Fanfics Brasil - Capítulo VI - Fear And Loathing Fixed At Zero

Fanfic: Fixed At Zero | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass


Capítulo: Capítulo VI - Fear And Loathing

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MÚSICA TEMA DO CAPÍTULO.


________________________________________________


Heather sentia suas mãos trêmulas e frias.


Com os cabelos molhados escorrendo até seus ombros, ela segurava uma xícara de café fumegante, encolhida no sofá. Era difícil sentir-se confortável, pois o ambiente em que se encontrava era totalmente desconhecido.


Um homem se aproximou, sentando-se no outro sofá, logo ao seu lado.


– Acredito que não tenha sido a única a conseguir escapar daquele lugar. – sua voz quebrou o silêncio. – Entretanto, creio que a polícia estará mais preocupada em descobrir o que provocou aquela explosão à procurar por você.


Exatamente como eu havia planejado. Ela concluiu.


Ele estudou Heather por alguns segundos. Notou que suas mãos tremiam violentamente.


– Acho melhor que você tome um banho quente. Há um quarto de hóspedes logo depois da cozinha. Irei lhe deixar roupas limpas para que as vista. Assim, então, poderemos conversar com mais calma.


Ele falava em tom suave e preocupado. Heather assentiu.


Passou a hora seguinte debaixo do chuveiro, sentindo a água quente cair sobre sua cabeça.


Depois de presenciar a explosão do hospital psiquiátrico Jones & Johnson, Jason Newman parara seu carro. Saltou para fora do veículo, correndo de volta na direção do hospital, com a boca escancarada e os olhos esbugalhados. A explosão sacudira todo o bairro. Uma fumaça negra saía do fogo que consumia parte do hospital.


Às pressas, Heather saíra detrás do banco do motorista, posicionando-se atrás do volante. Girou a chave na ignição e, ao mudar o câmbio de lugar, sentiu o carro se movimentar. Pisou com toda a sua força no acelerador e guiou para longe. Para o mais longe que pôde.


O carro parou de funcionar poucos minutos depois, em meio à uma estrada deserta. Heather bateu com as mãos no volante, completamente furiosa ao concluir que faltava combustível no veículo. Desceu do automóvel e seus pés tocaram o asfalto. Usava sapatos fechados, com solas finas. Já era noite, estava frio. Heather não encontrou outra saída. Seguiu andando.


Andou por mais de uma hora até que se encontrou em outra cidade: New Haven.


Cansada – tanto fisicamente como mentalmente – Heather sentou-se na calçada de uma rua no centro da cidade. Uma tempestade desabou dos céus de New Haven. Heather sentiu a chuva caindo fortemente acima de sua cabeça. Levantou os olhos para o nublado céu escuro e pesadas gotas de chuva começaram a escorrer por seu rosto. Colocou-se em pé.


De repente, as gotas se tornaram maiores, mais pesadas, caindo com mais força sobre ela. Sentiu como se o forte vento lhe desse um soco em cheio no estômago. Fechou os olhos, receosa.


___________________________________________________________


Estava chovendo fortemente. Um raio caíra há poucos quilômetros dali. Vozes soavam ao redor de uma frágil silhueta deitada sobre a grama, ao lado do Rio Connecticut.


Era apenas um corpo. Vazio e ausente de qualquer emoção ou vestígio de vida.


O rosto estava chamuscado, os braços e pernas cobertos por feridas.


– Não era para acabar assim! Isso não devia ter acontecido! – uma voz se lamentava, em grande desespero. – O que vamos fazer? Vão encontrá-la! Vão descobrir que...


– Cale essa maldita boca! – outra voz interveio, furiosamente. – Preciso pensar.


– Não há o que pensar, tá legal? Estamos ferrados. Completamente ferrados! A polícia vai encontrar o corpo! Nós vamos acab...


– Já mandei calar a boca! – a segunda voz soava ainda mais alta. – Sei o que fazer. Venha. Ajude-me.


O corpo coberto por ferimentos que transformavam aquela pobre alma em algo irreconhecível começou a ser empurrado em direção ao rio. Empurraram até a beira do Rio Connecticut.


– Pronto? – a voz que antes falara com ira, agora sussurrava. – Um, dois...


Empurraram mais um pouco. Ouviu-se um splash que ecoou, e gotas de água saltaram no ar.


Ambos se aproximaram da beira do rio, olhando para baixo.


– Fomos longe demais. Isso não tinha de acabar assim. – uma das pessoas ainda se lamentava.


Continuaram olhando para baixo, observando o rio em movimento.


O corpo afundara.


________________________________________________


Heather sentiu novamente algo lhe acertar o estômago em cheio. Deu um passo para trás e percebeu que esbarrara em algo. Ou melhor, alguém.


Abriu os olhos e virou-se para trás, com os olhos arregalados, muito assustados.


– D-desculpe... – balbuciou.


Parada no meio da calçada, iluminada pelas luzes dos postes localizados por toda a parte, Heather se deparou com um homem de traços aristocráticos, com discreta elegância. Possuía cabelos grisalhos e olhos escuros. Ele emitiu um sorriso sincero.


– Não se desculpe.


Ela não respondeu. A chuva havia parado, mas suas roupas estavam completamente encharcadas. O indivíduo pareceu perplexo diante da pobre figura que se encontrava diante dele.


– Está tudo bem com você?


Heather assentiu com a cabeça, hesitante.


– Está apavorada. O que houve? Alguém lhe atacou?


– Não, eu... – suas poucas palavras pairaram no ar. Não havia o que explicar. Muito menos a um desconhecido.


– Você tem um lugar para ficar? Está ensopada.


Não houve qualquer resposta. Heather não tinha um lugar para ficar. Não tinha com quem contar.


Julgou sua situação bastante irônica.


Acabara de fugir da Jones & Johnson e guiara até outra cidade, e agora, depois de tudo, não havia qualquer lugar para onde pudesse ir. Sentiu-se completamente agoniada.


– Está perdida?


A pergunta fez com que os olhos de Heather se enchessem de lágrimas. Lágrimas que escorreram por suas bochechas pálidas. Não demorou muito para que ela desabasse em lágrimas. Colocou as mãos sobre o rosto, destroçada em soluços.


Sim, estou perdida! E sozinha, angustiada, assustada. E não tenho ninguém além de mim mesma!


O sujeito colocou uma de suas mãos sobre o ombro direito dela e lhe falou calmamente:


– Por favor, não chore.


E Heather manteve-se calada enquanto lágrimas rolavam por suas faces. Tentou levantar os olhos para fitá-lo. Fora incapaz de concluir tal ato. Perdeu seus sentidos e desmaiou.


A seguir, ela acordou na sala de uma casa desconhecida, deitada em um confortável sofá de veludo. A sala, com as paredes cor de creme e a mobília em estilo rústico muito elegante, agradou os olhos de Heather.


O homem estava sentado ao seu lado. Dera-lhe uma toalha para que se secasse e dissera-lhe para se acomodar no sofá. Ela sentou-se.


– Julgo que esteja mais calma.


– Sim. – ela respondeu, em tom baixo.


– Sou Charles Stevens. – estendeu-lhe a mão, fazendo menção de trocar um cumprimento com ela.


Heather hesitou por alguns segundos. Ele permaneceu com a mão estendida, esperando. Ela se inclinou para frente e apertou-lhe a mão.


– Heather.


– Bem, Heather... Eu gostaria de saber o que houve. Encontrei-a em estado de choque no meio da rua. Acabou perdendo os sentidos.


Ela olhou para ele, perplexa.


– Mas o senhor não me levou para o hospital. – disse, confusa. – Trouxe-me para... Este lugar.


Ele sorriu calorosamente.


– Sei que fugiu de um hospital.


Heather ergueu os olhos, bastante surpresa.


– Como sabe disso?


– Pelas roupas que está vestindo. – ele respondeu. – Não lhe entregaria de volta para eles sem antes saber o que aconteceu.


Havia confusão e desconfiança nos olhos de Heather. Charles Stevens prosseguiu:


– Se quiser começar a me contar, temos todo o tempo do mundo.


Heather abanou a cabeça e emitiu um riso abafado e irônico.


– Não lhe conheço, senhor. – disse-lhe. – E não consigo entender o motivo de ter me trazido para cá.


– Entendo que esteja desconfiada. – Stevens falava de forma gentil. – Esta é minha casa.


– Não há mais ninguém aqui? – ela indagou.


– Não.


– Esposa ou filhos?


– Minha esposa e eu nos divorciamos há muitos anos atrás. – ele explicou. Heather censurou-se por ter perguntado. – Nunca mais me casei. E, não, não tenho filhos.


Ela permaneceu calada. Ele voltou a falar:


– Obviamente você está confusa. Mas deixe-me lhe dizer isso: – um olhar determinado estampava o rosto de Charles Stevens. – As coisas jamais acontecem por acaso. Por isso tenho a mais plena certeza de que Deus lhe colocou em meu caminho por alguma razão.


Heather encarou, perplexa, o sujeito que lhe falava de Deus em tom de persuasão.


– Preciso de um lugar para ficar. – ela confessou.


– Sei disso. E estou disposto a ajudá-la.


– E por quê? – perguntou, por fim.


– Durante esses minutos em que conversamos, fiz uma breve análise. – ele constatou. – Você está em seu mais perfeito estado mental, Heather. Não sei por qual motivo colocaram-na naquele hospital, mas saiba que estou aqui para lhe ouvir e, quem sabe, ajudá-la a resolver seus problemas.


Ela foi pega de surpresa. Aquele desconhecido notara algo que todos os médicos da Jones & Johnson ignoraram durante anos. Heather não estava louca.


Ela se perguntou se Charles Stevens também era médico. Ele claramente falava como eles. Não. Não como todos eles. Falava-lhe em tom calmo e suave, porém, ao mesmo tempo determinado e persistente. Fez com que Heather se lembrasse de alguém.


Dr. Williams.


– Como está se sentindo? – a voz de Stevens trouxe Heather de volta à sala de estar, às paredes cor de creme e ao sofá em que estava sentada.


– Estou... Sinto-me bem. – disse com a voz estremecida.


– Bom, eu não lhe farei perguntas. Quero apenas que me conte o que lhe aconteceu.


Heather levou minutos para colocar seus pensamentos em ordem. Realmente ela não tinha onde ficar. Não conhecia ninguém. O homem que acabara de ajudá-la lhe parecia honesto.


Mas Heather estava certa de que as aparências não significavam nada. Apesar de tamanha desconfiança, ela sabia que mais cedo ou mais tarde viria a precisar de alguém. Precisava de alguém que a ajudasse a chegar ao seu destino, a cumprir seus planos.


Começou a falar. Contou-lhe sobre os quinze penosos anos que passara internada na Jones & Johnson. Isolada, sozinha, sem qualquer lembrança. Pelo menos não tinha lembranças de sua própria vida. Charles Stevens permaneceu quieto, sem esboçar qualquer tipo de reação enquanto Heather falava-lhe sobre as visões que tivera ao longo de todos aqueles anos. Lembranças da vida de outra pessoa. Alguém que ela jamais vira em pessoa. Alguém que ela não poderia ver pessoalmente, mesmo que desejasse.


Contou sobre como fugira da clínica psiquiátrica, omitindo apenas o fato de que era ela a autora da explosão da Jones & Johnson.


Ela passou longas duas horas explicando-lhe sua situação. Quando terminou de narrar sua história, esperava que ele ficasse surpreso, confuso, talvez até mesmo aterrorizado. Mas foi Stevens quem a surpreendeu ao dizer que ele a ajudaria.


Após um quente e deleitável banho, Heather saiu do banheiro com uma toalha em volta de seu corpo reluzente. Entrou no quatro de hóspedes e se deparou com roupas deixadas sobre a cama. Rapidamente ela começou a vestir-se.


O quarto lhe pareceu acolhedor. A cama estava coberta por uma colcha cor-de-rosa, com cortinas a condizer. O chão, com pisos de madeira, deixava o ambiente ainda mais aconchegante. Vestindo um jeans desbotado e um suéter de cashmereverde-escuro, Heather deixou o quarto, seguindo para a sala onde estivera antes.


Charles Stevens parecia estar esperando por ela desde o momento em que deixara a sala de estar. Recebeu-a com um sorriso amigável assim que a viu.


– Vejo que as roupas lhe serviram.


Ela se sentou em frente à ele, no sofá de veludo marrom.


– De quem são? – ela indagou em tom de curiosidade.


– Da última enfermeira que vivera aqui, nesta casa.


A resposta fez com que a curiosidade de Heather aumentasse. Fitou-o, confusa.


– Como assim?


Ele soltou um riso abafado.


– Eu estou doente, Heather.


Stevens notara a confusão nos olhos castanhos de Heather. Ela não disse nada, esperando por uma explicação.


– Há anos estive lutando contra minha doença. – ele começara a falar novamente. Heather manteve-se atenta à cada palavra. – Não houve resultados até então. Sugeriram-me que contratasse alguém para me observar e ajudar com os medicamentos. – ele deu outro sorriso, desta vez, amargurado. – Perda de tempo.


– Eu... Sinto muito. – a voz de Heather soou baixa.


– Está tudo bem. – ele afirmou. – Aceitar a morte não é desistir da vida.


Heather abaixou a cabeça, se lamentando por ele mentalmente.


– Então – Stevens prosseguiu. – Está atrás de uma explicação. Quer saber o motivo de estar carregando lembranças de outra pessoa.


– Sim. – respondeu rapidamente.


– Você me disse que sabe onde encontrar uma resposta. Você viu este lugar em suas visões?


– Por diversas vezes. O cenário é o mesmo. A mesma cidade. Sempre.


– Como se chama a tal garota de quem me falou?


– Emma. – ouvir sua própria voz dizendo o nome de Emma lhe causava arrepios. Ficaram ambos em silêncio por um longo tempo.


– Sabe, Heather, – ele disse seguido de um suspiro. – Existe uma intervenção dos espíritos no mundo corporal.


Heather franziu a testa, arqueando uma sobrancelha.


– Quero dizer, alguns espíritos se afeiçoam à certas pessoas. Os espíritos que precisam de ajuda, os que não conseguem descansar em paz... Eles buscam em alguém uma forma de encontrar essa paz.


Ela se manteve totalmente calada. Stevens ainda falava-lhe:


– Eu acredito, Heather, que suas visões lhe parecem nítidas e bastante reais porque Emma te guia de volta no tempo, para onde e quando estas coisas aconteceram. – Charles Stevens falava com tal convicção que Heather ficava atônita à cada palavra que ele proferia. – Isso se chama projeção astral. Sua alma deixa seu corpo e viaja, vai à outro lugar. Seu caso, porém, pareceu-me um pouco diferente.


– Uma vez – ela finalmente começou a falar. – ouvi alguém dizer que as almas reencarnam. Por que isto não aconteceu com ela?


– Porque ela está presa à algo neste plano. – disse ele. – Porque sente como se sua missão não fora concluída. Porque interromperam seu tempo de vida.


– Porque a mataram. – Heather disse. Sua voz soou dura e rancorosa.


– Heather, por mais difícil que seja toda esta situação, eu creio que você não deva planejar vingança.


Ela levantou os olhos, incrédula.


– Como não?! O que a fizeram sofrer foi monstruoso!


– Sei disso. – manteve seu tom de voz calmo. – Mas desta maneira você não estará a ajudando. Pelo contrário. Não creio que seja isso o que ela almejava quando lhe escolheu para ajudá-la.


Independente do que Emma visava quando a escolhera, Heather soube que tinha de se vingar do assassino da garota. Passara quinze anos ouvindo sua voz implorando por ajuda. Assistindo à mesma cena, repetidas vezes.


Ela, de certa forma, culpava o assassino de Emma por ela estar presa naquele hospital. Por todos os anos que desperdiçara isolada naquele lugar. Com toda a certeza ela o faria pagar.


– Não seja rancorosa, Heather.


– O senhor não entende. Não sabe o quanto ela sofreu. Não sabe! – novamente ela deixou-se cair em lágrimas. Cobriu o rosto com as mãos enquanto soluçava incontrolavelmente.


– Por favor, se acalme. – pediu gentilmente. – Encontraremos uma solução.


Heather o encarou. Ele falava de modo muito amável, quase paternal. Estava mesmo disposto a ajudá-la. Mas mesmo Heather sabia que se houvesse uma solução, esta não seria fácil de ser encontrada. Ela ainda tinha muito que entender e descobrir. Estava ainda mais confusa do que costumava estar, nos dias e noites que passara na Jones & Johnson.


A explosão na clínica psiquiátrica fora notícia em boa parte do país. A perícia já estava presente, analisando o que restara da cozinha e do refeitório. Muitos dos quartos e salas também haviam sido afetados pela explosão. Alguns dos internos aproveitaram-se do momento para fugir.


Mas, como Heather havia previsto, a polícia se importava mais em encontrar o culpado pela explosão. Não se importavam com quem escapara.


Trevor Williams entrou em pânico quando soube do acidente através de um noticiário na televisão. Ninguém o avisara. Incrédulo, ele dirigiu-se até o hospital psiquiátrico e se deparou com metade do prédio arruinada.


Robert Jones – o diretor da clínica – falava com um policial. Parecia bastante alterado. Aproximando-se dele, Trevor interrompeu a conversa:


– O que houve? Por que não me comunicaram a respeito disso? – estava completamente apavorado.


– Como?! – o diretor o fitou, surpreso. – Acha que temos tempo para espalhar fofocas aos quatro cantos do mundo?


– Eu tenho todo o direito de estar a par desta situação.


– Dr. Williams, peço que se retire.


– Não! – protestou. – Preciso saber como estão meus pacientes.


– Ora, pelo amor de Deus! – Robert Jones exclamou. – Acabaram de explodir o meu hospital! Será que não entende?


O médico o encarou, tentando manter-se calmo. Correu para uma das enfermeiras que parecia estar de saída depois de uma longa conversa com um oficial.


– Ei, você! – ele gritou assim que a viu. A enfermeira virou-se para ele.


– Sim?


– Há algum ferido?


– Cinco, doutor. – respondeu. – Uma em especial. Está internada em estado muito grave.


Trevor sentiu uma onda de angústia lhe percorrer todo o corpo. Apenas um nome lhe passou pela cabeça.


Heather.


A enfermeira continuou:


– É uma de minhas colegas. Mary Ann. Pobrezinha... – lamentou-se.


A angústia fora rapidamente substituída por um breve alívio.


– Eu... Espero que ela se recupere logo.


– Obrigada, doutor.


– Bem, eu ainda não entendo o que houve. Você sabe de detalhes à respeito do acidente?


– Não se sabe se foi mesmo um acidente. – ela explicou. – A polícia pensa que, talvez, tenha sido algo planejado.


Um breve flashback veio à mente de Trevor. Estava sentado à mesa, Heather lhe falava seriamente a respeito de algo. Algo que ela planejara. Algo que precisava ser feito.


Façamos uma troca de favores, então... Estou disposta a lhe contar tudo... Quero que me ajude a sair daqui...


Então era isso. Ele se negara a apoiá-la em sua fuga, portanto ela decidira agir por conta própria. Não se importara com o fato de que seu plano poderia afetar ou ferir outras pessoas. Heather certamente não estava louca. Mas desorientada. E muito.


Trevor Williams precisava urgentemente encontrá-la. Olhou para a enfermeira parada à sua frente.


– Onde está Heather? – perguntou.


Ela arqueou as sobrancelhas e deu de ombros.


– Não sei, doutor.


– Como assim não sabe?! – seu tom de voz mudara subitamente. Estava começando a sentir as primeiras pontadas de desespero. – Não a viu?


– Não. – ela respondeu, com receio. – Não vi Heather desde o acidente.


– E como não estão procurando por ela?


– Estão procurando por muitos internos que escaparam, doutor. Heather não será um caso à parte.


– Precisam encontrá-la.


– Sim, estaremos procurando por ela e...


– Não, você não entendeu. – Trevor a interrompeu. – Precisam encontrá-la o mais rápido possível! Heather está planejando algo. É uma paciente bastante transtornada, precisa de ajuda médica ou acabará cometendo alguma atrocidade.


A jovem enfermeira arregalou os olhos, assustada com tal afirmação.


Charles Stevens oferecera à Heather um confortável quarto de hóspedes em sua casa. Era uma antiga construção com um jardim na frente, com flores de todas as cores, portões feitos em estilo clássico e muros altos que cercavam toda a casa.


Ela aceitara se hospedar naquela casa até decidir o que faria a seguir. Ainda havia muito que planejar antes de agir novamente.


Heather passou as três seguintes semanas na residência de Stevens. Ajudava-o com seus medicamentos, horários e refeições. Passavam longas horas na sala de estar, conversando entre um gole e outro de chá.


Charles Stevens era ex-presidente de uma bem-sucedida empresa de arquitetura e construção que herdara de seu pai. Por muitos anos dirigira o patrimônio de sua família, aposentando-se assim que fora diagnosticado com uma doença terminal.


Inicialmente, Stevens sentia-se completamente comovido pelo sofrimento de Heather. Depois este sentimento transformara-se em admiração. Algo próximo de amor paternal. Queria ajudá-la a resgatar todo o tempo perdido, todo o tempo que passara trancafiada naquele hospital.


Estava ciente de que ela não teria paz para viver uma vida normal até que cumprisse o que planejara.


De fato, Heather tinha muita coisa planejada. Sua mente estava sobrecarregada quando chegou à casa de Charles Stevens. Com o passar dos dias, porém, ela começou a se sentir mais calma. Aliviada. Estava finalmente se orientando à respeito de seus planos. Entretanto, ainda estava assustada e confusa. O pesadelo não terminaria. Não ainda.


Vendo-a afundada em amargura, o distinto Sr. Stevens tomara uma decisão. Certamente aquilo causaria uma grande alteração nos planos de Heather. Ele encarou sua decisão como a melhor forma de ajudá-la, ou talvez, de ajudar a si mesmo.


Uma noite, depois do jantar, Charles resolvera dar a notícia a Heather. Estavam sentados à mesa de jantar, Heather ainda dava suas últimas garfadas na vitela em seu prato, quando Stevens começou a falar:


– Heather, precisamos conversar a respeito de algo muito sério.


Ela parou de comer. Abandonou os talheres sobre a mesa, levantando os olhos para ele.


– Estou ouvindo.


– Nós dois sabemos muito bem que não poderei lhe ajudar para sempre. Não em vida. – ele falava seriamente. Em um tom que Heather jamais o ouvira usar antes. – Mas eu prometi que lhe ajudaria a dar um fim nesta situação. Prometi que a ajudaria.


Heather assentiu com a cabeça. Era o sinal que ele precisava para prosseguir:


– Minha última visita ao médico foi extremamente lastimável.


– O que quer dizer? – indagou. Estava hesitante, com receio da resposta que viria a seguir.


– Não tenho muito tempo, Heather. – disse em resposta. – Tomei uma decisão. Algo que, talvez, possa acelerar seus planos. Fazer com que você os coloque em prática mais rápido do que pensa.


– Como assim...?


– Heather, – Charles Stevens a fitou nos olhos, vendo-os preocupados e apreensivos. – Quero que se case comigo.


Heather julgou ter ouvido mal. Seus pensamentos ficaram tumultuados. Casar? Quais eram as intenções do homem que se encontrava à sua frente? Ela permaneceu imóvel, silenciosa.


Os olhos escuros de Charles Stevens transbordavam ansiedade, aguardando uma resposta, porém Heather não dissera nada. Ele decidiu dar continuidade à sua explicação.


– Você não irá muito longe usando seu próprio sobrenome. Também precisará de estabilidade financeira e um lugar para ficar permanentemente, caso seus planos não sejam concluídos com êxito.


Ele tinha toda a razão. Heather se repreendeu em silêncio por ter duvidado das intenções do sujeito que tanto lhe ajudara durante aqueles dias.


Ele depositara diante dela a melhor forma de colocar suas estratégias em ação. Era uma oportunidade única, e Heather certamente não a deixaria escapar.


Voltou a fitá-lo, dessa vez com um olhar severo e decidido.


– Está certo, Sr. Stevens. – declarou com convicção. – Aceitarei seu pedido.



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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 2



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  • ceeh Postado em 02/06/2014 - 21:48:29

    Sabe eu sinceramente adorei. A história é muito boa misturando tudo. Pensei até que o assassinato de Emma foi por Heather (nem sei escreve, repara não)e não entendi o porque de todos a adiarem daquele jeito. Eu mesma já me senti sozinha e muitas pessoas viraram as costas para mim mas eu nunca fiquei tão sozinha quanto Emma ficou. Ela criou uma segunda personalidade para se defender de tudo o que sofrera. Para não ser mais fraca. E como adorei tudo cada detalhe e como jogou com o leitor revelando alguns mistérios mas deixando outros ocultos. Gostaria muito de ler outra historias suas e finalmente li algo realmente bom. E você nem usou personagens famosos, sua historia é famosa e quem não leu só perdeu. De sua fã Ceeh.

  • ceeh Postado em 01/06/2014 - 14:19:15

    Aiin... Que web mais perfeita. Eu me senti como a própria personagem e você escreve bem demais. Por favor não abandone a história, eu já estou amando tudo nela principalmente os detalhes. Continue...


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