Fanfic: Fixed At Zero | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass
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– Eu realmente pensei que fosse morrer. – Heather disse num suspiro. Com a cabeça deitada sobre o peito de Trevor e com os braços dele ao redor de seu corpo, aquela era a primeira vez em que ela sentia-se livre para falar sobre qualquer coisa. Qualquer coisa que viesse à sua mente ou que guardasse em seu coração. – Não me deixarão em paz.
Trevor aninhou-a contra si, sentindo a preocupação o invadir. Ela tinha razão. Eles não parariam de atormentá-la até que ela deixasse a cidade. De um modo ou de outro.
– Heather, eu acho que mais pessoas estão envolvidas. – ele começou a explicar. – Essa cidade... Há algo de errado com ela.
Ela ergueu os olhos para encará-lo. E então ele prosseguiu:
– Antes do sequestro, eu... Eu andei fazendo algumas pesquisas.
– Também acho que há algo de errado com esta cidade. – interrompeu Heather. – As pessoas mudaram depois do assassinato de Emma. É como se... Como se todos tivessem uma parcela de culpa. Parece que todos sabem o que realmente aconteceu. – ela desviou seus olhos dos dele. – Todos menos eu.
– Continua tendo aquelas visões?
Heather soltou outro suspiro.
– Há algum tempo ela não se comunica comigo. – fez uma breve pausa para pensar. – Estou com medo, Trevor.
– Você? Com medo? – ele não conteve um sorriso de indignação. – Por quê?
– Eu... – Heather levou tempo para encontrar as palavras certas. Mas já não hesitava em contar a ele tudo o que se passava em sua cabeça. – Eu vi algo... Algo que eu jamais havia visto antes.
– Do que está falando? – indagou.
– Na noite em que Emma morreu... Eu... Eu tive uma visão em que... Ela falava comigo. – Heather viu Trevor arquear as sobrancelhas. – Digo... Diretamente comigo. Ela dizia “me ajude, Heather. Me ajude.” E me olhava nos olhos. Ela...
– Você me afirmou que não a tinha conhecido.
– E não conheci. Eu... Eu não me lembro dela. Mas essa visão... Ela falou o meu nome. Chamou por mim e me pediu ajuda.
– Então qual é a sua conclusão?
– Eu... Eu não faço ideia. – bufou ela. – Ela estava conturbada. Confusa. A vida dela estava um verdadeiro inferno.
– Talvez devêssemos tentar descobrir mais a respeito de Emma. Focar-nos apenas nela e nos últimos dias da vida dela.
– Os piores dias da vida dela. – completou. Heather voltou a fitá-lo nos olhos. – Emma desenvolvera bulimia. Também tinha tendências suicidas. A mente dela estava tumultuada. Ela não vivia. Apenas... Sobrevivia. Dia após dia. Mas ela não queria morrer. Disto eu tenho certeza. Ela queria superar todos os seus problemas e... Não sei, tentar ser feliz.
– Você conhece bem a minha opinião a este respeito, Heather.
– Sim, eu sei. Eu sei. – ela o interrompeu novamente. Afastou-se dele, apoiando-se em seu próprio cotovelo sobre o chão onde ambos encontravam-se deitados. – Ainda acha que sou maluca.
– Não acho que seja maluca. De forma alguma. – argumentou ele. Olhou para ela desejando poder proferir as palavras mágicas que tirariam dela todo o seu sofrimento e angústia. Mas não podia. Não podia porque nem ele mesmo conhecia as palavras certas a serem ditas naquele momento. Ele acariciou o cabelo dela suavemente e olhou-a nos olhos. – Vai ficar tudo bem.
– Por que está comigo? – ela perguntou. A questão o pegou de surpresa. Viu-a com uma expressão curiosa no rosto. Heather parecia realmente querer saber. – Por que se meteu nisto tudo? Eu quero dizer... Desde que assumiu o meu caso na clínica. Por quê?
Trevor olhou para baixo. Um aspecto pensativo tomou conta de seu rosto. Ele pensou por poucos segundos. Tornou a olhar para ela, desta vez com um olhar sério. Duro. Firme.
– Quando eu a vi pela primeira vez naquela clínica, – ele deu início à sua explicação – Eu vi a mim mesmo em você.
– Como assim? – Heather inquiriu, confusa.
– Você estava transtornada. Havia confusão em seus olhos, Heather. Era como se você não aceitasse as coisas impostas pela vida. – ele continuou falando sem deixar de olhá-la nos olhos. E Heather manteve-se calada, atenta ao que ele dizia. – Exatamente como eu me senti durante um ano inteiro.
Os olhos de Heather se abriram por completo, expressando sua surpresa. Ela esperava que ele prosseguisse com sua explicação. E foi exatamente o que ele fez.
– Me casei logo depois da faculdade. Ela se chamava Lisa. – a afirmação dele causou a perplexidade de Heather. – Havíamos nos conhecido assim que entramos na mesma universidade.
Foi neste exato momento que Heather percebeu que não sabia quase nada a respeito dele. Todavia, era apenas ao seu lado que se sentia verdadeiramente segura. Ainda assim, depois de muito tempo, Heather sentiu o enorme interesse em saber mais a respeito de Trevor Williams. O modo como ele falava da – até então não citada – esposa fez com que Heather se perguntasse se ele ainda mantinha um relacionamento com a tal mulher. Se ainda era casado. Se a amava.
– Lisa tornou-se depressiva. – Trevor prosseguiu. Sua voz quebrou o silêncio e trouxe Heather de volta à conversa. – Isto foi resultado de um trauma muito grande. – ele fixou seus olhos nos de Heather. – Perdemos nosso bebê em seu quinto mês de gestação.
Houve um profundo e longo silêncio que deixou ela incomodada. Ela voltou a desviar seus olhos para outra direção.
– Ela não comia, não dormia... Deixou que a depressão tomasse conta de sua mente. – ele explicou pacientemente. Heather teve a súbita sensação de que ele estava abrindo seu coração a alguém pela primeira vez, deixando seus sentimentos expostos. – Eu fiz tudo o que pude.
Heather percebeu a voz envolta em emoções enquanto ele narrava os fatos ocorridos.
– Eu realmente tentei.
– O que houve?
– Lisa cometeu suicídio. – declarou firmemente. Heather sentiu-se atônita. – Overdose. Entupiu-se com remédios. Desistiu de lutar. Desistiu de vida.
Consequentemente, ao ouvir aquela frase, Heather lembrou-se do que Charles Stevens havia lhe dito na noite em que se conheceram.
Aceitar a morte não é desistir da vida.
– Talvez ela só estivesse cansada de tentar.
– Foi assim que eu mesmo passei a me sentir depois que ela se foi. – Trevor disse. – Afundei-me em pura solidão, sabe? E não era apenas isto. Era... A culpa, o medo, a tristeza. A vida havia perdido todo o seu sentido. E eu simplesmente não conseguia aceitar o destino.
– Conheço a sensação. – respondeu Heather, cabisbaixa.
Trevor Williams calou-se por segundos. As lembranças de um passado não muito distante invadiram sua mente. Havia sido ele quem encontrara a esposa morta sobre a cama do quarto deles. Lembrava-se claramente de ter chegado do trabalho. De tê-la encontrado, a tomado nos braços. O corpo mole como o de uma boneca de pano. Verificou sua pulsação. Não havia batimentos. A pele estava pálida como papel. Não havia mais vida naquele corpo. Assim como não havia mais nada para o que ele pudesse viver.
– E então eu me tornei frio. – a voz de Trevor voltou a surgir no ambiente. – Como você, Heather.
Ela olhou para ele e tentou entender aonde ele queria chegar com todas aquelas revelações. Coisas pelas quais ela não esperava e nem sequer imaginava.
– Eu me tornei exatamente como você. Meu coração se esfriou. Meus sentimentos foram trancafiados. – ele não deixava de olhá-la nos intensos olhos castanhos que agora irradiavam curiosidade e atenção. – E, ironicamente, foi você quem me salvou disto.
– Eu? – ela perguntou. Parecia indignada.
– Sim, Heather. – ele respondeu. – Dias antes de aceitar seu caso eu havia... Cogitado algo. Uma ideia.
– Do que está falando?
– Seu caso foi o primeiro que aceitei depois do ano em que me afastei da psiquiatria. – explicou. – Antes de aceitar seu caso, eu... Eu estava no chão de meu apartamento. Mil coisas se passavam por minha cabeça. Eu tinha uma mente perturbada e uma arma na mão.
Heather sentiu que uma súbita e incontrolável onda de agonia a invadia. Jamais imaginara que o extremamente decidido e reservado Dr. Williams pudesse levar em consideração a possibilidade de se suicidar. Pensou no quão alabado ele devia estar na época em que a esposa cometera suicídio logo após que sofrera o aborto espontâneo. Uma avalanche de problemas tinha tal resultado na vida das pessoas. Heather – melhor do que ninguém – sabia disto.
– Eu lamento. – foi tudo o que ela fora capaz de dizer no momento em que se encontrava.
– Eu estava preparado. Pronto para... Você sabe, puxar o gatilho. – ele continuou. – Mas algo me fez parar e pensar. Era como se... Não sei, uma voz, algo me disse para esperar. Esperar para ver o que aconteceria nos dias seguintes. Era como se minha consciência estivesse me pedindo uma última chance para me provar que a vida ainda valia a pena. E eu decidi me dar essa última chance. – ele fez uma pausa incômoda, pois o silêncio que se prosseguia causava em Heather um sufoco imenso. Seus intensos olhos azuis estavam fixos nos dela enquanto ele dava continuidade. – Foi quando eu conheci você, Heather.
Ela não soube como reagir diante das palavras que haviam sido ditas direcionadas a ela. Acabou se rendendo às suas próprias emoções, emitindo um sorriso que iluminou seu rosto sujo e com pequenos cortes espalhados por toda parte.
– Eu percebi que... Eu ainda não podia partir desse mundo. Eu ainda tinha muito a fazer. E um destes feitos seria conhecer você, ajudá-la... Heather, você definitivamente foi a minha salvação. – ele não conseguia conter a emoção que embalava suas palavras. – Eu me sinto como se... Como se devesse lhe agradecer por ter salvado a minha vida. Pois foi exatamente isso o que você fez.
Ele não deixou que ela pensasse antes de responder. Aproximou-se dela e selou seus lábios em um beijo calculadamente demorado. Heather sentiu-se novamente preenchida com emoções que antes ela costumava evitar ao máximo. Ela lentamente afastou seus lábios dos dele e exibiu mais um sorriso.
– Temos de sair daqui. – assegurou ela.
– Claro. – ele olhou ao redor. – Creio que seja melhor partimos agora. Ficaremos no hotel em que me instalei.
Heather assentiu com a cabeça.
– Acha que consegue aguentar até chegarmos lá?
– Bem, eu... Eu acho que não temos escolha. – Trevor deu um sorriso cansado. – Podemos seguir até a estrada. Vai dar tudo certo.
Heather acreditava nele. Tudo daria certo agora que o tinha ao seu lado novamente. Já não estava mais sozinha. Vestiu-se apressada, ajudando-o a fazer o mesmo e então se colocou em pé.
– Tudo bem. Não podemos esperar até que nos encontrem. – ela forçou-o a se apoiar sobre seus ombros e eles deixaram a velha construção adentrando o caminho envolto em mato e árvores. O dia estava claro. O céu estava limpo. O sol brilhava mais forte do que nunca. Mas o tempo era curto. Precisavam ser rápidos. Ainda havia pessoas atrás deles. Ironicamente, as mesmas pessoas que estavam a par da verdade. Do segredo escondido há tantos e tantos anos.
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– Eu sei que devo me desculpar com você. – Alex conteve o tremor de seu corpo quando Rose começou a enfaixar seu braço. A dor era violenta. – Mas preciso que você me entenda, Rose.
– Eu te entendo. – ela enrolava um tecido branco ao redor do braço dele bruscamente. – Ela faz você se lembrar daquela garota, trouxe as lembranças dela de volta à sua vida... Mas você se esquece, Alex, de que eu sou sua noiva e de que vamos nos casar muito em breve.
Ele estava sentado no sofá e ela encontrava-se agachada em frente a ele com uma pequena maleta de primeiros-socorros ao seu lado, no chão. Quando Alex aparecera em sua casa coberto de ferimentos, Rose soube que aquilo tinha algo a ver com a nova garota. Alex lhe dissera que não iria à polícia ou ao hospital. Isto geraria perguntas. E as perguntas gerariam mais problemas para Heather. Algo que Alex Montini queria evitar.
– Rose, eu não me esqueci disso. – declarou ele confiante.
– Ah, não? – ela afastou as mãos do braço dele e fitou-o com indignação. – Onde você esteve durante todo esse tempo? Com ela. Com aquela garota.
– Rose...
– Eu não gosto dela, Alex. – afirmou severamente.
– O que foi que ela te fez?
– Ela... Eu só não gosto dela. E não quero que se aproxime dela novamente.
– Querida, Heather precisa de ajuda. Está sozinha. Ela não conhece ninguém e precisa de apoio.
– Eu também preciso.
Alex olhou para o rosto infeliz da mulher que outrora ele designara para passar o resto de seus dias ao seu lado. Sentiu uma ponta de pena. Rose não merecia aquilo. Lembrou-se de como a vinha tratando ultimamente. Não soube que argumentos apresentar para conseguir seu perdão. Ele deixou que as palavras fossem articuladas naturalmente, seguindo seu instinto e seu coração.
– Me desculpe, tá legal? – Alex disse impacientemente.
– Eu não sei, Alex. – ela cruzou os braços em frente ao peito num gesto indiferente. – Não sei como agir com você depois do modo como você me tratou.
– Eu estive estressado...
– Claro. – Rose o interrompeu. – E isso obviamente lhe dá o direito de me maltratar. Eu não esperava isso. Eu realmente não esperava.
– Sei que está magoada.
– Que bom.
– Eu prometo que não voltarei a agir daquela maneira com você. – disse ele com convicção. – Mas, por favor, eu lhe peço... Não envolva Heather nisto.
Rose fez um aceno com a cabeça. Nem concordando e nem discordando. Alex levantou-se do sofá da sala dela e caminhou em direção à cozinha. A expressão no rosto de Rose Mason era fria. Ela estava calculando algo. Decidindo uma atitude a ser tomada. Uma medida drástica, talvez. Encarou o nada com seus olhos fixos no ar e murmurou para si mesma:
– Não fui eu quem a envolveu nisto...
Prévia do próximo capítulo
MÚSICA TEMA DO CAPÍTULO. __________________________________________________ Ao sair do hospital, Jodie esperava encontrar Frank Palmer. Contradizendo todas as suas expectativas, a pessoa que esperava por ela do lado de fora do quarto era Amanda Thornton. Esta recebera a amiga com um sorriso gentil e palavras um tanto animadoras: – Vou levá-la ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 2
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ceeh Postado em 02/06/2014 - 21:48:29
Sabe eu sinceramente adorei. A história é muito boa misturando tudo. Pensei até que o assassinato de Emma foi por Heather (nem sei escreve, repara não)e não entendi o porque de todos a adiarem daquele jeito. Eu mesma já me senti sozinha e muitas pessoas viraram as costas para mim mas eu nunca fiquei tão sozinha quanto Emma ficou. Ela criou uma segunda personalidade para se defender de tudo o que sofrera. Para não ser mais fraca. E como adorei tudo cada detalhe e como jogou com o leitor revelando alguns mistérios mas deixando outros ocultos. Gostaria muito de ler outra historias suas e finalmente li algo realmente bom. E você nem usou personagens famosos, sua historia é famosa e quem não leu só perdeu. De sua fã Ceeh.
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ceeh Postado em 01/06/2014 - 14:19:15
Aiin... Que web mais perfeita. Eu me senti como a própria personagem e você escreve bem demais. Por favor não abandone a história, eu já estou amando tudo nela principalmente os detalhes. Continue...