Fanfic: A Aposta (Adaptação) | Tema: Laliter

  Dez dias se passaram.

  Lali sente o vazio tomando forma, como um imenso buraco negro prestes a tragá-la. Ainda não enlouqueceu porque existe uma contrapartida, um sentimento poderoso que a faz abrir os olhos todas as manhãs.

  Amor.

  É por esse amor que ela ainda não desistiu de recomeçar sua vida. É por esse amor que ela respira. É por esse sentimento que ela ainda está ancorada, sem se deixar levar pela melancolia e pela dor.

  Lali acaba de sair de uma escola de francês, nos arredores de Madeleine. Está com a inscrição para o curso debaixo do braço, doida para rasgá-la em mil pedacinhos. Mas se contém, dobrando os papéis com cuidado, guardando-os dentro da bolsa.

  Com um mapa de Paris aberto no celular, Lali verifica as anotações de Simone numa caderneta. Precisa aprender a andar pela cidade sozinha e hoje é o segundo dia que faz isso.

  O metrô está lotado e Lali volta para casa com um saquinho de croissants e uma linda rosa que ganhou próximo da Igreja de La Madeleine. Simone está de folga e tirou o dia para dar um jeito no apartamento.

  Ontem Lali esteve no Louvre. Quando viu a pirâmide de vidro, não se conteve. As lágrimas caíram como flocos de neve, já que o frio estava de lascar. Não, ela não se emocionou por conhecer o museu. Lali chorou por estar sozinha e por Peter não ter cumprido a promessa. Ele havia prometido estarem juntos, havia dito que enxugaria suas lágrimas. Ele não estava lá.

  Lali abre a porta de casa e dá de cara com uma Simone completamente histérica. Ela não fala coisa com coisa e Lali precisa de um tempo para entender o que está havendo.

— Escutou alguma palavra do que eu disse? – Simone continua estendendo um envelope vermelho e um pen drive na direção de Lali.

— Como assim ele entregou isso a você pessoalmente? O Peter… o Peter… o Peter…?

— Está em Paris! Lali, ele está aqui! – Simone não se contém e começa a gargalhar. – E você não fez juz ao cara não. Menina, ele é lindo demais!

— Mone, onde ele está? – Lali perde o chão e se senta.

— Disse que iria procurar um hotel. Eu o convidei para ficar aqui, mas ele não aceitou.

  Lali abre o envelope e descobre os seis mil reais. Dinheiro da aposta. Pega o pen drive em mãos e seu olhar se perde naquele minúsculo aparelho.

— Não vai ouvir os arquivos? – Simone se ajoelha em frente à Lali.

— Não preciso. – a voz de Lali é um fio fraquinho, prestes a partir.

— Como assim não precisa? – Simone se sobressalta. – Lali, o cara veio lá do Brasil atrás de você!

— Ele falou mais alguma coisa?

— Disse que vai esperar por você às duas da tarde, no lugar marcado. – Simone revela, um tanto tensa com a situação. – Lali, vai perdoar o cara, não vai?

— Que horas são?

— Uma e quinze.

— Eu preciso ir. – Lali pula da cadeira e enfia o pen drive no bolso da calça. Pega o casaco e o cachecol e sai às pressas, sem se despedir de Simone.

— Lali, não faça besteira! – Simone grita, incerta de que Lali tenha ouvido o recado.

~~***~~

  O metrô não é rápido o bastante.

  Lali chega com cinco minutos de atraso no local marcado. A praça do Louvre está abarrotada de turistas, apesar do frio e do tempo fechado. Semana que vem é natal e Paris recebe pessoas do mundo todo nessa época.

  Lali procura por Peter, desesperadamente.

  Vai caminhando, abraçando-se para esquentar, até finalmente chegar a um dos lados da pirâmide de vidro. De onde está, Lali consegue enxergar o hall de entrada do museu lá embaixo, lotado de pessoas agasalhadas.

— Esqueci de trazer o lenço para enxugar suas lágrimas. – a voz de Peter rasga o ar gélido.

  Lali não se vira para encará-lo.

— Chegou atrasado. Eu estive aqui ontem. – seu tom não revela nada além disso.

— Desculpe por isso, não pude vir antes. – Peter leva as mãos aos bolsos e seu olhar está cravado nas costas de Lali. Estão bem próximos e ela pode sentir o aroma de Mentos de frutas no ar. – Como posso me redimir?

— Ainda não sei.

— Abriu o pen drive? – ele pergunta, um tanto temeroso com a resposta.

— Não, não abri. – Lali se mantém na mesma posição e Peter não consegue acompanhar suas expressões.

— E o que isso quer dizer? – Peter sente o coração apertar.

— Quer dizer que eu não preciso abrir um arquivo para tomar qualquer decisão. – ela engole em seco e ele percebe.

— Eu achei que…

— Achou errado, de novo. – Lali finalmente se vira para encará-lo. – Não é esse pen drive que vai mudar o que eu sinto por você. – ela sustenta o gadget na mão.

— E o que sente por mim?

  Lali suspira alto e profundamente. Sua expressão relaxa quando ela tomba a cabeça e diz:

— Eu te amo e não consigo viver longe de você.

  Ai. Meu. Deus.

  O sol chega a Paris através daqueles olhos cor de mel com rajadas douradas. A temperatura entre aqueles dois parece ter subido uns mil graus Célsius. Peter está sorrindo e não é de deboche. É um sorriso com o qual Lali precisará se acostumar. É um sorriso feito para ela e só para ela.

— Vai me perdoar por eu ter sido um covarde, um idiota? Vai me perdoar mesmo sem saber se sou inocente? – Peter não consegue parar de sorrir.

— Você está aqui, não está? O que mais eu poderia querer? – Lali guarda o pen drive no bolso. – Promete não mentir, não me enganar? Promete que sempre seremos honestos um com o outro?

— Eu prometo. – Peter se aproxima mais, tocando os cabelos soltos de Lali. – Eu prometo fazer de você a mulher mais amada desse mundo.

  Eles se fitam por um tempo, estudando-se. Lali tira o cachecol do pescoço e, como fez na ilha, passa-o pelo pescoço de Peter, puxando o garoto para si, para sua boca.

  O cara se entrega, cerrando as pálpebras. Os lábios se tocam e o frio dá lugar a uma sensação de completude, de calor, de êxtase. Um momento perfeito, no lugar perfeito.

E com esse beijo para lá de arrebatador, Peter e Lali selam um compromisso e recomeçam a sua história, tendo a verdade e o amor como únicos guias por toda a vida.

  Se eles ficarão juntos por toda a eternidade? Oh, sim, definitivamente. Almas gêmeas possuem esse poder. Mas não posso dizer que esse será um romance calmo e sem brigas. Oh, não. Mas essa é outra história.

  E assim, vamos deixando esses dois curtirem o momento, saindo bem de fininho, tomando o caminho inverso do início dessa história.

Louvre.

Paris.

França.

Europa.

Planeta Terra.

Sistema Solar.

Via Láctea.

FIM.