Fanfic: A Aposta (Adaptação) | Tema: Laliter

  Peter localiza a caixinha de bambu. Está posicionada sobre uma rocha branca, próxima às margens do riacho. A corredeira é feroz e se os dois entrarem na água, poderão ser levados. A melhor opção é um deles se agarrar a uma árvore e o outro resgatar a caixa.

— Eu vou. – o tom alterado de Peter não deixa opção.

— Tudo bem, vá lá. – ela dá de ombros, analisando as árvores ao redor. Um galho grosso e forte o bastante poderá ajudar na estratégia.

— Acha que consegue nos segurar? – ele pergunta.

— Acho que sim.

— Se for soltar, me avise. – Peter entra na água.

— Tá legal.

  A operação é executada com maestria. Peter pega a caixa de bambu e volta para a margem, encharcado da cintura para baixo. Só então percebe que Lali morde o lábio, olhando para algum lugar próximo.

— O que foi? – ele olha para trás. – Que merda! Corremos risco à toa.

  Sobre um tonel cinza, uma corda foi deixada pelos monitores, propositalmente. Realmente Peter estava achando aquela operação de resgate muito arriscada.

— Agora já foi. – ela diz, indiferente. – Por favor, nos solte logo.

  Peter abre a caixa e pega a chave. Sem qualquer dificuldade, consegue livrá-los das algemas. A garota sacode o braço, avaliando se o pulso está ferido. Não está. Peter desenrola o mapa envolto em um saquinho transparente.

— Para onde agora? – Lali enche o cantil de água.

— Tem uma trilha mais à frente. – Peter aponta para algum lugar além das árvores.

— Ok, vamos lá.

~~***~~

  Eles caminham – na verdade se arrastam – pela nova trilha. Lali está cansada e não consegue absorver a beleza da mata. Desvia de folhas, arbustos, galhos e nem sequer nota os micos que pulam acima de suas cabeças.

  Peter segue logo atrás, tomando o último gole de água do cantil. Abre uma barra energética e manda para dentro em três dentadas. Já passa das três e meia da tarde.

— Esse tesouro tem que valer a pena. – Peter comenta para si mesmo.

— Se não valer a pena, vou socar alguém. – Lali rosna, enxugando o suor da testa.

  O caminho ziguezagueia entre outras trilhas. Mas o mapa é perfeito, cheio de marcações, impossível de se perderem. Lali ainda está com aquela forte sensação de estar sendo seguida e não é por Peter. Olha para trás uma vez. Mais outra. E mais outra.

— O que foi? – ele finalmente pergunta, olhando também para trás.

— Juro, acho que estamos sendo seguidos.

— Lali, você está paranoica.

— Não estou não. Tenho quase certeza disso.

— Tudo bem, vou ficar atento. Agora anda, ainda temos chão pela frente. – Peter mira o mapa e confere se estão no caminho certo. – De acordo com as instruções, vamos encontrar a garrafa logo ali.

  Ele aponta para um conjunto de árvores que formam um semicírculo. Vasculham a área a procura do objeto. No mapa, uma árvore está marcada com um xis vermelho. Lali olha em volta, mas é Peter quem encontra o tronco pintado.

  A garrafa está presa nos galhos mais altos, balançando com o vento. Lali olha para Peter. Peter olha para Lali. Alguém precisará subir.

— Certo, eu vou. – ele decide.

— Nada disso. – ela interpõe. – Você resgatou a caixa, nada mais justo que eu pegue a garrafa.

— Está alto demais!

— Está duvidando da minha capacidade? Quer apostar? – Lali leva as mãos à cintura.

— Pensei que nunca mais apostaria algo na vida. Não depois de… bom, deixe para lá. – Peter está em dúvida se deve permitir ou não que Lali escale a árvore.

— Eu subo. Fique aqui – ela o posiciona – para o caso de eu despencar lá de cima.

— Por favor, não despenque, é sério.

  Lali analisa a árvore detalhadamente. Possui ranhuras no tronco, o que facilitará a escalada. Peter une as duas mãos, entrelaçando os dedos. Ela se posiciona e toma impulso.

  Tranquilamente, Lali encontra pontos de apoio para os pés. Cautelosa, chega aos primeiros galhos e tudo fica mais fácil ainda. Seus dedos já podem tocar a garrafa. O objeto está preso a um galho grosso e pesado. Lali se segura e corta a corda, com a ajuda do canivete suíço. Olha para baixo e vê quando Peter a pega ainda no ar.

— Agora desça daí, com cuidado.

  Uma brilhante ideia pisca no cérebro de Lali como um painel de neon. Quando inicia a descida, lembra-se das palavras de Rocío e resolve colocar o plano em prática. Se algo der errado, ela poderá se machucar. Será que os fins justificam os meios? Bem, só testando para descobrir.

  Engolindo em seco, Lali finge colocar o pé em falso e despenca da árvore. Peter a alcança, mas não consegue se equilibrar. Os dois desabam no chão.

  A antiga Lali teria levantado num pulo, afastando-se de Peter. A nova Lali, criada por Rocío, não faz nada disso. Permanece onde está, por cima do garoto. Os olhos estão cravados um no outro. Peter está arfando? Oh sim, ele está. Não consegue controlar a mão que rasga o ar, tocando os cabelos dela.

  A sensação é de que o tempo parou. Com os polegares, ele traça o desenho dos lábios de Lali, suavemente. Ela não se afasta quando a mão dele desliza para sua nuca, puxando-a para mais perto.

  Ela sente o hálito quente de Peter. As bocas já estão entreabertas e as pálpebras semicerradas. Se a garota precisa agir, o momento é agora.

  Tomada por uma urgência, Lali se desvencilha das mãos de Peter. Levanta-se sobressaltada, sustentando uma expressão que denota surpresa e algo mais. Peter nem imagina que a cena foi premeditada.

— É melhor irmos andando. – Lali bate as mãos na bermuda, livrando-se das folhas secas e da terra.

— Lali. – Peter se senta, tentando domar a respiração.

— Vamos, Peter. – ela pega a garrafa do chão, puxa o novo mapa para fora e retoma a trilha, sem olhar para trás.