Fanfic: A Dama e o Guerreiro - AyA | Tema: AyA (adaptada)

A escuridão já tinha estendido seu manto sobre aquela parte da França e agora apenas uma vela iluminava o quarto, trazendo um pouco de luz e calor à noite fria de inverno.

Anahí, porém, não tinha a menor consciência de que a iluminação bruxuleante conferia um brilho mágico a seus cabelos, pois, no momento, tudo em que conseguia pensar era na raiva e humilhação que sentia.

— Como você pôde?! Como pôde?! — ela esbravejou, batendo com os punhos cerrados nas costas largas, até que Alfonso finalmente a colocou sobre a cama. — Ah, você é mesmo desprezível! — acusou-o, colocando-se de joelhos e trespassando-o com o olhar.

— Sim, eu sou desprezível e você é uma mentirosa, Anahí de Clarin. — revidou Alfonso, curvando-se sobre ela e forçando-a a quase se encostar aos travesseiros. — Caiu do navio, é? Muito interessante! Nós a salvamos das mãos de um pirata e, em troca, você arriscou sua vida atirando-se ao mar, não uma, mas duas vezes, sem nem se dar conta de que estamos em pleno inverno.

Ao vê-lo encará-la com uma expressão ameaçadora, Anahí ficou em silêncio por alguns momentos, antes de argumentar:

— O que vocês queriam era me usar nesta guerra sórdida. Pretendiam tirar vantagem de minha presença no navio para conseguir o apoio do rei francês.

— E por isso concluiu que ser entregue ao rei francês, que certamente a mandaria para junto de seu amado noivo, era algo tão terrível que preferiu se matar ao invés de colaborar conosco, não, milady?

— O que você fez foi horrível demais e não se compara a...

— Por quê? Porque aprendi a conhecê-la bem demais para suspeitar que, por certo, tentaria nadar até a costa outra vez? Minha cara Anahí, eu tinha homens vigiando todos os seus passos desde que deixou a cabine. Sim, esperei na costa com alguns amigos e entendi perfeitamente que escolheria nadar para uma praia deserta. Começo a entender como seu raciocínio funciona e tirei proveito disso. Mas você bem que mereceu ser enganada.

Ela meneou a cabeça, desalentada.

— Não sou propriedade sua para que tente me punir pelo que fiz. Quero minha liberdade de volta!

— Liberdade? Bem, isso, minha cara Anahí de Clarin, é algo por que eu e meus companheiros temos lutado há anos.

A paixão com que tal comentário foi proferido a deixou sem fôlego. O coração disparou em seu peito e Anahí umedeceu os lábios que, de repente, tomaram-se secos demais. Deus, estava tremendo! Ela ergueu os olhos para os ombros largos, para a massa espessa de cabelos escuros como a noite e, sem saber bem que demônios a moviam, começou a esmurrá-lo no peito outra vez.

— Seu bárbaro sem coração! Você me deixou apavorada com toda essa história. Tive tanto medo, tanto medo...

A pressão dos braços fortes aumentou e ele a enlaçou pela cintura, ao mesmo tempo que a tomava cativa de seu olhar.

— Por que isso agora? Será que monstros não são todos iguais? — Alfonso retrucou, erguendo a mão e segurando-a pelo queixo. — Por acaso monstros franceses são piores do que os monstros escoceses de quem a senhora vivia reclamando?

Anahí meneou a cabeça, desalentada.

— Pensei que... que... Jacques viria me procurar esta noite eu não podia suportar isso porque na verdade queria que... — calou-se, sufocando um soluço.

— Queria o quê, Anahí? — Alfonso exigiu saber, arqueando uma sobrancelha.

— Que fosse você. — ela confessou num sussurro. Aquilo era algo que jamais imaginara dizer, pois até aquele momento não tinha admitido a verdade nem para si mesma.

Agora, porém, não havia mais como voltar atrás e retirar as palavras que haviam revelado os segredos de seu coração.

Alfonso a fitou, atônito. Os olhos verdes assumiram um tom escuro e misterioso, mas então, quando as mãos viris procuraram pelas de Anahí, estavam trêmulas e levemente úmidas.

— O quê? — perguntou ele outra vez, num tom rouco e sensual.