Fanfic: A Dama e o Guerreiro - AyA | Tema: AyA (adaptada)

Hélène fora encarregada de supervisionar as criadas que serviam a farta mesa de jantar. Embora fosse inverno, haviam estocado alguns vegetais e, naquela noite, tinham preparado peixe, carne defumada e batatas assadas, tudo acompanhado pelo bom vinho francês. Verdade que aquela era uma casa simples, localizada no campo, próxima a Calais, mas, quando queriam, seus habitantes eram capazes de preparar um banquete que agradaria a qualquer nobre da corte. Anahí ainda não tinha descido e Alfonso estava sentado à mesa entre William Wallace e Christopher.

— Quer um pouco de vinho, meu rapaz? — ofereceu sir Wallace, observando-o com grande atenção.

— Ah, sim, obrigado — agradeceu ele, erguendo o copo para que Hélène o servisse. Só então se deu conta de que William O estava observando e que, muito provavelmente, o vinha fazendo havia algum tempo.

— O emissário do rei que acompanhará lady Anahí deve chegar amanhã — avisou o líder escocês.

— Estou ciente disso.

— Está mesmo? Será que se lembra de que somos renegados e que neste reino somos apenas amigos do rei?

Alfonso franziu o cenho.

— Por certo que sim.

Wallace continuou a fitá-lo como se não acreditasse no que ouvia.

— Meu jovem, até aqui enfrentamos espadas, flechas e grande perigo em todas as batalhas que lutamos. Mas agora temo perdê-lo para um mal ainda maior, e não gostaria de vê-lo derrotado pelo coração e perdido para sua própria alma. Afinal, é preciso cuidar do coração de um guerreiro se quisermos ganhar a batalha.

— Perder-me, senhor? — Alfonso estava surpreso. — Isso nunca acontecerá. Sei quem sou, de onde vim e por que luto. Nunca esquecerei a nossa causa, sir. Nunca!

— Mesmo? — William indagou, esboçando o arremedo de um sorriso. — Sabe, algumas vezes fico pensando no quanto adoraria ter uma esposa para amar e saciar os anseios da carne, filhos para educar e proteger, uma casa onde pudesse repousar em paz ao final de um dia cansativo. Sim, existem momentos em que daria tudo para ter o que os homens comuns possuem.

— O senhor poderia ter isso se quisesse. O rei Felipe ficaria feliz em presenteá-lo com um pedaço de terra para cultivar e uma bela casa. O rei da Noruega também adoraria recebê-lo em seu reino...

— Engana-se, meu rapaz, pois embora estes meus bons amigos pudessem me dar uma casa, j amais poderiam me dar um lar, porque o reino deles não é o meu — William respondeu com pesar. — E os filhos que eu teria também não teriam um pai de verdade, pois eu jamais poderia ser o pai que desejo tendo abandonado uma causa em que acredito.

— Mas o senhor disse que...

— Eu disse que sou humano como você, meu jovem. Perdi uma mulher a quem amava de todo meu coração, mas confesso que às vezes me sinto tocado por uma voz feminina ou por um doce sorriso que me faz mil promessas de felicidade. Mas esses momentos vêm e vão. Não estou dizendo que um homem não deva aceitar esses pequenos prazeres que a vida oferece, mas, meu amigo, quero que perceba que você está caminhando por um terreno perigoso com a herdeira de Clarin.

Alfonso ergueu o copo de vinho e inclinou-se em direção a Wallace.

— Foi o senhor que disse que a prisioneira era minha.

— Sim, só que agora ela não é mais nossa prisioneira, é?

— Não, e estou ciente deste fato.

— Amanhã mesmo devemos partir para Paris.

— Mas isso será amanhã, não, sir?

Wallace o fitou solenemente, então concordou com um suspiro.

— Sim, Alfonso, amanhã...

E foi este exato momento que Anahí escolheu para entrar no salão principal onde a refeição estava sendo servida. Eslava muito elegante, num traje em tons de marrom e dourado, com imensas mangas bufantes e saia ampla que lhe permitia mover-se com graça e leveza. Quando ela se aproximou, Alfonso ficou feliz ao perceber que saudava Wallace com um leve menear de cabeça.

— Milady. — cumprimentou-a o líder escocês, curvando-se em uma reverência.

— Sir William. — Anahí repetiu as palavras de cortesia e deixou-se conduzir para a cadeira mais próxima.

— Imagino que a senhora saiba que um emissário do rei está a caminho e que amanhã mesmo deveremos partir para Paris?

— Sim, milorde.