Fanfics Brasil - Lágrimas e Sangue A Prisão de Samael

Fanfic: A Prisão de Samael | Tema: Original


Capítulo: Lágrimas e Sangue

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Capítulo 2: Lágrimas e Sangue.


Fiz de tudo para não chamar mais atenção depois da ridícula cena que ocorreu.Depois do que eu fiz, era impossível me camuflar novamente com os outros malucos, todos eles olhavam para mim com uma expressão de incredibilidade.Se a lembrança não me falha, fui o primeiro a desafiar o Mamute, nenhum dos outros maníacos tem tanta coragem assim.


Mas coragem não é a palavra certa, e sim uma imprudência gigantesca.Sei que faltava um pouco menos do que 3 anos para a minha primeira terapia de choque, mas com certeza eu não gostaria de morrer tão cedo assim, ou como aquele monstro mesmo disse:”Vivo, mas não tão bem”.Todos os que entravam no caminho do Mamute acabavam mortos ou aleijados, sendo mesmo fora ou dentro de Arcania.Todos o temem, até mesmo os guardas que empunhavam armas, o que é até compreensível, julgando o tamanho daquele maníaco, é difícil de acreditar que uma bala seria capaz de mataria o desgraçado.


Mesmo o “show” tendo passado, eu ainda era o centro das atenções.Eu os ignorei, procurei uma bandeja na mesa que ficava no canto do refeitório.Caminhei a passos largos para onde estava a comida.Era o único que seguia a rotina, ninguém se movia a não ser eu, Bill que me acompanhava, e a garota que escolhia uma mesa.Uma coisa que chamou minha atenção foi o fato dela estar de mãos vazias, o nosso almoço ao meio dia era nossa única refeição, especulava-se que era para manter todos os “residentes” de Arcania com fraqueza, para caso houvesse algum tumulto, não fosse tão difícil assim colocar as coisas sob controle novamente.Mas o resultado era o inverso, alguns dos malucos eram fortes como um touro, isso me fez lembrar de algo.Pouco antes do dia em que cheguei nesse hospício, havia um espaço reservado para que pudéssemos fazer musculação.Os psiquiatras achavam que era bom ter algo para canalizar nossa raiva e angustia, mas alguns de nós apenas viu a academia como uma chance de satisfazer sua sede de sangue, então os que estavam no comando nunca mais cometeram esse erro novamente.De qualquer maneira, ver a garota sem nenhuma comida fez-me lembrar de minhas tentativas de suicídio mal sucedidas.


Eu não queria nada com ela, não queria receber agradecimentos e nem saber seu nome.Afastei o olhar para a maravilhosa comida de Arcania.Sempre ouvimos histórias de que a comida de presídios é a pior do mundo, mas aqui é diferente, ela não tem gosto de nada.


A pasta que nos serviam todos os dias era tão cheia de remédios que acaba tirando toda a graça de se alimentar.


Bob o Cozinheiro, jogou uma porção generosa no meu prato, ele devia ter achado que poderia ser minha ultima refeição.Bob também era um maníaco, Bill uma vez me contou que ele trabalhava em um restaurante cinco estrelas, mas quando carne humana passou a ser um dos ingredientes principais, ele veio parar onde está.Era óbvio que Bob não cozinhava nossa comida, relembrar um prazer aos canibais só criaria problemas, então ele apenas nos servia.Nunca conversei com ele de verdade, mas parecia ser um cara legal.Peguei uma garrafa d’água e me sentei.Enquanto comia, vi com o canto do olho que a fila aumentava aos poucos, Bill sentou na minha frente e disse:


-Sem rodeios, o que foi aquilo tudo? – Eu não dava muita atenção a ele, no momento eu queria apenas comer aquele troço, e não responder perguntas das quais não queria nem ouvir.Passado um minuto ele continuou – Eu te conheço bem Samuel, e você a mim, nós dois dividimos a mesma cela, sabe que vou te importunar até que você ceda.


Soltei um longo suspiro, prolongar aquilo não me faria nenhum bem.


-Ela me lembra uma pessoa – Disse e me calei, bebi um longo gole do conteúdo da garrafa.Todos eram cientes que assim como na comida, a água também era impregnada de remédios, dava para perceber pelo gosto – Mais alguma coisa?


Ele coçou a barba, Bill sempre raspava a cabeça, as deixava a barba intacta.


-Eu até consigo entender o porque de você ter se metido entre o Mamute e o seu brinquedo – Ele fez uma pausa, levou a colher à boca e continuou – Mas precisava ter tratado a garota daquele jeito?


Agora que ele tinha falado sobre isso, realmente pareceu grosseiro da minha parte.Mas foi preciso.


-Não quero que ela ache que vou protegê-la dos malucos.Já tenho meus próprios problemas, ser babá de alguém não... – As palavras morreram na minha boca quando percebi que a garota estava parada em frente a nossa mesa.Ela parecia ser muito tímida, e as palavras custaram a sair.


-Posso me sentar?


-Não! – Disse alto demais, e percebi alguns olhos postos em mim.


Notei que ela ficou sem reação, seu rosto ficou vermelho e seu olhar foi direto para o chão.Mas em um instante, a garota levantou a cabeça e me encarou.Sua expressão de determinação parecia me fuzilar, mas foram seus olhos incrivelmente verdes que me pegaram de surpresa.Mas não me desviei, continuei a encara-la, para ver se ia embora.Mas sem tirar os olhos de mim ela sentou-se na minha frente.Mas antes que eu pudesse dizer algo, Bill foi mais rápido e estendeu a mão:


-Meu nome é Bill, prazer – Ela se espantou com o gesto, mas o sorriso caloroso do meu colega de quarto a fez retribuir – E como você se chama menina?


-Annabel – Agora ela me ignorava completamente, então voltei a atenção para o meu prato – Mas pode me chamar de Anna.E qual seria o nome dele?


Não pude evitar de olhar Anna com raiva.Eu não a queria por perto, e até quando ela dirigisse a mim por outra pessoa me incomodava.


-Ele tem mais de um nome – Aquele comentário eriçou os pelos da minha nuca, Bill estava se divertindo bastante com aquilo, apesar de eu estar odiando – Mas eu o chamo de Samuel.


Os olhos verdes de Anna me escâneavam.


-Então Sam...


Meu pulso fechou-se com tanta força que amassei a garrafa, mas a interrompi antes que continuasse:


-Meu nome é Samuel – O sorriso no rosto de Bill morreu, assim como eu, ele sabia que aquilo estava caminhando mal.


Se ela ficou surpresa, não moveu uma sobrancelha.


-Samuel então...Como você veio parar aqui?


Bill se engasgou com a “água” que estava bebendo, em meio as tosses disse:


-Essa não é uma boa pergunta querida Anna.


-Por que não?Ele é tão reservado assim? – Quando ela viu que eu estava em uma espécie de transe, começou a balançar a mão perto do meu rosto.


Mas quando Bill também notou, levou um susto.Quase em um salto ele ficou de pé, e bateu com força no meu rosto.


O tapa tinha me trazido de volta.Apesar do meu rosto começar a arder, fiquei grato por Bill tê-lo feito.


-Obrigado.


-Não à de quê – Quando ele percebeu que todos olhavam para nós, disse alto para que todos ouvissem – Não á por que ficarem preocupados.Ele não acordou.


Todos relaxaram e voltaram a conversar, o refeitório ficou cheio com o som das suas conversas, o que para mim não passavam de sussurros.Por ser ainda uma novata, Anna não entendeu nada, então ela fez a pior coisa que poderia ter feito.


-Quem não acor...


Bill foi mais rápido e pôs a mão em sua boca.Depois olhou para mim, respondi balançando a cabeça.


-Chega de perguntas querida.Sim? – Quando ela fez que sim, ele voltou a mesa.Mas ficou calado.


O silêncio era incômodo entre nós.E aos poucos minha carapaça de carrancudo foi se desfazendo.A esse ponto, Annabel já deveria ter sacado que eu não era seu protetor, mas tratá-la com simpatia não me faria mal.Peguei o prato quase intocado de Bill e o arrastei até ela.


-Coma.


Ela estranhou a minha bondade repentina, e afastou o prato.


-Não vou comer isso – Disse com nojo na voz.


Eu não levantava meu olhar da comida.


-Você que sabe – Terminei a bebida e limpei a boca com as costas da mão – Apenas saiba que esta será sua única refeição hoje.E morrer de fome não é um caminho nada agradável.


Annabel encarou o prato com uma tristeza aparente, puxou ele para mais perto e começou a engolir.


-Quantos anos você tem menina?


O rosto dela escureceu.


-Não sou criança!Tenho 21 anos.


Annabel realmente parecia muito mais nova, ela se encaixava naquele grupo de adultos com aparência de adolescente.


Lancei minha melhor cara de desinteressado.


-Tanto faz Annabel.O que você fez para se tornar um de nós?


Eu parecia estar a irritando, o que sinceramente não era minha meta.Dês de que pus os olhos nela, senti algo de errado, algo que não se encaixava muito bem.Só queria descobrir o que era.


-Um: se você não me conta o porque de estar aqui, por que eu deveria? – Ela fez uma pausa, pensando bem no que diria em seguida – Dois: eu não sou uma de vocês.


Aquilo não era incomum.Muitos dos novatos que chegam a Arcania acabam por negarem a terrível realidade, de que sua inocência era verídica, que este lugar não era para eles.Mas depois de alguns dias da nossa hospitalidade, eles percebiam que não fazia diferença para ninguém, nem mesmo para os que deram a sentença.Pois eles apenas precisavam de alguém para ser trancado e jogar a chave fora.Esses miseráveis não procuravam a verdade, mas sim a satisfação geral.Então para mim, assim como para ela, não fez a menor diferença sermos inocentes ou não.


Olhei para o relógio pendurado na parede de concreto, estava na hora.Me levantei dizendo:


-Somos todos iguais aqui Annabel.Isso é uma coisa que você aprenderá em breve com o seu psiquiatra – Uma sirene extremamente alta começou a tocar – Vamos Bill, quero dar uma palavrinha com Marvin.


Eu, Bill e um grupo de malucos saímos do refeitório, dobramos alguns corredores e chegamos até o Campo de Sol.Como Arcania era um hospício totalmente fechado ao mundo exterior, os gênios que o construíram o lugar, reservaram um espaço para que os residentes pudessem desfrutar da luz do sol.O lugar tinha mais ou menos o tamanho de um campo de futebol, mas ao invés de grama, o chão era revestido de cimento.Provavelmente por alguma razão idiota, que sinceramente não me recordo.


Os chefes de Arcania podiam ser muito desprezíveis, mas não eram burros.Assim como em qualquer outra prisão, existiam gangues, facções.Então para evitar os conflitos sangrentos, eles separavam os malucos em 4 blocos: Bloco A, Bloco B, Bloco C, e Bloco D.Eu e Bill éramos do A, e almoçávamos com os do C, enquanto que os B e D recebiam seus banhos de sol diários.Mas quando chegava a nossa vez de recebermos um pouco de luz, dividíamos o espaço com os D.Então, quando Bill e eu sentamos em uma das mesas disponíveis, vimos caras novas passando por nós.O Pastor, quando me viu, caminhou até onde estava e trocamos um aperto de mão, depois foi embora, sem nem perceber que Bill estava do meu lado.É o seguinte, na época que o Pastor era um homem livre, como seu apelido diz, ele trabalhava para a Igreja.Não sei se era padre, bispo, ou qualquer outro lugar da hierarquia.O que eu de fato sei, é que o Pastor, disse ter uma visão, que um anjo veio até ele em um sonho, para informá-lo de que Deus havia escolhido um soldado, e era cabido a esse escolhido purgar a terra dos hereges.Então o desgraçado perseguia e assassinava todos os ateus, ou outros religiosos pertencentes a outros credos que conseguia encontrar.Quando foi pego, sua explicação foi tão absurda que nem pensaram duas vezes para onde mandariam o sujeito.Mas apesar de ter sido trancafiado conosco, para ele a missão ainda não havia terminado.Mas já que não poderia fazer nenhum mal aos outros, ele os ignorava.Bill era Judeu, e dizia isso abertamente.Uma coisa engraçada de se dizer, é que mesmo eu sendo ateu, já que culpava Deus por ter me jogado nesse inferno, o Pastor me tratava bem.Ele deveria achar que em algum momento eu baixaria minha guarda, e então esse religioso lunático teria sua chance.


Sabe, a penalidade de morte em Arcania são dois dias na solitária, sem comida, apenas água com sal.Quando eu ainda era um novato, fui levado para lá diversas vezes, mesmo não sendo minha culpa.E devo dizer-lhe que não é uma experiência agradável.O cômodo é de um tamanho que chega a ser engraçado, não à janelas, e o calor que emana daquela sala transforma seu suor em vapor.


Vários outros assassinos comuns passaram por mim.Uma coisa que gostaria de esclarecer, é que Arcania é cheia de gente como eles, então os únicos que valem apenas serem citados são os que fizeram algo amais, aqueles que iriam permanecer na memória de todos, dentro e fora do hospício.Infelizmente eu me enquadrava nesse grupo.


Naquele momento, estava conversando com Bill sobre coisas do “cotidiano”.Eu não à vi chegando, apenas percebi que Annabel estava entre nós quando ela se jogou aos braços de Bill.Lágrimas desciam descontroladas pelo seu rosto, que estava vermelho que nem seus olhos.O desespero da garota era tão forte que eu podia sentir.Mas na hora tudo o que consegui pensar foi o quão patética ela era.


-Eu não quero ficar mais aqui!Quero ir pra casa, por favor Bill, me leve de volta! –Quando perdeu o controle sob suas palavras, Annabel desatou a chorar no ombro dele.


Minha paciência com aquela garota já tinha ido para o espaço.Encostei minhas costas na cerca não elétrica e disse:


-Está vendo o que eu te disse?Não se pode ser gentil com essas pessoas –Olhei para o céu, as nuvens me impediam de enxergar o azul que tinha lá em cima –Elas acabam achando que você é amigo delas, e buscam conforto onde não existe.Nós não somos seus amigos garota, muito menos um ombro onde você possa chorar.


No momento em que terminei de falar, a expressão corporal dela mudou totalmente.Ela parou de tremer, e seus ombros relaxaram.Quando ela se virou, sua expressão não era de alguém que tinha acabado de chorar, mas sim de um psicopata.Seus olhos emanavam uma fúria quase que flamejante, e o sorriso em sua boca não parecia pertencer a ela.Parecia pertencer a Arcania.


Ela disparou em minha direção, mas continuei imóvel.Puxou minha camisa e me atirou ao chão.Continuei sem me mexer.Ela ficou em cima de mim, e começou a estapear meu rosto, depois começou a arranhá-lo com as unhas.Mas eu permaneci impassível, isso a fez ficar com mais raiva ainda.


-Interessante Annabel –Disse com certa dificuldade, já que ainda não havia parado –Me conte, quantas personalidades você tem?


Ela parou de súbito.


-O que você disse?


Suspirei, detestava ter de explicar algo para alguém só para mostrar que eu sei de algo.


-Hoje mais cedo no refeitório, a primeira vez que te vi, seu medo me dava pena.Depois que eu livrei sua pele, você parecia mais forte do que antes –Cuspi um pouco de sangue –Então você correu em nossa direção desesperada que nem uma criança, mas quando eu te provoquei, você assumiu uma outra postura, completamente diferente das outras.Então vou perguntar novamente, quantas personalidades alternativas você possui?


Ela ficou alguns instantes calada.Provavelmente espantada com minha dedução, e calculando o quanto deveria me contar.


-Você não sabe nada sobre mim, então pare de falar merda!


Ela fechou o punho, quando levantou o braço, Bill o segurou.


-Não vale a pena entrar em uma briga com esse ai minha querida.Ele não se importa de sentir dor, de estar vivo ou morto.


Bill não compreendia muito bem como eu me sentia.Era verdade que não me importava muito com minha existência, de fato, várias vezes ao dia eu me perguntava como era morrer, ser finalmente livre dessa vida miserável.E eu me importava sim em sentir dor, quando ela não ameaça minha vida.É difícil de explicar, mas se eu for morrer, com certeza não será pelas mãos dos malucos, que não tem o direito de tirá-la de mim.E muito menos pelos chefes de Arcania, eles tinham me trancafiado, era verdade, mas não eram meus donos.Nunca seriam.Para encerrar esse assunto, era bom ter mais sentimentos do que a minha melancolia que preenchia meu ser, que ia me corroendo cada vez que os segundos passavam, e a dor era um deles.Então eu a recebia como uma velha amiga.


Do outro lado do campo, ouvi a sirene tocar.Era hora da terapia.Pus a mão na cintura de Annabel e a empurrei.Me levantei e segui meu caminho.



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Autor(a): holden

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).




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