Fanfic: A Aposta (Adaptação) | Tema: Laliter

  Para conseguir entrar em casa, Lali precisa desviar de um copo estilhaçado no hall. Descobre uma Rocío aos gritos com Gas. O irmão está vermelho de raiva e completamente descontrolado. A garota sabe que está ferrada.

  Rocío tenta aplacar a fúria, dizendo que Lali não é mais criança e pode assumir a responsabilidade por seus atos. Nenhum dos dois percebe que ela está por ali.

— Parem de brigar por minha causa. – o tom de Lali recai como um raio.

— Ah, você está aí. – Gas se inflama. – Em que você estava pensando, porra? Por que ajudou o cara?

— Pare com isso, Gas! – Rocío, ainda aos gritos, agarra o braço dele.

— Você viu isso aqui? Assistiu esse vídeo? – Gas chacoalha o DVD nas fuças de Lali.

— Não, eu ainda não assisti. – Lali abaixa a cabeça, envergonhada.

— Eu vou matar aquele cara! – Gas está espumando.

— Eu já disse que o Peter não teve nada a ver com isso, Gas. Que saco, me escute! – Rocío se enfeza.

— Não é bem assim. – Lali finca os dentes no lábio, arrasada. – Algo aconteceu no colégio. – ela sente as forças se esvaindo e despenca, pesadamente, sobre o degrau que separa o hall de entrada da sala de estar. – Nós ouvimos a gravação de uma conversa entre a Paula e o Peter. O diálogo foi transmitido para o colégio inteiro, pelo sistema de som.

— Como é? – Rocío ajoelha-se em frente à Lali. – Que gravação é essa?

— A Paula chantageou o Peter para que ele me levasse até o Centro de Arborismo. A Kibi pediu para que ele deixasse eu fazer o que quisesse, sem me impedir. Se cumprisse as ordens, Peter estaria livre da chantagem.

— O filho da mãe sabia? Porra, eu to falando! Vou matar esse desgraçado! – Gas pega as chaves do carro, mas Rocío bloqueia o caminho, tirando as chaves da mão do cara.

— Você não vai matar ninguém! – Rocío ruge. – Lali, você tem certeza sobre isso?

— Eu escutei a gravação. Aliás, o colégio inteiro ouviu. – Lali afunda o rosto nas mãos. – Eu estava enganada sobre o Peter, ele estava jogando o tempo todo.

— Pode ser uma montagem, Lali. – Rocío pondera.

— Para mim acabou. – Lali lamenta, aos soluços. – Eu preciso sumir daqui, quero esquecer o que aconteceu naquela ilha.

— Vai aceitar fazer a viagem? – Rocío se sobressalta. – Vai fugir, Lali?

— Não é uma fuga. – Gas finalmente para de gritar. – É uma decisão inteligente, um recuo estratégico.

— Eu nem sei o que dizer. – Rocío toma assento ao lado de Lali. – Eu concordo que a viagem será incrível para você, mas não acho que esteja tomando essa decisão pelos motivos certos.

— Eu preciso me distanciar disso tudo, tenho que esquecer o Peter. – Lali tomba a cabeça no ombro da amiga.

— Me deixe matar o cara? Só um pouquinho? – Gas cerra os punhos.

— Cale a boca, Gas! – Rocío bufa e abraça Lali.

  Depois de um tempo longo demais, as coisas se acalmam na residência dos Espósito. Gas está jogado no sofá, girando o DVD entre os dedos, pensativo. Rocío e Lali ainda estão sentadas sobre o degrau de mármore, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo.

— Vou para o meu quarto separar as roupas da viagem. – Lali se levanta, enxugando o rosto na camiseta. – Não há mais o que esperar.

— Você deu alguma chance para o Peter se explicar? – Rocío pergunta, levantando-se também.

— Não e nem darei. Não fará a menor diferença.

~~***~~

  Subindo as escadas, Lali viu Rocío se jogar no sofá ao lado de Gas. Ele a abraçou, acariciando seus cabelos loiros. Lali sorriu quando se beijaram. Pelo visto, esses dois se entenderam. E apesar de destroçada por dentro, a garota se sente muito feliz por eles.

  Rocío queria ajudar Lali com as roupas, mas ela prefere fazer isso sozinha. Precisa muito de um tempo a sós consigo mesma, com seus próprios pensamentos e sentimentos. Quer confrontá-los e senti-los em toda a sua intensidade. O que não nos mata, nos torna mais fortes. E Lali  está buscando forças para encarar o que a vida lhe reserva.

  Tira o DVD da bolsa, jogando-o sobre a bancada. Não assistirá agora, talvez mais tarde. Abre a porta do guarda-roupas e fica olhando lá para dentro, por tempo indeterminado. Só então se toca de que não tem uma mala grande o suficiente para fazer uma viagem tão longa.

  Puxa o celular do bolso da calça e, através do comando de voz, pede que o aparelho ligue para sua mãe.

— Lali? Está tudo bem? – pelo barulho ao fundo, Lali imagina que a mãe esteja no trânsito.

— Oi, mãe. Pode falar?

— Posso sim. O que houve? – Gimena aguarda numa pausa tensa. – Não está no colégio?

— Não. Aconteceram algumas coisas por lá e eu resolvi voltar para casa. Mas não foi por isso que liguei. – Lali respira fundo, convencendo-se de que está tomando a decisão mais acertada.

— Estou ouvindo.

— Vou para Paris. Seis meses. E depois volto para fazer o cursinho pré-vestibular.

— Tem certeza sobre isso?

— Tenho, mãe. – Lali fuça nos cabides enquanto conversa.

— Está bem, pedirei para o seu pai agilizar as coisas.

~~***~~

  As amigas acabam de assistir ao DVD. Do lado de fora, a noite já caiu faz algum tempo. Uma brisa suave entra pela janela entreaberta do quarto de Lali e as cortinas flutuam, numa dança esvoaçante.

  O filme protagonizado por Peter e Lali engloba diversas situações. O passeio na praia quando Lali se deparou com o vazio existencial pela primeira vez. O pagamento da aposta após o jogo de tênis. Várias cenas da Caça ao Tesouro. E a mais humilhante das gravações: o Centro de Arborismo.

  As imagens do que aconteceu por lá eram apenas flashes na memória fragmentada de Lali. Após assistir ao DVD, as lacunas mentais foram preenchidas.

— Não acredito que protagonizei isso aí. – Lali tira o DVD de dentro do aparelho, um tanto envergonhada.

— Você estava drogada. – Eugenia tranquiliza.

— Eu agi como uma vagabunda, me equiparei a Kibi. – Lali atira o DVD dentro de uma gaveta. – Meu pai vai acionar o Youtube e ver o que é possível fazer.

— A Kibi e o Bola mereciam se ferrar. – o tom de Eugenia é agressivo.

— Vamos mudar de assunto? – Lali assume outra expressão, jogando os problemas para o fundo de sua mente. – Contem-me tudo sobre o Nicolas e o Gas.

— Tem certeza? – Rocío não quer deixar a amiga mais infeliz ainda.

— Ei, eu estou muito feliz por vocês duas, de verdade.