por uma idéia insana, Anahí seguiu até a porta, encostou o ouvido na madeira e, ao perceber que tudo estava no mais completo silêncio, mergulhou a navalha entre as duas folhas da porta dupla, no típico estilo francês, e tentou soltar a trava que a mantinha trancada pelo lado de fora.

A primeira tentativa falhou, a segunda também, mas a terceira mostrou que poderia dar certo, pois conseguiu erguer levemente a trava. Animada, tentou outra vez e, finalmente, conseguiu erguê-la como queria.

Tremendo, empurrou a folha da porta à esquerda e saiu para o longo corredor, mal acreditando em sua sorte e também determinada a não ser pega em flagrante outra vez. Assim, moveu-se pé ante pé até chegar ao topo das escadas. Estavam todos no andar inferior, pois podia ouvir as vozes que pareciam vir do grande salão, onde ficava a lareira.

— Bem, meu caro senhor — dizia Anne-Marie —, está em débito para comigo porque sua preciosa hóspede me chutou com toda a força.

Minha perna está roxa. Hélène também riu, deliciada.

— Precisava ver a cara dela quando pensou que Anne e eu fôssemos algum tipo de pervertidas sexuais. Mas então eu lhe disse que nenhuma de nós duas tinha tais interesses por mulheres.

— A não ser que ela fosse muito valiosa — completou Anne-Marie com uma sonora gargalhada.

— Na verdade, ela acreditou mesmo que estivesse correndo sério perigo — Hélène falou, e desta vez havia um tom de remorso em sua voz.

— Mas nós também poderíamos ter nos machucado, pois Anahí de Clarin luta como uma tigresa — argumentou Anne-Marie.

— Ela é mesmo uma mulher destemida, quase selvagem — concordou o homenzinho francês com seu sotaque in confundível.

Anahí parou no alto da escada, olhando para baixo c concentrando-se em não fazer barulho para evitar chamar a atenção de seus raptores. A porta de entrada ficava num pequeno hall ao lado do salão onde o grupo estava reunido e, se tivesse cuidado, sabia que poderia escapar sem ser vista.

Naquele instante, porém, ela percebeu que alguém se afastava da lareira e sentava-se diante da enorme mesa.

Era Jacques, mas ele não estava usando as luvas de antes e também estava sem máscara.

Apesar disso, Anahí não podia ver-lhe a face, porque ele estava de costas. Um dos pés cobertos por botas de pele de gazela estava apoiado na mesa e os dedos longos brincavam com um pequeno objeto de madeira.

O homenzinho fantasiado de cavalheiro da corte meneava a cabeça num gesto de desalento.

— Ah, mas ela poderia ter se matado, saltando da janela daquela forma!

— Essa é a questão—soou uma voz diferente das demais.

Céus, havia outro homem na sala! Anahí quase gemeu alto quando percebeu quem era. Christopher Graham, o capitão do navio nórdico Wasp.

— Ah, sim, a questão é justamente essa — o francês concordou. — Afinal, se ela se matar em uma dessas tentativas de fuga, o que vocês terão? Nada. Admito sentir uma certa culpa pelo que está acontecendo. Nunca conheci uma mulher tão determinada a conquistar sua liberdade.

— Mas ela jamais encontrará a liberdade que procura — replicou o suposto mudo, Jacques. — Anahí de Clarin é herdeira de um reino imenso, mas a família optou por vendê-la para um conde rico em troca de manterem o que possuem. De qualquer forma, uma vez que lady Anahí parece ler uma forte tendência suicida, atirando-se de navios e jogando-se de janelas agarrada a um fino lençol, creio que ela merece uma lição para aprender quais os reais perigos que esses seus arroubos podem suscitar. Ela odeia demais os escoceses para se permitir confiar em nós. Então, esta é a oportunidade para que descubra o que o resto do mundo tem a oferecer, e também perceber que não somos os monstros que acredita sermos.

Anahí estava perto, muito perto da porta do hall de entrada, mas ao som da voz de Jacques ficou imóvel. A fúria em seu interior começou a crescer como as chamas que crepitavam na lareira de pedra. Aliás, em toda sua vida, nunca ficara tão indignada.

“Alfonso Graham! Maldito!”