Fanfics Brasil - Capítulo Um The Fault In Our Stars!Larry Stylinson

Fanfic: The Fault In Our Stars!Larry Stylinson | Tema: Larry Stylinson, One Direction


Capítulo: Capítulo Um

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*RELEMBRANDO QUE A HISTÓRIA PERTENCE COMPLETAMENTE E SOMENTE AO JOHN GREEN. EU SÓ ME TOMEI O DIREITO DE ALTERAR OS PERSONAGENS, ACRESCENTANDO ALGUNS DETALHES E MUDANDO PARA !LARRY. ESTOU DANDO CRÉDITOS PARA O AUTOR, ENTÃO NÃO ME XINGUEM POR PLÁGIO.*


Faltando pouco para completar meu décimo sétimo ano de vida, minha mãe resolveu que eu estava sofrendo de depressão. Provavelmente por estar re-lendo os mesmo livros, trancado em meu quarto praticamente vinte e quatro horas por dia, raramente comia, e dedicava grande parte de meu tempo livre - que era enorme, por sinal - pensando na morte.


Dizem que a depressão é um dos efeitos colaterais do câncer, mas eu prefiro pensar que seja apenas um dos efeitos colaterais da morte. Quase tudo é, na verdade. Mas Anne achava que eu precisava de tratamento, então me levou ao meu médico comum, o Martin, que concordou que eu estava severamente deprimido e me recomendou um grupo de apoio, o qual eu deveria frequentar uma vez por semana, além de alterar os meus medicamentos.


O grupo era formado por um elenco rotativo de pessoas com várias questões psicológicas desencadeadas pelos tumores. A razão de o elenco ser rotativo? Efeito colateral de se estar morrendo.


O grupo de apoio era mega deprimente, óbvio. A reunião acontecia toda quarta-feira em um depósito de uma loja de artigos para animais - a mesma em que minha mãe me obrigava a trabalhar, para não passar o dia todo mofando em casa. Nós nos sentávamos em uma roda bem no meio de uma estátua de cruz, - que possuía uma história engraçada. Uma vez o dono da loja encomendara pacotes de rações e essa cruz chegou no lugar. - onde dois pedaços de madeira se cruzavam, onde "esteve o coração de jesus", e tal.


Bem, era assim que acontecia no "Coração do Senhor": os seis, ou sete, ou dez de nós chegávamos lá a pé/de cadeira de rodas, comíamos um pouco daqueles biscoitos velhos com limonada, sentávamos na Roda da Esperança e ouvíamos Charlie contar pela milésima vez a história ultradeprimente de como perdera os rins e tinha que ficar fazendo hemodiálise frequentemente. Acharam que ele morreria, mas não aconteceu, e aqui estava, sentado, já adulto, no depósito de uma pet-shop, na 137ª cidade mais linda dos Estados Unidos, divorciado, viciado em videogames, quase sem amigos, levando uma vida sem graça explorando seu fantástico passado com câncer, ralando para terminar um mestrado que não vai melhorar sua perspectiva de progresso na carreira, e esperando, como todos nós, que a espada de Dâmocles traga para eleo alívio do qual escapou muitos anos atrás, quando o câncer levou seus feijõezinhos mágicos e lhe deixou algo que só a alma mais generosa poderia chamar de vida.


E VOCÊS PODEM TER A MESMA SORTE!


Aí nós nos apresentavamos: Nome. Idade. Diagnóstico. E como estávamos no dia. Meu nome é Harry, dizia na minha vez. Dezesseis. Tireoide, originalmente, mas com uma respeitável colônia satélite há muito tempo instalada nos pulmões. E está tudo bem comigo.


Depois do último da roda, o Charlie sempre perguntava se alguém queria se abrir. E aí começava a punheta grupal de apoio mútuo: todo mundo falando de lutar, combater, vencer, remitir e examinar. Para não ser injusto com Charlie, ele nos deixava falar da morte. Mas a maioria ali não estava morrendo. A maioria viveria até a idade adulta. Como o Charlie.


(Isso significa que havia muita competição. Com todo mundo querendo vencer, não só o câncer, mas também as outras pessoas da roda. Tipo, eu sei que não faz o menor sentido, mas quando você ouve que tem, por exemplo, vinte por cento de chance de viver cinco anos, e faz as contas e conclui que isso é uma chance em cinco... você olha em volta e pensa, como qualquer pessoa saudável faria: eu preciso durar mais do que esses filhos da puta.)


A única coisa que me salvava no Grupo de apoio era um menino chamado Niall, um cara gordinho de rosto rechonchudo e corado, com cabelos loiros e descendencia irlandesa. Seu problema eram os olhos. Ele teve um tipo inacreditavelmente improvável de câncer ocular. Um olho foi extraído quando ele era pequeno e substituído por um de vidro. Agora Niall usava um par de óculos fundo de garrafa que fazia os seus olhos azuis parecerem sobrenaturalmente grandes, como se a cabeça inteira fosse basicamente o globo ocular de mentira e o de verdade olhando para você. Pelo que pude entender das raras vezes que ele se abriu para o grupo, uma recorrência colocou o olho que resta em perigo mortal.


O Niall e eu nos comunicávamos quase exclusivamente por meio de suspiros. Cada vez que alguém falava de dietas anticâncer, de cheirar cartilagem de tubarão em pó ou sei lá, ele me olhava e suspirava de leve. Eu balançava a cabeça em um movimento microscópico e dava um suspiro em resposta.


Então o Grupo de apoio deu o que tinha de dar, e depois de algumas semanas eu passei a surtar quando tocavam no assunto. Na verdade, na quarta-feira em que conheci o Louis Tomlinson, tinha feito de tudo para me livrar da ida à sessão de grupo, enquanto estava sentado no sofá com a mamãe, no meio da terceira parte da maratona de doze horas da temporada anterior de How I Met Your Mother, que, confesso, já tinha visto, mas mesmo assim...


Eu: "Eu me recuso a ir ao Grupo de apoio"


Mamãe: "Um dos sintomas da depressão é a falta de interesse em participar de atividades."


Eu: "Por Favor, mãe, deixe eu ficar vendo How I Met Your Mother. Isso é uma atividade."


Mamãe: "Televisão é passividade."


Eu: "Pô, mãe, por favor..." (mas aquele termo não me era tão ruim como soava. Passividade...)


Mamãe: "Hazza, você já é adolescente. Não é mais criancinha. Precisa fazer amigos, sair de casa, viver sua vida."


Eu: "Se você quer que eu aja como adolescente, não me mande para o Grupo de apoio. Compre uma carteira de identidade falsa para mim e aí eu vou sair à noite, beber vodca e tomar baseado."


Mamãe: "Para início de conversa, não se toma baseado."


Eu: "Viu? Esse é o tipo de coisa que eu saberia se você comprasse uma identidade falsa para mim."


Mamãe: "Você vai para o Grupo de apoio."


Eu: "MAS QUE PORRA!"


Mamãe: "Harry, você merece uma vida. E não foi com essa boca suja que eu te criei."


Aquilo me fez calar a boca, mesmo não tendo conseguido entender o que a ida ao Grupo tinha a ver com a definição de vida. De qualquer jeito, concordei em ir - depois de negociar o direito de gravar o episódio e meio de HIMYM que eu ia perder.


Ia ao Grupo de apoio pelo mesmo motivo que uma vez deixei enfermeiras com um ano e meio de faculdade me envenenarem com substâncias químicas de nomes exóticos: queria fazer meus pais felizes. Só tem uma coisa pior nesse mundo que bater as botas aos dezesseis anos por causa de um câncer: ter um filho que bate as botas por causa de um câncer.


Saí do trabalho em direção ao depósito, um pouco hesitante. Fingi que estava ajeitando o cilindro de oxigênio por um segundo, só para ganhar tempo.


- Quer que eu o carregue até lá em baixo? - meu substituto das cinco perguntou, gentilmente.


- Não, está tudo bem. - respondi.


O cilindro verde só pesava uns poucos quilos e eu tinha um carrinho de aço para transportá-lo. Aquilo me fornecia dois litros de oxigênio por minuto, através de uma cânula, um tubo transparente que se dividia bem em baixo do meu pescoço, passava por trás das orelhas e se juntava de novo nas narinas. A geringonça era necessaria porque meus pulmões faziam um péssimo trabalho como pulmões.


Peguei meu celular e vi que mamãe tinha me mandado uma mensagem. "Eu te amo." ela tinha escrito, e eu respondi com um simples "Eu também" e logo voltei ao foco de estar ali: Deixar meus pais felizes fazendo amigos.


Não quis usar o elevador, porque isso é o tipo de coisa que você faz nos seus "Últimos dias no Grupo de apoio", então fui pela escada - mesmo que fosse um pé no saco carregar aquele treco verde degraus abaixo. Peguei um biscoito, coloquei um pouco de limonada num copo descartável e me virei.


Um garoto muito bonito olhava fixamente para mim.


Eu tinha quase certeza de nunca ter visto aquele cara na vida. Alto e magro, mas musculoso, ele fazia a cadeira de plástico, daquelas usadas em sala de aula, parecer enorme, com seu tamanho (uns bons vinte centímetros menor que eu.). Cabelo castanho, liso e curto. Parecia ter a minha idade, talvez um ano mais velho, e estava sentado com o cóccix na beirada da cadeira, uma postura péssima, com uma das mãos enfiada até a metade no bolso da calça jeans escura.


Desviei o olhar, repentinamente consciente da quantidade de coisas erradas em mim. Eu estava com uma bermuda cáqui velha, que algum dia foi mais justa e agora estava folgada nos lugares mais estranhos, e uma camiseta de malha preta dos ramones. Tinha também o meu cabelo: cacheado e desgrenhado, e eu nem tive a preocupação de, poxa, dar uma escovada nele. Além disso, minhas covinhas eram um grande defeito genético nas minhas bochechas, aprofundadas pelo tratamento. Eu era uma pessoa de proporções exageradamente grandes de mais para qualquer ser humano, com um balão no lugar da cabeça. Isso sem falar dos meus pés, que graças à alguma força superior, não estavam expostos. Mesmo assim, dei uma espiada rápida e os olhos dele ainda estavam grudados em mim.


Foi então que entendi o verdadeiro sentido de aquilo ser chamado de contato visual.


Andei até a roda e me sentei ao lado de Niall, a duas cadeiras do garoto. Olhei de novo, rapidamente. Ele ainda me observava.


Na boa, vou logo dizendo: ele era um gato. Se um cara que não é gato encara você sem parar, isso é, na melhor das hipóteses, esquisitos, e na pior, algum tipo de assédio. Mas se é um cara gato... na boa...


Peguei meu celular e apertei o botão central para ver as horas. Os lugares na roda foram ocupados por azarados de doze a dezoito anos além da Senhora Flowers, uma mulher de uns cinquenta anos, que tinha sobrevivido e gostava do ar jovem que transmitíamos. E, então, Charlie se pôs em seu lugar, e começou os trabalhos, com a prece de sempre. O garoto ainda me encarava, e senti meu rosto corar.


Por fim, resolvi que a melhor estratégia seria também olhar ficamente para ele. Afinal de contas, o garoto não detêm o monopólio da Atividade Encaradora. Foquei nele enquanto Charlie explicava pela milésima vez sua ausência de rins etc., e aquilo logo virou um Jogo do Serio. Depois de um tempo o garoto sorriu e, até que enfim, desviou os olhos azuis. Quando me olhou de novo, arqueei as sobrancelhas como que dizendo: ganhei.


Ele deu de ombros. Charlie prosseguiu e, enfim, a hora das apresentações chegou.


- Niall, talvez você queira ser o primeiro hoje. Sei que está enfrentando um grande desafio no momento.


- É - Niall disse. - Meu nome é Niall. Tenho dezessete anos. Parece que vou precisar ser operado em duas semanas, depois vou ficar cego. Não estou reclamando nem nada porque sei que poderia ser pior, como no caso de alguns aqui, mas, quer dizer, ficar cego é, tipo, uma merda. Ter uma namorada me ajuda. Além de amigos como o Louis. - Ele balançou a cabeça na direção do garoto, que agora tinha nome. - Pois é... - continuou. Ele estava olhando para as mãos, os dedos cruzados, parecendo uma oca indigena. - Não há nada que se possa fazer para mudar isso.


- Estamos do seu lado, Niall. - Charlie falou. - Vamos lá, pessoal, digam para o Niall ouvir.


E então todos nós, em uníssono, dissemos:


- Estamos do seu lado, Niall.


Clifford foi o próximo. Ele tinha quinze anos. Sofria de leucemia. Desde que se entendia por gente. E estava bem. (Pelo menos foi o que disse. Ele desceu de elevador.)


A Elena tinha dezesseis anos e era bonita o suficiente para ser alvo do olhar do cara gato - mas ele provavelmente era gay. Era frequentadora assídua das reuniões - estava em um longo período de remissão de um câncer de apêndice, que eu nem sabia que existia. Ela disse - como em todas as outras vezes que eu fui às sessões do grupo - que se sentia forte, o que para mim, com aquela chuvinha de oxigênio fazendo cosquinhas no nariz, era o mesmo que tirar onda.


Outros cinco falaram antes do cara gato. Ele deu um sorrisinho quando chegou sua vez. A voz era aguda, mas baixa e aveludada, além de supersensual.


- Meu nome é Louis Tomlinson - disse. - Tenho dezoito anos. Tive uma pitada de osteossarcoma um ano e meio atrás, mas só estou aqui hoje porque o Niall pediu.


- E como está se sentindo? - O Charlie perguntou.


- Ah, maravilha. - Louis Tomlinson deu um sorrisinho. - Estou numa montanha-russa que só vai para cima, amigão.


Quando chegou minha vez, eu disse:


- Meu nome é Harry. Tenho dezesseis anos. Tireoide com metástase nos pulmões. Estou bem.


A hora passou rápido. Lutas foram recontadas, batalhas ganhas em guerras que com certeza seriam perdidas; a esperança virou tábua de salvação; famílias foram celebradas e recriminadas; foi consenso que os amigos não entendiam nada; lágrimas foram compartilhadas, e consolo, oferecido. Nem eu nem o Louis Tomlinson tínhamos soltado uma palavra, até que o Charlie disse:


- Louis, talvez você queira falar de seus medos para o grupo.


- Meus medos?


- É.


- Tirando de que eu já estou proíbido de jogar futebol, eu tenho medo de ser esquecido. - disse ele de bate-pronto. - Tenho medo disso como um cego tem medo de escuro.


- Calma aí... - disse Niall, abrindo um sorriso.


- Estou sendo insensível? - perguntou o Louis. - Eu posso ser bem cego quando o assunto são os sentimentos das outras pessoas.


Niall estava rindo, mas Charlie levantou um dedo, repreendendo-o.


- Por favor, Louis. Voltemos a você e às suas questões. Disse que tem medo de ser esquecido?


- É - respondeu o Louis.


Charlie pareceu meio perdido.


- Alguém, hm... Alguém gostaria de fazer algum comentário?


Eu não frequentava uma escola de verdade havia três anos. Meus melhores amigos eram meus pais. Meu terceiro melhor amigo era uma banda de rock que nem sabia que eu existia. Eu era relativamente tímido - de jeito nenhum o tipo que levanta a mão para falar.


E, mesmo assim, só dessa vez, resolvi abrir o verbo. Levantei a mão, e o Charlie, a satisfação estampada na cara, disse:


- Harry!


Eu estava, tenho certeza de que foi isso o que ele pensou, me abrindo. "Me tornando parte do grupo."


- Todos nós aqui - eu disse - estamos esperando por um dia em que vai chegar para todos. Vai existir um dia em que não vai sobrar nem um ser humano vivo, talvez só ossos sobrem, mas a nossa história, a história de cada um, é única. Está aqui para ser vivida, presenciada, a cada momento é um momento que talvez seja perdido, mas... Isso fez parte da sua história. - fiz um gesto abrangente. - Então, cada esforço aqui feito, vai ser inútil. Mesmo que sobrevivamos a uma explosão solar, a morte está mais perto do que todos imaginam. E se a inevitabilidade do esquecimento humano preocupa você, sugiro que deixe esse assunto para lá.


Eu tinha aprendido aquilo com minha avó, ela sempre me repetia, antes de morrer, que eu deveria aproveitar o aqui e o agora, pois não existiria um depois muito longo para isso. Era a única pessoa que pisara na terra que parecia: (a) entender o que era estar morrendo, e (b) não ter morrido. - Tudo bem, na verdade agora ela está morta, mas na época fazia sentido.


Assim que terminei fez-se um longo silêncio, e eu pode ver um sorriso se abrindo de um canto ao outro no rosto do Louis - não o tipo de sorriso cafajeste do garoto tentando parecer sexy ao me encarar, mas um sorriso sincero, quase maior que a cara dele.


- Caramba! - disse ele baixinho. - Não é que você é mesmo demais?


Nós dois não falamos mais nada até o fim da reunião, quando todos se deram as mãos e o Charlie nos guiou em mais uma prece. Ao terminar citou uma enorme lista de mortos. E enquanto o Charlie continuava a ladainha, lendo a relação em uma folha de papel porque era muito comprida para ser decorada, fiquei de olhos fechados, tentando elevar os pensamentos em oração, mas a maior parte do tempo imaginava o dia em que meu nome ocuparia um lugarzinho ali, bem no fim da lista, quando ninguém mais está prestando atenção.


Quando Charlie avabou, entoamos juntos aquele mantra idiota - VIVENDO O MELHOR DA NOSSA VIDA HOJE - e foi o fim da reunião. O Louis Tomlinson empurrou o corpo para fora da cadeira e caminhou na minha direção. O andar dele era tão sedutor quanto o sorriso. Ele parou na minha frente, tendo de olhar para cima para eu poder olhá-lo nos olhos.


- Qual é o seu nome? - ele perguntou.


- Harry.


- Não, o nome completo.


- Hum... Harry Edward Styles.


Ele ia dizendo alguma coisa quando o Niall se aproximou.


- Só um instante - falou, levantando um dedo, e virou-se para o Niall. - Isso foi pior do que você tinha dito, na verdade.


- Eu disse que era um tédio.


- Por que você se dá o trabalho de vir aqui?


- Sei lá. Meio que ajuda...?


Louis inclinou o corpo achando que assim eu não conseguiria ouvi-lo.


- Ele vem sempre? - Não deu para escutar o comentário de Niall, mas Louis respondeu: - Quer saber? - Ele pegou Niall pelos ombros e deu meio passo para trás. - Conte à Harry da ida ao médico.


O Niall apoou uma das mãos na mesa de biscoitos e virou o olho enorme para mim.


- Tá, é que eu fui ao médico hoje de manhã e estava falando para o meu cirurgião que preferia ser surdo a ser cego. E ele disse: "Não é assim que as coisas funcionam." Aí eu falei, tipo: "É, eu sei que não é assim; só estou dizendo que preferiria ser surdo a ser cego se pudesse escolher, mas sei que não posso." E ele: "Bem, a boa notícia é que você não vai ficar surdo." Eu disse: "Obrigado por esclarecer que meu câncer no olho não vai me deixar surdo. É muita sorte minha ter um gênio como você me operando."


- Ele é mesmo um gênio - falei. - Vou tentar arrumar um câncer qualquer no olho para poder conhecer esse cara.


- Boa sorte. Então, tá. Já vou indo. A Bárbara está me esperando. Preciso olhar bastante para ela enquanto posso.


- Counterinsurgence amanhã? - Louis perguntou.


- Com certeza. - O Niall deu meia-volta e subiu as escadas correndo, pulando os degraus de dois em dois.


Louis Tomlinson se virou para mim:


- Literalmente.


- Literalmente? - perguntei.


- Estamos literalmente no coração de Jesus... Acei que estivéssemos em um depósito de uma pet-shop, mas estamos literalmente no coração de Jesus.


- É. Mandaram por engano, ao invés de cem sacos de ração para gato. - dei uma leve risada. - Alguém deveria contar isso para Jesus. - falei. - Quer dizer, deve ser perigoso ficar guardando crianças com câncer no coração.


- Eu mesmo poderia contar - Louis falou -, mas, para minha infelicidade, estou literalmente enterrado no coração dele, então ele não vai conseguir me ouvir.


Eu ri. Louis balançou a cabeça, me olhando.


- O que foi? - perguntei.


- Nada. - ele respondeu


- Por que você está olhando para mim desse jeito?


Ele deu um sorrisinho.


- Porque você é bonito. Eu gosto de olhar para pessoas bonitas, e faz algum tempo em que resolvi não me negar os prazeres mais simples da existência humana. - Um silêncio constrangedor se seguiu. Mas o Louis quebrou o gelo. - Quer dizer, principalmente porque, como você deliciosamente observou, tudo vai acabar em total esquecimento, e tal...


Eu meio que engasguei, ou suspirei, ou soltei o ar de um jeito que pareceu uma tosse, e disse:]


- Eu não sou boni...


- Você é tipo um... Um Brad Pitt! Em Confissões de uma mente perigosa.


- Não vi esse filme. - falei.


- Sério? - ele perguntou. - Garoto lindo, vira um agente secreto...


Cada sílaba que saía da boca dele flertava comigo. OK, ele meio que me deixava duro. Eu nem sabia que garotos podiam me deixar excitado. - pelo menos não, tipo, na vida real.


Uma menina mais nova passou por nós.


- E aí, Cara. Tudo bem? - ele perguntou.


Ela sorriu e balbuciou:


- Oi, Louis.


- Gente da Santa Casa. - ele explicou.


A Santa Casa era um grande hospital de pesquisas.


- Qual você frequenta?


- Pequeno Príncipe. - respondi, meu tom de voz mais baixo do que eu pretendia. Ele fez que sim com a cabeça. A conversa parecia ter chegado ao fim. - Bem - falei, mexendo a cabeça vagamente na direção dos degraus que levavam para fora do Coração Literal de Jesus. Inclinei o carrinho do oxigênio para apoiá-lo nas rodinhas e comecei a andar. O Louis foi andando ao meu lado. - Então, a gente se vê na próxima, talvez? - perguntei.


- Você deveria assistir - ele falou. - Ao Confissões de uma mente perigosa quero dizer.


- Tá. Vou ver se acho para assistir.


- Não. Comigo. Na minha casa - ele disse. - Agora.


Parei de andar.


- Eu mal conheço você, Louis Tomlinson. Você pode muito bem ser o assassino do machado.


Ele concordou.


- Tem toda razão, Harry Styles.


E passou por mim, os ombros dando forma à camisa com listras azuis, as costas retas, os passos muito sensuais, rebolando as suas nádegas que preenchiam muito bem sua calça jeans.


Eu o segui escada acima, devagar, ficando para trás. Degraus não são o forte dos meus pulmões.


Aí fomos do coração de Jesus até o estacionamento, o frescor da brisa da primavera na medida certa, a luz do fim de tarde divina em sua nocividade.


Mamãe não tinha chegado ainda, o que era estranho, porque ela sempre estava lá esperando por mim. Olhei em volta e vi que uma garota alta, morena e boazuda imprensava Niall na parede de pedra da igreja, beijando o menino de um jeito quase agressivo. Estávamos tão perto que eu podia escutar os ruídos estranhos das duas bocas grudadas e ouvi o Niall dizendo "sempre", e ela respondendo com "sempre" também.


O Louis apareceu de repente ao meu lado e sussurrou:


- Eles são grandes adeptos de demonstrar afeto em público.


- Qual é a do "sempre"?


O ruído da troca de saliva aumentou de intensidade.


- "Sempre" é o lema deles. Sempre vão se amar, e tal. Pelos meus cálculos, e sendo bastante conservador, eles devem ter trocado quatro milhões de mensagens de texto com a palavra sempre no ano passado.


Mais dois carros chegaram, levando embora o Michael e a Cara. Aí sobramos só o Louis e eu, observando o Niall e a Bárbara, que continuavam frenéticos, como se não estivessem encostados na parede de um local público. Ele pôs a mão no peito dela, por cima da blusa, e apalpou o mamilo, a mão imóvel enquanto os dedos se mexiam. Fiquei me perguntando se aquilo seria gostoso. Não parecia, mas resolvi perdoar o Niall levando em conta o fato de que ele estava para ficar cego. Os sentidos devem aproveitar enquanto ainda há apetite, e tal.


- Imagine a última ida de carro até o hospital - falei, baixinho. - A última vez que você vai dirigir um carro.


Sem me olhar, Louis disse:


- Você está atrapalhando a minha vibe aqui, Harry Styles. Estou tentando observar o amor afolescente em sua esplendorosa estranheza.


- Acho que ele está machucando o peito dela. - comentei.


- É. É difícil saber ao certo se ele está tentando excitar a menina ou fazer um exame de mama.


Aí o Louis colocou a mão no bolso e tirou de lá, por incrível que pareça, um maço de cigarros. Levantou a tampa da caixinha e colocou um cigarro na boca.


- Isso é sério? - perguntei; - Você acha isso legal? Ai, meu Deus, você acabou de estragar a coisa toda.


- Que coisa toda? - ele perguntou, virando pra mim.


O cigarro pendia apagado da boca, do canto que não sorria.


- A coisa toda em que um garoto que não é pouco atraente ou pouco inteligente ou, aparentemente, de forma alguma pouco tolerável me encara e chama a minha atenção para utilizações incorretas da literalidade e me compara a atores e me convida para ver um filme na casa dele. Mas é claro que sempre tem uma hamartia e a sua é que, ai, meu Deus, mesmo você TENDO TIDO A PORRA DE UM CÂNCER ainda dá dinheiro para uma empresa em troca de chance de ter MAIS CÂNCER. Ai, meu Deus. Deixe só eu dizer pra você como é não conseguir respirar? É UM INFERNO. Totalmente decepcionante. Totalmente.


- Uma hamartia? - ele perguntou, o cigarro ainda na boca.


Aquilo deixava sua mandíbula contraída. E a linha da mandíbula dele, infelizmente, era tudo...


- Uma falta trágica - expliquei, dando as costas para ele.


Dei um passo na direção do meio-fio, deixando Louis Tomlinson para trás, e foi então que ouvi um carro dando a partida mais adiante na rua. Era a mamãe. Ela tinha ficado ali, esperando que eu, tipo, fizesse amigos ou coisas assim.


Senti um misto de decepção e raiva crescendo em mim. Nem sei direito que sentimento era aquele, sério, só que havia muito dele, e eu queria dar um soco na cara do Louis Tomlinson e ao mesmo tempo trocar meus pulmões por outros que não fossem péssimos. Eu estava de pé bem na pontinha do meio-fio com meu All Star branco, o cilindro de oxigênio no carrinho ao meu lado parecendo aquela bola de ferro que fica presa com uma corrente no tornozelo de um prisioneiro, e na hora que minha mãe ia encostando o carro senti a mão dele pegar a minha.


Puxei a mão, mas me virei para ele.


- Eles não matam se você não acender - disse ele quando mamãe parou junto ao meio-fio. - E eu nunca acendi nenhum. É uma metáfora. Tipo: Você coloca a coisa que mata entre os dentes, mas não dá a ela o poder de completar o serviço.


- É uma metáfora - falei, hesitante.


Mamãe esperava, quieta.


- É uma metáfora - ele repetiu.


- Você determina seu comportamento com base nas ressonâncias metafóricas...


- Ah, é. - Ele sorriu. O sorriso largo, meio bobo e sincero. - Sou um grande adepto da metáfora, Harry Styles.


Eu me virei para o carro. Dei uma batidinha na janela, que se abriu.


- Vou ver um filme com Louis Tomlinson - falei - Grave, por favor, os próximos episódios da maratona do HIMYM para mim.


*ESSE PRIMEIRO CAPÍTULO FOI PRATICAMENTE CÓPIA, MAS EU PROMETO QUE OS PRÓXIMOS VÃO FICAR CADA VEZ MAIS ORIGINAIS.*



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Autor(a): smurfetxi

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