Fanfic: A Aposta (Adaptação) | Tema: Laliter

  Após a reunião com os pais dos alunos do último ano, ficou acordado que Paula e Bola estavam expulsos. Os pais dos garotos, extremamente envergonhados, pediram desculpas aos presentes e resolveram assumir sozinhos os encargos da destruição do hotel.

  O pai de Lali, nessa mesma reunião, decidiu acatar o pedido da filha e desistiu do processo judicial. Em que esse processo poderia melhorar as coisas? Os pais de Paula e Bola pareciam ser boas pessoas e, bem, que melhor escola do que a vida, não? Esses dois garotos tomariam muitas bordoadas se não mudassem de atitude.

  Lali ainda não deu sua resposta com relação a morar no exterior. Após deliberar com Euge e Rocío, decidiu pensar um pouco mais. Essa é uma oportunidade de ouro e não se pode desprezar algo assim.

  Lali também foi levada ao hospital para fazer novos exames de sangue. O que quer que havia em seu sistema foi expelido, de maneira natural. Não há qualquer traço da substância que ingeriu e isso foi um tremendo alívio para os pais da garota. O laudo do exame de sangue de Lali já saiu e está nas mãos da polícia.

  Hoje é segunda-feira, o primeiro dia das duas últimas semanas no Prisma. O diretor deu um salvo-conduto para Lali. Se ela não quiser frequentar as aulas, estará dispensada sem maiores problemas. Mas esse seria um atestado de fraqueza e Lali não quer parecer fraca.

  Eugenia e Rocío prometeram não falar sobre Paris com ninguém. Esse será um segredo muito bem guardado.

  Lali chega ao colégio, estacionando a moto na vaga de sempre. Tira o capacete e pega a mochila e a bolsa, dirigindo-se para a entrada. No meio do caminho encontra Eugenia e outras garotas com o olhar abismado, mirando algo ao longe. Os olhos de Lali são imediatamente atraídos para lá. Ela empalidece no mesmo instante.

  Mas que merda!

  O outdoor, em frente ao colégio, sustenta algo que faz com que Lali feche os olhos por alguns segundos. Quando torna a abri-los, descobre que é real.

  Euge se aproxima, balançando a cabeça em negativa. Isso é ruim, muito ruim. As duas se encaram por alguns segundos antes de Lali começar a dizer:

— Nós sabíamos que algo assim aconteceria.

— É, nós sabíamos. – Euge encara o outdoor novamente, absorta.

— Até que a Paula tem talento, essa foto está ótima. – Lali brinca com a situação, tentando desanuviar.

— É, a imagem está ótima mesmo. – Eugenia concorda. – É uma pena que você está seminua.

— É uma pena mesmo. – Lali está com vontade de chorar, mas tenta dominar suas emoções.

— E o Peter está com as mãos nos seus…

— É, ele está. – Lali admite, pesarosa.

— Até que o layout do outdoor ficou legal. – Euge zomba, para que Lali não se sinta tão mal.

— É, ficou interessante.

  O imenso outdoor na porta do colégio está tomado por uma imagem de Lali e Peter, naquele Centro de Arborismo, no último dia na ilha.

  Sem a parte de cima do biquíni, Lali está montada sobre o cara. Ele, por sua vez, está com as duas mãos nos seios da garota, tapando-os de olhares indiscretos.

  O título em negrito anuncia: “Peter, o vencedor da Grande Aposta.”

  O subtítulo, também em negrito, arremata: “Lali Espósito, a biscate do ano.”

  Camila chega correndo, esbaforida. Traz algo em mãos e começa a gritar, completamente surtada:

— Aquela galinha, Lali! Se eu cruzar com ela na rua, juro que atropelo!

— O que foi agora? – Euge revira os olhos.

— Ela pagou dois garotos para distribuírem isso! – Camila estende um DVD na direção das meninas. É Eugenia quem o pega das mãos de Camila. Lali olha por cima dos ombros da amiga e o que vê revira o seu estômago.

  Na capa do DVD, a mesma imagem do outdoor está impressa, com os dizeres: Peter versus Lali, o pornô mais quente do ano. Apreciem sem moderação.

— Certo, ela foi longe demais. – os olhos de Lali umedecem automaticamente.

— O diretor precisa recolher esse material. Temos que falar com ele agora! – Euge faz menção em quebrar a mídia ao meio, mas Lali não permite.

— Não! Deixe eu guardar esse. – ela pega o DVD com fúria e o joga dentro da bolsa.

— Lali, volte para casa, aceite a dispensa que o diretor lhe deu. – Euge aconselha.

— Não farei isso. Esse é o teste para saber se sou mesmo inquebrável como penso.

— Não será fácil encarar essa galera. – a amiga salienta.

— Não, não será. – Lali enxuga uma lágrima com as costas da mão.

— Estaremos ao seu lado. – Camila ajeita uma mecha do cabelo de Lali atrás da orelha. – Se alguém fizer uma piadinha, eu juro que mato!

— Deixe que façam piadas, eu não ligo. Nós sabemos o que realmente aconteceu na ilha e é isso o que importa.

  O celular de Eugenia toca, insistentemente. Ela o retira do bolso traseiro do jeans, desliza o indicador sobre a tela e há uma nova mensagem.

— É da Rocío. – Euge abre a mensagem. – SOS?

— SOS? – Lali olha para a mensagem, intrigada.

— Por que a Rocío pediria socorro? – Camila vinca a testa.

— Ai. Meu. Deus. – a ficha de Eugenia cai, ruidosamente. – O Gas iria passar na casa da Rocío hoje de manhã para trazê-la ao colégio! Lali, ele deve ter visto o outdoor! – Euge está aos gritos, com os olhos saltando das órbitas.

  Um nome escapa dos lábios trêmulos de Lali:

— Peter.

~~***~~

  Lali corre, mas não é rápida o bastante.

  Quando chega à entrada do colégio, o tumulto já está armado. Gas está sendo contido por Pablo, Vico, Nando e um cara do primeiro ano. Nicolas está ajoelhado ao lado de Peter, que aliás, sangra como um porco recém-abatido.

  Lali sente um nó se formar na garganta e seus olhos se encontram com os de Rocío. A amiga está aos prantos, tentando acalmar Gas a todo o custo.

  Deixando o orgulho ferido de lado, Lali larga a bolsa e a mochila aos pés de Camila e Eugenia, abrindo espaço entre as pessoas, distribuindo cotoveladas para todos os lados.

  Quando finalmente alcança a clareira, ajoelha-se ao lado de Peter, verificando visualmente os ferimentos. O cara está estendido no chão, com o nariz sangrando e Nicolas segura a cabeça do amigo com uma das mãos. Os olhos de Peter se encontram com os de Lali, prendendo-os como sempre acontece.

— Lali, se afaste desse cara! – Gas grita, tentando se desvencilhar das mãos que o seguram firme.

— Desculpe por isso, Peter. – Lali não consegue desviar o olhar daqueles raios solares hipnóticos. – Meu irmão é um pitbull.

— Eu mereci. – Peter geme baixinho.

— Lali, eu tô falando sério, porra! – Gas luta em vão enquanto é arrastado para fora do colégio.

  Os professores chegam trotando em direção a muvuca. O diretor leva as mãos à cabeça, pedindo que Lali e Nicolas conduzam Peter à enfermaria.

— Não precisa vir. – Peter passa o braço ao redor do pescoço de Nicolas, levantando-se um tanto quanto cambaleante. Quando o garoto tomba para o lado oposto, Lali o escora com o próprio ombro.

  Ela não responde quando Peter repete “não precisa vir”. Apenas faz sinal para que Nicolas comece a andar em direção à enfermaria. Curiosos vão seguindo com o olhar, enquanto Euge e Camila recolhem os pertences de Lali do chão.

  Gas está gritando, mas Lali o ignora. Vão ganhando terreno, subindo os quatro degraus, até chegarem à entrada principal do colégio.

~~***~~

  Uma multidão se forma no corredor da enfermaria. Peter, Lali e Nicolas aguardam a chegada da enfermeira, que aliás, está presa no congestionamento.

  Lali abre um armário de vidro e pega um pacote de gaze e um spray antisséptico. Borrifa um pouco do conteúdo e começa a limpar o rosto de Peter, fugindo dos olhos do cara.

— Não precisa fazer isso. – Peter segura a mão de Lali. O simples toque de peles a faz arrepiar da cabeça aos pés.

— Meu irmão não deveria ter descontado em você. – Lali analisa os ferimentos. O nariz de Peter sangra e a boca está cortada por dentro. Dois socos, talvez três. Lali não sabe dizer quantos foram e não quer perguntar.

— Você viu o DVD? – Nicolas pergunta, contendo a multidão de curiosos que querem invadir a enfermaria a todo custo.

— Estou com um na minha bolsa. – Lali revela, umedecendo os lábios. – Se meu pai souber disso, a coisa vai ficar muito feia.

— A Kibi foi longe demais. – o tom de Nicolas denota fúria.

— O estrago já está feito. – Lali diz em tom de desabafo.

— Ai. – Peter reclama quando a gaze desliza pelo canto da boca.

— Desculpe. – ela alivia a pressão.

— Temos que conversar. – Peter se perde dentro dos olhos de Lali, mas a garota está evitando encará-lo.

— Não estou pronta. – ela admite.

— Me deixem passar. – a enfermeira finalmente alcança a porta e Nicolas desbloqueia a entrada.

— Está em boas mãos agora. – Lali, sem olhar para Peter, atira a gaze suja de sangue em direção ao lixo. – Mais uma vez, desculpe pelo meu irmão.

— Lali. – Peter a segura pelo braço.

— Como eu disse, ainda não estou pronta para essa conversa. – e então, Peter afrouxa a pegada e Lali passa voando por Nicolas, saindo porta afora.