Fanfic: - Hold On - | Tema: Original

           A manhã estava com um sol forte, a cortina do quarto de Thom estava pra lavar, e foi a claridade a responsável pelo seu sono interrompido. O garoto levantou da cama e coçou os olhos. Olhou no relógio a hora e já passava de meio dia. Daqui a pouco estariam chegando os seus amigos para o almoço, já estava sentindo o cheiro da comida do pai e o falatório na cozinha, dele e de sua mãe. Foi até lá, precisava comer alguma coisa, com certeza o almoço ainda demoraria.

          – Bom dia. – Ele disse, sorrindo. Deu um tapinha nas costas do pai, que reclamou baixinho, já que estava mexendo alguma coisa na panela.

          – Bom dia, querido. – Dona Anna respondeu, sem deixar de cortar as cebolas. Ela tinha tanta experiência com esse tipo de coisa que nem ao menos chorava. Thomas, de longe, já começava a sentir seus olhos arderem.

          – O que teremos hoje, pai? – Ele perguntou para o homem enquanto pegava uma maçã na fruteira. Apoiou-se no balcão de mármore, olhando os pais trabalharem.

           Louis o olhou e ergueu uma sobrancelha.

          – Como você é folgado, Thomas. – Ele disse, voltando o olhar a panela. Ouviu uma gargalhada do filho e sorriu. – Lasanha a bolonhesa e de quatro queijos. – Ele respondeu. – Daqui a pouco todo mundo chega, não vai se arrumar?

          – Eu vou logo tomar banho, e antes que chegue todo mundo vou passar na mansão. – Thomas falou. Anna o olhou e franziu a testa.

          – Ora Thom, eu já agradeci a menina, não precisa ir até lá só pra isso. – Ela disse.

          – Eu sei que não, mas eu quero. – Ele disse, deixando escapar um pequeno sorriso.

          O garoto foi tomar banho, e bastaram alguns minutos para que ele estivesse dizendo "já volto" para os pais, saindo da casa e indo até a mansão. Indo até Sophie, a garota rica generosa do sorriso e olhos lindos.

          Thomas optou por ir a pé, dispensando seu inseparável skate. Sabia que não precisava fazer isso, mas queria. Talvez por agora ter uma desculpa pra falar com a menina da janela. Talvez por estar realmente agradecido pela generosidade da garota. Demorou um pouco para que chegasse, mas quando chegou viu aquela cena que no dia anterior havia se decepcionado por não ter visto. A menina estava ali, debruçada na janela olhando a vista.

          Os olhares finalmente se cruzaram, e foi quando Thomas tomou a iniciativa de fazer um gesto com as mãos a chamando para descer. A princípio ela fez uma cara estranha, não tinha certeza se tinha entendido. Thomas repetiu o movimento, e a garota fez uma cara de interrogação, erguendo as sobrancelhas.

          O segurança, que antes estava na cabine, chegou perto dele.

          – Ei, o que está fazendo? – O homem perguntou de uma forma um tanto intimidadora.

          – Ah, nada. Eu só queria falar com a Sophie. – Thomas falou, colocando as mãos nos bolsos.

           Sim, ele sabia o nome dela, quem naquele bairro não sabia, afinal?

          O cara olhou Thom de cima a baixo, e o mandou entrar, mas que esperasse no jardim porque a menina desceria. Entrou na cabine outra vez e o anunciou no que parecia ser um interfone. Ao finalizar a ligação, o homem voltou a encarar o garoto.

          – Tudo bem, cara? – Ele perguntou, tentando quebrar o gelo. O segurança continuou mudo, e continuou o olhando sério, com as sobrancelhas erguidas. – Sabe, deve ser cansativo pra você... Ficar aqui o tempo todo. – Ele disse, sorrindo. O segurança fez um barulho e, ainda sério, nada disse. – Você é sempre tão sério assim? – O homem bufou e olhou para frente da casa, balançando a cabeça negativamente.

          Desistindo da ideia de conversar com o segurança, Thomas começou a observar a casa por fora. Era maravilhosa. Nunca havia sido mudada, lembrava sempre da mansão do mesmo jeito.

          A porta da frente se abriu, e saiu de lá a menina da janela. Deus, ela era mais linda ainda de perto, e era mesmo real. Não havia nada na aparência dela que não fosse perfeito. Aliás, perfeição descreveria perfeitamente o físico daquela menina.

          Na medida em que a garota ia chegando perto Thomas se encantava mais. Droga, como era possível aquele tanto de beleza em uma única garota? Ela era incrivelmente maravilhosa, da cabeça aos pés. Usava um sobretudo fechado e um scarpin mais ou menos alto, e ele tinha certeza: eram roupas da alta costura, de marca. Só não sabia qual. Não parecia aquela menina inocente da janela, parecia uma mulher poderosa, decidida e madura. Aquilo o decepcionou um pouco, na verdade.

          – Você é...? – A voz dela era ainda mais linda do que sua aparência. Qualquer decepção que apareceu em algum momento, agora não existia mais. Ah, como seria possível ficar decepcionado com a garota na sua frente?

          Thomas estava com os olhos caídos, surpreendido com tanta beleza na garota. De perto ela era ainda melhor, era uma beleza inacreditável.

          – Thomas Löhnhoff. – Ele conseguiu responder, e estendeu a mão para que ela apertasse. A menina olhou para a mão estendida dele e depois o olhou, com apenas uma sobrancelha levantada. Thomas abaixou as mãos, entendendo que ela não apertaria.

          – Thomas Löhnhoff. – Ela repetiu baixo, fazendo pouco caso e dando de ombros. – E o que você quer?

Essa era a mesma garota que lhe sorriu e que havia dado os seus livros? Ela parecia um tanto... Esnobe.

          – Ah, é que eu sou filho da dona Anna, ela veio fazer sua unha ontem. – A menina parecia desinteressada, apenas confirmou com a cabeça sem dar muita importância. Ela murmurou um "e aí". – Ah, você deu uns livros pra que ela me desse, para faculdade. – A garota concordou, mas ainda assim não se interessou pelo assunto. – Eu queria agradecer, sabe? Esses livros são todos que eu preciso por pelo menos três anos, e são caríssimos. Pode deixar que quando eu terminar de usar eu devolvo, não precisa se preocupar com isso. – A morena apenas deu uma risada e, de maneira sensual, puxou seus cabelos pretos, longos e lisos para trás. Sensual de acordo com Thomas.

          – Por favor, não precisa me devolver. Aqueles livros não valem nem o preço de um Louboutin. – Ela disse revirando os olhos de um jeito que, para Thomas, exalava futilidade. – Na verdade estava tendo que olhar pra aquilo todos os dias em meu closet e irritava um pouco. – Ela falou. – Então, na verdade, você está fazendo um favor pra mim, fazendo aqueles livros inúteis serem úteis de alguma forma. E longe do meu closet. – Ela sorriu pra ele.

          Tudo bem, a garota poderia ser um tanto fútil, mas talvez ela estivesse tentando ser gentil, mesmo que do jeito dela. Thomas sorriu também.

          – Obrigada, eu acho. – Sophie deu de ombros, e voltou a falar.

          – Sabe... Se vier aqui outra vez... Venha com uma roupa melhor, David pensou que você fosse algum marginal ou algo assim. – Ela falou, depois riu sozinha. – Essa blusa é suicídio, sabe? – Ela disse o olhando de cima a baixo, fazendo em seguida um gesto negativo com a cabeça e saindo dali, fechando a porta da casa novamente.

          O menino olhou pra sua blusa, o que tinha de errado com ela?

          Os pensamentos se afastaram, pensava em uma coisa quando o segurança o colocou para fora da mansão: Sophie Montini era extremamente perfeita.

          Ele ficou um tempo parado ali em frente, a garota o tinha confundido um pouco. O que ela era, afinal? Era esnobe, fútil e um pouco arrogante. Estranhamente, ao mesmo tempo, a garota havia sido simpática e gentil. Ela se vestia bem, muito bem, era um tanto vaidosa. Parecia uma daquelas modelos de TV. Ela havia sorrido, e Thomas poderia jurar que aquele sorriso era o mais lindo da face da terra.

          O segurança, vendo–o ali parado, o olhou com certo desprezo, dando a entender que era pra ele sair dali. E depois de dar uma risada, Thomas foi andando a passos lentos para sua casa, na vila.