Fanfics Brasil - Capítulo XXII - Voices Fixed At Zero

Fanfic: Fixed At Zero | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass


Capítulo: Capítulo XXII - Voices

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MÚSICA TEMA DO CAPÍTULO.


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Heather permaneceu na casa de Alex até o ponto em que começou a se sentir incomodada com a presença dele. Não que ele causasse nela algum tipo de medo.


Mas a presença dele fazia com que ela se lembrasse da última visão que havia tido. Emma parecia temer que ele a julgasse depois do que ela fizera. Heather não entendera muito bem o motivo daquilo, já que Emma mostrara a ela que confiava totalmente em Alex.


Por que então ela temia a forma como ele reagiria se soubesse que ela havia se cortado?


Heather despediu-se dele, agradecendo pela refeição que ele tinha lhe preparado e tratou de convencê-lo que ficaria bem. Alex a fez prometer que telefonaria a ele caso algo acontecesse. Contra a sua vontade, Heather assentiu e deixou a casa, partindo então para a sua.


Estacionou seu veículo de cor escura e vidros negros em frente à entrada de sua casa e desceu com sua bolsa em mãos. Após travar as portas do veículo, Heather caminhou lentamente na direção da porta do imóvel. Tirou uma chave da bolsa e colocou-a na fechadura, girando-a.


Soltou um suspiro de cansaço. Já era noite. O telefone não voltara a tocar desde então. E ela ainda sentia-se perturbada com aquela falta de notícias.


Empurrou a porta e deu alguns passos adiante. Seus olhos se abriram por completo ao encontrar sua sala de estar em um estado no qual ela não a tinha deixado antes de sair.


O sofá encontrava-se rasgado, com marcas provavelmente feitas com facas por toda parte. Pelo chão, vários objetos arrancados dos armários e estantes. O tapete estava manchado.


As paredes...


Havia algo na parede em frente à Heather. Uma mensagem. Um aviso. Em letras vermelhas – que Heather julgou terem sido feitas com batom – ela pôde ler claramente:


Saia da cidade.


Heather olhou ao redor e notou que as outras paredes também levavam uma mensagem.


Desapareça.


Este não é o seu lugar.


Vá embora. Agora.


O vento passava pela janela aberta da sala, causando um som terrivelmente perturbador. Heather precipitou-se para a janela, fechando-a. Concluiu então que a pessoa entrara em sua casa por aquela mesma janela. Virou-se para voltar a encarar as paredes cobertas com letras.


Ela não reconhecia aquela caligrafia. Não poderia mesmo se quisesse. Estava petrificada, tomada por uma aflição que até então ela havia tentado evitar.


E de repente Heather percebeu que seu maior medo era ter medo. Pois sabia que uma vez que ela temesse aquelas ameaças, ela se tornaria totalmente vulnerável. Pronta para ser atacada. Então, outro sentimento misturou-se ao que ela sentia naquele momento. A solidão.


Ela havia caído em si, percebendo que estava sozinha. Encostou-se à parede, com os braços ao redor de si mesma, deixando-se escorregar para o chão, lentamente permitindo que as lágrimas de desespero despencassem de seus olhos.


Por um momento quis saber se aquilo era realmente melhor do que passar o resto de seus dias trancafiada em uma clínica psiquiátrica mesmo não estando mentalmente enferma. Se ainda estivesse na Jones & Johnson sua única preocupação seria quanto tempo levaria até que aquele lugar tirasse dela toda a sua sanidade.


Quando isto acontecesse, ela se tornaria um deles. E ficaria naquele mesmo lugar até morrer. Não seria tão difícil, pois desde que conseguia se lembrar, enquanto estava naquele hospital, a única coisa que Heather fazia da vida era esperar que ela acabasse. Mas ela mesma mudara o rumo daquele destino. Ela mesma tomara a decisão de que não terminaria sua vida presa naquele maldito quarto. Consequentemente, ao pensar nestes feitos, uma pergunta surgiu em sua mente. Estaria ela fazendo o certo?


Heather prometera a si mesma que jamais seguiria seu coração, pois ele era falho e certamente tomaria decisões levadas pelas emoções e sentimentos. E, bem, os sentimentos podem nos enganar com muita facilidade. Mas não tinha ela agido com o coração quando decidiu partir para Middletown, disposta a descobrir o que realmente acontecera a Emma? Ela estava tomada pela emoção quando decidiu que ajudaria a garota que a tinha atormentado durante todos os anos dos quais conseguia se lembrar com clareza.


Mas não por Emma. E sim por si mesma. Queria se livrar daquelas visões. Daquele tormento. E aí estava a resposta pela qual Heather procurava. Não, ela não havia agido com o coração. Havia agido egoistamente com sua mente.


Tudo o que queria era paz. Para si mesma.


E a única forma de conseguir isto, era conseguindo também a paz de Emma.


Encolhida no canto da sala de estar de sua casa, com lágrimas rolando por seu rosto, Heather respirava profundamente. O telefone tocou em sua bolsa, ao seu lado.


Ela tomou posse do aparelho com pressa, pois poderia se tratar do desconhecido que lhe telefonara. Atendeu a chamada rapidamente, mas uma ponta de decepção tomou conta dela ao ouvir uma voz que ela pôde reconhecer sem muito esforço.


– Heather, está aí? – Alex Montini parecia um tanto preocupado do outro lado da linha.


Heather sentiu-se novamente tomada pelo desespero e receio. Com a voz carregada, ela respondeu:


– Eles... Não... Não me deixarão em paz...


– O quê? Mas o que houve? – ele perguntou. Ela recomeçara a chorar e ele pôde ouvir que ela estava perturbada com algo que havia acontecido. – Estou indo para sua casa. Se acalme.


Heather não se deu ao trabalho de responder. Não fazia diferença. Encerrou a chamada e pousou o telefone no chão, ao seu lado. Colocou os braços ao redor dos joelhos – como costumava fazer quando ainda se encontrava na Jones & Johnson – e deixou que as lágrimas continuassem a cair.


–--


Alex saiu de sua casa com muita pressa. Tratou de trancar a porta e correu o mais rápido que conseguia na direção que o levaria para a casa de Heather. As ruas estavam parcialmente vazias. Quase nenhum som podia ser ouvido. Exceto pelos motores de carros, atravessando ruas mais distantes. Ou insetos noturnos.


Alex seguiu seu caminho em passos muito rápidos até avistar a rua que procurava. Correu ainda mais depressa naquela mesma direção. Deparou-se com a porta aberta. Ele entrou na casa, procurando por Heather com os olhos. Acabou por encontrar uma casa completamente revirada.


Seu aspecto dava a impressão de que um furacão passara por ali minutos antes. Alex ouviu algo e rapidamente seus olhos seguiram na direção do som. Heather estava ali. Encolhida no canto da sala. Cabisbaixa. Os braços ao redor dos joelhos. Ele correu para ela, agachando-se ao seu lado. Cuidadosamente, tentou afastar os braços dela, percebendo então que ela chorava desesperadamente.


– O que aconteceu? – indagou em tom baixo.


Heather levantou o rosto lentamente e, com os olhos aguados, indicou as paredes da sala. Alex virou-se para trás e leu as quatro mensagens ali deixadas em vermelho. Uma em cada parede. Ainda que estivesse surpreso e perplexo, ele não deixara de notar que reconhecia aquela caligrafia.


As letras eram suavemente escritas com certa firmeza, o que era irônico. Todas iguais. Eram perfeitas. Alex sentiu-se tomado por uma impaciência insuportável.


Tornou a olhar para Heather, que ainda chorava no canto da sala. Devia estar apavorada. Voltou a se aproximar dela, vendo que ela abaixara a cabeça mais uma vez, dominada por soluços que a impediam de falar. Calmamente, tomou-a nos braços, aninhando-a com ternura.


– Vai ficar tudo bem. – ele disse num sussurro.


Heather decidiu que não reagiria de modo negativo, pois nem isso conseguia fazer devido àquele terrível misto de sentimentos que agora transitava por sua mente. Receio. Raiva. Suspeita. Agarrou-se ao conforto que os braços de Alex lhe ofereciam naquele momento e ali ficou. Calada. Deixando que as lágrimas caíssem.


Entrar em contato com Heather daquela maneira causou em Alex um súbito sentimento de tranquilidade. Refrigério. Era como se ela tirasse de seus ombros todo o peso que ele carregara durante anos, sem precisar dizer ou fazer coisa alguma. Apenas por estar ali. Perto dele.


A presença dela era como o fim de todo o seu sofrimento e culpa. Desejava poder ficar ali com ela por mais tempo. Mas não podia. Sabia que não.


–--


Trevor Williams sentiu sua cabeça pesar para os lados. Suas mãos doíam, pois algo lhe apertava o sangue, forçando ambos seus braços para trás. Estava sentado em algo que ele constatou ser uma cadeira. Uma cadeira nada confortável. Abriu seus olhos, mas nada pôde ver. Havia algo o impedindo de enxergar. Algo que apertava seu rosto.


Certamente eles o tinham vendado. A venda, entretanto, lhe apertava com muita força, causando nele certo sufoco. Respirou fundo e sentiu um cheio que não pôde reconhecer. O odor era algo que se aproximava de um misto de terra e mofo.


Ele ouviu passos e começou a se agitar.


Alguém se aproximava. Sentiu uma presença chegando mais perto, em passos precipitados.


– Ora, ora... – soou uma voz. Um tom irônico e debochado. Trevor não fazia ideia de quem se tratava, mesmo que tentasse reconhecer aquela voz. – Vejo que está acordado.


Ele não respondeu, atento ao que a pessoa estava dizendo.


– Mas acho que ainda não dormiu o suficiente, doutor. – o desconhecido emitiu um riso. Trevor sentiu que lhe soltavam os braços e então um breve alívio o invadiu. Os pulsos doíam devido ao que usaram para amarrá-los.


Levou os braços para frente, sentindo-os doloridos. Logo a pessoa puxou um de seus braços, forçando-o a esticá-lo. Trevor tentou – com toda a força que ainda lhe restava – se livrar da mão que o segurava pelo braço esquerdo.


Tentou desvencilhar-se, mas sentia-se demasiadamente fraco. Esgotado. Tentou se esforçar, mas não era um adversário para a pessoa que ali se encontrava. Não agora, no estado em que se encontrava. Mesmo estando impossibilitado de ver onde estava e com quem estava, Trevor pôde sentir sua cabeça dar voltas. Tudo rodava.


Seu braço ainda estava esticado, contra a sua vontade. Ele sentiu algo sendo pressionado contra seu antebraço. Depois foi empurrado para dentro, perfurando sua pele.


Sentiu que lhe injetavam algo direto em sua veia. A agonia era suportável, mas o desespero de não fazer ideia do que estava acontecendo era incontrolável. Trevor se agitou ainda mais na cadeira, tentando se libertar da mão que o segurava pelo braço e daquilo que ele julgava ser uma agulha.


Ele se contorcia, tentando de todas as formas escapar, mas todo o seu esforço fora em vão. Sentiu que a agulha era lentamente retirada de seu antebraço. Um riso soou. Sarcástico. Debochado. Trevor parou de se agitar.


Um cansaço imediato e inesperado tomou conta dele, fazendo sua cabeça pender para frente. Encontrava-se agora ainda mais cansado do que antes. Ele lutou para manter seus olhos abertos por debaixo da venda que lhe apertava a cabeça, mas começou a se sentir vencido.


O que quer que fosse aquilo que haviam injetado nele, estava fazendo com que ele perdesse os sentidos aos poucos. Sua respiração tornou-se mais lenta. Mais fraca. Sua audição começara a falhar. Já não ouvia mais nada. Ou pelo menos não conseguia identificar os sons que ouvia.


Era como uma longa e psicodélica viagem. Fechou os olhos e sentiu como se sua alma flutuasse em alta velocidade por um túnel repleto de imagens distorcidas e sons que não condiziam com elas. Tentou se manter lúcido, lutando contra todas aquelas sensações que de modo involuntário o invadiam.


Pensou em Heather. Em seus indecifráveis e capciosos olhos castanhos que sempre o intrigaram. Desejava com toda a sua alma descobrir se ela estava bem. Se estava viva. Certamente se culparia pelo resto de sua vida se algo acontecesse a ela. Com o rosto de Heather em seus pensamentos, Trevor Williams perdeu seus sentidos.


E claramente aquela não era a primeira vez que desmaiara sentado naquela cadeira. Estava naquele mesmo lugar há muitas, muitas horas. E todas as vezes que voltava a si, alguém rapidamente tratava de colocá-lo para dormir novamente. Era como um interminável pesadelo. Não por estar ali. Sozinho. Sendo constantemente dopado pelas drogas que injetavam em seu corpo. Mas por não ter a mínima ideia de como Heather estava. Por não poder ajudá-la.


Estar com ela naquele momento, cujo qual ele julgava ser o momento em que ela mais precisaria dele.


–--


Rose estava quase pronta para deitar-se. Eram oito horas da noite e ela sentia-se exausta. Vestiu-se com uma longa, porém simples camisola branca e seguiu para a cozinha, decidida a tomar um copo d’água antes de ir ao seu quarto.


Caminhou para a cozinha e não se incomodou com as luzes apagadas.


Também decidiu que não as acenderia, pois seguiria para seu quarto logo depois de tomar seu copo d’água. Aproximou-se da pia e pegou um copo. Abriu a torneira e deixou que a água enchesse o copo que ela segurava logo abaixo.


Em seguida, tomou um gole de sua água gelada e caminhou para a janela. Através dela, ficou observando as ruas iluminadas pelas luzes dos postes. Estavam vazias. Desertas. Era uma noite calma. Especialmente depois do que ela fizera. Não era um grande feito ainda. Mas estava certa de que aquilo daria um fim – ou pelo menos uma pausa – em seu problema.


Seu maior problema naquele momento.


Tomou outro gole de água e sorriu para si mesma. Em breve tudo ficaria bem. Tudo voltaria ao normal.


Foram os sons de batidas à sua porta que fizeram com que ela parasse de pensar. Pousou seu copo sobre a pia da cozinha e caminhou na direção da sala.


Hesitante, Rose se perguntou quem estaria batendo à porta. Não esperava ninguém. Parou em frente à porta da sala e franziu o cenho. A curiosidade falara mais alto, então ela destrancou a porta, abrindo-a lentamente.


Alex estava lá, parado em frente a ela. Sua expressão não era uma das melhores. Rose jamais o tinha visto daquela maneira. Encarou-o com as sobrancelhas arqueadas, esperando que ele começasse a falar.


– Por que fez aquilo? – perguntou evitando fitá-la nos olhos. Ele observava o chão. Sua cabeça estava abaixada e sua voz soava firme e ríspida, num tom de censura. – Por que foi à casa de Heather? Para assustá-la? Por que diabos você fez aquilo, Rose?


Rose abriu os olhos, perplexa. Ele nunca usara aquele tom direcionado a ela. Aquela era a primeira vez. Ela se sentiu incapaz de responder, surpresa com o modo com o qual ele agia agora.


– Ela não tem nada a ver com a nossa relação. Por Deus, deixe-a em paz! – exclamou, erguendo o rosto para encará-la. – O que você fez foi errado. Muito errado.


Ela permanecera calada e Alex não tencionava lhe dirigir mais nenhuma palavra. Olhou para ela mais uma vez. Um olhar indiferente. Apático. Por trás daquele mesmo olhar, porém, havia decepção e uma inesperada raiva.


Ele se deu conta de que era a primeira vez que se sentia assim em relação à Rose. Sua própria noiva.


Alex virou-se e começou a se afastar. Rose não dissera nada. Absolutamente nada. Viu-o ir embora sem olhar para trás e voltou para dentro de casa, fechando a porta.


Não conseguia reagir. A sensação de ciúme misturada a uma pequena quantidade de raiva tornara-se agora um ódio. Um imenso ódio que Rose necessitava libertar através de atos.


–--


Heather estava agora sentada no sofá da sala de sua casa. Alex dissera-lhe que resolveria algo e voltaria na manhã seguinte. Disse-lhe também para telefonar a ele caso algo voltasse a acontecer. Ela começou a compreender o motivo pelo qual Emma confiara tanto nele. Ele realmente inspirava confiança. Parecia sincero em suas palavras e algumas atitudes. Heather certamente confiaria nele cegamente se ele não fosse um de seus suspeitos.


Distraída e desinteressada, olhou ao seu redor. A sala ainda tinha um péssimo aspecto. Ela estava segura de que levaria longas horas para colocar tudo de volta no lugar. Abanou a cabeça negativamente, deixando aqueles aleatórios e não muito importantes pensamentos para trás.


Repentinamente, sentiu uma pressão sobre sua cabeça. Algo que lhe apertava violentamente. Com muito esforço, Heather tentou se manter firme, mas a pressão tornara-se ainda maior, fazendo sua cabeça latejar.


O latejar era agora insuportavelmente forte. Ela começara a sentir dificuldade para respirar normalmente. Era como se um enorme peso estivesse despencando sobre ela, sem parar. Heather sabia que era inevitável. Sabia que não conseguiria evitar que aquilo acontecesse de novo.


Cerrou seus olhos, levando as mãos à cabeça enquanto sua alma, sua essência, era jogada em um poço de confusas imagens e vozes misturadas entre si. Havia uma luz. Era o fim do poço. E Heather sentiu que estava o alcançando. Aproximando-se dele cada vez mais rápido, até chegar à tal luz.


_________________________________________________


» MÚSICA DE FUNDO «


Emma passara todo o intervalo trancada no banheiro feminino. Fechada em uma das cabines, ela passou a mão pela boca e respirou fundo. Sentia como se seu estômago estivesse dando voltas. Mil voltas.


Abaixou a tampa do sanitário e pressionou com força a descarga presa à parede branca do banheiro, deixando que todo o seu café da manhã desaparecesse pelo esgoto. Evidentemente não estava orgulhosa do que tinha acabado de fazer. Mas o alívio que aquela ação passara a lhe proporcionar desde que começara a praticar aquilo era totalmente indispensável. Principalmente em momentos como os quais estava vivendo.


Respirou fundo mais uma vez. Sentiu aquele deleitável e quase milagroso alívio invadir seu corpo. Sua mente. Seu coração e sua alma. Emitiu um sorriso leve e abriu a porta da cabine. Seu coração quase saltou pela boca quando, ao abrir a porta, se deparou com uma colega de classe: Rose Mason.


Emma raramente a via. Na realidade, raramente prestava atenção na presença da garota. Especialmente porque passava a maior parte de seu tempo ao lado de Alex. Sendo assim, nada mais lhe importava. Não quando estava com ele. Rose a encarava com um olhar obscuro. Algo que incomodou Emma.


Ela não soube exatamente o que dizer. Temia que Rose tivesse percebido o que ela acabara de fazer. Não queria ouvir sermões. Não queria que ninguém sentisse pena dela. Pensou em começar a se explicar, mas hesitou. Não havia quaisquer motivos para isso. Rose não era uma amiga. Não era parte de sua vida.


Mas no fundo de seu coração, Emma desejava que a garota não dissesse a ninguém o que acontecera naquele banheiro.


– Desculpe. – Rose disse timidamente. – Não sabia que esta cabine estava ocupada.


– Não está mais. – rapidamente Emma respondeu, esforçando um sorriso. Agradeceu a Deus mentalmente por Rose não ter feito qualquer comentário sequer a respeito do que ela achava que a menina tinha visto ou ouvido. Era um sinal de que, claramente, Rose não havia percebido nada.


Sem dizer mais nada, Emma afastou-se e saiu do banheiro. Seu estômago começara a doer, mas ela decidiu que ignoraria aquilo. Em breve isto passaria. Ouviu o sinal soar. Era hora de ir para casa. Correu para a sala de aula e aproximou-se de sua mesa.


Tomou posse de sua bolsa e se retirou pela mesma porta que entrara. Caminhando pelo corredor principal do colégio, Emma olhou ao redor e sentiu-se aliviada por não ter visto Alex na saída. Ele evidentemente lhe faria perguntas, querendo saber o motivo de ela ter passado todo o intervalo no banheiro.


Muito apressada, ela passou pelos portões da Harrison Brown Academy e tomou seu caminho, rumo à sua casa. Atravessou todas as ruas que faziam parte do percurso que sempre a levava para seu lar. Ao passar por uma calçada que dava às pessoas uma bela e ampla visão do Rio Connecticut, Emma sentiu seu estômago se contrair. Uma forte dor fez com que ela se inclinasse para frente, derrubando seus pertences pelo chão.


O mesmo chão no qual era agora se contorcia tomada pela terrível dor no estômago. Lágrimas de agonia começaram a escorrer por seu rosto. Ela levou ambas as mãos até a barriga, apertando-a, tentando inutilmente conter a dor.


– Ei! – alguém gritou. Ela ouviu rápidos passos se aproximando. – O que você tem?


A voz agora soava bem mais próxima. Estava bem ali. Ao lado dela. Emma respirou fundo várias vezes. A dor subitamente se amenizou. Mesmo sem entender, lentamente ela sentou-se no chão e começou a recolher seus livros e bolsa.


Ao fazer menção de recolher um de seus livros espalhados pelo chão, ela sentiu que uma mão entrava em contato com a sua. Parecia tentar também recolher seu livro.


Instintivamente ela ergueu os olhos e encarou o desconhecido que se encontrava em pé, perante a ela. Ela julgou que ele teria aproximadamente a mesma idade que ela. Possuía cabelos e olhos claros. Uma fisionomia inteligente. Havia uma leve expressão de preocupação em seu rosto.


Emma voltou a recolher seus objetos, colocando-os dentro de sua bolsa. Pôs-se em pé, ainda atordoada.


– Sente-se bem? – o tom da voz dele fez com que Emma concluísse que estava mesmo preocupado.


– S-sim. – respondeu. Colocou a bolsa debaixo do braço e suspirou. – Obrigada.


Ele retribuiu com um sorriso amigável e Emma passou por ele, se afastando apressadamente. Continuou seu caminho. Estava agora receosa. A terrível dor em seu estômago desaparecera. Mas ela se perguntou o que faria caso ela voltasse.


Um pesadelo. É isto o que estou vivendo.


O receio tornara-se maior e Emma se perguntou se deveria engolir seu orgulho e pedir ajuda.


_________________________________________________


Heather sentiu que algo retornava ao seu corpo. E que algo também se esvaía dele. Era como uma troca. Uma troca de informações. De tempos. De almas. Abriu seus olhos e encheu seus pulmões de ar.


Como consequência do que acabara de ver em sua mente, ela quis saber por que Emma lhe mostrara aquilo. Descobriu então que aqueles haviam sido dias horríveis. Dolorosos. Sofridos. Dias aos quais Emma teve de sobreviver sozinha.


Mesmo tendo Alex ao seu lado, ela tinha medo de lhe contar o que se passava em seu interior. Tinha medo de que ele a abandonasse. E caso ele o fizesse, Emma estava certa de que não suportaria.


Era nisto que Heather pensava agora. Era esta a conclusão que ela tirara de suas últimas visões.


Emma havia sofrido. E muito. Antes mesmo de seu assassinato, sua vida já não era mais a mesma. Ela estava se destruindo aos poucos. As pessoas a estavam destruindo. Até que não restara mais nada dela.


Heather soltou um suspiro de lamentação. Então, algo lhe ocorreu. O desconhecido que encontrara Emma no meio da calçada, encolhida no chão devido às dores... Ela não o tinha visto em suas visões antes. Não fazia ideia de quem se tratava. Estava segura de que Emma também não o tinha conhecido.


Ele não havia sido parte da vida dela. Heather constatou que, talvez, ele fosse uma peça importante no quebra-cabeça que ela passara a montar desde o dia em que chegara àquela cidade. Ainda que não fosse uma peça tão importante, Heather o colocaria para junto das peças que ela já havia recolhido. Uma vez que tivesse todas elas juntas, estaria pronta para montar o enigma.


Pronta para descobrir a verdade.


Não só a verdade sobre o assassinato de Emma Connors. Mas também a verdade sobre seu próprio passado.



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MÚSICA TEMA DO CAPÍTULO. __________________________________________________ Heather adormecera ali mesmo, no sofá de sua sala de estar. Lembrava-se de ter tentado lutar contra o cansaço, mas o sono a vencera. Acordou pela manhã, ao ouvir o estridente som de seu aparelho celular. E então se sentiu subitamente desperta, sentando-se ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 2



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  • ceeh Postado em 02/06/2014 - 21:48:29

    Sabe eu sinceramente adorei. A história é muito boa misturando tudo. Pensei até que o assassinato de Emma foi por Heather (nem sei escreve, repara não)e não entendi o porque de todos a adiarem daquele jeito. Eu mesma já me senti sozinha e muitas pessoas viraram as costas para mim mas eu nunca fiquei tão sozinha quanto Emma ficou. Ela criou uma segunda personalidade para se defender de tudo o que sofrera. Para não ser mais fraca. E como adorei tudo cada detalhe e como jogou com o leitor revelando alguns mistérios mas deixando outros ocultos. Gostaria muito de ler outra historias suas e finalmente li algo realmente bom. E você nem usou personagens famosos, sua historia é famosa e quem não leu só perdeu. De sua fã Ceeh.

  • ceeh Postado em 01/06/2014 - 14:19:15

    Aiin... Que web mais perfeita. Eu me senti como a própria personagem e você escreve bem demais. Por favor não abandone a história, eu já estou amando tudo nela principalmente os detalhes. Continue...


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