Fanfics Brasil - Primeiro Ciclo - Capítulo XII - Não Matarás Sete Demônios

Fanfic: Sete Demônios | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass


Capítulo: Primeiro Ciclo - Capítulo XII - Não Matarás

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Christian Madden voltou para o que ele costumava chamar de lar – um típico apartamento de classe baixa no Bronx, em Nova York – com a mente carregada. Era como se uma nuvem o seguisse, pousando sobre sua cabeça, ameaçando uma grande tempestade.


De fato, era o que estava prestes a acontecer. Uma terrível tempestade.


Fora essa a sensação que tivera desde que falara com o padre Abdon, um dos representantes do Vaticano na América, também um velho conhecido que mudara sua vida de modo súbito.


Sentado à mesa de seu apartamento, cabisbaixo, ele lembrava-se com clareza da conversa que ocorrera entre eles uma hora atrás.


Depois que pedira a Adam Mallory – o sujeito com quem ele executara um exorcismo naquela mesma tarde – que telefonasse aos representantes do Vaticano em seu nome, o próprio padre Abdon exigira a presença de Madden em sua igreja.


O exorcista compareceu à igreja administrada pelo padre o mais rápido que pôde, encontrando-o à sua espera. Padre Abdon demonstrara-se um tanto angustiado e o conduziu para seu escritório, nos interiores da igreja.


Christian acomodou-se em uma cadeira confortável à frente da mesa do velho padre.


Este tinha ralos cabelos brancos e olhos castanhos opacos, escondidos por trás das grossas lentes de seus óculos. Ele sentou-se em outra cadeira, atrás de sua mesa e logo começou a explicar:


– Seu amigo disse-me algo a respeito da... Dela. – ele impunha limites ao que dizia respeito ao assunto em questão, como se temesse algo.


– A filha de Babilônia. – Christian Madden disse sem hesitar. Recostou-se à cadeira, sem emitir qualquer tipo de expressão. – Aconteceu-me algo nesta tarde, padre.


– Algo?


– Mais um trabalho. – ele soltou uma resposta clara e rápida. – Mandei-o direto para o lugar de onde veio. – fez um gesto com a mão, apontando um dedo para baixo.


– Peço que seja mais específico. – disse o padre educadamente.


– Antes de mandá-lo para o Inferno, o demônio disse que nada deterá Babilônia. Que nada a impedirá de reinar sobre os reis da Terra.


– Christian, filho, bem sabe que não devemos dar ouvidos ao que dizem nossos inimigos. – Padre Abdon falava de modo comedido. – Além disto, demônios são perversos e...


– Sei que algo está errado, padre. – Madden o interrompeu. – Tenho visto... Coisas recentemente.


O padre abaixou a cabeça em um gesto de puro nervosismo. Cruzou as mãos sobre a mesa, pigarreando de leve. Madden era conhecido por sua persistência quando o assunto lhe interessava.


O assunto em especial do qual tratavam agora também lhe dizia respeito, de modo que o padre Abdon sentiu-se forçado a abrir o jogo de uma vez.


– Nós a encontramos, Christian. – declarou ele.


Madden abafou o riso que deixou escapar entre os dentes, balançando a cabeça.


– Eu já imaginava.


O homem de idade avançada sentado à sua frente parecia indignado.


– Como?


– Não sou idiota, padre. – o indivíduo olhou-o com severidade. – Os sonhos que tenho tido ultimamente deixaram claro que algo estava acontecendo.


– Em particular, eu não estava tão certo de que seria ela. – padre Abdon fungou e desviou seus olhos, tentando disfarçar seu desconforto. – Mas creio que estou começando a mudar de ideia.


– Agora sou eu quem pede para que seja mais específico, padre.


– Isso não costumava interessar à nossa igreja, você sabe. Toda essa história sobre a filha de Babilônia soava mais como uma lenda, um mito. – ele começou a abrir e fechar as gavetas de sua mesa, à procura de algo que aparentemente complementaria sua explicação. – Então eles nos procuraram.


– Quem? Os fanáticos? – Christian Madden manteve o sorriso de canto, evitando limitar sua ironia. – Aquela seita? Eu não sei, padre. Não entendo por que a Igreja uniu-se à eles, de repente. Será que é porque temem a tal mulher?


– De fato. – o padre colocou uma das mãos dentro da última gaveta, alcançando algo. Uma pasta. Colocou-a sobre a mesa, fechando a gaveta. – Decidimos nos unir. Todos nós.


– Todos vocês?


– Embora haja tantas denominações diferentes, nosso Deus é o mesmo e todos nós temos direito a entrar no Reino dos Céus. Temos todos o mesmo propósito.


– Mas vejam só... – Madden riu amarguradamente. – Amaldiçoe-me se eu estiver enganado, mas estou mesmo presenciando isso? A união de todas as religiões? Isso é ainda mais interessante do que a paz mundial.


– Precisamos nos preparar. – o homem ignorou o comentário debochado, mantendo um olhar sério por detrás de seus óculos. – Quero que dê uma olhada nisto.


O exorcista abriu a pasta com cuidado, colocando-se a ler tudo o que encontrara dentro dela. Documentos. Escrituras. Recortes retirados de jornais e revistas. Fotografias. Uma muito bem destacada, por sinal. Havia sido colocada antes mesmo dos inúmeros documentos postos dentro da pasta amarelada.


A voz do padre soara novamente, enquanto Madden permanecia atento ao que via.


– A... Seita, como disse, nos informou a respeito do que estávamos temendo. A fraternidade de assassinos. Os Sete Demônios.


– Essa fraternidade morreu há mais de cinquenta anos, junto com aquela louca.


– Encontraram uma nova substituta para ela, meu filho.


Christian ergueu os olhos com os papéis ainda em mãos, mas nenhuma expressão fora esboçada em seu rosto firme.


– Está brincando.


– Gostaria muito que estivesse. – suspirou o idoso. – Há muitos anos eles mantiveram-se quietos, era quase como se também estivessem mortos. Mas a vinda dessa garota... Ela está trazendo-os de volta.


– Refere-se à ela? – Madden mostrou a primeira fotografia que vira quando pousara os olhos naquela pasta. O padre balançou a cabeça positivamente.


– Eleonora Braxton é a substituta que eles designaram para ressuscitar a Fraternidade.


– Ora, essa! Mas olhe só para ela! – o sujeito demonstrou sua total indignação com um riso sarcástico. – Estão mesmo com medo dela?


– Eu jamais subestimo o inimigo, filho.


– Isso só pode ser brincadeira. – ele tornou a olhar para a fotografia, analisando atentamente os traços docemente delicados do rosto da jovem que estampava a imagem com seu sorriso tímido e olhos muito brilhantes. – Se ela é a Mulher de Vermelho, então eu sou John Kennedy.


– Não seja ingênuo, por favor.


– Ingênuo? Eu? Perdoe-me, padre, mas essa foi a pior piada que já ouvi na vida. – Christian Madden levantou-se num pulo, deixando a fotografia na mesa. De engraçado aquilo subitamente tornara-se um assunto desagradável. – Talvez meus sonhos tenham sido coincidência...


– Nada acontece por acaso.


– Essa garotinha não tem o perfil de uma assassina. Como podem achar que ela é a chave da profecia?


– Sente-se. – o padre pediu mais uma vez. Madden obedeceu, passando as mãos pelos cabelos e soltando a respiração pesadamente. – Eleonora nasceu no dia seis de Junho de mil novecentos e noventa e seis.


– Grande coincidência.


– Na noite de seu nascimento ocorreu um fenômeno nos céus. – ele falava com a voz muito paciente e calma. – Chovia e nevava violentamente. Tudo ao mesmo tempo.


– Isso não faz o menor sentido.


– Deixe-me terminar.


Christian acenou com a cabeça, descontente. O padre prosseguiu:


– Uma representante da tal seita foi até o local de nascimento da menina. Encontrou o pai dela e informou-o que ele tinha de livrar-se dela, pois ela mais tarde tornar-se-ia aquela que tomará para si todos os povos, nações e línguas. Aquela que governará sobre todos, agindo contra a vontade de Deus. – houve uma pausa até que ele encontrasse uma forma mais direta de explicar-se. – A mulher que fará da Terra um verdadeiro Inferno.


Madden não disse nada, ouvindo aquilo como se estivesse assistindo à uma peça teatral muito bem ensaiada, porém demasiadamente dramática e entediante.


– Obviamente o pai fez com que a mulher se retirasse dali, furioso. Desde então, a seita vem tentando eliminar o mal pela raiz.


– Está me dizendo que aqueles loucos querem matar a garota porque acham que ela é um perigo para... Vejamos, o mundo? – Christian esforçou-se para conter o riso. – E que agora vocês os apoiam nisso?


– Alguns dos últimos acontecimentos têm comprovado que eles não são tão loucos quanto você imagina. – analisou o padre. – Você ao menos já ouviu falar a respeito dela?


– Devo ter ouvido algo na televisão...


– Eleonora casou-se com James Braxton.


– Lamento não ter sido convidado para um evento tão formidável.


– Christian, por favor...


– Sei quem é Braxton. Foi nomeado herdeiro de seus pais depois daquela explosão em um condado na Inglaterra. Há... Não sei, talvez dez anos.


– Oito. Oito anos atrás. – ele o corrigiu. – Mas isso é o que você ouve e vê a respeito dele fora da realidade em que ele realmente vive.


– Como assim?


– Braxton é o braço direito daquele que comanda a Sétima Divisão da Fraternidade. – padre Abdon falava agora em um tom dramaticamente melodioso. – Também é o mais bem preparado assassino de sua organização.


– Não posso dizer que estou surpreso. Aquele cara me causa tanta desconfiança quanto o próprio diabo.


– Talvez seja porque é assim que ele é conhecido na Fraternidade.


– Bem... Acho que encontrei um adversário à altura.


– Chegamos ao ponto, Christian. – o velho fitou-o nos olhos, ansioso. – O Vaticano está um verdadeiro caos desde que chegaram à conclusão de que Eleonora Braxton é verdadeiramente a Mulher de Vermelho.


– Posso imaginar.


– Ligaram-me às pressas, anunciando que a filha de Babilônia havia se unido ao diabo. O que significa que ela não está sozinha. – mais uma pausa. Dessa vez para que ele pudesse se acalmar. Toda aquela conversa o deixava aflito. – Em outras palavras, Braxton protegerá a esposa porque a Fraternidade precisa dela. Querem-na de ambos os lados. A seita tenciona tomá-la para que possam impedir a profecia de se realizar. E os assassinos precisam dela para ressuscitar a Fraternidade.


– Isso me soa familiar.


– A guerra entre Céu e Inferno. Anjos e demônios. – esclareceu o padre. – A ordem e o equilíbrio se romperam, filho.


Christian Madden calou-se por minutos. Havia visto em seus sonhos mais recentes algo relacionado ao que acabara de ouvir, mas não conseguia chegar à uma conclusão plausível. Qualquer pessoa consideraria aquela conversa como uma loucura. Um absurdo. Mas para Madden aquela era apenas mais uma reunião de negócios. Nada daquilo o surpreendia ou o assustava. Recostou-se à cadeira novamente, tentando coordenar seus pensamentos.


– Então o filho da mãe realmente não estava blefando quando disse coisas a respeito de Babilônia... – murmurou para si mesmo.


– Precisamos de pessoas preparadas para o que está por vir, Christian. – padre Abdon viu-o levantar o rosto novamente, como se tivesse acabado de ouvir algo que lhe prendera a atenção. – Precisamos de você.


Christian inclinou-se para frente, observando a expressão do padre oscilar do nervosismo para o desespero. Estava desesperado para convencê-lo.


– Diga-me o que posso fazer por vocês.


– Chegue até ela. – respondeu o religioso. O rapaz franziu o cenho, esperando pelo restante do pedido que não obteve. Foi forçado a perguntar:


– E depois?


– Execute-a. – ordenou. – Antes que seja tarde demais.


As ordens dadas pelo padre agora dançavam na mente de Madden enquanto ele encontrava-se sentado à uma velha mesa de madeira em tom apagado, em seu apartamento localizado em um bairro pobre da cidade.


Desistindo de colocar ordem em tantos pensamentos que transitavam por sua mente naquele momento, ele deu um soco contra a mesa, colocando-se em pé rapidamente.


Saiu do apartamento, batendo a porta. Após tomar o elevador e retirar-se do edifício de aspecto repugnante e antigo, ele começou a caminhar rumo ao local onde daria o primeiro passo.


O primeiro passo da decisão que tomara.


Ou pelo menos do que decidira em meio à tanta confusão.


Aos vinte e cinco anos, Christian Madden já havia visto a maioria das coisas que pessoas normais considerariam absurdas e impossíveis.


Tinha cabelos negros como carvão, que se harmonizavam com a cor escura de seus olhos.O rosto era rígido, pois ele raramente permitia-se demonstrar qualquer tipo de emoção através de suas expressões. Ainda assim, a expressão mais usada seria aquela que queria dizer algo como “não se meta comigo”, o que o mantinha afastado das pessoas. Isso era bom, no ponto de vista dele.


Tinha sido assim desde seus dez anos.


Desde que vira sua mãe morrer diante de seus olhos.


Quando voltara da escola, depois de um dia cansativo, porém divertido, ele correra diretamente para a cozinha assim que chegara em casa, atraído pelo cheiro de molho de tomate que sua mãe costumava preparar.


Todavia, ao parar à porta da cozinha, não foi a típica cena de sua mãe próxima ao fogão, cozinhando algo especialmente para ele enquanto levava um sorriso no rosto que ele encontrou.


A mãe estava lá, como de costume, mas não estava sozinha. Um homem alto, de vestimentas unanimemente pretas que causavam sombra em seu rosto, tornando impossível identificá-lo apertava o pescoço da mãe de Christian com tanta força que se podia ouvir o som da traqueia se quebrando lentamente.


Com os olhos arregalados e o coração descompassado, o pequeno garoto sentiu-se incapaz de emitir uma reação. O homem virou-se para ele e soltou uma gargalhada baixa, perversa e maquiavélica. Um som extremamente provocador e intimidante.


– M... Mamãe... – ele balbuciou. Tinha as mãos trêmulas e suas pernas pareciam gelo ao sol, derretendo sem cessar. Os olhos já encontravam-se marejados.


O rosto da mãe virou-se para ele e – com muita dificuldade – ela esforçou-se em dizer:


– Fuja, querido...


O sangue se esvaiu completamente dele no momento em que o desconhecido enfureceu-se com a mulher, apertando-lhe a garganta com mais força. Christian viu mãe se desvanecer aos poucos, repetindo em voz muito baixa e fraca para que ele saísse dali.


Soltando o corpo frágil como o de uma boneca de pano, o homem de preto precipitou-se para o garoto, caminhando na direção dele em passos longos.


Christian virou-se e correu. Correu com toda a sua força, o mais rápido que podia, sem ousar olhar para trás. Saiu de sua casa e seguiu em extrema velocidade, correndo para lugar nenhum. Rumo ao que encontrasse pela frente.


O que ele encontrara pela frente fora a o acolhedor padre que o recebera em sua igreja. Padre Abdon permitiu que o menino se alimentasse, tomasse um banho e se acalmasse antes de lhe dar boas explicações.


Quando ouviu a história narrada por Christian, o padre permaneceu calado e pensativo, tentando encontrar um esclarecimento que não fosse assustá-lo muito. Mas, obviamente, depois do que presenciara, o garoto não se assustaria com mais nada fora do comum.


Ouvindo atentamente as explicações do padre, Christian chegara à quase ilusória conclusão de que sua mãe havia sido assassinada por um demônio. Desde então, acabar com cada um deles que entrasse em seu caminho tornara-se sua missão.


Seu único plano para a vida.


Evidentemente ela havia dedicado sua vida a isto. Sua profissão.


A polícia havia encontrado o corpo de sua mãe horas depois de sua morte, alegando que alguém tentara assaltar a casa. Nenhum objeto fora surrupiado da residência, mas a polícia não parecia se importar o bastante para encontrar uma justificativa melhor para apresentar.


Padre Abdon tomara a guarda do menino, pois ele não tinha qualquer outro familiar. Seu pai era um desconhecido que engravidara sua mãe e depois desaparecera como mágica. Christian nunca fizera questão de procurar por ele. Não faria diferença.


Passara anos estudando demonologia, ocultismo, rituais e seitas. Enquanto todos os outros garotos de sua idade passavam as férias em suas casas de praia com a família, ou então passeando com seus outros amigos, Christian Madden – o excluído de toda a turma – dedicava-se inteiramente ao estudo de símbolos e seus significados. Quando terminou o colegial, deixou a igreja do padre Abdon, decidido a alcançar voos mais altos.


O voo mais alto que conseguira, porém, foi um apartamento caindo aos pedaços no Bronx e um trabalho de meio-período em uma lanchonete. Sua vida social não existia. Tampouco cogitava a ideia de viver uma vida normal. Era impossível após o evento ocorrido anos atrás.


Abandonara o emprego detestável e passara a preocupar-se apenas com o que realmente lhe interessava. Fora assim com o passar de todos os anos seguintes. Em nada ele havia mudado. Até ter recebido as últimas ordens dadas pelo padre Abdon.


A última missão da qual lhe encarregaram parecia algo diferente de tudo o que ele já havia enfrentado antes. Era algo totalmente novo. Precisava se preparar antes de colocar tudo em prática. A ordem havia sido imediata: ele tinha de executar a garota da qual o padre falara.


Até então Christian jamais havia recebido ordens para matar. Não para matar pessoas. Em toda a sua vida tudo o que fizera era lutar contra o inimaginável, aquilo que nem todos conseguiam ver, ouvir ou acreditar. O caso agora era mais profundo. Complicado. Ele precisava ter a absoluta certeza de que Eleonora Braxton tratava-se realmente da mulher que realizaria a profecia. Aquela que daria iniciou ao Apocalipse. Do contrário, Madden se penitenciaria pelo resto da vida por ter eliminado uma inocente.


E, definitivamente, ele não queria levar o peso de outra morte em sua consciência.


Continuou com seus passos rápidos e firmes, seguindo para o local onde – possivelmente – conseguiria as respostas necessárias para, então, executar as ordens que lhe foram dadas.


–--


– Não devia ter permitido que ela interrompesse o treinamento. – James Braxton andava de um lado para o outro, enfurecido pela decisão tomada por Vincent Hurst.


O amistoso homem estava sentado à sua mesa com uma expressão despreocupada no rosto. Diferente daquele que o acusava de imprudência com tanta audácia.


– Ela diz estar pronta.


– Isso não significa que ela realmente esteja. – James parou em frente à mesa dele, inclinando-se para frente. Estavam cara a cara e Hurst mantinha um sorriso breve nos lábios. – Você, por acaso, perdeu o juízo?


– Está tudo bem, James. Deve confiar em mim.


– Você está a mandando para a morte. Direto para um caixão.


– Sei bem o que faço. – assegurou Vincent com desdém. – Aliás, você estará lá. Que mal pode haver?


– Devo supor que esteja testando minha paciência. – afastou-se da mesa dele, tornando a andar pela sala improvisada.


– Será que não percebe, James? – Vincent alterara seu tom de voz, tornando-se sério inesperadamente. – Ela falhará nessa missão.


– Mas isto é óbvio! – Braxton exclamou, virando-se para ele. – Se tanto eu quanto você mesmo sabemos disso, então... Por que raios permitiu que ela executasse sua primeira missão? Ela nem sequer passou nos primeiros testes!


– O fato de que ela falhará na missão será um bom feito. – falou Hurst com convicção.


– O que está querendo dizer? Tudo o que ouço são absurdos.


– Ellie não cumprirá esta missão, obviamente. – repetiu ele. – Mas ela crê cegamente que está pronta para fazer isto.


– O que você tem no lugar do cérebro?


– Ora, por favor, James. Não sou um de seus criados e não estou disposto a aceitar suas grosserias.


James Braxton bufou, impaciente. Vincent Hurst, por outro lado, não deixou de falar.


– Ellie verá por conta própria que não está preparada.


– Tantos rodeios apenas para mostrar a ela que está enganada? – indignou-se o mais novo.


– Um dia, James, Ellie não precisará que diga a ela o que deve fazer e o que não deve. Ela mesma saberá como agir. – aquilo soara mais como uma repreensão paternal vinda diretamente de Vincent. – Mas para isso, ela terá de falhar algumas vezes. Pois, caso ainda não tenha ouvido isto, são dos erros que tiramos as maiores lições.


James permaneceu calado, lançando para o sujeito um olhar de desaprovação.


– Eu acredito nela, James. Ela tem grande potencial. Será tão boa quanto você e eu juntos.


– Claro. – resmungou. – Talvez, algum dia. Mas não passando por cima das regras. Ou já se esqueceu de que nós as preservamos?


– Não passei por cima de regra alguma. E antes de me acusar ou desaprovar minhas decisões, lembre-se de que eu sou seu superior. Ainda tem muito que aprender se almeja substituir-me no futuro. – Vincent tocou-lhe diretamente em seu orgulho. Mas James não deixou que aquilo lhe afetasse de forma alguma. Fez um aceno com a cabeça e arqueou uma sobrancelha.


– Como quiser, summus*. – disse com um sarcasmo tão óbvio que Vincent também teve de esforçar-se para não deixar aquilo ferir seu orgulho.


– Volte para casa. Ellie precisa estudar o alvo.


– Acaba de confirmar que ela falhará.


– Mas ela ainda não sabe. Aja naturalmente e deixe os fatos falarem por si próprios.


Braxton assentiu e retirou-se da sala sem se despedir. O ambiente estava carregado, o ar estava espesso, constituído de toda a ironia e confusão se fundiram nas palavras que ali haviam sido ditas.


Quando voltou para casa, encontrou Ellie no quarto, sentada na cama com uma pasta em suas mãos e papéis por toda a parte. Ela parecia atenta aos papéis, lendo tudo com minuciosidade.


Ao fechar a porta do quarto por dentro e adentrar seus aposentos, James viu Ellie erguer os olhos, fitando-o surpresa.


– Desculpe. – ela disse. Pôs-se a recolher os papéis espalhados pelo colchão. – Vou arrumar isso imediatamente.


– Não. – aproximou-se dela, detendo-a. – Pode continuar. Vincent disse que você tem de estudar seu alvo.


– Ele disse-me o mesmo. – Ellie respondeu, tornando a ler os papéis com infinita cautela.


– Bem, e de quem se trata?


– Courtney Richfield. – ela leu em voz alta a primeira sentença escrita no papel que segurava com as duas mãos, próximo ao seu rosto. – Assassinou o próprio filho, um bebê de cinco meses, afogando-o na banheira.


James não respondeu e Ellie sentia-se estremecer pelo que acabara de ler. Deu continuidade à sua leitura:


– Após depoimentos e exames, a polícia concluiu que Courtney sofria de distúrbios mentais. Além disto, era dependente química. Não foi sentenciada à prisão. Estava internada em um hospital psiquiátrico, mas fugiu.


– Você vê? – James indagou com fé em suas palavras. – Para a polícia ela é só uma maluca. Para mim e para todos da Fraternidade, ela é um desperdício de espaço na Terra que precisa ser eliminado urgentemente.


– Como alguém pode cometer algo tão cruel? – com os olhos pousados no papel, Ellie não conseguia decidir se sentia-se entristecida ou revoltada com o que acabara de ler.


– Posso lhe afirmar que isso em nada se compara às próximas histórias que você irá ouvir.


Ellie suspirou. Um suspiro de lamentação que fez com que ela constatasse que seu estômago embrulhava-se apenas em imaginar a mulher tirando a vida do próprio filho de forma tão brutal.


– Já sabe como vai fazer? – a voz dele fez com que ela saísse de seu transe rapidamente.


– O que quer dizer?


– Como vai eliminá-la?


– Eu... Eu ainda não me decidi.


– Você tem até amanhã para se preparar.


A garota balançou a cabeça devagar. Passou a analisar as fotos que lhe foram entregues juntamente aos documentos dentro da pasta. O rosto de Courtney Richfield era a imagem da perturbação. Tinha olhos fundos, de um castanho opaco e apático. O rosto era fino e uma linha reta, sem expressão, formava seus lábios.


– Estarei preparada até amanhã. – afirmou ela. James concordou com a cabeça e caminhou até o quarto de banho, de onde saiu uma hora mais tarde, com um robe acinzentado e cabelos molhados.


Deparou-se com seu lado da cama poupado do monte de papéis que ainda estavam sobre o colchão. Ellie manteve-se atenta à sua leitura, encolhida do outro lado.


James acomodou-se na cama, permanecendo calado e indiferente. Teve de reunir o pouco de paciência que lhe restava para se preparar mentalmente para o dia seguinte.


O dia amanhecera rápido. Quando se deu conta, Ellie percebeu que passara toda a noite estudando os detalhes sobre seu alvo. Durante as horas da noite anterior, ela decorara todas as informações a respeito de Courtney Richfield. Deu graças a Deus por não sentir-se cansada ou sonolenta.


Levantou-se de sua cama muito bem disposta, ajeitando os papéis de volta na pasta. Adiantou-se para o banho, vestindo-se de modo pouco formal com pressa e penteando os cabelos, deixando-os escorridos até suas costas.


Retornou ao quarto, mas James já não estava mais como ela o havia deixado. O quarto estava vazio e ela perguntou-se se ele estaria esperando por ela no andar debaixo. Ela não se enganara.


Encontrou-o no final das escadas, com uma expressão pouco amigável, à espera dela. Ele fez um sinal com a cabeça para que ela o seguisse até a saída da casa.


Sem objetar, Ellie o seguiu para fora da casa, parando em frente ao veículo que ele, provavelmente, pedira a um dos empregados para que deixasse ali, à disposição dele.


Entrando no lado do passageiro, assim que ele abrira a porta para ela, Ellie passou as mãos pelo rosto, respirando fundo. Julgou que antes eles fariam uma pausa, passando pelo prédio da organização. Mas não fora assim que as coisas ocorreram naquela manhã.


A partir do momento em que James precipitou-se em girar a chave na ignição, Ellie soube que sua missão estava começando. Ele avançava com o carro rumo a um lado da cidade que Ellie raramente vira pessoalmente. Um bairro pobre e isolado, onde os moradores tinham aparência duvidosa e intimidadora.


As residências fizeram Ellie iniciar uma viagem por dentro de seus próprios receios. O cenário era soturno e causava-lhe arrepios por todo o corpo. Logicamente todos os olhares foram atraídos para o automóvel luxuoso que vagava pelas estreitas ruas daquele bairro.


– Courtney esconde-se aqui desde que fugiu do hospital onde foi internada. – James explicou, sem dar-se ao trabalho de fitá-la nos olhos.


– Como sabe?


– Esse tipo de pergunta é totalmente desnecessário. – respondeu rudemente, mantendo-se atento ao volante. – Quero que se prepare para subir pelo teto-solar.


Ellie sentiu sua garganta secar.


– Por quê?


– Ela está na última casa desta rua. Há duas janelas apontadas para a calçada. Deve atirar pela primeira.


– Mas...


– Se realmente estudou seu alvo, devia saber que Courtney esconde-se aqui. E também que ela acorda às oito da manhã e prepara um cereal com leite, sentando-se à mesa, logo em frente à primeira janela que dá a ela uma quase perfeita visão desta mesma rua. – ele falava com tanta naturalidade que Ellie não pôde disfarçar seu espanto.


Passara horas estudando Courtney Richfield, mas julgara aqueles pequenos detalhes irrelevantes demais para serem utilizados em sua missão. Sentia-se completamente estúpida por ter cometido um erro tão banal.


– Prepare-se. Estamos nos aproximando. – dizendo isto, James levou seu dedo indicador até um dos botões do painel do automóvel, fazendo com que o teto-solar sobre eles se abrisse graciosamente.


Ellie sentiu que toda a sua preparação desaparecera. Era como se tivesse estudado para um exame final, porém, esquecera-se de tudo o que estudara em questão de segundos. Suas mãos suavam e ela sentia as pernas fracas. Sem parar para pensar muito, ela esticou-se para cima, atravessando o teto-solar, com parte de seu corpo para fora.


O vento batia em seu rosto, esfriando as gotas de suor que escorriam por sua testa. Os cabelos estavam esvoaçantes e ela olhava de um lado para o outro. Sentiu que algo lhe tocava a perna. Olhou para baixo e viu que James lhe estendia um revólver.


– Primeira janela. Não se esqueça. É a última casa desta rua. Lado esquerdo. – ele deixou seus últimos esclarecimentos, mesmo estando certo do que ocorreria ali.


Ellie tomou a arma das mãos dele com a mão gelada. Com o revólver em mãos, ela procurou a casa com os olhos. Encontrou-a rapidamente. O carro avançava em velocidade mais alta, até que finalmente alcançara a tal casa.


Então tudo acontecera em câmera lenta.


Os olhos de Ellie encontraram-se com os olhos daquela cuja vida seria arrancada com apenas um tiro. Mas tinha de ser um tiro único e preciso. Como o que ela disparara na primeira vez em que segurara uma arma nas mãos.


A mente de Ellie funcionava de forma rápida demais. Ela não conseguia calcular bem suas ações a partir dali. Viu a mulher sentada à mesa, olhando para ela através da janela. Ellie ergueu a arma, mantendo seu alvo na mira. Alisou o gatilho com um de seus dedos, pronta para disparar o tiro.


Sentiu o verdadeiro gosto de ter a vida de alguém em suas próprias mãos. Era como brincar de ser Deus. Ela tinha o controle remoto bem ali, e tinha o poder de pular para os créditos finais da vida de outra pessoa. Era algo que ela jamais experimentara antes.


Contudo, a súbita realidade bateu às portas de sua consciência, fazendo-a perceber o que estava prestes a fazer. Olhou para suas mãos esticadas. O revólver entre elas, apontado para alguém que ela não conhecia. Caindo em si, Ellie não se reconheceu. Era como se uma voz persistente e acusadora sussurrasse em seus ouvidos:


Não matarás.


As mesmas palavras tornaram a martelar em sua cabeça, forçando Ellie a tomar a difícil decisão de não executar sua missão. Soltando um longo suspiro derrotado, ela abaixou a arma. O tempo voltara à sua velocidade normal. O carro passara em frente à casa onde Courtney Richfield escondia-se e Ellie sentou-se no banco do passageiro, sentindo seu coração palpitar violentamente.


James abriu um sorriso de amargura, certo de que Vincent Hurst se orgulharia muito de si mesmo por seus planos terem seguido o rumo que ele esperava. Ellie depositou o revólver no meio dos dois assentos, cobrindo a face com as mãos. Deixou então que suas lágrimas de aflição desabassem.


A conclusão que tirara disto era mais do que óbvia: ela não era uma assassina. Também não seria capaz de tornar-se uma, mesmo que aquela fosse sua intenção.


Considerou aquilo um acontecimento que a fizera cair na realidade, não uma falha. Ela havia se precipitado quando dissera à Vincent que estava pronta. Na verdade, não estava pronta nem para aquilo, tampouco para os acontecimentos que se seguiriam.


Tudo o que mais desejava naquele momento era poder voltar no tempo, quando – por mais que fossem um tanto difíceis – as coisas aconteciam de forma natural. Normal. Ou quase isso.


–--


* Summus: chefe, superior em latim.



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Prévia do próximo capítulo

– Missão incompleta, Ellie. – por detrás de uma mesa de escritório improvisada em um dos cômodos da grande e antiga construção usada como sede da organização, Vincent Hurst contemplava a garota com ar sábio. – E-eu... Eu não pude... – balbuciou ela. Em seu nervosismo, sua voz sa&iac ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 51



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  • shadowxcat Postado em 19/07/2016 - 16:24:44

    ESSA FANFIC ESTÁ SENDO REPOSTADA AQUI: http://fanfics.com.br/fanfic/54463/sete-demonios-romance-terror-horror-teen-amor -suspense-thriller-aventura-acao-vampiros-bruxas-demonios

  • raysantos Postado em 12/08/2015 - 20:10:35

    Sua fic e muito top e bem escrita tudo d bom tomara que logo logo a Ellie e James possam ficar juntos sem a essa fulana que eu nao aprendi a dizer muito menos escreve o nome no meio nada contra a crianca mais fazer oq ne continua

  • vverg Postado em 08/02/2015 - 23:19:37

    Olá, to lendo pelo spirit anime =)

  • vverg Postado em 08/02/2015 - 22:54:24

    Por favor!!! Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa mais!!! Okk, já sabes q amo de paixão esta web!!! To sentindo muita falta dela....please, preciso de mais caps!!!! Não me deixe na curiosidade por muito tempoooooo *_*

  • vverg Postado em 10/01/2015 - 01:47:30

    Desculpe meu sumisso!! Mas assim q der, comento qdo ler todos os caps =)

  • vverg Postado em 19/08/2014 - 23:57:43

    Poxa não judia tanto de sua leitora caramba!!! Minha fic perfeição, posta mais, preciso de mais.... Estou ficando agoniada sem suas atualizações Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa maissssssssssssssssssssssssssss nesta fic perfeitaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa amo sua fic, ok vc já sabe disso, mas não custa falar né hahahahahahahaha

  • vverg Postado em 12/08/2014 - 12:10:07

    Meu Deus! Que nojo deste Declan!!!! Cara##@%@#$#! Putz!!! Como ela se deixa dominar desta forma, caramba!!! Posta mais mais mais mais mais mais. Poxa vc me deixou curiosa agora, tadinha da Elie, ela é muito fraca e se deixa dominar por este imundo.... Estou pasma, posta mais na minha fic perfeição mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais =)

  • vverg Postado em 09/08/2014 - 17:08:49

    Quero maisssssssssssssss!!! Preciso mais desta fic perfeita!!! Posta sim??? Necessito ler.... =)

  • vverg Postado em 06/08/2014 - 10:33:43

    Dahlia tah ferradinha kkkkk. Posta mais! Necessito de mais rsrsrs *_*

  • vverg Postado em 02/08/2014 - 09:55:32

    Minha fic mais q perfeitaaaaa posta mais quero mais caps


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