Fanfics Brasil - Capítulo II - Misguided Ghosts Fixed At Zero

Fanfic: Fixed At Zero | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass


Capítulo: Capítulo II - Misguided Ghosts

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MÚSICA TEMA DO CAPÍTULO.


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– Respire fundo. - Heather voltou à realidade. O médico a segurava pelos ombros e falava suavemente, tentando acalmá-la. - Vamos, fale comigo. Diga algo, Heather.


– Eu... - sentiu sua cabeça latejar. - Eu não... Ela não fez nada...


– Quem? - ele indagou. - Quem não fez nada?


Ela manteve-se calada.


– Heather, preciso que converse comigo. Preciso saber o que se passa. Só assim poderemos ajudá-la.


Heather sorriu de canto, irônica:


– Não podem me ajudar... - fez uma pausa. - Não podem me ajudar até que eua ajude.


– De quem está falando? - ele insistiu.


– Desista. - outro médico entrou na sala, aparentemente bem mais velho. - Ela não vai dizer nada a respeito disso.


– Como assim?!


Este segundo deu-lhe um sinal. Os dois saíram, deixando Heather sozinha novamente.


– Heather é uma paciente complicada.


– Sim, claro. Como todos os outros...


– Não. Ela está aqui há muito tempo. Não conseguimos diagnosticar o que... O que se passa na cabeça dela.


– Por que não?


– Foi internada por causa destas alucinações.


– Mas... Doutor, muitos dos outros pacientes também estão aqui porque ouvem e vêem coisas que...


– Heather tem lembranças da vida de outra pessoa.


– Como?! - o médico pareceu surpreso com tal afirmação.


Heather ainda estava na sala, sentada no chão com os braços ao redor dos joelhos, cabisbaixa.


Era a milésima vez que enviavam um médico diferente para examiná-la, conversar com ela.


Aquelas conversas, no entanto, não chegavam a lugar algum. Nenhum deles a ajudariam a fazer com que aquelas imagens parassem de rodar em sua cabeça, como um filme. Nada faria com que aquele pesadelo acabasse. Pelo menos nada que outras pessoas tentassem fazer.


Mas Heather sabia o que fazer. Teria de fazê-lo sozinha. Somente ela e mais ninguém.


________________________________________________


O dia seguinte no colégio foi exatamente igual para Emma. Os boatos inventados por Frank Palmer ainda eram comentados por todos ao seu redor.


Até mesmo quando o próprio Frank apareceu naquela manhã. Com um curativo ridículo no nariz, ele caminhou pelos corredores da Harrison Brown


Academy como se nada tivesse acontecido. Parecia tranquilo. Isento de culpa. Percorreu o caminho do corredor principal e parou para conversar com alguns amigos. Emma instintivamente parou de observá-lo quando ele a encarou e lançou para ela um olhar carregado de ódio.


– Isso passa. – comentou Jodie Adams. Parecia estar certa disso. – Está chateado por você ter dispensado ele.


Quem dera fosse só isso. Pensou Emma.


– Você tá legal, Emma? – Amanda perguntou.


– Sim.


– Estava péssima ontem, quando foi embora.


– Com todas as razões do mundo. – interveio Jodie. – Eu faria o mesmo se tentassem me humilhar em público daquela forma.


Todas as manhãs seguiram da mesma maneira. Emma já não se incomodava com os olhares de deboche lançados para ela. Nem com os maldosos comentários feitos toda vez que ela passava por um corredor. Mas o que realmente a deixou abalada, foi quando voltou para casa e encontrou seu avô esperando por ela na sala. Um severo e sério olhar estampava o rosto dele, quando disse:


– Por que não me disse que Frank Palmer havia rompido com você?


– O quê? – arregalou os olhos, incrédula. – Vovô, eu não...


– Eu passei pela mais constrangedora situação de toda a minha vida. – Arthur Connors parecia extremamente decepcionado. – Ouvir pessoas falando


coisas desprezíveis sobre você. Minha própria neta!


– Vovô...


– Por que, Emma? Por que estão dizendo essas coisas ao seu respeito?


– Frank mentiu! – ela entrou em desespero, surpresa por ele não estar a apoiando ao invés de estar lhe fazendo acusações. – Pelo amor de Deus, vovô! Estão dizendo mentiras! Acredite em mim!


Seu avô não respondeu. Não disse mais nada. Um silêncio terrivelmente perturbador tomou conta do ambiente. Emma sentiu um aperto no estômago


e a cabeça voltou a latejar.


– Frank mentiu. – repetiu ela, dessa vez em tom muito baixo. Sua voz não passava de um sussurro. – E quem rompeu com ele fui eu.


Arthur não disse nada. Emma prosseguiu:


– Tive meus motivos, mas não fiz nada do que estão dizendo. E estou surpresa pelo fato do senhor não acreditar em mim. – ela virou-se de costas, abriu a porta e saiu. Passou a mão pelos cabelos e respirou fundo. Sentiu-se completamente sozinha. As pessoas acreditavam cegamente nas palavras de Frank Palmer. Isso não a surpreendia em nada. Mas as palavras ditas por seu avô a feriram mais do que a bofetada dada por Frank.


Desde a morte dos pais em um trágico acidente de carro, quando ela tinha apenas cinco anos, Arthur tornara-se a única família de Emma. E muito cedo ela decidiu que não o perderia por nada nessa vida. Tentava sempre ser o motivo de orgulho do avô. Não queria jamais decepcioná-lo. E, no entanto...


As primeiras lágrimas começaram a cair, antes que pudesse controlá-las. Sentou-se em um dos três degraus em frente à sua casa e desatou a chorar.


– Não abaixe a cabeça para os seus problemas, garota. – uma voz familiar soou. Emma virou o rosto na direção da voz.


– O que faz aqui? – ela perguntou, enxugando o rosto rapidamente. – Como me encontrou?


– Não tinha a intenção de te encontrar. – Alex Montini avançou para ela e sentou-se ao seu lado. – O que houve?


Emma não respondeu.


– O que há de errado? – ele insistiu em perguntar.


– Tudo. – respondeu de imediato, em tom rude.


– Você parece terrivelmente frustrada.


Ele estava começando a se tornar inconveniente. Mas Emma era educada demais para lhe dizer isso diretamente. Mesmo estando no estado em que estava. Recomeçou a chorar involuntariamente.


– Desculpe... – ela tentou recuperar o autocontrole. – Deve estar me achando ridícula.


– Pelo fato de você estar chorando? – balançou a cabeça em sinal negativo. – Pelo contrário. Muitos não têm coragem de chorar. E não precisa se desculpar por isso, pelo amor de Deus!


Emma engoliu os soluços e o encarou.


– Conte-me o que houve. – disse Alex em tom muito calmo.


– Meu ex-namorado anda dizendo coisas horríveis ao meu respeito.


– Eu sei. Você me disse isso ontem.


– Mas nunca pensei que essas coisas fossem chegar aos ouvidos do meu avô. – lágrimas voltaram a correr pela face de Emma.


– Ele ficou contra você?


Ela assentiu. Instintivamente, Alex colocou o braço sobre os ombros dela. Estava trêmula. Ela o encarou, assustada. E então ele se afastou, dizendo:


– Desculpe. – fez uma breve pausa. Ele mesmo estava surpreso por ter tomado tal atitude. – Vai ficar tudo bem, Emma.


– É fácil falar. – disse ela. – Eu nunca pensei que meu avô fosse sentir vergonha de mim. Ainda mais por coisas que eu não fiz.


– Agora sabe porque eu me isolo das pessoas que você conhece. – ele sorriu de canto. – Gente artificial demais. Dão-lhe as costas quando você


mais precisa deles.


– Eu... Me sinto sozinha...


– Claro que se sente. – concordou. – Mas seu avô não abandonou você. Aposto que ele está tão confuso quanto você. Leva um tempo até que as pessoas esqueçam essa coisa toda. – explicou ele. A voz dele soou reconfortante aos ouvidos de Emma. – Não dê importância às coisas que os outros falam. Você se conhece melhor do que qualquer pessoa nesse mundo. Sabe bem o que você é e o que você não é, certo?


Novamente ela assentiu com a cabeça.


– Ótimo. Na verdade, você precisa perdoar essas pessoas.


– Vai ser um pouco difícil.


– Claro que vai. Mas é necessário. Guardar rancor vai prejudicar a você mesma.


– Tem razão. – concordou ela. Olhou para ele e esforçou um sorriso. – Obrigada.


– Não me agradeça. – ele colocou-se em pé. – Isso não é nada.


– De qualquer forma...


Alex deu um sorriso meio sem jeito e se afastou. Deu longos passos até que não pôde mais ser visto aos olhos de Emma, que continuou sentada nos degraus em frente à sua casa. Tentou ordenar seus pensamentos, se acalmar e esquecer os motivos que estavam deixando-a profundamente magoada.


Levantou-se e começou a caminhar.


Resolveu dar uma caminhada para clarear a mente e o espírito. Perdida em meio a esses pensamentos, Emma não percebeu quando alguém vinha em sua direção e lhe deu um empurrão proposital. Ela quase caiu. Voltou à realidade imediatamente, assustada.


– Olhe por onde anda! – disse alguém em tom debochado.


Emma reconheceu ser Frank. Não usava mais um curativo no nariz, mas o hematoma arroxado ainda estava lá. Ela julgou que ele não se esqueceria daquilo tão rápido quanto ela imaginava. Fez menção de ignorá-lo e saiu de perto, mas ele a deteve, puxando-a pelo braço.


– Me solta. – ela disse em tom calmo. Não estava disposta a inicia outra briga.


– Não adianta você bancar a boazinha, Emma. – ele a fitava diretamente nos olhos enquanto sua boca proferia palavras em tom rude e frio. – Todos sabem que você é uma vadia.


– Não me importa o que você tenha inventado sobre mim, Frank. – declarou ela, seriamente. Tentava manter o controle com todas as suas forças.


Não era hora de perder a cabeça com aquelas provocações. – Eu sei o que eu sou e o que eu não sou.


– Então assume que é uma vadia? – ele riu, fingindo surpresa.


– Eu realmente acho que você precisa de ajuda. Está completamente louco. A quantidade de absurdos que você diz equivale a cada gota de água no oceano. – bruscamente, ela se soltou da mão que a segurava. – Pode falar o que quiser de mim, mas quero deixar bem claro uma coisa: – levantou o queixo com ar de superioridade. – Não se meta com minha família.


– Família?! – Frank Palmer arqueou uma sobrancelha. – Que família? Você está sozinha nesse limbo, Emma.


– Não tanto quanto você. – respondeu. – Porque essas pessoas que te cercam hoje podem te apunhalar pelas costas amanhã.


– Ora, ora... – ele matinha um sádico sorriso nos lábios. – Parece que já está começando a mostrar as suas garras. Também quero deixar algumas coisas bem claras por aqui. – fez uma pausa e apontou um dedo. – Seu amiguinho delinquente está ferrado.


– Já disse. – advertiu ela. – Diga o que quiser, isso não me afeta em nada. Mas não ouse se meter com minha família. – ela olhou para ele uma última


vez, séria, e depois seguiu caminhando. Pôde ouvir a voz dele soando atrás:


– Você não tem ideia do problema em que se meteu, Emma!


Ela o ignorou. Por mais que tivesse se demonstrado forte e imune às provocações de Frank, Emma tinha medo. Medo de que sua vida se transformasse num verdadeiro pesadelo. E isso poderia acontecer num estalar de dedos se Frank Palmer quisesse. De alguma forma ele sabia como persuadir as pessoas de modo que elas acreditassem nele cegamente.


Emma voltou para casa e não encontrou seu avô na sala. Provavelmente já estava em seu quarto, dormindo. Ela decidiu fazer o mesmo.


Dessa vez, porém, foi se deitar com a mente atormentada pelos acontecimentos daquele dia. Emma não soube dizer se aguentaria a pressão daquela situação por mais tempo. Era como se um buraco se abrisse debaixo de seus pés e ela tentasse não cair nele, se segurando em uma corda frágil que arrebentaria a qualquer momento. Fechava os olhos e a visão de seu avô a culpando surgia. Não sabia o que doía mais: vê-lo desapontado ou saber que ele não acreditava nela. Pensou nos pais.


Talvez eles também não fossem acreditar nela. Talvez ela mesma não devesse acreditar. De quê adiantava a honestidade, então, se ninguém acreditava em sua existência?


Deixou que as lágrimas voltassem a brotar em seus olhos. Virou-se na cama mais uma vez até que caiu no sono.


O dia seguinte foi, talvez, ainda pior do que o anterior. Arthur Connors se recusou a dirigir qualquer palavra sequer à neta. No colégio as pessoas pareciam evitá-la. Confusa, Emma seguiu pelo corredor principal até que se deparou com suas amigas.


– O que está havendo? – ela perguntou.


Amanda e Jodie não responderam. Lançaram para ela um olhar que Emma não soube interpretar. As pessoas pareciam a encarar com mais intensidade.


– Sabemos que está andando com más companhias, Emma. – declarou Jodie.


– O quê?


– Está andando com aquele garoto estranho. – Amanda foi direta, como de costume. – Se quer reconquistar o respeito das pessoas, Emma, saiba que está agindo de forma errada. Você...


– Chega! – protestou Emma. – Não preciso de ninguém me dizendo o que eu devo ou não fazer, por favor. Não fiz nada de errado.


– Aquele cara não é boa companhia, Emma. – Jodie tentou explicar da forma mais calma possível. – Ouvi dizer que...


– Claro que você ouviu dizer! – Emma a interrompeu. – Todo mundo ouve dizer nessa cidade! Todo mundo quer cuidar da vida de todo mundo! Já estou farta disso.


– Estamos falando isso para o seu bem. – interveio Amanda. – Se acalme.


Emma respirou fundo duas vezes. Jodie prosseguiu:


– Como eu dizia – encarou Emma com seriedade. – A família de Alexander Montini está metida em coisas ilegais.


– São da máfia. – completou Amanda.


Emma permaneceu séria por um instante, até que soltou uma gargalhada.


– Mas que diabos estão dizendo? – riu alto. – É só um garoto que não se sente à vontade com as pessoas daqui. E com razão.


– Foi transferido de várias escolas por comportamento inaceitável. Talvez não tenha nem terminado os estudos por causa disso. A família dele se mudou para cá porque já não era bem vista em Chicago. – Jodie começou a discursar. – Esse pessoal é encrenca na certa, Emma.


– O que é isso? – ela ainda ria. – Fizeram uma investigação sobre a vida toda dele? Me poupem!


– Você é quem sabe, Emma. – disse Amanda. – Se livrar de um namorado meio possessivo não foi tão difícil. Espero que tenha a mesma sorte com um meliante.


Emma franziu a testa num olhar irônico e sorriu de canto.


– Sério? – ela disse, ironicamente, olhando para as duas garotas paradas à sua frente, sérias. – Amanda, você nem sabe o significado da palavra meliante.


– Nós não estamos brincando. Não inventamos isso.


– Não duvido de vocês. – Emma deu de ombros. – Tenho que ir. Estou atrasada pra aula. – deu as costas para as amigas e se afastou rapidamente.


Amanda e Jodie se entreolharam. Queriam desesperadamente fazer Emma acreditar nelas, mas sabiam que seria em vão. Era teimosa, persistente.


Não acreditaria em nada que não quisesse acreditar. Mesmo que se parecesse não se importar, Emma se importava. Ela se importava porque todas aquelas fofocas espalhadas chegavam direto aos ouvidos do avô.


Ver o avô decepcionado era pior do que qualquer coisa no mundo.


Enquanto voltava para casa, naquele início de tarde, Emma resolveu-se. Não suportaria mais o silêncio do avô por um minuto sequer. Chegou em casa e o encontrou na sala, a ler um jornal.


– Vovô, – ela começou a falar em tom muito sério. – Não suporto mais esse terrível clima entre nós. Eu não fiz nada que possa lhe envergonhar.


Jamais faria. Me surpreende muito que o senhor não tenha certeza disso.


Um longo silêncio. Emma prosseguiu:


– Terminei meu namoro com Frank porque ele estava... – pensou um pouco para não dizer nada que pudesse causar mais problemas. – Não estava sendo um bom namorado. Ele está chateado com esse fim e decidiu se vingar, digamos assim, inventando coisas ao meu respeito.


– Não quero ver o nome da nossa família na lama, Emma. – declarou Arthur Connors, severamente.


– E não verá, vovô. – respondeu ela. – Não verá. Pessoas falam de pessoas. Isso é da origem humana.


Ele encarou a neta com um olhar que não esboçava qualquer tipo de reação. Em seguida abriu um breve sorriso e disse-lhe:


– Estou orgulhoso por você não ter perdido a cabeça. Acho que tenho muito o que aprender com você.


– Será que pode me perdoar, vovô? – Emma arriscou perguntando.


– Não há o que perdoar, minha filha. Agi de modo completamente errado. Quem lhe deve desculpas aqui sou eu. – abriu os braços e abraçou com ternura.


Emma finalmente sentiu que não estava sozinha.


– Obrigada, vovô. – disse.


– Minha pobre garotinha... – ele falou em tom compreensivo enquanto lhe afagava os cabelos. – O que essas pessoas estão fazendo com você?


– Vou ficar bem. – declarou ela com convicção.


Esperava ter razão. Esperava que tudo ficasse bem. Logo. Mas estava enganada. Os dias seguintes foram terrivelmente piores do que os anteriores.


As pessoas passaram a ignorá-la, fingindo que não a conheciam, que não podiam vê-la. Suas amigas não lhe dirigiam palavra alguma. Emma passou a sentir o amargo gosto da rejeição todas as manhãs no colégio.


Em seu caminho de volta para casa, distante avistava Alex Montini encostado à um muro, mas ela não ousava se aproximar. Não depois do modo como as pessoas a estavam tratando por ter se aproximado dele. Emma julgava estar agindo de forma errada. Tentava não se importar, mas se importava. Não queria ser como aquelas pessoas, mas estava agindo como eles. Evitava tomar certas atitudes com medo da reação alheia.


A opinião dos outros parecia valer mais para ela do que a sua própria. Em uma tarde, enquanto fazia seu trajeto rotineiro, Emma sentiu uma mão pousando em seu ombro. Virou-se, instintivamente e lá estava ele.


Hesitava em sorrir ou esboçar qualquer tipo de emoção, mas parecia estranhamente feliz em vê-la. Emma o encarou com os olhos muito abertos.


– Oi. – ela disse, muito hesitante. O olhar frio dirigido à ela lhe causava arrepios.


– Não tenho te visto por aí. – Alex comentou. – Aconteceu alguma coisa?


– Não.


– Tem certeza?


– Sim.


– É só isso o que vai dizer? Nossas longas conversas se resumiram a isso agora?


– Eu preciso ir...


– Te fiz alguma coisa, Emma?


Emma fez que não com a cabeça.


– Pensei que fôssemos... Não sei... Amigos. – ele disse. Parecia confuso.


– Não nos conhecemos.


– Ainda.


– Por que de repente esse interesse em minha amizade? – perguntou ela.


– Eu... – Alex fez uma rápida pausa e respirou fundo. – Não sei, eu... Tenho te sentido mais triste ultimamente. Talvez seja minha culpa porque...


– Sua culpa?! – interrompeu ela. – E por que seria sua culpa?


– Não tenho te deixado se aproximar para conversar comigo.


– Isso não faz sentido. – respondeu Emma.


– Então por que não me procurou mais?


– Tenho estado ocupada.


– Você está bem, Emma?


Repentinamente, o frio olhar que estava estampado no rosto dele deu lugar a um olhar de preocupação.


– Estou. – disse ela, desviando o olhar.


– Emma, eu vou te perguntar uma coisa e quero que me responda a mais pura verdade, certo?


Ela hesitou. Ficou em silêncio, mas acabou concordando com a cabeça.


– Muito bem. – ele disse. – Aquela foi a primeira vez que seu namorado te agrediu?


Emma ficou petrificada. O sangue fugiu-lhe do rosto e ela começou a suar frio. Não era a pergunta que ela esperava ouvir. Deveria responder?


– Meus problemas são meus. – Emma disse. Tentou parecer indiferente quanto à pergunta. – Cabe a mim resolvê-los sozinha.


– Não respondeu a minha pergunta ainda. – Alex insistiu.


Emma olhou ao redor. Não havia mais ninguém ali. Apenas os dois e a pergunta que pairava no ar.


– Por que quer saber? – indagou ela.


– Não vai parar de fugir da minha pergunta?


Ela respirou fundo. Mais uma vez. E outra. Tentou se manter natural, sem esboçar qualquer tipo de reação, quando disse:


– Não. – fez uma pausa. – Não foi a primeira vez.


– Filho da mãe... – ele murmurou.


– Eu não... Não deveria ter... – de um súbito, Emma pareceu se desesperar. – Isso não pode sair daqui, por favor.


– Se acalme. – suas mãos seguraram as mãos geladas dela e ele sentiu Emma estremecer com esse contato. – Por que acha que vou sair por aí aos quatro cantos do mundo contando o que você acaba de me dizer?


– Se Frank souber que eu...


– Ele não pode fazer mais nada contra você, Emma.


– Você não sabe.


– Ele não vai fazer nada dessa vez.


– Ele já está fazendo! – ela elevou o tom de voz e soltou suas mãos das dele. – A minha vida está um verdadeiro inferno! As pessoas me odeiam!


– Obviamente elas te odeiam. – ele respondeu com naturalidade.


– O que tá querendo dizer?


– Essas pessoas têm o ódio consumindo suas almas. É tudo o que elas sentem. Por isso é tudo o que elas sabem demonstrar. É o único sentimento que elas verdadeiramente conhecem.


Ela se manteve calada. Acalmou-se e esperou sua respiração se normalizar.


– Me desculpe. – ela disse. Sua voz soou baixa. – Eu tenho evitado te procurar.


– Por quê? – ele deu um sorriso de canto, sem entender.


– Porque... Tenho medo.


Ele abriu outro sorriso.


– Medo?!


– As pessoas estão dizendo coisas sobre você.


– Você tem medo de mim?


– Tenho medo de que essas coisas sejam verdades.


– Então você acredita no que os outros dizem ao meu respeito?


– Eu...


– Não estou repreendendo você, Emma, mas julgo que você seja inteligente demais para acreditar nas mesmas pessoas que estão dizendo mentiras sobre você.


– Você não entendeu o que eu quis dizer.


– Então me explique. – ele cruzou os braços e esperou que ela começasse a falar de forma mais específica.


– Não. – ela balançou a cabeça negativamente. – Sou péssima para explicar. Eu me expresso muito mal.


– Claro que não.


– De qualquer forma, você não entenderia.


– Emma, eu gostaria muito de te ajudar. De alguma forma eu me sinto na obrigação de fazer isso. Pode parecer a maior besteira que você já ouviu, mas eu sinto uma necessidade inexplicável de... Proteger você.


Ela ergueu as sobrancelhas e arregalou os olhos. Descobriu-se com o coração batendo descompassado. Por medo, certamente. Emma foi incapaz de dizer algo que pudesse quebrar o silêncio que tomara conta daquele momento.


– A maior besteira que você já ouviu, não é? – ele perguntou.


– N-não. Eu... Não. Está tudo bem.


– As coisas vão melhorar. Fique tranquila.


– Preciso ir. – disse ela, por fim.


– Claro. – concordou. – Desculpe por tomar seu tempo desse jeito, mas será que eu posso te ver de novo?


Emma apenas encarou-o mais uma vez e se afastou em passos hesitantes. Estava ainda mais confusa. Era a primeira vez em muito tempo que não ouvia alguém lhe tratar com ternura. No fundo, secretamente, Emma sentia necessidade de se sentir segura, de proteção.


Proteção que ela apenas sentia quando tinha os pais por perto. Queria voltar àquela época, onde fora feliz como nunca. Mas não podia voltar. Tinha que encarar o presente.


E o presente era aquilo. Pessoas a julgando o tempo todo, situações confusas e perturbadoras. Emma se lembrou das palavras de Alex.


As coisas vão melhorar. Fique tranquila.


Ela não ficaria tranquila nem se quisesse. Não se tranquilizaria enquanto as pessoas não parassem de falar sobre ela e de encará-la o tempo todo.


Não ficaria tranquila enquanto não deixassem que ela cuidasse da própria vida sozinha. Ela se perguntou quando finalmente teria um pouco de paz.


Era disso que ela mais precisava no momento.


Paz.



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MÚSICA TEMA DO CAPÍTULO. ___________________________________________________________ Emma soube que algo estava errado quando saiu para ir a Harrison Brown Academy de manhã e se deparou com Alex Montini na porta de sua casa. – O que faz aqui? – indagou ela. Estava bastante surpresa. Ele abriu um sorriso de orelha à orelha e Emma ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 2



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  • ceeh Postado em 02/06/2014 - 21:48:29

    Sabe eu sinceramente adorei. A história é muito boa misturando tudo. Pensei até que o assassinato de Emma foi por Heather (nem sei escreve, repara não)e não entendi o porque de todos a adiarem daquele jeito. Eu mesma já me senti sozinha e muitas pessoas viraram as costas para mim mas eu nunca fiquei tão sozinha quanto Emma ficou. Ela criou uma segunda personalidade para se defender de tudo o que sofrera. Para não ser mais fraca. E como adorei tudo cada detalhe e como jogou com o leitor revelando alguns mistérios mas deixando outros ocultos. Gostaria muito de ler outra historias suas e finalmente li algo realmente bom. E você nem usou personagens famosos, sua historia é famosa e quem não leu só perdeu. De sua fã Ceeh.

  • ceeh Postado em 01/06/2014 - 14:19:15

    Aiin... Que web mais perfeita. Eu me senti como a própria personagem e você escreve bem demais. Por favor não abandone a história, eu já estou amando tudo nela principalmente os detalhes. Continue...


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