Fanfics Brasil - Capítulo XXIX - No Light, No Light Fixed At Zero

Fanfic: Fixed At Zero | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass


Capítulo: Capítulo XXIX - No Light, No Light

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MÚSICA TEMA DO CAPÍTULO.


_________________________________________________


Heather olhava para Trevor como se ele tivesse acabado de proferir palavras mágicas. Palavras que abriram para ela as portas para a verdade. Para a solução de todos os mistérios que cercavam seu passado.


Com os olhos muito abertos, sem sequer piscar, ela esperava atentamente por uma explicação mais específica. Trevor também a fitava com os olhos arregalados. Uma expressão de surpresa dominava o rosto de ambos.


A tensão entre eles era agora quase que inquebrável.


– É isso, Heather. – disse ele. E sua voz destruiu o silêncio do ambiente que já os estava sufocando. – Você estava lá, você viu o que aconteceu.


– Por que acha isso? – ela perguntou em um sussurro receoso.


– Ora, está óbvio! Aqui. Preto no branco. – dizia ele. – Você testemunhou o assassinato de Emma.


Heather fez menção de respondê-lo. Na verdade, estava a beira de fazer mais uma pergunta, mas Trevor interveio rapidamente:


– É por isso que não se lembra de nada.


– Que ligação tem uma coisa com a outra?


– Todas. Quando uma pessoa sofre um trauma muito grande... Ela desenvolve uma amnésia, um bloqueio de mente. É como se os instintos tentassem proteger a pessoa de seu próprio choque. Pois, se a pessoa se prender a ele, ela pode enlouquecer e agir irracionalmente. – ele a fitou intensamente nos olhos. – O seu grande choque, Heather, foi ter testemunhado aquele crime.


Ela abriu ainda mais os olhos. A confusão transitava por sua mente como um parasita indesejado, aos poucos permitindo que o pânico também tomasse conta dela.


– E-eu não sei... – a voz dela estava trêmula, assim como suas mãos. – Se eu a conhecia, se eu a tinha visto... Então eu certamente já estive nesta cidade antes.


– Há quinze anos. – Trevor completou. – Você, de fato, esteve na cidade. E obviamente você já havia visto Emma antes.


– Mas então... Por que as pessoas agem como se... Como se nunca tivessem me visto antes? Se eu estive na cidade... Eu devo ter tido contato com as pessoas, falado com elas. E elas deveriam se lembrar de mim, mesmo que alguns anos tenham se passado.


– Nós tínhamos razão, Heather. – ele lançou para ela o mais sério dos olhares. – Há algo de errado com as pessoas desta cidade.


– Olha, isto tudo está muito confuso. – ela balançava a cabeça de um lado para o outro.


– Heather, me escuta. – Trevor segurou-a pelos ombros. – Você esteve na cena do crime na noite em que Emma foi assassinada. Você sabe o que aconteceu. Precisamos fazer com que se lembre.


– Eu... Eu não posso... – Heather sentia um nó na garganta que a impedia de falar. Os olhos estavam marejados e sua respiração era pesada.


– Você pode. Precisa me ouvir. – fitando-a com muita atenção, Trevor tentava convencê-la da verdade. – Você precisa se lembrar. Só assim descobriremos quem matou Emma e por que.


– Não me lembro...


– Faremos com que se lembre, mas preciso de sua total colaboração.


– E-eu não consigo... Não... Não entendo...


– Heather, por favor. – apertou seus ombros, forçando-a a olhar para ele. – Você tem de se lembrar. É a chave para todo esse enigma. É o seu passaporte para a verdade. Precisa se lembrar.


– C-como? – gaguejou. Seu corpo todo começara a tremer e ela suava freneticamente. O nervosismo era evidente, assim como a determinação de Trevor Williams para fazer com que ela se lembrasse do que ele acabara de afirmar.


– Há um método muito usado e conhecido, do qual eu tenho certeza que você já ouviu falar. – ele deu início a mais uma explicação. – Chama-se hipnose.


Heather soltou um riso abafado num misto de angústia e ironia.


– Só pode estar brincando.


– Não estou. – declarou ele seriamente. – Faremos uma viagem pelo seu subconsciente e assim, poderemos desenterrar as memórias bloqueadas pelo seu choque. – pausa. – Poderemos descobrir toda a verdade.


Ela o observava com perplexidade. Ele parecia estar seguro de que aquilo os ajudaria a descobrir o que realmente havia acontecido. E, obviamente, Heather confiava nele. Acreditava em tudo o que ele afirmava.


– Está disposta a fazer isto, Heather? – ele perguntou.


Heather abaixou seus olhos e depois tornou a levantá-los. Soltou um longo e profundo suspiro, decidindo-se:


– Tudo bem. Podemos fazer isso.


Ele assentiu.


– Tomarei um banho e, se quiser, podemos pedir algo para comer.


Ela arqueou ambas as sobrancelhas. Então Trevor lhe deu a explicação pela qual ela esperava.


– Esse método exige tempo e paciência. Acho melhor que estejamos preparados antes de iniciar a sessão.


Heather encolheu os ombros e fez um gesto afirmativo com a cabeça. Ajudou-o a caminhar até a porta do banheiro onde ele passou a hora seguinte debaixo do chuveiro. Depois, Trevor saiu do mesmo e vestiu roupas limpas. Pediu serviço de quarto enquanto Heather também tomava um longo banho. Aproveitaram o jantar que havia sido enviado para o quarto e ficaram em silêncio, até que Heather já não podia mais conter a sua ansiedade. Trevor notara isto e decidiu que era hora de iniciar a sessão de hipnose. Gentilmente ele pediu para que ela se acomodasse na cama, colocando-se em posição horizontal.


– Sente-se confortável? – ele perguntou com sua suave voz.


Heather balançou a cabeça, hesitante.


– Sim.


– Bem, não há nada com o que deva se preocupar. Você deve fechar os olhos e relaxar. Não sentirá nada.


Ela fechou os olhos e perguntou:


– E agora?


– Se mantenha relaxada, sentindo seus olhos pesarem. – ele viu Heather se agitar lentamente, torcendo os lençóis da cama com força. – Por favor, se acalme e relaxe.


Um silêncio se prolongou por cinco minutos. E então Heather soltou os lençóis. Uma expressão de tranquilidade tomou conta de sua face. Trevor tentou manter uma postura severa e imparcialmente inabalável ao notar a mudança de expressão no rosto dela.


– Muito bem. – Trevor disse em tom baixo, porém firme. – Heather, como se sente?


Outro silêncio. Desta vez, maçante e incômodo. Não servia como resposta.


– Heather...


– Ela não fez nada. – a voz dela soou distante. Um tom taciturno e áspero. Sua respiração tornara-se ofegante. – Ela não merecia aquilo.


– Quem? – o Dr. Williams perguntou naturalmente.


– Emma. – respondeu.


– O que exatamente ela não merecia, Heather?


– Violentaram sua alma e dilaceraram todos os seus sonhos. Sua inocência. Sua bondade. Sua fé nas pessoas. – ela proferia tais palavras com infinita certeza. Era como se estivesse narrando um discurso.


– Você viu quem fez aquilo?


As palavras ditas por ele ficaram no ar, sem resposta. O silêncio de Heather o deixava sufocado, mas não podia hesitar. Não agora.


– Você estava lá?


– Sim. – ela assegurou rudemente. Seus olhos estavam cerrados, mas sua expressão era severa, deixando um ar de superioridade da parte dela em todo o ambiente.


– O que foi que você viu naquela noite? – Trevor prosseguiu com seus questionamentos.


Heather começara a respirar com certa dificuldade. Seu rosto se contorcia em várias expressões. Parecia estar tentando se libertar de algo. Algo em seu interior.


Novamente ela segurava-se com força aos lençóis da cama, torcendo-os em suas mãos suadas.


– Destruíram-na. – declarou. – Seu corpo, sua alma e seu coração. Destruíram tudo.


– Você sabe quem fez isto, Heather?


Mais um intervalo em silêncio. Trevor não permitiu que aquele silêncio se prolongasse tanto quanto os anteriores.


– Você e Emma se conheciam?


– Ela chamou por mim. – Heather mantinha os olhos fechados e voz firme. – Eu tinha de protegê-la. Tinha que ajudá-la. Ela precisava de mim e me chamou. E então... – fez uma pausa e respirou fundo. – E então eu fui até ela.


– Como vocês se conheceram? – Trevor Williams se manteve tranquilo. Sua voz era branda, calma, suave.


– Ela precisava de mim. – repetiu ela.


– Heather, eu quero que confie em mim. – era o principal passo para alcançar o objetivo desejado por ele. Fazer com que ela se sentisse à vontade. – Você confia em mim?


– É muito bom comigo, doutor. – Heather emitiu um sorriso pelo canto dos lábios. – E, embora não seja uma coisa muito sábia de se fazer, eu confio em você.


– Por que diz isso?


– Porque nunca se deve confiar nas pessoas. Nunca.


Trevor pigarreou e tentou se manter focado em suas próximas perguntas. O alvo agora era Heather em si. Já era mais do que óbvio que ela conhecera Emma, mas não queria responder todas as perguntas a respeito da garota.


Trevor Williams partiu para outra tática. O passado de Heather. O assunto que até então se encontrava intocável. Nunca questionado.


– Lembra-se de seus pais, Heather?


– Não. – disse rapidamente.


– Lembra-se de algum familiar? Amigo?


– Não tenho ninguém. – sua voz agora soava fria, porém segura.


– Há alguma lembrança que gostaria de compartilhar?


– Lembranças pertencem ao passado. E reviver o passado é sofrer duas vezes.


– Teve um passado conturbado? – ele indagou tranquilamente.


– Solitário, eu diria. – corrigiu. – Até o dia em que me uni à Emma.


Trevor franziu a testa. Aquela era a brecha pela qual ele estava esperando. Agora não podia recuar.


– O que quer dizer com isto?


O rosto dela de enrijeceu. Ela manteve-se calada.


– Você e Emma eram muito próximas?


– Mais do que imagina. – disse com um sorriso irônico nos lábios. Trevor recordara-se daquele sorriso. O mesmo que ele vira muitas vezes durante suas sessões com Heather na Jones & Johnson.


– Você sabe o que aconteceu a ela, não sabe?


– Ela estava assustada. Sentia-se sozinha. – explicou. – Como eu.


– Foi quando você a conheceu, Heather?


– Sim. – ela respondeu. – Ela precisava de alguém. Precisava de apoio, proteção. E eu proporcionei isto a ela.


– Você a ajudou?


– Fui a única saída que ela pôde encontrar. Um mal necessário. Uma válvula de escape para toda a dor e sofrimento que corromperam sua alma.


Trevor não conseguia ligar os fatos às narrações feitas por Heather enquanto ela estava naquele estado.


E, certamente, ele não podia sugerir que ela fosse mais específica. Ter atingido aquele nível do subconsciente dela em apenas uma primeira e única sessão já era um ocorrido milagroso.


Tudo o que ele tinha de fazer agora era aproveitar a oportunidade. Precisava tirar dela todas as informações que pudesse.


– Todos eles. – ela disse de repente. – Esta é a resposta para a principal pergunta que ronda sua cabeça, doutor. Todos eles.


– Todos eles?


– Todos. – assentiu. – Apenas o remorso será capaz de mostrar o verdadeiro causador de tudo aquilo. O peso da culpa cairá sobre ele e o revelará. A própria culpa o destruirá. Destruirá o culpado.


– Heather... – Trevor fez menção de se manifestar, mas ela começou a se agitar mais uma vez.


– Malditos! Malditos! – gritava ela.


Seus gritos tornaram-se histéricos. Lágrimas escorriam por seu rosto.


Subitamente, Heather abriu seus olhos. Olhos que, surpreendentemente, encontravam-se completamente brancos, como se fossem forçados a rolar para trás. Seu corpo estava agora imóvel. Congelado.


As mãos apertavam os lençóis violentamente. Trevor assistiu o rosto de Heather se contorcer, transformando sua expressão. A voz era soturna e rancorosa quando ela tornara a abrir os lábios.


– Você não pode salvá-la, doutor. – de um súbito ela virou seu rosto para ele, direcionando seus terrificantes olhos a ele. – Ela é minha.


O corpo dela foi empurrado para trás, inclinando-se no ar, encostando sua cabeça à cabeceira da cama. O ambiente era tempestuoso. Aterrador. Era como se todo o quarto estivesse envolto em uma forte e terrível pressão.


Como se nuvens carregadas pairassem sobre eles e as paredes se fechassem cada vez mais sobre aquela cama. Ela respirou fundo, aspirando todo o ar que conseguia.


Ficou naquela posição por rápidos e aterrorizantes segundos, deixando-se cair sobre a cama em seguida, num grito horrendo que deveria causar o desespero de Trevor.


Mas ele manteve-se calmo. Sério. Não podia reagir. Ainda que seu impulso maior fosse o de acordá-la e acolhê-la em seus braços, aquela não se tratava de Heather. Trevor Williams havia ouvido e lido a respeito de possessões espirituais, mas sempre ignorara qualquer informação a respeito de tal assunto. Não era uma pessoa crédula em questões espirituais.


Todavia, o que ele presenciara ali, naquele quarto de hotel, naquela cama, era algo com o que ele jamais havia lidado antes. Era algo diferente. Inexplicável. Era assustador, mas intrigante. Ele agora observava o corpo esticado sobre a cama. Os olhos estavam fechados.


Ela parecia dormir. Sua respiração ainda era ofegante, profunda. Trevor lembrou-se de algo que ouvira em relação a possessões. E então, aquilo – pela primeira vez – começou a fazer sentido em sua mente. Segundo alguns especialistas, a possessão espiritual segue passos. Níveis.


O primeiro era o nervosismo. Trevor se deu conta de que Heather sempre se demonstrara nervosa. Inquieta. Os passos se seguiam com fortes dores de cabeça. Insônia. Medo. Desmaios. E, por último, confusão mental. Todos se encaixavam perfeitamente no estado de Heather.


Desde que ele a conhecera. Desde que a vira pela primeira vez. Em outras palavras, Trevor Williams estava certo de que a pessoa que lhe falara por último, de fato, não era Heather.


Era outra pessoa.


Era Emma Connors.


Ele respirou fundo de modo discreto e aproximou-se do corpo. Fechou os olhos e soltou um breve suspiro.


– Heather... Sei que está me ouvindo. Você pode voltar agora. – disse lentamente. – Um... Dois... Três...


Ela abriu os olhos. Instantaneamente olhou para ele. Trevor encontrava-se sentado à beira da cama. Fitava-a com atenção e seriedade.


– O que houve? – ela acabou perguntando.


– Não sei o que lhe dizer exatamente, Heather. – respondeu ele. Por um momento pareceu atônito. – O que posso lhe afirmar, com toda a certeza, é que você e Emma se conheciam.


Heather ergueu as sobrancelhas.


– N-não me lembro.


– Mas seu subconsciente sim. E lembra-se muito bem. Tanto de Emma quanto de sua relação com ela.


Ela abaixou os olhos e tentou compreender. Olhou para ele novamente, indagando:


– Qual sua conclusão?


– Você não só testemunhou o assassinato de Emma Connors, – Trevor articulava suas palavras com firmeza. – Como também tinha uma forte ligação com ela. Eram próximas.


– Tudo está... Tão confuso... – Heather passou as mãos pelos cabelos, afundada em confusão. Sua cabeça parecia rodar. Nada daquilo fazia sentido.


– Você é a chave para esse mistério, Heather. Só você pode dizer o que aconteceu naquela noite. Na noite em que assassinaram Emma.


– Bem, há alguma informação que possamos usar em nosso favor? – perguntou, esperançosa.


– “O peso da culpa cairá sobre ele e o revelará.” – Trevor repetiu o que ouvira minutos atrás.


– Como pode estar tão certo disso? – indagou ela. Seus olhos brilhavam, indicando que lágrimas de desespero estavam começando a brotar de seus olhos.


– Porque ela me disse.


As palavras repetidas pelo Dr. Williams assombravam a mente de Heather em profundos ecos que faziam com que seu corpo todo se arrepiasse.


O peso da culpa cairá sobre ele e o revelará.


De forma impensada, num súbito Heather lembrou-se da noite em que Alex Montini a levara para sua casa logo depois que ela tivera um ataque.


Preparara-lhe uma refeição instantânea e ficaram ambos sentados em uma mesa na cozinha da casa dele. Imediatamente as palavras faladas por ele naquela noite retornaram à cabeça de Heather.


Algo que – subliminarmente – se interligava com o que ela acabara de ouvir dos lábios de Trevor. Palavras que, segundo ele, foram ditas durante a hipnose.


Só quero que saiba que sua presença ameniza todo esse peso que eu trago na consciência.


As duas frases se repetiam em sua mente, mesclando-se, tornando-se apenas uma. Uma frase. Uma sentença. Uma revelação.


– Talvez ela estivesse se referindo ao assassino. – Trevor voltara a tomar a voz, sem notar a expressão apreensiva nos olhos de Heather. – Só nos resta saber de quem se trata.


– Alex Montini. – disse ela sem olhar para ele. Seus olhos estavam fixos no nada. Perdidos em meio àqueles perturbadores pensamentos que a dominavam. Heather evidentemente estava aterrorizada e perplexa.


Entretanto, também estava certa do que dizia. Trevor percebeu a sensação que a perturbava naquele instante e concluiu que ela tomaria alguma atitude a respeito daquilo.


Conhecendo Heather muito bem, Trevor decidiu não se impor. Soltou mais um suspiro e disse:


– Tenho um celular de emergência. Está na terceira gaveta daquela cômoda. – explicou ele. – Quero que leve com você. Eu entrarei em contato e espero que faça o mesmo. Ligue para o telefone deste quarto. – olhou-a nos olhos. – Estarei esperando notícias.


–--


Caminhando pela Pleasant Street, Alex Montini tinha uma das mãos enfiada no bolso de sua jaqueta preta e um braço enfaixado. Há dias não sabia nada sobre Heather. Não ouvia falar dela.


Obviamente não era possível entrar em contato com ela através de seu telefone. O celular encontrava-se fora de área de serviço e ninguém atendia suas chamadas no telefone residencial, o que significava que ela não retornara à sua casa.


Ele tinha acabado de deixar a casa de Rose. As acusações que colocavam sua fidelidade a ela em questão havia se tornado algo que ele não conseguia mais suportar. Gostava de Rose. Muito. Mas já não aguentava mais a pressão, as cobranças, o modo como ela o acusava e tentava controlar sua vida.


Alex começara a se arrepender de tê-la pedido em casamento. Ter se aproximado da garota que aparentava uma doce e adorável personalidade tinha sido um erro.


De início, estava claro que sua intenção era tentar esquecer Emma e todas as coisas que tinham qualquer tipo de ligação com ela. Depois disto, no decorrer de seu relacionamento com Rose Mason, Alex desenvolveu um carinho quase que fraternal por ela.


Desejava o seu bem, vê-la feliz e prometera a si mesmo que faria com que aquilo acontecesse.


Recentemente a ideia de que ele falhara com sua promessa passara a atormentar seus pensamentos. Mas, no fundo, começara a admitir para si mesmo que aquilo já não importava muito. Rose já não importava. Nem seu compromisso com ela.


Admitir tais fatos fazia com que ele se sentisse péssimo, mas não podia lutar contra seus sentimentos. Sua cabeça estava repleta de pensamentos como estes quando, subitamente, ele sentiu a presença de mais alguém naquele local. Parou de andar. Uma figura surgiu por detrás dele, parando em sua frente. O rosto era familiar, mas expressão que o estampava era desafiadora. Ele recuou um passo, estupefato.


– Heather! – exclamou. – Você está...


– Eu estava cega. – completou ela. Sua voz era ríspida e direta. – Mas você não pode mais me enganar.


Alex franziu seu cenho, demonstrando surpresa.


– Do que está falando?


– Não acredito que mentiu para mim com tanta facilidade...


– Heather, o que está dizendo?


– Você mentiu pra mim! Mentiu! – declarava ela deixando transparecer toda a sua fúria e indignação. – Mentiu pra mim!


– Heather, eu não...


– Não acredito em você! Não mais!


Ele segurou-a pelos ombros, tentando mantê-la calma. Olhava-a diretamente nos olhos, buscando por uma explicação para aquele tipo de comportamento inesperado.


– Onde você esteve? O que houve com você? Encontrou seu amigo? – ele fazia inúmeras perguntas. Havia confusão em seu tom de voz e em seus olhos negros penetrantes. – Machucaram-na?


– Largue-me. – ela o intimidou. Lançou para ele um olhar frio. Rude.


Alex obedeceu, afastando suas mãos dos ombros dela.


– Heather... – disse o nome dela em um suspiro, mas parou. Sentiu outra presença. Uma voz soou logo atrás dele.


– Eu lhe disse, Alex. – ele virou-se para trás e lá estava Rose. O rosto de sua noiva irradiava raiva e decepção. Um misto de sentimentos que, provavelmente, resultaria em mais uma discussão entre eles. – Eu lhe disse para se afastar dela.


– Rose, Heather não fez nada.


– Ela está acabando conosco! – gritou ela, avançando para ele. – Será que você não vê? Ela quer nos separar! Ela está nos separando!


– Rose, por favor. – Alex quase implorou.


– A culpa não é dela, Alex. É sua! – apontou um dedo em frente ao rosto dele, num gesto de acusação. – Você se aproximou dela. Você a trouxe para sua vida. Para as nossas vidas. Vai acabar destruindo-a.


– De que merda está falando? – ele já não conseguia conter sua revolta. Rose estava agindo de modo inaceitável. Não a reconhecia mais.


– É isso o que acontece quando você se aproxima das pessoas. – assegurou Rose. Heather olhava para ela com os olhos muito abertos, atenta ao que a histérica garota estava dizendo. – Você arruína a vida das pessoas. Tem sido assim desde o dia em que chegou com sua família a esta cidade. Se Emma não tivesse se aproximado de você, ela nunca teria...


– Cale-se! – ele a interrompeu em um grito de protesto. – Não sabe o que está dizendo.


– Eu sei muito bem o que estou dizendo, Alex. A culpa foi sua. – as palavras de Rose eram facilmente articuladas, como se ela estivesse deixando toda a sua frustração escapar de uma vez por todas. Ela olhou para os lados, e então, virou-se novamente para Alex. – Mas não deixarei que isto se repita mais uma vez.


Em uma fração de segundos praticamente impossíveis de serem calculados, Rose resolveu-se. Lançou seu corpo com rapidez para cima do corpo de Heather.


Um estrondoso som soou no ar. Um tiro.


As duas caíram ao chão. Heather sentiu o impacto ao colidir contra o concreto da calçada. Também sentiu o choque a invadir. O peso do corpo de Rose sobre o dela diminuiu.


Ela sentiu Rose relaxar, como se algo estivesse se esvaindo dela. Heather afastou o corpo dela do seu, empurrando-a para o lado.


Olhou para o corpo que outrora havia sido projetado para cima do seu, e, seus olhos imediatamente ficaram surpresos. Havia sangue. Sangue que lentamente escapava por um ferimento nas costas de Rose.


Ela olhou para trás e viu um veículo negro com vidros escuros arrancar, desaparecendo ao virar a primeira esquina daquela rua. Alex correu em socorro da noiva, ajoelhando-se próximo ao corpo. Tomou seu pulso frágil. Ela ainda vivia.


– Rose...


– Afaste-se... Dela... – disse ela com muita dificuldade. Sua respiração era entrecortada, mas ela logo cessou. Assim como seus batimentos cardíacos.


– Rose... Rose... – Alex chamava por ela, mas não houve resposta. O desespero dele era visível. Fitou os olhos arregalados da garota e seu corpo estirado no meio da calçada. Não havia mais nada a ser feito. Heather encontrava-se encolhida próxima a eles. Seu estado era crítico.


O que acontecera ali era como um pesadelo. Era irreal. Inacreditável. Pessoas paravam seus automóveis e desciam destes, aproximando-se do corpo.


– Ambulância! – Alex implorou por socorro. – Chamem uma ambulância!


Mais pessoas foram se aglomerando ao redor daquela cena. Comentários foram feitos. Vozes soavam. Muitas vozes. Heather pousou ambas as mãos sobre sua cabeça, sentindo-se completamente desesperada. A agonia a sufocava.


Ouviu um som desigual soar. Era um telefone. Ela rapidamente se lembrou do aparelho celular que Trevor Williams a tinha convencido a levar com ela.


Colocou uma mão no bolso de sua calça e retirou o aparelho que vibrava e emitia um som irritantemente estridente. Pressionou um botão e levou o telefone à sua orelha, hesitante.


– Heather? – a voz de Trevor soou do outro lado da linha. – Responda.


– Estou aqui. – disse ela. Tremendo da cabeça aos pés, ela colocou-se em pé.


– Heather, sei quem era Emma Connors. – afirmou ele. – Eu a vi. Estive com ela.


– O-o quê? – Heather estremeceu.


No quarto do hotel onde estava hospedado, Trevor Williams observava a tela de seu computador enquanto falava com Heather ao telefone.


Uma fotografia de Emma estampava a tela.


Na fotografia ela exibia um doce e contagiante sorriso.


A perfeita imagem da felicidade.


– Eu vi Emma há quinze anos. – Trevor tentava explicar, mas a ansiedade o dominava sem hesitar. – Quando estive em Middletown. Eu a vi!


Heather sentiu que algo colidia contra seu estômago, como um soco. Algo que fez com que ela sentisse um choque. Seu corpo agora tremia violentamente.


Imagens aleatórias a respeito de uma das visões que Emma lhe enviara surgiram em sua cabeça como um filme.


A visão na qual Emma havia se trancado no banheiro do colégio. Sua volta para casa depois de mais um dia de aula. As dores no estômago.


O desconhecido que viera em seu socorro.


Era ele...


Heather desligou o aparelho, encerrando a chamada, depositando-o de volta em seu bolso. Olhou para a cena à sua frente. Alex chorava desesperadamente sobre o corpo de Rose. Uma ambulância surgiu no início da rua, avançando para eles.


Pessoas ao redor deles assistiam àquilo com terror em seus olhos. Sem pensar muito, Heather virou suas costas e correu.


Sua mente estava um verdadeiro caos. Assim como sua vida.


–--


Trevor Williams estava sentado à beira da cama de seu quarto de hotel, observando a imagem da garota que vira quinze anos atrás encolhida em fortes dores no meio de uma rua. As lembranças daquele encontro agora vinham à sua mente com facilidade e rapidez. Lembrava-se da perturbação escondida por trás do doce e encantador sorriso que ela havia lançado para ele naquela tarde.


Lembrava-se também de ter desejado vê-la mais vezes depois do que presenciara. Ela era linda. Mas havia algo mais que a tornava especial.


Pobre garota. Pensou amargamente.


Trevor estremeceu quando a porta de seu quarto se abriu completamente, causando um som assustadoramente alto. Heather o fitava com ira. Seus olhos queimavam. Seu sangue fervia. Sua respiração era pesada. Seus punhos estavam fechados. Ela avançou para ele e Trevor levantou-se da cama, surpreso.


– Heather, eu me lembrei dela. Sei quem ela era.


– Por que mentiu para mim? – disse ela em tom muito alto.


– Heather...


– Por que nunca me disse que esteve nesta maldita cidade? Por que escondeu isso de mim? – ela aproximara-se dele. Seu rosto irradiava raiva. – Por quê?


– Isto era irrelevante, Heather. Eu não...


– Eu confiei em você. – Heather tinha os olhos fixos nele e sua voz estava envolta em vários sentimentos. – Eu confiei em você e você também mentiu pra mim.


– Eu não menti. Eu realmente não fiz isso.


– Então por que não me disse nada? Por que diabos nunca citou o simples fato de que você esteve nesta cidade quinze anos atrás? Exatamente na época em que Emma foi morta.


– Heather, eu preciso que acredite em mim. Eu mal a conhecia. Encontrei-me com ela apenas uma vez. Uma única vez.


– Não acreditarei em nada do que disser. – asseverou Heather. – Você é como eles.


– Pelo amor de Deus, Heather! – ele exclamou, incrédulo. Estava desesperado para convencê-la. – Estamos juntos nessa. Eu amo você.


– Ora, por favor! – ela soltou um riso amargurado. – Me poupe de cenas como esta. – olhou para ele novamente. – Eu não preciso de você.


– Heather, por favor. Tem que acreditar em mim.


– Basta! – protestou ela. Fitou-o com um olhar ameaçador. – Não se meta mais comigo.


Ela afastou-se dele e virou-se de costas, retirando-se daquele quarto em passos apressados.


– Heather, me escute! – ele pediu. Fez menção de ir atrás dela, mas pelo estado em que ela se encontrava, estava certo de que jamais a convenceria.


Heather deixou aquele hotel com uma mente perturbada e seguiu um caminho sem rumo. Já não tinha mais nada a perder. E nada a ganhar.


Restava-lhe apenas uma coisa para fazer. Uma atitude a tomar. Algo que seria feito por Emma e por ela mesma. Algo que a libertaria de seus fantasmas.


Seu único objetivo desde o dia em que chegara àquela mesma cidade.


Vingança.



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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 2



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  • ceeh Postado em 02/06/2014 - 21:48:29

    Sabe eu sinceramente adorei. A história é muito boa misturando tudo. Pensei até que o assassinato de Emma foi por Heather (nem sei escreve, repara não)e não entendi o porque de todos a adiarem daquele jeito. Eu mesma já me senti sozinha e muitas pessoas viraram as costas para mim mas eu nunca fiquei tão sozinha quanto Emma ficou. Ela criou uma segunda personalidade para se defender de tudo o que sofrera. Para não ser mais fraca. E como adorei tudo cada detalhe e como jogou com o leitor revelando alguns mistérios mas deixando outros ocultos. Gostaria muito de ler outra historias suas e finalmente li algo realmente bom. E você nem usou personagens famosos, sua historia é famosa e quem não leu só perdeu. De sua fã Ceeh.

  • ceeh Postado em 01/06/2014 - 14:19:15

    Aiin... Que web mais perfeita. Eu me senti como a própria personagem e você escreve bem demais. Por favor não abandone a história, eu já estou amando tudo nela principalmente os detalhes. Continue...


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