Fanfics Brasil - Primeiro Ciclo - Capítulo I - A Aposta Sete Demônios

Fanfic: Sete Demônios | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass


Capítulo: Primeiro Ciclo - Capítulo I - A Aposta

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“O Inferno está vazio. E todos os demônios estão aqui.” – William Shakespeare.


˟˟˟


Fazer parte da alta sociedade de uma cidade demasiadamente conhecida exige sabedoria, perspectiva de vida e ambição. Washington é a capital do país de maior economia do mundo. Foi nesta famosa e histórica cidade que nasceu Eleonora Donovan.


Segunda filha do casal Maurice e Serena Donovan, Ellie – como era carinhosamente chamada por seu pai – sempre ouvira histórias a respeito das origens simples dos pais e dos problemas que tiveram de enfrentar para subir na vida.


Antes de seus filhos nascerem, Maurice e Serena começaram a investir em pequenos negócios na cidade. Comércios. Investiam tudo o que conseguiam receber trabalhando em empresas na cidade. Desde então, feliz e milagrosamente, a sorte parecia ter sorrido para eles e começaram a obter melhoras. Uma atrás da outra.


Maurice Donovan fundou sua pequena empresa. Após muitos e muitos anos de trabalho duro e esforço – tanto da parte dele quanto a de sua esposa –, a empresa cresceu, expandindo-se por todo o estado. E, eventualmente por todo o país, chamando-se a partir de então Donovan Corporation. A grande e famosa empresa de exportação e importação tornou-se mundialmente conhecida graças às filiais que foram consequentemente se espalhando pelos quatro cantos.


Os filhos vieram em seguida.


Declan fora o primeiro. Tinha os encantadores olhos verdes da mãe e os brilhantes e escuros cabelos do pai. Era uma criança agitada e sempre conseguia o que desejava.


Cinco anos mais tarde, sentiu-se excluído com o nascimento da irmã mais nova. Ellie era seu oposto. Não apenas em sua personalidade, como também fisicamente. Possuía os lustrosos e macios cabelos dourados de Serena e os mesmos olhos castanhos claros de Maurice Donovan. Ellie sempre fora uma criança tranquila e dócil. Tratava a todos com respeito e carinho.


As brigas infantis com o irmão mais velho começaram quando ela completara quatro anos. Declan a trancava no closet e a deixava sozinha, com a luz apagada. Dora – a governanta da casa – sempre acabava destrancando a porta por fora, se deparando com uma Ellie amedrontada. Mas ela jamais contava o que acontecia. Não contava para seus pais que era Declan quem a trancava e pedia a Dora para que também não contasse.


A mulher – que já estava na casa dos cinquenta anos, amistosos olhos castanhos e cabelos tingidos de preto, presos para cima – prometera à menina que guardaria segredo, embora desaprovasse totalmente a atitude de Declan. Ele começara a se tornar uma criança impaciente e levada, sempre causando alguns problemas ali e aqui. Mas não parecia se importar. Sabia que seus pais cobririam seus erros e tudo estaria bem sem que ele tivesse o trabalho de se preocupar em pedir desculpas.


Aos nove anos, Ellie tornara-se uma garota encantadora que se esforçava ao máximo para agradar todos ao seu redor. Gostava de dar longos passeios no jardim de sua casa, tocar piano e assistir à chuva. Sendo totalmente o oposto da irmã caçula, Declan roubava garrafas da estimada coleção de bebidas importadas do pai e as escondia em seu armário, no quarto. Conseguia arrumar problemas no colégio toda a semana. E depois todos os dias.


Serena Donovan chegou ao ponto de não saber mais o que fazer para controlar a personalidade transtornada do filho. Costumava tentar entendê-lo e nunca repreendê-lo, pois temia que ele fosse reagir de forma negativa. Agora as ações dele haviam piorado e Serena não soube que atitude tomar a respeito.


Foi em uma noite qualquer que Ellie acordou ao ouvir vozes. Reconheceu-as. Eram seus pais. E aparentemente conversavam seriamente na sala de estar. Curiosa, a pequena garota desceu de sua cama em seu pijama rosa-claro e seguiu para a escada que a levaria para a sala. Seus passos eram suaves, cautelosos. Não queria fazer barulho. Ela tentou ouvir sobre o que eles falavam. Logo descobriu o assunto quando ouviu o nome de seu irmão ser citado durante a conversa.


– Não há mais motivos para esperarmos, Serena! – Maurice Donovan exclamava com as mãos para o alto. Parecia terrivelmente alterado. A própria Ellie jamais havia visto o pai naquele estado.


– Querido, ainda acho que seria melhor darmos a ele um tempo. – Serena tentava argumentar a favor de algo. – Ainda é uma criança. Irá amadurecer com o tempo.


– Sem mais desculpas. – declarou Maurice em tom severo e autoritário. – Declan irá para o colégio interno.


Ellie congelou. Agachada nos degraus da escada que separava o andar de cima da sala de estar, ela sentiu um arrepio ao ouvir aquela decisão tomada pelo pai. Ainda que soubesse que Declan era uma criança problemática, Ellie amava o irmão e não conseguia imaginar como seria viver sem sua presença naquela casa. Correu de volta para seu quarto, se enfiando debaixo das cobertas. Queria muito saber por que a situação havia chegado àquele ponto.


Na manhã seguinte, encontrava-se na sala principal de sua casa, ao lado dos pais. Dois homens vestidos inteiramente de preto passaram por eles e tornaram a reaparecer, levando Declan com eles, segurando-o pelos dois braços, um de cada lado. Ellie viu nitidamente quando ele lançou para ela um olhar que refletia todo o seu ódio momentâneo. Momentâneo, pois Ellie estava certa de que ele não a odiava. Era apenas sua reação diante da situação pela qual estava passando.


Os dias seguintes tornaram-se apáticos, deixando na vida de Ellie um vazio imenso. Sentia sua família incompleta. Declan os visitava durante os feriados, mas demonstrava-se cada vez mais distante. Ellie se perguntou se era possível que a situação piorasse. Infelizmente era.


Em seu aniversário de doze anos, Ellie descobrira que a vida, às vezes, conseguia ser impiedosa. Cruel e injustamente impiedosa.


Duas horas antes da festa de aniversário da filha – que seria celebrada em casa –, Serena Donovan decidira ir sozinha ao colégio interno para buscar Declan. Assim ele estaria presente no aniversário da irmã. Ellie ficaria em casa, esperando por eles, aos cuidados de Dora, a estimada governanta da família.


Naquela tarde uma forte tempestade ameaçava cair. O céu nublado e as nuvens carregadas eram um sinal. Ellie ouvira Dora pedindo à sua mãe para que não guiasse pela estrada sozinha, mas Serena era uma mulher persistente. Havia tal persistência correndo pelas veias de Ellie. Evitando o inicio de uma discussão, Serena abraçou fortemente a velha governanta, despedindo-se dela e dizendo para que não se preocupasse, pois estaria de volta dentro de duas horas. Também se despediu de Ellie e deu-lhe muitos beijos e um forte abraço.


– Vai demorar? – Ellie perguntara em tom amuado.


– Não se preocupe. Quando menos esperar, estaremos de volta. – respondera sua mãe.


A expressão magoada nos tristes olhos da menina fez com que Serena Donovan sentisse um aperto no coração.


– De que tem medo?


– De que lhe aconteça algo de ruim... – havia gotas brotando de seus enormes olhos castanhos.


– Vou lhe contar uma coisa. – Serena ajoelhou-se para encarar a filha nos olhos. – Sempre que sentir que algo de ruim está por vir, feche seus olhos... Quando voltar a abri-los, a luz voltará a reinar no escuro vale do medo que existe em cada um de nós.


Ellie não compreendera o sentido daquelas palavras, mas tornou a abraçá-la, concordando com o que ela dissera.


– Eu a amo muito, Ellie.


Serena depositou um último beijo na face da menina e entrou no carro que a guiaria para uma tempestade monstruosamente implacável, que desabava sobre o chão em extrema velocidade e força. Ellie assistiu o carro vermelho da mãe desaparecer por entre as espessas gotas de chuva que se misturavam com a neblina. Tento aquietar seu coração e voltou para dentro de casa acompanhada de Dora.


Minutos mais tarde, começou a ajudar a mulher a preparar a decoração de sua festa de aniversário. Ellie agora se encontrava sentada no meio da sala de estar, recortando pedaços de cartolina para a decoração. O som tremendo dos trovões já não a deixava assustada. Ela cantarolava e recortava, em ritmo harmonioso. Dora estava na cozinha, terminando de ajeitar os doces nas bandejas quando o som do telefone soou. Dora, sempre hesitante, aproximou-se do aparelho preso à parede e ergueu o auscultador.


– Residência dos Donovan. – anunciou ela.


Uma voz masculina soou do outro lado da linha.


– O Sr. Donovan se encontra no momento? – o homem perguntou.


Dora hesitou.


– Quem está falando?


– Tenente Daniels, departamento de polícia de Washington.


– O Sr. Donovan não está. – Dora respondeu. O coração começou a disparar. Queria muito saber o motivo de a polícia estar procurando por Maurice Donovan.


– Poderia me informar sobre o assunto? Sou alguém de confiança da família.


– Infelizmente, ocorreu algo... – ele começou a explicar. Receosa e ao mesmo tempo aflita, Dora apertou o auscultador com toda a sua força.


– É sobre Serena Donovan.


Dora sentiu uma súbita e dolorosa onda de pânico dominá-la. Sua voz soou trêmula e hesitante quando arriscou perguntar:


– Ela... A Sra. Donovan sofreu algum acidente?


Ellie ergueu os olhos e virou-se para a cozinha ao ouvir o nome de sua mãe.


– Mamãe...? – balbuciou, começando a entrar em desespero.


Dora não escutara a menina, atenta à voz no telefone. Em seguida, ela pousara o auscultador e olhara para Ellie com os olhos transbordando pânico.


– O que...?


– Querida... Venha cá... – Dora fez um sinal para que a garota se aproximasse. Era perceptível que ela estava tentando conter seu nervosismo. – Precisamos conversar...


Ellie se recusou a aproximar-se dela. Então Dora a tomou pela mão e a guiou para as escadas, sentando-se com ela em um dos degraus. Fitava-a agora com um misto de pena e melancolia.


– Minha mãe... Está doente? – perguntou Ellie fitando a governanta nos olhos.


Dora respirara fundo, olhara profundamente nos olhos de Ellie e dissera com firmeza em cada palavra:


– Sua mãe... – uma pausa deixou claro que Dora estava tão aterrorizada quanto a menina. – Sofreu um acidente...


– Não! – protestou em um grito de desespero.


A voz de Dora acrescentou em um sussurro:


– Está morta...


Era um pesadelo. Um aterrador e insuportavelmente terrível pesadelo no qual Ellie começara a se sentir como protagonista. Lentamente deixou-se cair em lágrimas pensando na mãe. Nas últimas palavras que ouvira dela.


Eu a amo muito, Ellie.


O acidente de automóvel que consequentemente causara a morte de Serena Donovan ocupou as principais páginas de inúmeros jornais. Seu corpo fora sepultado no Cemitério Nacional de Arlington, em Washington.


Durante muitos dias e muitas noites, Ellie se lamentou por sua perda. Pela morte da mãe. Por seu pai. O que seria dele? Ela imaginou que ele se recolheria em casa, evitando pessoas. Evitando o trabalho. Nada mais faria sentido. De fato, aquilo acontecera. Maurice Donovan passara um longo tempo guardando dentro de si toda a frustração que a morte da esposa lhe causara. Serena era sua fortaleza, sua fonte de realizações. A ausência dela trouxera muita dor e solidão à sua vida.


Todavia, para a surpresa de todos que conviviam com ele – especialmente a filha mais nova –, um ano mais tarde Maurice tornara a se casar. Sua nova esposa chamava-se Katherina. Era quinze anos mais jovem. Possuía extravagantes cabelos tingidos de vermelho e insolentes olhos verdes-acinzentados. Um corpo exuberante, cheio de curvas e uma personalidade ridiculamente esbanjadora. Maurice conhecera-a em uma confraternização da empresa de um velho amigo. Katherina era filha única de um empresário da cidade. Maurice Donovan aproximara-se dela sem esconder seus interesses. Apresentou-a à família meses depois.


Em respeito ao pai, Ellie prometeu que aceitaria a madrasta de braços abertos. Ainda que não aprovasse totalmente a atitude que ele tomara, ela estava ciente de que seu pai ainda tinha muitos anos para se viver. E evidentemente não queria passá-los sozinho.


Entretanto, Ellie temia a reação de seu irmão. Principalmente depois que soube que ele voltaria a viver naquela casa, deixando o colégio interno. Temia que Declan fosse armar um escândalo com a presença da nova esposa do pai na casa. Na casa que antes pertencera à mãe deles.


Declan chegara à mansão em um final de semana, segurando malas nas mãos e um sorriso sarcástico nos lábios. Deixando Ellie perplexa, ele não reagira de forma negativa em relação à madrasta. Ao contrário disto, Declan a tratara com naturalidade. Tratara toda a situação como se aquilo fosse algo que ele já havia previsto.


Os anos que prosseguiram tornaram-se continuamente repetitivos. Os feriados eram iguais. Toda a família se reunia para um jantar especialmente feito para tais datas, depois os dias seguiam normalmente, obedecendo a uma rotina entediante e monótona. A vida de Ellie também se tornara fastidiosa. Ia ao colégio todos os dias e depois voltava direto para casa, levada por uma limousine que era conduzida por um motorista particular. Sempre se esforçando para manter suas boas notas, Ellie terminou seu último ano de colégio com o melhor histórico. Orgulhosa de si mesma, ela encerrou o colegial com sucesso. O passo adiante seria entrar para uma faculdade, mas o pai pediu para que ela esperasse mais um pouco. Para que desse uma pausa de pelo menos um ano antes de tomar tal atitude.


Inicialmente, Ellie não entendeu o motivo, mas aceitava e obedecia todas as ordens impostas pelo pai.


Contudo, ela não ficou de braços cruzados, esperando que aquele intervalo de um ano nos estudos terminasse. Procurava sempre arrumar algo para se fazer. Ora ajudava Dora na cozinha, ora passava toda a tarde lendo um bom e velho livro, sentada na grama do jardim de sua casa. Ainda que sua vida seguisse sempre a mesma rotina desde a morte de sua mãe, Ellie se esforçava para que tudo continuasse bem. Jamais reclamara. Julgava-se suficientemente feliz. Não havia qualquer motivo para não gostar de viver. De estar viva. Tinha o pai que a admirava e amava com todo seu coração. O irmão, que apesar de problemático, estava de volta à casa, presente em sua vida mais uma vez. Tinha Dora que era considerada parte da família. E tinha Katherina... Apesar de não manter com ela a melhor das relações, Ellie a respeitava e agradecia a Deus todos os dias por tê-la posto na vida de seu pai, pois temia que ele adoecesse caso seguisse sua vida solitariamente. As coisas estavam indo bem. Tudo estava encaminhado. Ellie sentia-se satisfeita com tudo ao seu redor. As pessoas, os acontecimentos.


Entretanto, durante aquele mesmo ano no qual o pai pedira a ela para que desse uma pausa nos estudos, Ellie viu que a vida novamente estava lhe pregando uma peça.


Ela passou a ver o pai chegar em casa no meio da madrugada. Bêbado. Completamente bêbado. E o modo que ele agia sempre que se encontrava em tal estado era algo que Ellie jamais pensou que fosse ver. Ela começou a temer que aquilo fosse levá-lo à morte, pois as noites nas quais ele chegava bêbado tornaram-se cada vez mais frequentes. Tentou de diversas formas convencê-lo a parar com aquilo.


Maurice Donovan sentiu um remorso imenso tomar conta dele quando viu a filha suplicar, com os olhos marejados, para que ele não voltasse a cometer tais atos. E então ele prometera a ela que aquilo jamais voltaria a acontecer. Estava enganado. E a estava enganando. A situação se repetira não só uma vez, mas muitas outras. Aquilo se tornou também uma rotina. Maurice deixava o prédio da empresa e saía para beber. Todas as noites. E todas as noites Ellie esperava por ele, sentada nos degraus da escada principal da sala de estar.


Ver o pai naquele estado era um pesadelo quase tão aterrador quanto ter perdido a mãe naquele acidente, anos atrás. Surpreendentemente, Katherina não parecia se importar com o problema do marido. Não se importaria desde que ele continuasse a pagar por seus gastos desnecessários. Declan, como filho mais velho, deveria ao menos tentar oferecer sua ajuda, mas não. Ellie concluiu que não poderia contar com ninguém naquela casa para salvar o pai de seu vício. Contava apenas com Dora, a governanta em quem sua mãe tanto confiava.


Todas as madrugadas, Dora preparava um café forte e amargo para quando Maurice aparecesse na casa, alcoolizado. Ellie sempre a agradecia por todo o seu apoio. No decorrer de muitas tentativas, ela tentara convencer o pai a procurar ajuda, mas Maurice Donovan era orgulhoso demais para fazer aquilo. Ele acabava por prometer à filha que se recuperaria daquilo sozinho. E Ellie acreditava. Porém aquele episódio seguia se repetindo. Foi então que Ellie começou a perceber que sua vida havia se tornado um inferno. Mas o verdadeiro inferno ainda estava por vir.


Em uma tarde, quando o céu estava começando a escurecer, Ellie viu o carro de seu pai passar pelos portões da casa. Aparentemente ele havia chegado mais cedo. Bem mais cedo do que de costume. Admirada, Ellie pôs-se em pé com um livro em mãos e correu, atravessando o jardim e rapidamente alcançando a varanda da entrada do gigantesco imóvel que pertencia à sua família.


– Papai... – disse ela. Sua respiração era ofegante, pois havia corrido o mais rápido que podia para alcançá-lo.


Maurice Donovan tinha acabado de descer de um magnífico Bugatti prateado. Encarou a filha com um olhar ocioso.


– Olá, querida. – ele abriu um sorriso sem alegria. – Como você está?


– Estou bem, mas... – ela o observou com certa curiosidade. – Chegou mais cedo. Aconteceu alguma coisa?


Por mais que ele tentasse esconder sua preocupação e angústia, Maurice não pôde conter um suspiro. Abaixou a cabeça e depois voltou a erguê-la, olhando a filha nos olhos.


– Precisamos conversar.


Ellie assentiu com a cabeça e viu o pai se afastar, entrando na casa. Ela o seguiu, sem entender do que se tratava o assunto. Maurice caminhou até seu escritório e Ellie entrou no mesmo logo em seguida. O escritório de seu pai era cuidadosamente decorado em madeira. Os móveis tinham um aspecto antigo, porém muito elegante. Havia livros postos em estantes presas às quatro paredes.


Maurice Donovan instalou-se em uma sofisticada poltrona marrom, atrás de uma mesa que entrava em perfeita harmonia com o restante dos móveis que ali se encontravam.


– Sente-se. – apontou para uma das cadeiras em frente à sua mesa. Ellie aproximou-se dele e se sentou, sem deixar de olhá-lo.


– O que houve? – ela indagou inocentemente. Seus olhos pareciam curiosos e seu tom de voz era ansioso. O que ele estava prestes a anunciar obviamente não deixaria Ellie feliz. Tampouco conformada. Maurice Donovan vasculhou o fundo de sua alma, buscando desesperadamente encontrar o mínimo de coragem e força necessário para dar a notícia à filha. Para contar a ela o – possivelmente – maior erro que cometera em toda a sua vida. Erro cujo qual ele cometera na noite anterior, antes de surgir em sua casa completamente bêbado, como de costume.


Ele levou um grande e longo intervalo de tempo para se preparar. Seus lábios tremiam perceptivelmente. Suas mãos suavam frio. Seu coração palpitava. Olhou para a jovem sentada à sua frente. Seu bem mais precioso.


– Ellie, eu... – ele parou de falar antes mesmo de começar a se explicar. Respirou fundo. Outra vez. E mais uma terceira. – Eu estive fora ontem à noite.


– Sei disso, papai. – a garota respondeu, balançando a cabeça positivamente.


– Você sabe que eu... Tenho cometido alguns erros. Digo...


– Papai, eu sei exatamente o que está se passando na vida do senhor. – ela o interrompeu. Seu tom de voz era sempre doce e reconfortante. – E o senhor sabe que estou aqui para ajudá-lo a superar todos os problemas que estiver enfrentando.


Aquelas foram as palavras que ele tanto evitara ter de ouvir antes de dar à ela a notícia. Aquelas palavras causaram nele uma angústia ainda maior, pois estava seguro de que o que estava prestes a dizer a machucaria profundamente, de modo que duvidava muito que algum dia ela chegasse a perdoá-lo.


Mais uma vez ele respirou fundo. Encheu seus pulmões de ar e em seguida deixou-o escapar. Fitou a filha fixamente nos olhos e prosseguiu da forma mais firme que conseguia:


– Ellie, eu tenho... Tenho tentado encontrar uma forma de me libertar de todas as minhas frustrações. Uma válvula de escape. Algo que fizesse com que eu pudesse fugir desta realidade por algum tempo. – explicou. – E infelizmente o álcool tem sido uma das saídas que pude encontrar.


Ellie abaixou os olhos tristemente. Ergueu o rosto novamente e disse com a voz esperançosa:


– Superaremos isto juntos. Eu prometo.


– Minha querida... – Maurice Donovan tentava conter sua emoção, mas aquilo começara a sufocá-lo.


– O que queria me dizer, papai? – indagou, ainda curiosa.


Ele retomou a pouca coragem que encontrara em seu interior e voltou a olhar para ela com severidade.


– Eu fiz algumas apostas.


Ellie franziu a testa, confusa. Julgou não ter ouvido direito. Inicialmente ela não entendeu o que o pai queria dizer com apostas. Ao ver a reação da filha, Maurice imediatamente deu continuidade à sua explicação.


– O álcool não foi a única forma que encontrei para me libertar, Ellie. – ele agora falava com mais firmeza, disposto a terminar aquela conversa o mais rápido possível. – Eu tenho feito apostas em um clube que agora costumo frequentar.


– Papai... – a voz dela saiu num sussurro. – O senhor está envolvido em jogos?


– Este não é o único problema, Ellie. – ele falou. Aquilo soara como uma confirmação para a pergunta que ela havia feito. – No início eu apostava dinheiro. Mas depois se tornaram objetos de valor. Carros. Pequenas propriedades. Grandes propriedades. Ações na empresa. – ele narrou uma lista de todas as coisas que havia colocado em jogo. – Até que... – suas palavras ficaram pairando no ar, incompletas. Ellie permaneceu calada, aguardando o final daquela sentença, mas seu pai parecia hesitante.


– Até que o quê? – ela inquiriu, por fim.


– Eu perdi tudo, Ellie. – ao declarar isto, Maurice Donovan deixou que as primeiras lágrimas de desespero caíssem. Tentou escondê-las, levando as mãos ao rosto, mas era tarde demais. Deixou-se levar por suas emoções e em questão de segundos encontrava-se destroçados pelos soluços. – Perdi... Perdi tudo... – dizia ele com o rosto banhado em lágrimas de culpa.


Ao ver o pai em tal estado, Ellie também não pôde conter suas lágrimas. Mas estas eram lágrimas de preocupação. Queria agora mais do que tudo entender o que estava acontecendo. O motivo de seu pai ter chegado àquele extremo. Os vícios o estavam destruindo.


Ainda dominado pelos soluços, Maurice ergueu os olhos vermelhos devido às lágrimas que incontrolavelmente escorriam por suas faces.


– Ontem... Ontem eu arrisquei... Dei minha última cartada... – falava ele com muita dificuldade. Sua voz estava embalada pelas diversas emoções que se misturavam em sua mente naquele momento. – Era tudo ou nada.


– Do que... Do que está falando, papai? – Ellie quis saber. Também havia lágrimas brotando de seus grandes olhos castanhos.


– Era minha única chance de recuperar tudo o que eu antes havia perdido no jogo. Eu estava certo de que conseguiria. Sabia que desta vez tudo daria certo. – disse tentando se recompor. – Mas eu não tinha mais nada para apostar. Já havia perdido tudo.


Ele parou de explicar mais uma vez. Deu um longo e profundo suspiro e então prosseguiu cauteloso com suas palavras:


– E então eu apostei o que tenho de mais importante. A única coisa que me restava. – fitou-a nos olhos com imensa intensidade. – Eu apostei você, Ellie.


Ellie encarou o pai com os olhos espantados. Ela sentiu uma terrível pontada na alma. Não conseguia coordenar suas ideias. Estava certa de que escutara mal. Fez menção de pedir para que o pai repetisse o que tinha dito, mas antes que pudesse fazer isto, as palavras tornaram a soar vindas dos lábios dele. Claras e diretas.


– Eu apostei você.


O pânico a invadiu de imediato. Sentia-se atordoada. Seu estômago se comprimia. Sua cabeça começara a latejar. Sentiu um gosto de bílis lhe invadir a boca. Não era possível! Aquilo não estava acontecendo. Seu pai jamais cometeria uma atitude tão imprudente quanto aquela. Ainda mais se fosse uma imprudência quea envolvesse. Logo ela que tentara de várias maneiras salvá-lo daquela situação. Do vício. Da tristeza. De todos aqueles problemas.


– Não... Não pode estar falando sério... – ela proferiu aquelas palavras em tom apático. Não demonstrara qualquer emoção em suas palavras desta vez. Estava entorpecida pelo choque da notícia que acabara de receber. Sua cabeça dava voltas. Milhões de pensamentos transitavam por sua mente. Assim como milhões de emoções se misturavam em seu coração.


Era exatamente nisto que Ellie estava pensando enquanto encontrava-se parada em pé no meio do jardim. Uma semana havia se passado desde que descobrira que o pai havia tentado recuperar todos os seus bens, apostando ela – sua própria filha – em um jogo.


Seu adversário no jogo ocorrido uma noite antes da tarde em que ele dera a notícia à Ellie era James Braxton. Ellie não fazia ideia de quem se tratava. Maurice dissera-lhe que o pai do sujeito era um velho e conhecido sócio de sua empresa. Ela lembrava-se vagamente daquela família.


Tinha seis anos quando o pai os convidara para um jantar em sua casa. Lembrava-se de um homem na casa dos quarenta anos que não parava de falar sobre negócios. Uma mulher que se vestia de forma elegante. E do filho deles, que durante todo o jantar não pronunciara nenhuma só palavra. Mas aquelas eram lembranças há muito tempo deixadas para trás, assim como muitas outras que Ellie deixara no passado desde que a mãe falecera.


Quando constatou que a filha havia se acalmado, Maurice dera-lhe a metade que falava para completar toda a explicação.


– Ele agiu de modo muito amável. – ele tentava mantê-la calma. – Disse-me que poderei continuar a tomar conta de todos os meus bens. Mas para isto, querida, – fez uma breve e curta pausa. – Você terá de se casar com ele.


E quando Ellie achava que aquilo não poderia piorar, percebeu que estava completamente enganada. Perdida em meio a estes mesmos pensamentos, ela encarava o nada, imóvel em frente à sua casa. O vento fustigava seu rosto, fazendo seus cabelos dourados flutuarem com leveza. Sentia-se terrivelmente perdida. Não havia qualquer outra saída, por mais que ela tentasse encontrar uma.


Dominada pela coragem que tanto faltava no pai, Ellie Donovan decidiu que aceitaria o trato sem objeções. Mas para si mesma ela prometera que faria o que fosse preciso para recuperar tudo o que o pai havia perdido. Todos os seus bens. Sem exceções.


Restavam-lhe apenas alguns dias para arquitetar o plano que devolveria à sua família tudo o que o vício de seu pai os tinha feito perder.


O plano que restauraria sua vida.



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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 51



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  • shadowxcat Postado em 19/07/2016 - 16:24:44

    ESSA FANFIC ESTÁ SENDO REPOSTADA AQUI: http://fanfics.com.br/fanfic/54463/sete-demonios-romance-terror-horror-teen-amor -suspense-thriller-aventura-acao-vampiros-bruxas-demonios

  • raysantos Postado em 12/08/2015 - 20:10:35

    Sua fic e muito top e bem escrita tudo d bom tomara que logo logo a Ellie e James possam ficar juntos sem a essa fulana que eu nao aprendi a dizer muito menos escreve o nome no meio nada contra a crianca mais fazer oq ne continua

  • vverg Postado em 08/02/2015 - 23:19:37

    Olá, to lendo pelo spirit anime =)

  • vverg Postado em 08/02/2015 - 22:54:24

    Por favor!!! Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa mais!!! Okk, já sabes q amo de paixão esta web!!! To sentindo muita falta dela....please, preciso de mais caps!!!! Não me deixe na curiosidade por muito tempoooooo *_*

  • vverg Postado em 10/01/2015 - 01:47:30

    Desculpe meu sumisso!! Mas assim q der, comento qdo ler todos os caps =)

  • vverg Postado em 19/08/2014 - 23:57:43

    Poxa não judia tanto de sua leitora caramba!!! Minha fic perfeição, posta mais, preciso de mais.... Estou ficando agoniada sem suas atualizações Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa maissssssssssssssssssssssssssss nesta fic perfeitaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa amo sua fic, ok vc já sabe disso, mas não custa falar né hahahahahahahaha

  • vverg Postado em 12/08/2014 - 12:10:07

    Meu Deus! Que nojo deste Declan!!!! Cara##@%@#$#! Putz!!! Como ela se deixa dominar desta forma, caramba!!! Posta mais mais mais mais mais mais. Poxa vc me deixou curiosa agora, tadinha da Elie, ela é muito fraca e se deixa dominar por este imundo.... Estou pasma, posta mais na minha fic perfeição mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais =)

  • vverg Postado em 09/08/2014 - 17:08:49

    Quero maisssssssssssssss!!! Preciso mais desta fic perfeita!!! Posta sim??? Necessito ler.... =)

  • vverg Postado em 06/08/2014 - 10:33:43

    Dahlia tah ferradinha kkkkk. Posta mais! Necessito de mais rsrsrs *_*

  • vverg Postado em 02/08/2014 - 09:55:32

    Minha fic mais q perfeitaaaaa posta mais quero mais caps


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