Fanfics Brasil - Capítulo I - Familiar Taste Of Poison Fixed At Zero

Fanfic: Fixed At Zero | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass


Capítulo: Capítulo I - Familiar Taste Of Poison

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MÚSICA TEMA DO CAPÍTULO.


__________________________________________________


Middletown, Connecticut. 15 anos atrás.


Emma abriu os olhos assim que o estridente som do despertador penetrou em seus ouvidos. Virou-se na cama e encarou o aparelho que apitava e piscava em vermelho: 06h00min. Desejava poder ficar ali, debaixo dos quentes e confortáveis cobertores por, pelo menos, mais 5 minutos. Mas não podia. Sabia que seria difícil encarar as pessoas naquela manhã. Principalmente depois do ocorrido na noite anterior. Não podia fugir como quem foge quando comete um crime. Pôs-se em pé e começou a se preparar.


Seus pensamentos estavam carregados enquanto penteava os longos e macios cabelos escuros e fitava sua imagem no espelho preso à parede. Não se sentia muito satisfeita com o que via. Magra demais. Pálida demais. Baixa demais. Aos seus próprios olhos, Emma não se enxergava como uma garota bonita. Mas aos olhos dos outros, estava perto da perfeição. Perdida em meio às lembranças da noite passada, Emma voltou à realidade ao ouvir leves batidas na porta de seu quarto.


– Pode entrar. – declarou ela de prontidão.


Um homem idoso com olhos castanhos muito brilhantes entrou no quarto com uma xícara nas mãos.


– Bom dia, querida. – depositou a xícara no criado-mudo ao lado da cama. Emma virou-se para ele e sorriu.


– Bom dia, vovô.


– Não pense que deixei de ver o estado em que você chegou ontem à noite. – Arthur Connors disse severamente. Emma já havia previsto as milhões de perguntas que o avô lhe faria pela manhã. Não queria perturbá-lo com seus problemas. Nunca quis. Mas o velho Sr. Connors era tão teimoso e persistente quanto a neta. Emma não fez qualquer comentário sequer. Permaneceu calada.


– Não quer me contar o que houve?


– Estou bem. – disse ela tentando não deixar transparecer qualquer tipo de emoção. Pegou a xícara de cima do criado-mudo e tomou um gole. – Não se preocupe, vovô.


– Mas, Emma...


– Preciso ir. Estou atrasada. – ela o interrompeu, devolveu a xícara para ele e depositou um beijo em sua bochecha direita.


Arthur não respondeu. Estava claro que Emma não queria conversar sobre o assunto. Ela pegou a bolsa pendurada na cadeira perto da porta e seguiu seu caminho.


Se seus cálculos estivessem certos, chegaria à escola com alguns minutos de atraso. Acelerou os passos. As ruas estavam vazias. Nenhuma alma viva ao redor. Enquanto corria, Emma sentiu o vento gelado batendo em sua face. Instintivamente abotoou seu casaco de lã e continuou a correr. Mal deu as caras no portão de entrada e já avistou um conhecido rosto que parecia estar esperando por ela.


– Nossa! – a garota alta de cabelos negros parada à sua frente disse em tom de admiração. – Você veio mesmo.


– Bom dia para você também, Jodie. – Emma sorriu, irônica. – Posso saber o motivo dessa sua cara de espanto?


– É que... Bem, todo mundo já está sabendo e... Pensei que não fosse aparecer depois do que houve. – Jodie tentou argumentar, sem jeito. – Aliás, eu sinto muito.


– Tudo bem. – respondeu Emma.


– Emma! – ela ouviu seu nome e virou-se para trás. – Não acredito que você veio.


Uma conhecida de cabelos castanhos e olhos a condizer correu na direção de Emma e Jodie.


– Por quê? – indagou Emma.


– Porque você...


– Estão agindo como se eu tivesse assassinado alguém. – interrompeu.


– Bom, sim. Mas ninguém esperava que você fosse aparecer por aqui nos próximos vinte anos depois do escândalo de ontem.


– Ora, Amanda, por Deus! – esbravejou Emma. Eram raros os momentos em que ela perdia completamente a paciência e alterava seu tom de voz. – Desde quando romper com o namorado se tornou algo tão grave assim?


– Desde que seu namorado espalhou pelos quatro cantos do mundo que você é uma vadia. – Amanda respondeu.


– O quê? – a resposta pegou Emma de surpresa.


– Frank está dizendo a todos que terminou com você porque você estava saindo com outros caras. – completou Jodie com muita calma.


Emma arregalou os olhos e encarou as amigas com a boca escancarada.


– O que você disse?


– Todos acham que você é uma vadia, Emma. – Amanda disse de forma clara e direta. Emma não pôde acreditar no que acabara de ouvir. Olhou ao redor e era como se todos a olhassem. Alguns com olhares de deboche, outros apenas curiosos. Um boato na Harrison Brown Academy se espalhava mais rápido que um câncer.


– Eu... Eu não acredito. – murmurou Emma. – Não foi ele quem terminou comigo. Todos deviam saber que as coisas entre nós não iam nada bem porque ele estava...


– Agindo feito um idiota. – interveio Amanda. – É, nós sabemos. Mas as pessoas... – ela revirou os olhos. – As pessoas adoram um drama.


– É só uma questão de tempo até surgiu alguma outra fofoca. Eles vão esquecer isso logo. – completou Jodie. – Estamos com você.


– Eu agradeço. – uma campainha soou interrompendo a conversa. Emma respirou fundo e entrou no corredor principal, seguindo até sua sala. Ignorou os olhares de seus colegas de classe e ocupou seu lugar em uma das nada confortáveis carteiras. As pessoas cochichavam e viravam-se para fitá-la de cima a baixo, fazendo comentários.


Emma virou o rosto e encarou a janela ao seu lado. Quem diria que terminar um relacionamento fosse lhe causar tantos transtornos? Ela sabia que havia tomado a mais certa das decisões. Amanda tinha razão. Frank Palmer era um idiota. Emma se perguntou como pôde ter se deixado enganar por tanto tempo ao lado dele.


Conheceram-se no primeiro ano do colégio, quando a família de Frank havia acabado de se mudar para Middletown, em Connecticut. O garoto alto, de cabelos castanhos ondulados e intensos olhos verdes logo chamou a atenção de Emma. E ela a dele. Se aproximaram pela primeira vez quando tiveram que fazer uma pesquisa juntos para um trabalho de Ciências. Desde então, tornaram-se amigos.


Foi em uma festa em um fim de semana como qualquer outro que Frank perguntou a Emma se ela gostaria de ser sua namorada. Aceitou de imediato e nunca se sentiu tão feliz como naquela noite. No dia do décimo sexto aniversário de Emma, Frank sugeriu:


– Vamos para cima.


Feliz por estar dando o famoso “avanço” na relação, Emma se deixou levar pela mão que a guiava para um dos quartos da casa dele. Esperava que, assim chegassem ao quarto, as coisas aconteceriam de forma natural e espontânea. Ao contrário disso, porém, Frank mal se deu ao trabalho de trancar a porta. Levou-a até seu quarto e puxou-a para si, bruscamente. Em seguida pressionou seus lábios contra os dela com tal brutalidade que deixou Emma assustada. Não conseguia corresponder. Não daquele jeito. Algo estava errado. Ela percebeu isso quando Frank fez menção de desabotoar sua blusa branca. Não queria que as coisas acontecessem daquela forma. Pelo menos por enquanto.


Libertou-se rapidamente dos braços que a apertavam pela cintura e se afastou, dando um passo atrás e limpando os lábios umedecidos.


– O que houve? – Frank perguntou, confuso. – Você não quer?


– Não... Não sei... Seus pais podem aparecer a qualquer momento e eu... – não completou a frase. Ainda estava assustada e, talvez, tão confusa quanto ele.


– Está com medo?


Emma assentiu com a cabeça.


– Mas você me ama... Não ama?


– Amo você, sim. E é exatamente por isso.


– Não entendo.


– Preciso que você espere. – respondeu ela. – Não me sinto... Preparada pra esse passo.


– Claro. Está tudo bem. – ele se aproximou e a acolheu em seus braços de forma gentil.


Frank não parecia desapontado ou bravo com ela. Emma agradeceu a Deus por isso. Mas suas tentativas de levá-la para a cama voltaram a surgir. Ele sempre encontrava um pretexto para chegar a esse ponto. E isso se repetiu por diversas vezes, até que Emma se cansou de dizer “não” e decidiu acabar com tudo aquilo de uma vez por todas.


Estavam em uma festa com alguns amigos. Frank a arrastou para um canto qualquer e a beijou. Emma correspondeu da melhor forma que conseguia, mas, de repente, ficou petrificada ao sentir uma das mãos dele subindo sua saia.


– Não. – ela o repreendeu, livrando-se da mão dele com rapidez.


– Qual o seu problema, afinal? – ele começou a gesticular. Parecia indignado.


– Acho que precisamos conversar.


– Conversar?


Emma lançou a ele um sério olhar. Frank bufou e disse:


– Tudo bem, tudo bem.


Ele a seguiu até o lado de fora da festa, onde a música terrivelmente alta não seria um problema.


– E então? – Frank cruzou os braços e esperou que ela começasse a falar.


– Não entendo o que se passa nessa sua cabeça, Frank.


– O que está querendo dizer?


– Você disse que ia esperar até que eu estivesse pronta, e no entanto... – ela fez uma pausa e balançou a cabeça. – Está me forçando a tomar uma decisão, um passo que eu não estou pronta para dar.


– Mas você me ama. – o velho argumento de sempre. Emma não se deixaria enganar tão fácil dessa vez. Aquele jogo de manipulação barato não funcionaria novamente.


– Entretanto, não parece que você retribui, não é mesmo?


– Aonde quer chegar, Emma?


– Estou rompendo com você. – ela foi direta.


– O quê?! – arregalando os olhos, Frank a encarou surpreso.


– Disse que quero terminar tudo. Não consigo seguir adiante num relacionamento no qual não sou respeitada.


– Não pode estar falando sério.


– Nunca falei tão sério em toda a minha vida. – Emma deu de ombros.


– Pois não vai me dispensar como se dispensa qualquer um! – ele alterou seu tom de voz. Puxou-a pelo braço com certa violência e agarrou-lhe pelos cabelos . Ela se debateu freneticamente.


– Me larga! – protestou, afastando-o de si.


Ele lhe deu uma forte bofetada tão forte que Emma quase foi ao chão. Frank sorriu insano. Sentiu alguém tocar-lhe o ombro, obrigando-o a virar-se para trás.


Também sentiu quando um punho o acertava fortemente em cheio. Sangue jorrava de seu nariz. Estava mais surpreso do que furioso.


Passou a mão pelo nariz recentemente quebrado e fitou o sujeito à sua frente. Encararam-se por segundos.


– Você está morto, cara! – Frank declarou com raiva, apontando o dedo indicador para ele em um gesto de ameaça.


Mas sabia que não era adversário para ele. Não naquele momento. Hesitou em reagir e saiu de perto, ainda surpreso.


– Você está bem?


Emma, encolhida no canto da parede, levantou os olhos, amedrontada. O desconhecido era um sujeito de cabelos escuros e olhos intensamente negros. Foi tudo o que conseguira notar, pois a escuridão da noite favorecia para que Emma não reconhecesse a pessoa que a encarava seriamente enquanto esperava que ela respondesse. Emma cobria com as mãos um dos lados do rosto, ainda queimando devido à bofetada.


Pôs-se em pé, atordoada e correu. Correu sem olhar para trás. Queria chegar em casa, jogar-se em sua cama e pensar que tudo aquilo havia sido um terrível pesadelo. A droga de um pesadelo.


Encontrou seu avô dormindo no sofá da sala quando finalmente chegou em sua casa. Ele, provavelmente, caíra no sono enquanto a esperava. Silenciosamente, Emma caminhou até seu quarto e deixou-se cair sobre sua cama. Ali ficou. Até a manhã seguinte.


Esperava que o ocorrido não chegasse aos ouvidos de mais ninguém. Estava sendo boba por pensar na existência dessa possibilidade. Era mais do que óbvio que as pessoas fariam comentários no dia seguinte. Isso era previsível. Mas Emma não esperava que Frank fosse distorcer a história com mentiras sujas. Agora sabia que estava completamente enganada a respeito dele. Não era quem ela pensava que ele fosse. Jamais tinha sido.


Com certeza ela o perdoaria se ele dissesse que sentia muito pela forte bofetada que lhe dera na noite passada. Mas não reataria com ele. Seria estúpido depois do que ele lhe fizera. E isso, provavelmente, não era nada perto do que ele poderia ter feito se aquele desconhecido não o tivesse interrompido. Emma nem sequer havia lhe agradecido. Estava desesperadamente amedrontada. Mas não censurou-se por não ter trocado qualquer palavra com o sujeito. Mal sabia de quem se tratava. Com certeza não se tratava de ninguém que estava na festa. Todos gostavam de Frank. Pelo menos, pareciam gostar.


Por um momento Emma se perguntou quem poderia ter acertado Frank Palmer em cheio sem se importar com os comentários alheios. Na verdade, isto lhe era indiferente, mas era nisso que estava pensando enquanto encarava o nada pela janela de sua sala de aula. Mais tarde, enquanto voltava para casa, percebeu, no entanto, que Frank não havia aparecido no colégio naquela manhã. Obviamente, não queria que ninguém o visse com o rosto inchado. Não queria enfrentar as consequências. Era covarde. Essa era a palavra.


Emma seguiu em seu ritmo, com lentos passos a caminho de casa. Parou ao sentir uma mão pesar em seu ombro. Virou-se instintivamente para trás. Se deparou com um rosto que podia jurar ter visto antes, mas não o reconheceu de imediato. Seus olhares se cruzaram.


– Desculpe se eu te assustei. – o desconhecido esboçou um sorriso.


Emma franziu a testa. Havia confusão em seus olhos.


– Fico feliz em te reencontrar em circunstâncias melhores do que as de ontem à noite.


Ela o reconheceu. Ele continuava sorrindo, mas ela não. Fitou-o com seus grandes e vivos olhos castanho-claro, curiosa, e, em seguida, disse:


– Foi você quem...?


– De nada. – ele disse antes que ela completasse a pergunta. – A julgar pelo seu aspecto inteligente, duvido muito que aquele covarde seja seu namorado.


– Não mais. – respondeu ela. – Eu agradeço muito pelo que você fez por mim, mas não creio que tenha sido realmente necessário.


– Mesmo? – ele sorriu com uma ponta de ironia. – Você pretendia contornar a situação o convidando para um chá com bolachas?


– Não se resolve violência com mais violência. – Emma declarou com convicção.


– Não vou te contrariar. – ele sorriu mais uma vez e virou-se de costas, se afastando, fazendo menção de ir embora.


– Espere. – disse Emma. Ele parou e virou-se para encará-la. – Não vai me dizer quem é você?


– Se está interessada em saber, descubra sozinha. – respondeu, por fim.


Ele se afastou em rápidos passos até que Emma não pôde mais enxergá-lo. Olhou ao redor e notou que as pessoas continuavam encarando-a com olhares de deboche. Jodie não estava enganada quando disse que era apenas questão de que outro boato surgisse. Mas quanto tempo levaria até que se esquecessem daquilo e deixassem Emma em paz? Seguiu seu trajeto de volta para casa. Seu avô cuidava de algumas flores quando ela chegou.


– Como foi o seu dia, querida? – Arthur Connors perguntou, radiante.


– Foi ótimo, vovô. – Emma esforçou um sorriso e entrou em casa. Tomou um rápido banho com os pensamentos ainda desorientados em sua mente. Lembrou-se de seu compromisso. Havia combinado com suas amigas que as encontraria mais tarde para conversar. À tardezinha, vestiu um vestido verde-pálido, escovou os cabelos e pegou sua bolsa. Acenou para seu avô que continuava a lidar com as plantas em frente à casa e saiu ao encontro de suas amigas.


Passaria uma agradável tarde ao lado de Amanda e Jodie e depois voltaria para casa. Tomaria um café com seu querido avô e depois dormiria tranquilamente. A “agradável” tarde, porém, foi terrivelmente constrangedora. Encontrou-se com suas amigas em uma lanchonete da cidade.


Estava tudo ocorrendo de forma tranquila. Amanda fazia comentários sarcásticos e Jodie completava com suas coerentes explicações. Emma finalmente estava começando a relaxar quando um garoto se aproximou da mesa delas.


– Com licença. – disse ele olhando Emma diretamente nos olhos. – Gostaria de saber quanto você cobra pelos seus serviços.


De início ela arqueou uma sobrancelha sem entender coisa alguma. Jodie e Amanda arregalaram os olhos. Emma levou alguns segundos para registrar a insinuação daquelas palavras.


– Serviços? – ela disse.


E as pessoas que estavam sentadas em outras mesas começaram a rir. Ela reconheceu todos eles. Via aqueles mesmos rostos todos os dias no colégio.


Sua cabeça começou a latejar violentamente.


Atordoada devido às fortes dores, Emma se levantou e caminhou até a porta da lanchonete. Tomou ar e saiu. Do lado de fora ainda ouvia-se os risos de deboche. Jodie balançou a cabeça negativamente e Amanda também permaneceu em silêncio.


Emma seguiu pelas ruas, ainda atônita pelo constrangimento que havia enfrentado na lanchonete. A noite caíra rápido. As ruas estavam parcialmente escuras. Postes piscando iluminavam o caminho de Emma. Manteve seus lentos e hesitantes passos até que parou. Ouviu algo. Levantou os olhos.


Encostado à um muro, a poucos metros de onde ela estava, Emma avistou alguém já não tão desconhecido quanto antes. Dedilhava uma melodia com um violão em mãos. Olhar distante. Parecia extremamente distraído.


Emma avançou alguns passos e ele sequer pareceu notar sua presença. Emma pigarreou e ele interrompeu a melodia, assustado, virando o rosto para encará-la. Lançou para ela um olhar frio. Sério.


– Desculpe. – ela disse, hesitante. – Não queria atrapalhar.


– Você não é a primeira e nem vai ser a última pessoa a me interromper. – respondeu ele, indiferente, deixando o instrumento de lado e desviando seu olhar do dela.


– Eu realmente... – desistiu de se explicar. Sempre que tentava se explicar acabava não encontrando as palavras certas. – Você não é daqui, não é?


– Por que diz isso?


– Bom, eu nunca te vi antes. – ela deu de ombros. A resposta era óbvia.


– Eu sou de Chicago.


– Que... Legal. – foi tudo o que conseguiu dizer a respeito. – E o que te trouxe pra cá? Digo... Por que trocar tudo aquilo por um lugar como esse?


– Não tive outra escolha. – ele respondeu, metendo as mãos nos bolsos da jaqueta preta. Emma decidiu quebrar a tensão do ambiente.


– Sou Emma. – estendeu uma das mãos e tratou de estampar seu rosto com seu melhor sorriso. – Emma Connors.


– Emma Connors? – disse em tom inquisitivo. Voltou a encará-la, dessa vez com curiosidade. – Que nome mais britânico!


– Não necessariamente. – ela sorriu e ele também. Apertou-lhe a mão com firmeza.


– Alex Montini. – ele falou e ela o fitou diretamente nos olhos com seriedade por um instante. – Algum problema?


– Não. – respondeu. – É que... Os olhos podem dizer muito sobre uma pessoa.


– Bom, até onde eu sei – ele a encarou de tal forma que ela começou a se sentir incomodada. – Quando se olha para alguém dessa forma é porque está interessada.


– As coisas não funcionam dessa forma por aqui.


– Desculpe. – ele sorriu de canto e não disse mais nada, voltando a colocar as mãos nos bolsos.


– Montini é um sobrenome italiano. – observou ela.


– Ora, mas vejam só! – exclamou ele, admirado. – Você não é só um rostinho bonito. – Emma corou, mesmo não entendendo se aquilo se tratava realmente de um elogio ou mera ironia.


– Sobrenome italiano. Claro. – ela disse. – Gente civilizada.


– É... – ele respirou fundo. A expressão de seriedade voltou a estampar seu rosto. – Olha, por que não continua andando?


– Como disse? – indagou Emma.


– Eu perguntei por que não vai embora. Garotas como você não podem ser vistas com caras como eu. Não é assim que funciona?


– O que você quer dizer com “garotas como eu”? – indagou Emma. – Eu não sou como as outras garotas. – disse com convicção.


Ele emitiu um riso abafado e disse:


– Claro que não.


– Gostaria muito que não me confundisse com as pessoas com que está habituado a conviver.


– Eu não costumo dar rótulos a ninguém. – respondeu rapidamente. – Garotas bonitas como você não deviam conversar com caras feios como eu. Foi o que eu quis dizer.


Emma ficou em silêncio mais uma vez, tentando interpretar a frase que acabara de ouvir.


– Olha, você não é feio. – afirmou ela.


– Mas também não sou exatamente um galã de Hollywood. – ele falou. – Aliás, você só está dizendo isso para ser gentil.


– Não.


– Tanto faz. – Alex deu de ombros.


– Você é sempre calado desse jeito? – ela arriscou perguntar.


– Depende. – disse rapidamente.


– Bom, eu... Acho que estou tomando muito do seu tempo. – declarou ela. – Desculpe mais uma vez.


Virou-se de costas e deu alguns passos.


– Pode falar, Emma. – ela o ouviu dizer. Se virou e arqueou uma sobrancelha, confusa.


– Falar o quê?


– O que quiser. Qualquer coisa que nunca diria a um estranho. – ele respondeu. – Não sei, às vezes é melhor desabafar com qualquer um do que com um conhecido.


– Não acho que queira ouvir meus problemas.


– Nunca vai saber se não tentar.


Primeiro, Emma abominou a ideia de contar sobre seus problemas para alguém que acabara de conhecer. Seria imprudente. Mas diante da situação em que se encontrava, julgou não ter nada a perder. Ela avançou alguns passos e aproximou-se dele novamente.


– Fui encontrar algumas amigas. – ela começou a falar. – Mas... Bom... Por causa do que houve ontem... – não encontrava as palavras certas para explicar.


– Pode falar. – ele disse, pela primeira vez em tom amável.


– Meu ex-namorado está inventando coisas a meu respeito. Coisas absurdas.


– E as pessoas acreditam no que ele está dizendo?


– E por que não acreditariam? Todos o adoram.


– Desculpe. – Alex a interrompeu. – Mas acho que você vive cercada por idiotas.


– Não sei. – ela balançou a cabeça negativamente. – As pessoas me olham como se eu tivesse me tornado uma criminosa. Eu me sinto péssima toda vez que dou um passo fora de casa. E eu sinto que isso pode piorar.


– Há quanto tempo estavam juntos?


– Dois anos.


Ele soltou outro riso, dessa vez de admiração.


– O que foi? – indagou ela.


– Aguentou aquele cara por dois anos?


– Eu...


– Não entendo o que alguém como você fazia com ele. – parecia realmente surpreso.


– Frank não é má pessoa. Ele só... Se deixa levar por influências.


– Coisa típica de alguém ser personalidade alguma.


– Não creio que seja isso.


– Cada um pensa o que quer. Só acho que você merece coisa melhor.


– Você mal me conhece! – ela riu.


– De fato. – ele concordou. – Mas tenho observado seus olhos nos últimos vinte minutos e, você sabe, os olhos podem dizer muito sobre uma pessoa.


Emma não hesitou em abrir um sorriso. Nunca imaginou que ao conversar com um estranho fosse se sentir confortável.


– Aliás – Alex acrescentou. – Seu namorado parece um sapo.


Ela riu instantaneamente. Uma gargalhada alta. Verdadeira. Sincera. Há muito tempo Alex não ouvia o som do riso de alguém. Há muito tempo ele não fazia alguém rir.


– Acho que devo concordar com você. – Emma disse, ainda rindo.


– Você devia fazer isso mais vezes.


– Isso o quê?


– Rir. Ser você mesma. – ele respondeu. – Agir naturalmente te cai bem. Não sei.


– Obrigada. Eu acho. – ela disse, timidamente. – Preciso ir. Meu avô deve estar terrivelmente preocupado.


– Claro. Principalmente pelo fato de você estar conversando com um estranho à noite, em uma rua totalmente deserta.


– Foi realmente... Agradável... Conversar com você.


– O prazer foi meu.


Ela não disse mais nada. Abriu um sorriso e começou a andar. Havia sido uma agradável conversa. Emma se esquecera do ocorrido com suas amigas na lanchonete e das fortes dores que cabeça que pareciam ter finalmente desaparecido. Uma sensação de bem-estar tomou conta dela enquanto caminhava de volta para casa. Encontrou seu avô assistindo TV na sala assim que chegou.


– Boa noite, vovô.


– Pensei que fosse dormir na casa dos Thornton. – comentou Arthur Connors.


– Amanda tem outros compromissos. – ela respondeu. – Jodie ficou fazendo companhia a ela na lanchonete.


– Compreendo. – ele a observou por momentos. – Parece que algumas horas com as amigas fizeram você se sentir bem melhor.


Emma sorriu e assentiu com a cabeça, dizendo:


– Eu já vou me deitar.


– Boa noite, querida.


Ela aproximou-se do avô, deu-lhe um beijo no rosto e seguiu para seu quarto.


Sentia-se leve, como se tivesse tirado o peso de três carros de cima das costas. A necessidade de expor seus sentimentos em relação ao que estava enfrentando já não estava mais lá. Apenas um imenso alívio. Fazia tempo que não se sentia assim.


Emma dormiu com a mente totalmente vazia naquela noite. Dormiu como há muito tempo não dormia: tranquila.


Hartford, Connecticut. 15 anos depois.


– Heather! Heather! - uma voz soou ecoando longe, quase inaudível. - Heather, acorde! - duas mãos a sacudiam. Heather abriu os olhos, acordando de seu transe.


Ela agora estava com os olhos bem abertos, sem dizer palavra alguma. Suas mãos suavam e suas pernas tremiam.


– Você viu de novo, não é?


Ela assentiu com a cabeça.



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MÚSICA TEMA DO CAPÍTULO. ___________________________________________________________ – Respire fundo. - Heather voltou à realidade. O médico a segurava pelos ombros e falava suavemente, tentando acalmá-la. - Vamos, fale comigo. Diga algo, Heather. – Eu... - sentiu sua cabeça latejar. - Eu não... Ela não ...



Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 2



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  • ceeh Postado em 02/06/2014 - 21:48:29

    Sabe eu sinceramente adorei. A história é muito boa misturando tudo. Pensei até que o assassinato de Emma foi por Heather (nem sei escreve, repara não)e não entendi o porque de todos a adiarem daquele jeito. Eu mesma já me senti sozinha e muitas pessoas viraram as costas para mim mas eu nunca fiquei tão sozinha quanto Emma ficou. Ela criou uma segunda personalidade para se defender de tudo o que sofrera. Para não ser mais fraca. E como adorei tudo cada detalhe e como jogou com o leitor revelando alguns mistérios mas deixando outros ocultos. Gostaria muito de ler outra historias suas e finalmente li algo realmente bom. E você nem usou personagens famosos, sua historia é famosa e quem não leu só perdeu. De sua fã Ceeh.

  • ceeh Postado em 01/06/2014 - 14:19:15

    Aiin... Que web mais perfeita. Eu me senti como a própria personagem e você escreve bem demais. Por favor não abandone a história, eu já estou amando tudo nela principalmente os detalhes. Continue...


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