Fanfic: A Aposta (Adaptação) | Tema: Laliter

  O dia correu como se estivesse em uma maratona. O sol já se esconde no horizonte e os últimos raios solares pintam o céu em vários tons alaranjados.

  Duas batidas na porta e alguém enfia a cabeça dentro do quarto. É o monitor-chefe:

— Margareth, a turma já está reunida na sala de jogos. Mas nem sinal do Jaíme e da Paula.

— Onde esses dois se enfiaram? – a professora rosna a pergunta. – Em algum momento eles terão que aparecer.

— Estamos esperando por vocês para a reunião começar. – o monitor avisa.

— Quero ir também. – Lali abre os olhos e se remexe, num despertar preguiçoso.

— Não. Você não está bem. – Peter não permite que ela se levante. – E outra, você não precisa passar por isso.

— Eu quero ir. – Lali esfrega os olhos e se senta, tomando o cuidado de não encarar Peter nos olhos. Apesar das imagens serem um borrão, se lembra do suficiente para ficar com vergonha pelo resto da vida.

— Ela precisa estar presente. – Eugenia vai em favor de Lali.

— Concordo. – Rocío está com os punhos cerrados desde que viu a amiga naquela situação constrangedora.

— Que seja. – Margareth concorda.

~~***~~

  Um murmurinho incessante toma conta dos ouvidos de Lali. São acusações, conjecturas, especulações das mais diversas. Quando ela e Peter entram na sala de jogos, o silêncio recai como um meteoro.

— Não me olhem assim. – Lali pede, encarecidamente. – Não é uma droga que vai me derrubar. – os olhares são dos mais diversos e Lali tenta não se fixar ninguém em especial, não está a fim de decifrar as expressões de pena nos rostos da turma.

  Nicolas se levanta do sofá de dois lugares, dando lugar para Lali e Peter. Ela se senta com dificuldades e ele toma lugar ao seu lado, abraçando-a quando o corpo dela se agita, tremendo de frio.

  Euge estende a mão para Nicolas e eles se recostam na parede, aguardando que a reunião comece.

— Se não se sentir bem, promete falar? – Peter sussurra, entrelaçando seus dedos aos de Lali.

— Prometo. – ela deita a cabeça no ombro dele.

— Ok, pessoal, o negócio é o seguinte: Ninguém sairá dessa sala hoje até que a verdade apareça. – o professor de Literatura toma a palavra. – A amiga de vocês foi drogada. O sangue já seguiu para análise e os culpados terão que aparecer.

— Nós queremos a verdade e queremos agora! – Margareth ruge com voz altiva.

— Querem a verdade? Pois eu direi a verdade. – teatralmente, Paula faz sua aparição, emoldurada pelo batente das portas duplas da sala de jogos. O show está prestes a começar.

~~***~~

  O quebra pau tem início. Acusações voam como flechas pela sala de jogos. Os professores e monitores tem dificuldades para colocar a casa em ordem. E o circo pega fogo quando Bola entra na sala. Aí a coisa fica feia. Todos os garotos querem socar o cara e ele precisa ser protegido pelos professores.

— Calem a boca todos vocês! – Margareth grita, a plenos pulmões. – Ouviremos a Paula primeiro.

— Vai ouvir essa vaca? – Euge se joga na direção da Kibi, querendo muito socar aquela cara de vadia. Mas Nicolas a segura, abraçando-a por trás.

— Ora, ora, ora… a Eugenia se revela, não? – Paula requebra o quadril, levando as mãos à cintura. – Sua idiota, você não faz ideia, não é?

— Não faço ideia do que, sua biscate? – ela luta para se desvencilhar de Nicolas, mas o cara é mais forte.

— Você é uma aposta, meu benzinho. Uma. Aposta. – Paula degusta cada palavra, vingando-se de Nicolas. – Nicolas versus Euge, uma das apostas do ano! – Paula gargalha alto, deliciando-se com o momento.

  Euge não consegue engolir. A garganta se fecha, arranhando. Está atordoada, não acredita que isso esteja acontecendo. Ela é uma aposta?

— Eu não concordei com isso, Euge, você precisa acreditar em mim. – Nicolas sussurra em seu ouvido.

— Eu sou uma aposta? – ela se vira para encará-lo.

— Sim, você é uma aposta! – Paula desdenha. – Aliás, a Camila ali também é uma aposta, não é, Nando?

— O quê? – Camila se levanta num sobressalto. – De novo? – os olhos da garota se enchem de lágrimas. – Seu desgraçado!

  Camila precisa ser contida pelas amigas. Nando tenta se explicar, mas as palavras se dissolvem no calor da discussão. Todos voltam a falar ao mesmo tempo e Margareth dá um berro para conseguir silêncio.

— Parem já com isso!

  O professor de Literatura retoma a palavra, com sua voz ensebada e um tanto presunçosa:

— A Candela nos contou que você e o Jaíme drogaram a Lali. Isso procede? – o professor se dirige à Kibi Mor.

— Candela… ah, Candela. Eu avisei que se não estava comigo, estava contra mim. – Paula mira as unhas violeta. – A Candela é tão boazinha, não é?

— Paulinha, por favor. – Cande sabe o que Paula pretende revelar. – Isso é um assunto meu.

— É seu, é? Pensei que era um assunto do Vico também. – Paula aponta aquelas unhas compridas na direção do garoto.

— Vamos focar no assunto central dessa reunião. – o professor tenta retomar as rédeas, sem sucesso.

— Espere, professor. Eu quero ouvir o que ela tem a dizer. – Vico se levanta do chão, já aguardando a bomba.

— A Cande aqui engravidou de você no ano passado. E eu, como uma boa amiga – Paula olha para Candela e volta a encarar Vico –, a levei para fazer o aborto.

  Posso falar um palavrão? Essa Kibi é uma biscate da pior categoria!

  Pronto. É o que basta para a sala de jogos explodir em mil pedaços. Mais gritos, mais acusações, muita choradeira…

  Eugenia desaba em lágrimas nos braços de Rocío. Pablo consola Nicolas que acaba de socar a parede com toda a força. Camila bate em Nando toda a vez que ele tenta se aproximar. Candela cai prostrada no chão, levando as mãos à cabeça. Vico olha para o nada enquanto os amigos tentam confortá-lo.

  Lali está com o rosto escondido no peito de Peter. O que virá agora? Qual a próxima bomba que Paula jogará na turma? Como ela pode ser cruel a esse ponto?

  Peter afaga os cabelos de Lali, beijando sua testa. O corpo dela ondula de frio e o garoto a enlaça de forma vigorosa, buscando mantê-la aquecida. Apesar do lugar estar ruindo, é como se esses dois estivessem em uma outra dimensão, em segurança.

— Parem! – Margareth sobe em uma cadeira para se fazer ver e ouvir. – Não chegaremos a lugar algum assim!

— Paula, conte logo por que você e o Jaíme drogaram a Lali e que tipo de substância utilizaram. – o professor pega a garota pelo braço, irritado. – Agora!

— Certo, eu já iria chegar lá. – a Kibi Mor sustenta um sorriso perigoso nos lábios. O momento máximo da vingança acaba de chegar.

— Quietos! – Margareth desfere o grito, como um golpe. Finalmente o silêncio é retomado, em meio aos soluços de três garotas: Euge, Camila e Candela.

— Eu chantageei o Peter para que ele aceitasse a aposta da Lali. – Paula faz uma pausa, aguardando a reação da principal interessada. E a reação vem. Lali levanta o rosto do peito de Peter e seus olhos trêmulos encaram os triunfantes da Kibi. – Eu o chantageei com um vídeo detalhado, em vários ângulos, mostrando a verdade sobre o acidente com a moto. Vocês se lembram do acidente, não é? Pois bem, o Peter mentiu para o pai dele, dizendo que um caminhão havia passado por cima da motinha novinha. Não devemos mentir, não é Peter? Acho que aprendeu a lição.

— Continue, Paula! – Margareth cruza os braços à frente do corpanzil. – E se atenha apenas ao que lhe for perguntado.

— Bom, o fato foi que o Peter aceitou a aposta de Lali mediante a minha chantagem.

— O que você pretendia com isso? – o professor pergunta, intrigado.

— Vingança! – ela ruge, entre dentes. – Todos vocês se lembram do que essa vagaba aprontou comigo, não se lembram? Eu só queria me vingar.

— O lance dos cartazes. – o professor se lembra. – E nessa vingança você fez uso de substâncias ilícitas? Você drogou a Lali?

— Não fui eu. Foi o Bola ali. – Paula sorri ao apontar o culpado.

— Como é? – Bola dá um pulo da cadeira. – Ei, eu não fiz isso sozinho!

  Ai, meu Deus. O caos retoma a sala de jogos. Enquanto as acusações inflamam ainda mais o ambiente, Lali e Peter se entreolham.

— Por que não me disse? – ela o encara tristemente.

— Eu iria contar, lá no Centro de Arborismo. Mas então, deu tudo errado. – ele se defende.

— Se o seu pai assistir a esse vídeo, o que acontecerá? – Lali pergunta e os dois conversam baixinho, como se o mundo não estivesse acabando ao redor.

— Ele não vai pagar a minha faculdade de música. Serei obrigado a trabalhar com ele e desistir da carreira. – Peter morde o lábio, fazendo força para não chorar.

— Então foi encenação. Tudo o que aconteceu aqui foi porque você estava sendo chantageado. – Lali afirma em voz alta, para si mesma.

— Eu realmente estou apaixonado por você, Lali.

— Desde quando? – ela engole o choro.

— Eu não sei dizer. Talvez tenha acontecido no jogo de tênis ou depois disso. Eu realmente não sei.

  O silêncio recai após a tempestade de acusações. Paula então retoma a palavra:

— O Bola, achando que iria me ajudar com a vingança, dopou a Lali com uma substância chamada Droga da Coragem. Ele só me contou que fez isso depois que ela havia ingerido o negócio, diluído no suco de maracujá.

— Mentira! – Bola e Candela gritam em uníssono.

— Isso é mentira. A Paula ficou com o Bola ontem no luau para que ele dopasse a Lali hoje! – Candela abre a verdade.

— Candela, o que a Paula queria com tudo isso? – o professor pergunta, quando a turma finalmente faz silêncio.

— Ela passou a viagem inteira fotografando e filmando a Lali e o Peter. Eu ainda não sei onde ela usará as imagens, mas ela tem fotos realmente boas para destruir a reputação da Lali. – Candela faz uma pequena pausa para respirar. – E não é só isso: Ela quer acabar com o Peter também.

— Isso é caso de polícia. – o professor sussurra no ouvido de Margareth que meneia a cabeça em confirmação. – O diretor vai enlouquecer.

— Nem me lembre disso. – Margareth sacode a cabeça e quando dá por si, uma nova confusão está armada.

  Nicolas parte para cima de Bola. Candela se agarra aos cabelos da Kibi Mor. Camila morde Nando, arrancando-lhe sangue. Euge está chorando, compulsivamente.

  Lali olha para o nada. Peter olha para ela.

  A garota está imóvel, inconsolável. A tristeza deságua sobre ela como um tsunami. Lali sente o brilho próprio se apagando, como uma estrela prestes a desaparecer.

  Fazendo um tremendo esforço para se erguer, ela se desvencilha dos braços de Peter.

— Onde vai? – os lábios do garoto tremem.

— Me deixe em paz. – ela lança um olhar áspero em sua direção.

— Lali...

— Já disse, me deixe em paz.

  Lali busca o apoio de Rocío que precisa se dividir em duas, amparando as melhores amigas. Paula percebe que Lali está prestes a sair de cena e não perde tempo:

— Vai fugir, sua vagaba? Quem é a biscate agora, hein? Aquela droga só mostra quem você realmente é! – Paula branda, empurrando Candela sobre uma mesa. – Ah, e só para você saber, fui eu que mandei o Peter levar você para o Centro de Arborismo! Euzinha aqui! E ele cumpriu as minhas ordens! – a Kibi está vermelha de tanto gritar.

— É mentira! – Peter se desespera. – Lali, isso é mentira! – o garoto tenta conversar, mas Rocío não permite.

— Vem, vamos sair logo daqui. – Rocío enlaça as amigas pelos braços e as três deixam a sala de jogos para trás.