Fanfic: A Aposta (Adaptação) | Tema: Laliter

  Lali não consegue conversar com Peter quando voltam do passeio de lancha. Nicolas os aguarda no píer, parecendo um tanto quanto desesperado. Antes que os dois amigos sumam de vista, Lali puxa Peter pelo braço.

— Nossa conversa não terminou.

— Eu sei que não. Nós vamos retomar, eu prometo. – Peter está sendo disputado como num cabo de guerra, com Lali puxando de um lado e Nicolas do outro.

— Depois vocês conversam. O que eu tenho para tratar com o Peter é da mais alta prioridade. – Nicolas puxa o amigo com mais força e Lali o solta.

— No luau conversamos, está bem? – Peter grita por sobre os ombros, sendo arrastado por Nicolas.

— Você não vai escapar. – ela balbucia para si própria.

~~***~~

  No quarto, longe de ouvidos indiscretos, Nicolas anda de um lado para o outro, deixando Peter zonzo. O cara está tentando montar o quebra-cabeças sozinho, mas está difícil pacas.

— Se não me disser o que está havendo, como poderei ajudar, Cabeça?

— Man, tem treta nessa parada.

— Fala logo, brow! – Peter se irrita.

— Está rolando uma nova aposta no ar. E juro, meu camarada, nesse angu tem um caroção.

— Deus do céu, desembucha!

— O Bola lançou uma nova aposta hoje. É um desafio impossível, mas o cara jogou uma grana alta na roda, certo de que vai rolar. – Nicolas leva o indicador ao queixo. – Como ele pode ter tanta certeza?

— Que aposta é essa?

— Bola versus Paula.

~~***~~

  As meninas já estão prontas para o luau. Desde que voltou do passeio de lancha, Lali não viu Peter em lugar algum. Aliás, nem Nicolas.

  Será que o sumiço deles tem algo a ver com a aposta? Estará Lali sendo manipulada e tudo não passa de uma farsa? Ela não divide esses temores com as amigas, prefere se abster em seu próprio mundo cheio de dúvidas.

  Eugenia está usando um vestido comportado, desses com florzinhas e detalhes fofos nas mangas bufantes. O cabelo está preso, para variar, em um rabo de cavalo. Nos pés, chinelinhos da coleção particular de Rocío.

  A viciada em chinelos está usando uma saia longa, com estampa indiana e franjas laterais. Por cima do biquíni, uma blusinha canelada branca e sem mangas arremata o visual.

  Lali optou por um vestido acima dos joelhos, com uma estampa indefinida em tons de verde e marrom, mangas fluidas que descem até os cotovelos e um decote V de arrasar. Por baixo, o biquíni verde fica visível, já que a vestimenta é um tanto quanto transparente. Se cuide, Peter!

  Vestidas para matar, as garotas seguem rumo à praia.

  São dez da noite. A lua cheia está particularmente mágica, cercada por um halo brilhante e azulado. O céu se completa de forma majestosa, com milhares de diamantes no firmamento. O mar está calmo e uma brisa leve acaricia a pele de quem está por ali. O clima é perfeito para um luau.

  Na praia, um imenso tablado de madeira foi transformado em pista de dança e uma banda já está a postos, no aquecimento.

  Uma fogueira foi construída no caminho para o mar. As primeiras chamas já crepitam, um tanto disformes por culpa da brisa. Uma mesa de apoio foi disposta, com palitinhos de marshmallow e queijo coalho. Nham.

  Holofotes apontados para o mar estão em funcionamento e candelabros foram dispostos por todos os lados, fechando o cenário com maestria.

  Garçons circulam entre os estudantes com bebidas coloridas arrematadas com canudos psicodélicos, daqueles que brilham no escuro.

  Peter e Nicolas conversam, um pouco afastados da multidão que se forma sobre o tablado. A banda toca um reggae e a galera dança, no ritmo do Bob Marley.

— Que bom que eu não tive que arrancar essa informação da Euge. – Nicolas se balança em uma rede de dois lugares, presa nos coqueiros. – Cara, não acredito que a Lali tenha passado por isso. Esse cara merecia umas porradas.

  Peter abriu o jogo com o melhor amigo, contando tudo sobre Lali e o seu passado amoroso. Ela não pediu segredo e o garoto não consegue esconder nada de Nicolas.

— E você e a Euge? – Peter se joga na rede e Nicolas sente o solavanco, quase caindo para trás.

— A aposta ainda está rolando, não vou chegar junto. Cara, se ela descobrir…

— Quem contará? – Peter se altera. – Ninguém vai contar, Cabeça, eu garanto. Aproveite o luau, as estrelas, a música… esse é o momento.

— Acha isso?

— Um momento perfeito como esse, nunca mais. – Peter dá uma geral ao redor, sentindo o clima. – Quando voltarmos para São Paulo, teremos apenas mais duas semanas de aula e game over.

— Eu tô afinzão dela, saca? Nós combinamos em tudo, já percebeu? – Nicolas sussurra para que ninguém os ouça.

— Já percebi sim. – Peter enforca Nicolas, na brincadeira.

— E a Lali? Investirá nela quando voltarmos para Sampa? – Nicolas ajeita o boné e mira o amigo.

— As possibilidades são altas.

— Eu sabia! – Nicolas grita e logo abaixa a voz. – Eu sabia, eu sabia!

— Shhhhhhh. Ninguém deve saber sobre isso, está me entendendo? Se a Paula desconfiar, já era. – Peter, um tanto temeroso, olha para os lados, certificando-se de que ninguém os ouve.

— E a aposta Bola versus Paula? – Nicolas impulsiona a rede com um dos pés. – Eu tô preocupadão.

— Veremos no que vai dar. Conforme for, afogaremos o Bola para arrancar dele a história que originou isso tudo.

~~***~~

  O romance está no ar. Talvez seja a praia. Porventura a lua. Acaso as estrelas. Os estudantes estão sentindo a vibração cor-de-rosa e um aroma apaixonado se espalha entre eles, abraçando-os, incitando-os a ir em frente.

  É nesse clima que Nando e Camila estão. Os dois dançam juntinhos, sobre o tablado de madeira. Camila não sabe sobre a aposta e Nando jurou de morte quem resolvesse abrir o bico.

  Os monitores, que não são bestas nem nada, dispuseram um vaso sobre o tablado, repleto de lenços de seda. A garota que quiser tirar um cara para dançar, deverá pegar um dos lenços e colocar no pescoço do dito cujo.

  É o que Euge fará nesse exato momento.

— O que está esperando? – Rocío está a ponto de ela mesma tirar Nicolas para dançar com Eugenia. – Está com medo de quê?

— Não estou com medo! – Eugenia treme nas bases nesse exato segundo. – É só que… e se ele disser não? Será que eu suportaria ser rejeitada?

— Ah, fala sério! – Lali revira os olhos. – Por que ele a rejeitaria? Você é linda, inteligente, divertida e ainda por cima ri de todas as piadas dele. O que mais o Nicolas poderia querer?

— Mas, e se…

— Cale a boca. Pegue esse lenço e vá lá agora! – Rocío pesca um lenço lilás de dentro do vaso e entrega para Euge. – Agora, Dona Eugenia.

— Mas, mas…

— Nunca saberá se não for até lá. E outra, se o Nicolas tiver a coragem de rejeitar você, eu quebro a cara dele. – Lali rosna.

— Quebraria a cara dele? Por mim? – o semblante de Eugenia é de pura admiração. – Jura mesmo?

— Ah, ela quebrará sim. E eu ajudarei. – Rocío aperta os olhos e mostra os dentes.

— Respire fundo e vá até lá. Não deixe que nada a desvie do caminho. Não olhe para trás e nem para os lados. Apenas trace uma linha reta e vá. – Lali dá as coordenadas, empurrando Euge na direção de Nicolas.

  Eugenia vai.

  O coração aos pulos.

  O estômago retesado.

  Os olhos arregalados.

  O sangue congelado.

  As bochechas queimando.

  A respiração entrecortada.

  A garganta fechada.

  A boca seca.

  Os lábios trêmulos.

  As mãos frias.

  As pernas bambas.

  Com o lenço lilás em mãos, Euge atravessa o tablado um tanto cambaleante, mas não se desvia do caminho. Seus olhos estão cravados em Nicolas que, no momento, conversa com Peter e Pablo.

  O cara, recostado num coqueiro, está usando bermuda preta, camiseta branca e um boné surrado da Nike, com a aba para trás. Eugenia deixa um suspiro apaixonado escapar da garganta.

  Peter é o primeiro a notar a aproximação de Euge. Dá uma cutucada em Nicolas para o amigo se ligar.

— Que foi, man?

— Sabe dançar, Cabeçudo? – Peter lança um sorriso debochado no ar.

— Sei. Por quê?

— Oi, gente. – Euge finalmente alcança os garotos. Engole algo que não lhe parece saliva. Está mais para um pedregulho daqueles cortantes. Engasga ao falar, as palavras não saem de sua boca. Percebendo que Eugenia está em apuros, Peter resolve ajudar.

— O Nicolas aqui estava doido para dançar com você, não é, Cabeça? – Peter o empurra, com o cotovelo.

— Verdade? – Euge pergunta, um tanto tímida, fazendo um círculo na areia com a ponta do chinelo.

  Ao notar que Nicolas está mais perdido do que cego em tiroteio, mais perdido do que cachorro em dia de mudança e outros ditados populares, Peter dá um empurrão no cara:

— Não é, Nicolas, meu amigão? – Peter morde o lábio e faz um sinal com a cabeça. Finalmente o cara entende. Caraca, já não era sem tempo.

— É, Euge, eu só não sabia se você… – Nicolas se esquece do que iria dizer ao fitar os olhos de Eugenia. Tomando coragem e algo mais, o garoto declara solenemente: – Euge, o negócio é o seguinte, eu adoraria dançar com você. Me daria essa honra? – e o cara, com todo o seu charme, ajoelha-se aos pés de Eugenia lhe estendendo a mão.

— Eu adoraria. – Euge, delicadamente, coloca sua mão sobre a dele. Quando o pirata se levanta, com um sorriso que Peter nunca havia visto antes, Eugenia passa o lenço lilás em volta do pescoço do garoto, puxando-o como um cachorrinho para a pista de dança.

  Ah, o amor!

~~***~~

  Lali e Rocío acompanham à distância, enquanto Eugenia puxa Nicolas para o meio do tablado. Ela está tão feliz que a alegria reverbera ao seu redor. Uma aura cor-de-rosa envolve aqueles dois de maneira sublime.

  As amigas veem quando Nicolas se aproxima de Euge, passando uma mão em volta de sua cintura. A outra mão está no ar, apenas aguardando que Eugenia a pegue. Ela pega. E então, ele a puxa para si e os corpos finalmente se tocam.

  Lali olha para Rocío. Rocío olha para Lali. As garotas não se contém e começam a rir, sem conseguir parar. Conhecem esses ataques de riso? Daqueles que nos arrancam lágrimas? Pois é exatamente isso o que acontece.

  Quando o ataque passa, após várias tentativas para ficarem sérias, Rocío tomba a cabeça de lado e fixa seu olhar em Lali. Vem bomba por aí.

— E você? O que ainda está fazendo aqui?

— Não farei isso. – Lali sabe do que a amiga está falando. – Não vou tirar o Peter para dançar.

— Por que não?

— A aposta! – Lali estreita os olhos, com uma expressão do tipo “alô?”. – Acha que vou dar esse gostinho para esses moleques?

— Ah, Lali, esqueça isso. Vá lá, tire o cara para dançar. Entre uma dança e outra, ele pode finalmente revelar o porquê de ter aceitado a aposta. – Rocío puxa um lenço azul de dentro do vaso e estende para Lali. – Eu desafio você.

  A ficha de Lali cai, como um soco no estômago. Assim como Peter, ela também odeia ser desafiada. Não consegue se esquivar, é mais forte do que ela. Como podem ser tão iguais?

— Está jogando sujo. – Lali olha para os chinelos verdes.

— Claro que estou. Sei que não suporta ser desafiada. Eu conheço você, Lali Espósito, ainda que há pouco tempo. – Rocío bate um dos pés no chão, num ritmo constante. – Sei que quer isso, eu vejo nos seus olhos.

— Está tão na cara assim?

— Desculpe, mas está. Você não consegue mais esconder.

— E se tudo for mentira? E se o Peter estiver jogando? Como vou saber? – finalmente Lali dá voz as suas dúvidas.

— Os olhos não mentem, Lali. – Rocío passa o lenço em volta do pescoço da amiga. – O Peter está olhando para cá nesse exato momento. Aliás, ele está sempre olhando para você, desde que chegamos à ilha. Você mexe com ele, é visível. Só não vê quem não quer.

— Estou com medo. – Lali jamais afirmou isso em voz alta. Medo é uma palavra que não faz parte do seu vocabulário. Bem, não fazia parte até agora.

— Eu sei que está. Esse jogo de sedução bagunçou tudo, não foi? Essa confusão sentimental na qual está é resultado disso. Encare de frente o Peter, enfrente seu medo. – Rocío sonda os olhos de Lali, segurando-a pelos ombros. – Proteger-se para sempre não é a solução. O sofrimento existe, mas o amor também existe. Você precisa arriscar.

— Uau, você foi profunda agora.

— Vá lá e deixe acontecer. O que tiver que ser, será.