Fanfic: A Dama e o Guerreiro - AyA | Tema: AyA (adaptada)

Capítulo IX

— Majestade, os escoceses já chegaram a Calais!

Sentado à mesa de seu quarto de dormir, e ainda vestido num camisolão de cambraia, o rei saboreou mais um pedaço de queijo e apreciou a notícia que o conde René Breslieu acabava de trazer-lhe.

— Ah, muito bom! — Agora as coisas começariam a sair como desejava, pensou satisfeito. Tinha ouvido falar que Wallace havia partido para encontrá-lo na França. Afinal, as notícias corriam velozmente através do canal e não iria perder a oportunidade de fazer algo para dificultar a vida de Eduardo da Inglaterra. — Que me diz do que viu?

Breslieu, um jovem nobre de grande carisma pessoal, com freqüência servia-lhe de mensageiro, especialmente em casos como aquele. Os ouvidos do conde eram tão aguçados quanto sua espada e isso era uma vantagem e tanto nos tempos em que viviam.

— É tudo muito dramático. Majestade — Breslieu declarou, parando a alguma distância da mesa. — Aparentemente lady Anahí de Clarin já estava em alto-mar para se encontrar com nosso conde de Lacville quando o navio em que ela viajava foi tomado pelo pirata Thomas de Longueville. O rei Felipe quase engasgou com a pequena porção de pão e queijo que levara aos lábios. Fez menção de ficar em pé, mas o mensageiro o impediu.

— Não precisa se preocupar, Majestade. Por sorte, um dos leais defensores de sir Wallace, um jovem chamado Alfonso Graham, rendeu o pirata e está agora com lady Anahí. Parece que, no final, os escoceses e o pirata fizeram um pacto.

— E quanto aos ingleses que estavam a bordo do navio? — Felipe quis saber.

— Aqueles que sobreviveram ao ataque pirata foram poupados. O que já era de se esperar, pois Longueville é do tipo que se interessa muito mais por riquezas do que por dizimar vidas humanas. A tripulação inglesa ficou um tempo aos cuidados do pirata e depois foi colocada em uma pequena embarcação e mandada de volta à costa inglesa. Wallace irá pedir ao senhor que perdoe o pirata em razão de seu bom comportamento para com lady Anahí, a prometida do conde de Lacville.

— Hum... — murmurou o rei e recostou-se na cadeira de espaldar alto, observando seu mensageiro ao mesmo tempo em que considerava a notícia que acabava de receber.

Felipe da França era um homem inteligente e também muito bonito, a ponto de alguns o chamarem de Felipe, o Belo. Era um rei justo, mas também acreditava que possuía direitos divinos. Na verdade. Sua Majestade real era muito religioso e poderoso, pois através de sua esposa, Jeanne, era também rei de Navarra, o que lhe conferia mais poder do que a maioria dos monarcas europeus tinham juntos.

— Bem, senhor, que notícias devo levar a Calais? — insistiu em saber Breslieu, ao vê-lo calado por um longo tempo.

— Deixe-me pensar... Bem, pelo que ouvi dizer, Longueville passou grande parte de sua vida atacando navios ingleses — Felipe comentou, cocando o queixo.

Breslieu pigarreou.

— Sim, senhor. Acho que ele também atacou alguns hispânicos, mas nunca se atreveu a dizimar navios que trouxessem as bandeiras da França ou da Normandia.

— Neste caso, presumo que poderíamos lhe conceder o perdão.

— E quanto aos escoceses?

Felipe afastou a cadeira e ficou em pé.

— Eles serão muito bem-vindos em minha corte. Também devemos assegurar ao conde de Lacville que sua noiva irá chegar em segurança até ele, mande uma escolta para buscá-la. E... — fez uma breve pausa — devemos receber o rei deposto da Escócia, John Balliol. — Balliol agora residia na França e, embora fosse um bom homem, não tinha a menor aptidão para ser rei. Não era talhado para isso, pois não possuía nem a fibra de Wallace e tampouco a astúcia de Robert Bruce. — Diga a Wallace que estamos prontos para recebê-lo quando lhe aprouver.

— Sim, Majestade, farei isso o mais depressa possível garantiu Breslieu, curvando-se em uma reverência discreta antes de deixar os aposentos reais.