Fanfics Brasil - Primeiro Ciclo - Capítulo XXVIII - Amaldiçoada Sete Demônios

Fanfic: Sete Demônios | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass


Capítulo: Primeiro Ciclo - Capítulo XXVIII - Amaldiçoada

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Após o último acontecimento no templo das Filhas das Trevas, Christian Madden fora convocado para comparecer à sala de Bartholomew. O homem demonstrara-se completamente sério, decidido. Madden logo quis saber do que se tratava. Sem hesitar, o idoso sentou-se à sua mesa e olhou-o com severidade, dando suas devidas explicações.


– Sua pressão espiritual tem aumentado, Christian.


– Tenho notado certa mudança, de fato. – ele enfiou ambas as mãos nos bolsos do sobretudo e relaxou em sua cadeira, soltando um suspiro.


– Parece que algo mais tem atormentado sua cabeça... – analisou Bartholomew. – Annora Grant?


– Dahlia já lhe colocou a par de minha vida pessoal?


– Não. – respondeu, repelindo o sarcasmo do rapaz. – Mas sempre busco saber mais a respeito do que me interessa.


Sem responder, Christian ergueu uma sobrancelha. Bartholomew continuou falando:


– Deve estar se perguntando o motivo de tê-lo chamado aqui. – o exorcista assentiu. – Eu tenho um trabalho para si.


– Você não é meu empregador, Barth.


– Não foi o que eu quis dizer. – explicou o superior. Ele pendia a cabeça ora para um lado, ora para o outro, muito pensativo. – Estou designando você para a grande missão desta noite.


Uma expressão inquisitiva estampava os olhos escuros do mais jovem.


– De que missão está falando?


– Confio em sua capacidade, Christian. É um verdadeiro servo de Deus. Sei que lutará em nome Dele até o último dia de sua vida. – Bartholomew abaixou o olhar, mas tornou a olhar para Madden rapidamente. – Nós atacaremos novamente esta noite.


– Por Deus! – exclamou Madden. – Será que não percebem que temos de mudar nossa tática? Todas essas tentativas têm sido executadas em vão. Braxton jamais permitirá que cheguemos perto da garota.


– Nós não chegaremos perto dela. Você o fará.


Os olhos do exorcista se abriram por completo e ele emitiu uma expressão surpresa.


– Mas... O q...


– Como eu disse, estou designando você para liderar o grupo que atacará esta noite. Dahlia poderá acompanhá-lo, certamente.


– Ela não gostará de saber que não liderará o grupo desta vez.


– Pois ela terá de lidar com isto. Algumas mudanças são necessárias.


– Que decisão arrebatadora. – comentou Christian em plena ironia. Parecia desinteressado. Talvez pela certeza de que falharia novamente. Ter se unido à Ordem não havia lhe acrescentado nada. Absolutamente nada.


– Eu falo sério.


– Também eu, Barth. Está me enviando para mais uma missão impossível.


– Onde está sua fé, filho?


Christian Madden abanou a cabeça.


– Isto não tem nada a ver com minha fé.


– Mas será que não vê? – Bartholomew entonou sua voz. – Você é o escolhido para impedir o fim dos tempos. Deus o escolheu entre milhares porque você é diferente dos outros.


Seguindo seu primeiro impulso, Christian soltou um riso breve muito mal contido. Em seguida, estudou o rosto do homem à sua frente, constatando que ele falava sério.


– Como pode ter tanta certeza?


– Porque conheço sua história. – respondeu o líder da Ordem. – Sei o que houve com sua mãe e acredito que Deus permitiu tal acontecimento para que você fosse guiado ao seu verdadeiro destino. – ele abriu os braços. – Este.


Madden respirou fundo, comprimindo um suspiro. Estava mais envolvido com aquele grupo do que desejava. Teve o pressentimento de que era tarde demais para negar-lhes apoio. Inclinou-se para frente, tirando as mãos dos bolsos.


– O que quer que eu faça?


Abrindo um sorriso, Bartholomew começou a explicar o plano a ser seguido, tal como o próximo passo a ser dado. Ele ambicionava sucesso naquela missão. E estava certo de que a teria.


–--


Naquela mesma noite, Vincent Hurst recebera a ilustre – porém inesperada – visita de outro líder de uma das divisões da Fraternidade. Com a mente refeita a respeito dos últimos acontecimentos na Sétima Divisão, Grigori Veskler tomara um avião particular de Moscou para Washington o mais rápido que pôde. Havia sido nomeado líder da Primeira Divisão há dez anos, muito enérgico e decidido.


Vestido de forma extremamente formal, ele fora recebido pelo próprio Vincent assim que chegara ao prédio da organização com seu veículo blindado, seguido de outros automóveis. O superior da Primeira Divisão, cujo pecado levado como símbolo em sua evolução era a ira, era um sujeito na casa dos cinquenta anos, cabelos marrons opacos e olhos verdes apáticos, um rosto vincado e uma única expressão visível: sisudez levada ao extremo.


Vincent Hurst – muito surpreso com a visita – encaminhou-o para sua sala improvisada, onde ambos sentaram-se à mesa de madeira posta no meio do cômodo. Pigarreando, Hurst fora o primeiro a quebrar o silêncio, começando a sentir-se mais incomodado do que curioso.


– A que devo a honra de ter sua presença neste lugar, Grigori?


Muito paciente, em um gesto breve, Veskler fez um sinal com a mão antes de responder.


– Por favor, poupe-me. – disse em um inglês penoso. – Quero lhe informar que estou a par dos eventos ocorridos neste recinto nos últimos dias.


– Certamente. Mas lhe asseguro que tenho tudo sob controle.


– Não é esta a impressão que causa, Vincent. – advertiu o sujeito. Vincent Hurst sentiu uma gota de suor deslizar por seu pescoço lentamente, o sinal mais óbvio de seu nervosismo. – Parece-me que essa... Essa garota a quem vocês acolheram... – ele esboçou uma fisionomia desdenhosa e arrogante. – Creio que ela tenha trazido alguns problemas, estou certo?


– Não. – assegurou Vincent com firmeza.


– Você conhece nossas regras, Vincent. Não há mulheres em nosso meio porque elas sempre trazem problemas.


– Aparentemente todos a têm aceitado muito bem. Não sei onde está querendo chegar com essa conversa.


Grigori Veskler colocou ambas as mãos sobre a mesa de madeira, fixando seus olhos acusadores nos de seu interlocutor.


– Desde que ela chegou a esta fraternidade, há problemas ocorrendo diariamente. Eu ouvi relatos a respeito de ataques contra seus homens todos os dias.


– Desculpe-me. – Hurst franziu a testa. – Se veio até aqui para tentar me fazer desistir da garota, eu sinto lhe informar que perde seu tempo. – ele assistiu a surpresa atingir a expressão do homem, mas não parou. – Eu acredito em Ellie. Quero fazer parte de seu progresso, quero auxiliá-la no que puder. Pois no dia em que ela se tornar aquilo que todos nós esperamos... Acredite, eu não quero que ela me tenha como um inimigo.


O russo ajeitou-se em seu assento, claramente perturbado, desviando seus olhos para outra direção.


– Ela está dando sinais de que trará consigo uma avalanche de problemas.


– Estou disposto a correr o risco.


– Pois saiba que está colocando toda a Fraternidade em risco se pensa de tal forma.


– A Fraternidade não depende apenas de sua opinião, Grigori. Aliás, Ellie é parte de minha divisão. Ela é um problema meu, não seu. – emitiu um sorriso simpático que pareceu sarcástico aos olhos de Veskler. – Agora... Volte para casa, para sua cama quente, e deixe-me cuidar daquilo que diz respeito à minhaorganização.


Sem conter sua revolta ao ser tratado de forma tão indiferente, Grigori colocou-se de pé, levantando-se bruscamente. Olhou Vincent nos olhos e apontou-lhe um dedo.


– Farei com que a expulsem antes que seja tarde para todos nós.


– Se for um homem sensato, e acredito que seja, fará o que acabo de sugerir. – disse-lhe Hurst, o sorriso ainda estava presente em seu rosto amistoso. – Não meta-se com o que não sabe lidar.


Bufando, Grigori Veskler deixou a sala, batendo a porta. Rumou de volta, entrando em sua limousine.


Vincent sequer deu-se ao trabalho de acompanhá-lo até a saída do prédio. Manteve-se calmamente calado em sua sala, sem levar em consideração a ameaça que acabara de ouvir. Batidas à sua porta fizeram-no esquecer-se de seus devaneios, trazendo-o de volta à realidade.


– Entre. – anunciou de prontidão.


James Braxton colocou-se para dentro da sala, empurrando a porta.


– Ocupado?


– Menos do que aparento. – Vincent sorriu. – Sente-se.


Braxton aproximou-se, puxando a cadeira na qual se sentou ansiosamente. Antes que ele pudesse se pronunciar, seu superior interveio com rapidez:


– Deve estar curioso, eu suponho.


– O que Grigori Veskler fazia aqui? – James perguntou em tom comedido.


– Estou tão surpreso quanto você. – suspirou o homem. – Mas acalme-se. Nada de importante ou sério demais ocorreu durante nossa conversa. Convém que nos esqueçamos dele por enquanto.


James deu de ombros, indiferente.


– Como se sente? – a pergunta de Vincent soou no ar como um som inesperado. James arqueou as sobrancelhas.


– Por que pergunta?


– Bem, acaba de perder uma velha amiga. Assistiu sua morte como se fosse um espetáculo.


– E foi. – afirmou Braxton. – Lilith agiu irracionalmente ao pensar que... Eu realmente não sei que diabos ela tinha em mente quando entrou em contato com aqueles fanáticos. Morta ou viva, ela não me faria diferença.


– Estou certo de que ela não pensava desta forma.


– E o que isso importa? Já não temos de nos preocupar com ela. Está feito. – um sorriso sádico surgiu em seus lábios. – Um ato executado à minha altura.


Vincent Hurst respirou fundo, tentando conter o tumulto em sua mente.


– James, sei que está orgulhoso de Ellie, mas eu tenho notado que...


– Que ela tem agido maravilhosamente bem. Claro. Você ao menos prestou atenção no que ela fez esta noite? Torturando e degradando um inimigo?


– Eu tenho estudado o progresso dela nestes últimos dias. – ele abriu a primeira gaveta de sua mesa, vasculhando em busca de algo. Tomou posse de alguns papéis nos quais havia anotações aleatórias, e colocou-os sobre a mesa. – Há algo se manifestando juntamente com a pressão espiritual que ela traz consigo mesma.


– Aprecio conversas claras e diretas. – disse James em seu sarcasmo usual.


– A criança que ela carrega no ventre. – Hurst apontou para uma figura em um dos papéis. – Não está inclusa na profecia final, mas traz consigo algo grandiosamente poderoso.


Braxton não tocou em nenhum dos papéis, limitando-se a abaixar os olhos para observá-los. Bastou tal gesto para que ele chegasse à uma conclusão.


– O bebê a está fortalecendo.


– Não é apenas isto. – Vincent explicou. – A gravidez despertou nela o instinto naturalmente maternal. O quer dizer que... Ela acredita que tudo ao seu redor representa um perigo ao seu filho. – ele falava com firme convicção. – E, sem hesitar, matará qualquer um que tentar atacar.


A indiferença desapareceu subitamente da expressão de James e ele pareceu um tanto interessado na conversa.


– Disse que a criança não está na profecia.


– No ponto de vista dos membros da Ordem, sim, há um bebê. Eles o chamam de Opositor. O Anticristo. – Vincent passou a cobrir a mesa com suas notas e esboços de figuras desenhadas nos papéis.


– É uma teoria ridícula. Perdoe-me, Vincent, mas realmente é. – James Braxton riu nervosamente. – O Anticristo é a semente do diabo. No entanto, eu não...


– Bem, não se esqueça de como o chamam dentro desta organização. – Hurst viu Braxton franzir o cenho. – Lembre-se também de seu papel nesta vida, James.


– Qual é a sua teoria para o futuro? – inquiriu o segundo.


– O Opositor será um homem poderoso. Não sei, talvez um político, um homem de muitas posses...


– Não há nada disso nos malditos livros que li a respeito da profecia que envolve nosso propósito.


Vincent encolheu os ombros.


– De fato. Todos os antigos membros desta Fraternidade falaram a respeito daquela que governaria sobre a Terra, mas não há anotação alguma que se refira ao Opositor.


James levou longos e silenciosos minutos para colocar ordem em seus pensamentos tempestuosos. Quando retornou à realidade, ergueu o rosto para Vincent. Os olhos estavam muito abertos, a expressão de preocupação que Vincent Hurst jamais vira no rosto dele antes foi uma surpresa quase tão grande quanto a visita inesperada de Grigori Veskler.


– A criança não fará parte da profecia. – concluiu Braxton. – Eles querem matá-lo.


– Do que está fal...


– Eles tencionam matá-lo, assim ele não fará parte dos planos futuros. – ele levantou-se em um salto brusco. – Querem assassinar meu filho, Vincent.


Vendo-o em tal estado, o líder da Sétima Divisão mal pôde reconhecer o homem à sua frente. A apatia e arrogância haviam desaparecido uma vez que ele chegara àquela conclusão, dando lugar a uma angustiante preocupação nunca emitida por ele antes.


James começou a se afastar, retirando-se da sala, mas a voz de Vincent o deteve à porta.


– Para onde está indo?


– Para casa. – respondeu. – Terão de matar-me antes de tocar em minha esposa ou em meu filho.


Hurst desistiu de tentar fazê-lo manter a calma. Seria inútil a sua tentativa. Ele assistiu James Braxton deixar sua sala em passos apressados. Temia pelas atitudes que possivelmente seriam tomadas a seguir, muito embora Vincent concordasse com a plausível conclusão à qual ele chegara.


–--


Fora Michael Graber – como de costume – quem levara Ellie para casa assim que eles todos tiveram a certeza de que a alma de Lilith esvaíra-se de sua matéria.


Ao regressar à sua casa, Ellie adiantara-se para debaixo do chuveiro onde se recompôs de toda a frustração que sofrera naquele dia. Seu ato seguinte fora o de afundar-se em seus cobertores, deitando-se confortavelmente em sua cama vazia. Tentou se manter acordada, pois queria esperar por James e fazer perguntas, mas o cansaço prevaleceu e derrotou seu esforço, fazendo-a cair no sono rapidamente.


Em algum lugar e seu subconsciente, Ellie pôde ouvir a voz agoniada de Lilith ecoando longe.


Eu a amaldiçoo, Eleonora... Sete vezes eu a amaldiçoo...


Ela agora ouvia a voz proferir as mesmas palavras repetidas vezes, cada vez mais alto, cada vez mais próximo.


Quando os ecos sussurrados tornaram-se gritos de desespero e ódio, Ellie descobriu-se no meio de total escuridão. Nada podia ver, mas a voz enfurecida e aterradora de Lilith ainda podia ser ouvida, dando a impressão de que ela estava ali, presente no mesmo local. Virando-se na direção do som, Ellie se deparou com o rosto desfigurado da bruxa. O grito horrorizado que escapou dela causou uma ensurdecedora agonia que percorreu todo o corpo da garota. Ela sentiu que algo estava sendo extraído de seu interior, e então... Ela despertou.


De um salto, encontrava-se sentada em sua cama. Abriu os olhos. Alena tinha as duas mãos sobre seus ombros, chacoalhando-a desesperadamente, sentada à beira da cama.


– Ellie, responda!


Ela ficou totalmente desperta. Esfregou os olhos, respirando pesadamente. Alena tirou as mãos dela.


– O-o que houve?


– Eu a ouvi gritando. Acho que teve um pesadelo.


– Desculpe. Não tencionava acordá-la. – Ellie olhou ao redor. – Que horas são?


– Onze. – declarou a menina, consultando o relógio colocado sobre o criado-mudo à frente.


– James ainda não...


– Acredito que tenha acabado de chegar, eu ouvi os portões lá embaixo.


Imediatamente, Ellie sentiu-se aliviada e os nebulosos pensamentos em sua cabeça cessaram. Em poucos minutos, uma terceira presença pôde ser sentida no ambiente. Encostado ao batente da porta com ar distante, James Braxton parecia observar o nada. Ao notar sua presença, Ellie levantou-se. Alena os deixou a sós, passando pela mesma porta. Certificando-se de que sua irmã havia se afastado, James fechou a porta e aproximou-se de Ellie lutando para conter a preocupação que insistia em dominar suas emoções.


– Como está? – indagou. Ellie sorriu levemente.


– Sinto-me bem. – respondeu, esquecendo-se de seu pesadelo. – Desculpe se exagerei no que houve hoje à noite.


– Esteve perfeita. Não há motivo algum para se desculpar.


Ela sentou-se na cama e ele a acompanhou, tomou-lhe uma das mãos e olhou para ela ternamente.


– Violette e Scarlett não passarão a noite aqui. Sugeri que procurassem um hotel. Pegarão suas coisas e deixarão esta casa amanhã mesmo.


– Entendo. – ela assentiu.


– Estão envergonhadas pelas atitudes finais da irmã. Certamente elas não tinham as mesmas intenções, mas nunca se sabe.


– Esteve conversando com Vincent?


– Sim. – ele disse. – A respeito de nosso filho.


Ellie olhou-o com inquisição.


– Há algo errado?


– Não exatamente. Lembra-se do que a mulher que acompanha o exorcista disse-lhe? Refiro-me a uma das vezes em que nos atacaram.


– Disse que eu trarei ao mundo o Opositor. – recordou-se ela. – Lilith disse-me algo a esse respeito. Eles acreditam que darei à luz ao Anticristo.


– Cujo futuro será brilhante. Dizem que o Opositor será um homem de sucesso.


Ela abaixou os olhos, sentindo mil pensamentos circularem por sua mente ao mesmo tempo em que ela tentava interpretar as afirmações da forma correta.


– Então será um menino.


– Possivelmente. – James confirmou. A ideia pareceu agradá-lo. – Vincent disse que a criança traz algo poderoso consigo.


– Lilith tinha razão. – observou Ellie. – Ele se tornará um homem de poder. Um grande ícone para o mundo.


Braxton ficou em silêncio, analisando a última conversa que tivera com Vincent Hurst. O temor de que o objetivo da Ordem de eliminar a criança fosse alcançado o deixava nervosamente atônito. Sua voz soou estranhamente baixa quando perguntou:


– O que você acha?


Ellie abriu um meio-sorriso e arqueou uma sobrancelha, fitando-o com uma expressão quase debochada.


– Que devíamos chamá-lo Damien.


James riu alto, desacreditando no modo indiferente com o qual Ellie estava lidando com os últimos eventos.


– Lady Braxton é uma mulher sarcástica.


Ela conteve o próprio riso, mordendo o lábio inferior suavemente.


– Aprendi com o mestre.


Calmamente, James puxou-a contra si, afagando seus cabelos. Ela cerrou os olhos, entregue à segurança e aconchego que os braços dele lhe ofereciam.


– Gosto de tê-lo por perto.


Chegava a ser uma situação terrivelmente contraditória. Há mais de um mês atrás ela tinha mil e um planos mirabolantes para escapar dele, e, no entanto, agora sentia-se grata por tê-lo ao seu lado. Passara a compartilhar com ele mais do que apenas uma cama quente e confortável à noite.


Apertando-a contra seu corpo, James teve vontade de zombar de si mesmo. Embora julgasse sua situação em relação ao que sentia por ela ridiculamente boba, receava pela forma com a qual os outros tentariam algo contra ela.


– Quero levá-la à Oxfordshire.


Ela afastou-se dele, surpreendida pela decisão aparentemente já tomada.


– Por quê?


– Porque precisa se afastar deste lugar. Correrá grande risco se continuar aqui.


– Há riscos por toda parte. – alegou ela, porém não fez qualquer objeção a respeito. – Mas aprovo a ideia de viajar. Seria no mínimo agradável.


Ele sorriu, lembrando-se de algo.


– Tenho a certeza de que gostaria da propriedade que se manteve em minha família por muitos anos. – as lembranças afloravam sua mente, ainda que não tivesse sido uma época boa em sua vida. – Há um jardim ainda maior que este e um lago próximo dele. Mas podemos reformá-la da maneira que achar melhor.


Ellie animou-se com os planos. Desde a morte da mãe, nunca mais deixara o país, sequer o estado. Vendo-a reagir de tal forma, James indagou:


– Gosta da ideia?


– Muito. – afirmou, entusiasmada. – Marina fala-me sobre a Inglaterra constantemente.


– Poderá tirar suas conclusões pessoalmente, Condessa de Abingdon.


Espontaneamente, ainda sorrindo, ela aninhou-se contra ele e James sentiu-se instantaneamente aliviado por ela ter concordado em deixar o país por momentos.


Mais tarde, dormindo profundamente, Ellie não teve o mesmo pesadelo. Contudo, súbitos sons vindos da entrada da propriedade a fizeram despertar. Sentou-se na cama, acordada e confusa.


Sentindo a agitação ao seu lado da cama, James também acordou.


– O que está havendo? – perguntou, sentando-se ao lado de Ellie.


Ela virou-se para respondê-lo, mas a porta do quarto foi inesperadamente aberta por um dos seguranças, a expressão desesperadora em seu rosto causou o imediato espanto de ambos.


– Estamos sendo atacados! – informou.


Instintivamente, James virou-se para a mesa-de-cabeceira ao seu lado e abriu a gaveta. Arrancou dela um revólver e começou a se levantar.


– O q... – a pergunta de Ellie morreu no ar, sufocada pela tensão.


– Fique aqui. – ordenou ele. Seguiu o segurança para fora do quarto, fechando a porta do lado de fora.


Automóveis brancos espalhavam-se rapidamente aos arredores da propriedade pertencente à James. Deles, homens de aparência séria retiravam-se aos montes, atravessando os portões abertos. Com armas prateadas empunhadas, eles avançavam desenfreadamente para dentro da mansão. Desperta pelo barulho da confusão, Marina correu para o corredor principal do segundo andar. Colocou-se em frente à uma janela, da qual pôde avistar o grupo invadindo a propriedade. Reconhecendo o rosto daquele que aparentemente liderava a ação, ela encaminhou-se para as escadas, descendo apressadamente.


Christian Madden guiou seu grupo em uma linha reta até a entrada da mansão. Viu uma figura passar pela grande porta principal e freou seus passos. O mesmo fizeram os homens que o seguiam. Ao seu lado, Dahlia respirava pesadamente, contendo seu nervosismo.


Saindo da casa, segurando nas mãos a ponta de duas coleiras, James Braxton conduziu seus dois cães de guarda até aqueles que invadiam sua propriedade. Parou diante deles, à alguns metros de distância. Os dois rottweilers arfavam, direcionando olhares ferozes aos homens à sua frente.


– Ultrapassou todos os limites, exorcista. – asseverou Braxton. Seu tom era despreocupado, como se não se sentisse intimidado com a presença deles. – Esta éminha casa e você não foi convidado.


– Estou certo de que fui. – respondeu Madden, sarcástico. Enfiou uma das mãos no interior de seu sobretudo, puxando um crucifixo dourado para fora. – E aqui está meu convite.


James inclinou a cabeça para um lado, lançando para ele um olhar cético.


– Como passou pelos portões?


– Nem toda a obra do diabo o manteria a salvo em seu recinto. – agora era Dahlia quem tomava voz. – Nossas orações quebrarão qualquer uma de suas armadilhas.


– Não se eu quebrar-lhes o pescoço antes.


– Eu vou lhe dar uma última chance de sair ileso desta vez. – falou Christian.


– Faz-me rir. – James esboçou uma risada falsamente espontânea.


– Entregue a maldita garota.


– Agora tenho a certeza de que vocês todos são malucos. De onde tiraram a ideia de que eu me daria por vencido assim, tão facilmente?


Dahlia virou-se para Madden.


– Estamos perdendo nosso tempo.


– Não mais. – ele esticou a cruz na direção do proprietário da casa. – Que a força do Senhor espante toda manifestação do diabo que meter-se em meu caminho esta noite.


Uma luz foi emitida pelo objeto dourado, clara como raios solares, deixando o provável oponente à frente deles momentaneamente cego.


Dahlia aproximou-se de James uma vez que certificou-se de que ele estava vulnerável e jogou-lhe um líquido gelado no rosto.


A ardência causada pela substância incolor fez com que ele reagisse violentamente, esbofeteando-a com força. Dahlia quase foi ao chão.


Os cães parados aos dois lados do dono começaram a rosnar, deixando espessas quantidades de saliva escorrer entre suas presas, prontos para atacar. Ela recuou, receosa.


Tomado pela raiva, com o rosto entre as mãos, James Braxton deu ordens para que os cães atacassem.


Ambos correram em alta velocidade na direção dos homens da Ordem, mordendo-os, estraçalhando seus corpos em questão de segundos.


Aturdida com toda aquela comoção, Dahlia contra-atacou:


– Per eumdem Christum Dominum nostrum, qui venturus est judicare vivos et mortuos, et saeculum per igne!


As nuvens no céu escuro da noite pareciam rodopiar ao redor dela, lançando raios não muito distantes dali que faziam tremer todo o chão. Uma tempestade parecia estar se aproximando propositalmente.


A inexplicável luz que emanou dos céus avançou para Braxton, jogando-o para trás.


Dahlia olhou para os lados. Sangue jorrava dos ferimentos abertos na garganta de seus companheiros atacados pelos cães que agora mais pareciam feras infernais. Procurou por Christian com os olhos, mas ele já não se encontrava ali. Os olhos tornaram a fixar para frente. James Braxton encontrava-se em pé, avançando para ela. O rosto aberto em feridas pelo contato com água benta. Seus olhos azuis-escuros tornaram-se negros como o céu acima, no aviso de sua fúria demoníaca. Dahlia estremeceu diante do olhar dele.


– “Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo...”


– “E nada, absolutamente, vos causará dano.” – completou ele em seu tom de voz taciturno e perverso. Soltou uma gargalhada com os dentes escancarados.


Dahlia sentiu algo lhe tocar os pés. Olhou para baixo. Um ninho de serpentes parecia ter surgido debaixo dela, enlaçando seus tornozelos. Ela rapidamente chutou-as para longe, recuando dois passos.


A forte ventania ao redor deles agora assemelhava-se à prévia de um tornado. As árvores do jardim que agora lhes serviam como campo de batalha inclinavam-se ao serem cruelmente fustigadas pelos ventos.


– Afaste-se de mim, maligno! – disse ela em uma ordem. – Aquele que o domina é quem ordenou que caísse do mais alto céu rumo às profundezas do Inferno.


– Saia de minha casa, prostituta. – o que tomara posse daquele corpo soou autoritário.


– Não tomarei para mim suas ordens.


– Oh, sim, você o fará. – um sorriso surgiu em seu rosto. Ele soltou outra gargalhada, alta e provocadora. – Me obedecerá, pois sua alma foi entregue a mim há muito tempo.


– Cale-se, demônio! – interveio ela. – Não darei ouvido às suas mentiras.


– Olhe à sua volta, Dahlia. – a voz estava embargada de malícia e perversidade, muito persuasiva, inebriante como álcool. – Somos só você e eu. Não há nenhum deus para resgatar sua alma do Inferno.


– Eu mandei – ela retirou do bolso do casaco uma pistola prateada. – Se calar!


Os olhos à sua frente abriram-se por completo e o sorriso debochado desapareceu. Ela colocou-o na mira, segurando a arma com firmeza.


– Serpentes antigas, eu as mandarei de volta ao Inferno! – apertou o gatilho sem qualquer hesitação, vendo a bala penetrar um dos ombros dele, rasgando sua pele.


O efeito causado pela munição abençoada tomou proporções maiores do que uma bala comum tomaria. Braxton caiu ao chão, contorcendo-se freneticamente.


Dahlia se aproximou, sem deixar de tirá-lo da mira de sua pistola. Pronta para emitir o disparo final, ela declarou:


– Omnis spiritus immunde, in nomine Dei Patris omnipotentis, et in noimine Jesu... – súbita e bruscamente ela foi puxada para trás. Algo agarrara seu braço direito, fazendo-a derrubar a arma.


Com os dentes cravados em seu braço, um dos cães afastara-a de seu alvo. Dahlia lutou insanamente contra ele, tentando se desvencilhar das presas fincadas em sua carne. Sangue escorria, quente e frio ao mesmo tempo, manchando todo o seu corpo e roupas enquanto ela encontrava-se no chão.


Ela gritava e tentava – em vão – livrar-se do animal. Alguns dos homens restantes tentaram se aproximar para ajudá-la, mas estes foram atacados pelos seguranças – criaturas que adquiriram um aspecto demoníaco, presas e asas negras pareciam ter nascido neles –, todo o espetáculo era aterrorizante.


Dentro da casa, Christian Madden andava às pressas por todos os cômodos enquanto a tempestade tomava conta do ambiente exterior, causado total terror nos empregados. Subindo as escadas visando cumprir com sua missão, Christian foi detido pela figura que colocara-se diante dele. Ele a reconheceu imediatamente.


– Afaste-se. – ordenou, pacientemente.


– Não a leve daqui. – Marina praticamente suplicou. Não queria ter de esforçar-se muito para impedi-lo. – Vá embora.


– Afaste-se ou terei de fazer algo que não quero.


– Não ouça o que eles dizem. Estão enganados. Não conseguirão impedir o Apocalipse. – a bruxa pareceu-lhe extremamente desesperada em convencê-lo. – Se matar a garota, eles encontrarão outra substituta e talvez esta não tenha boas intenções.


– De boas intenções o Inferno está cheio, não? – ele avançou seus passos. – Saia.


– Não. – declarou, desafiadora.


Marina ergueu o rosto para ele, poucos centímetros distante do olhar desaprovador que ele lançava em sua direção. Sentiu sua respiração quente bater contra seu rosto, causando-lhe um intenso calafrio.


– Está condenando a si própria ao Inferno, jovem bruxa. – ele disse, seguro de suas palavras.


– Pois creio que não sou a única.


– Eu não quero machucá-la. – advertiu sem interromper a extrema proximidade entre eles.


– Retire-se desta casa.


– Saia da minha frente.


– Terá de passar por mim caso tencione chegar até ela.


Christian bufou, discretamente retirou uma pequena seringa do bolso do sobretudo. Rapidamente, aproximou-se da bruxa novamente, fincando a seringa em seu pescoço. Ela estremeceu quando ele injetou em seu corpo o líquido contido na seringa. Christian sentiu o corpo dela relaxar e apoiou-a inconsciente nos braços.


– Sinto muito. – sussurrou.


Deitou-a no chão com cuidado e começou a subir as escadas.


Do lado de fora da casa, no meio do jardim cuja parte da grama encontrava-se embebida em sangue e água da chuva que desabava dos céus juntamente com o vento forte que castigava os corpos espalhados pelo chão, Dahlia ainda lutava freneticamente contra o cão que a atacava.


Com a mão livre, retirou um pequeno crucifixo de madeira do bolso de seu casaco manchado de sangue e colou-o contra a pele do animal, que finalmente tirou os dentes de seu braço.


Ele ganiu, afastando-se dela em agonia. Ela assustou-se ao se deparar com a ferida aberta em seu braço.


Com dificuldades, colocou-se de pé. Levantando seu rosto, descobriu-se perante o severo e furioso olhar de James Braxton. Milagrosamente, a ferida no ombro dele parecia ter desaparecido, tal como os cortes em seu rosto.


– Pegue seus homens e retire-se imediatamente, meretriz! – ele ordenou.


Estava parado em pé à sua frente. Os ventos reuniram-se todos ao redor dele, o forte cheiro de enxofre que parecia exalar de seu corpo passou a queimar as vias respiratórias da mulher a cada segundo.


Ela correu com os olhos por todos os lados. Seus companheiros – em sua maioria – encontravam-se sem vida, com a garganta aberta e os olhos esbugalhados em uma única expressão angustiada.


Virou-se de costas e começou a se afastar, cambaleando pelo caminho. Alcançou um dos automóveis brancos no qual viera. James viu-a entrar no veículo, dando a partida. O restante dos seus fez o mesmo, e, aos poucos, a tensão do ambiente diminuiu. Os carros desapareceram no meio da tempestade.


James Braxton sentiu que algo se esvaía dele. Finalmente era ele próprio quem tinha controle sob seu corpo e mente. Regressou à casa, vendo-a em completo desalinho.


Ao encontrar Marina desacordada próxima às escadas, ele adiantou-se em subi-las, seguindo para seu quarto. A porta estava aberta. Adentrou o cômodo com pressa, olhando para todos os lados. Estava vazio.


Uma segunda pessoa surgiu por detrás dele. Ao se virar, constatou que tratava-se de sua irmã caçula. Dora, a governanta, encontrava-se logo atrás dela.


– Onde está Ellie? – a menina fez a mesma pergunta que Braxton certamente faria.


Bufando, James respondeu:


– Levaram-na.


–--


Christian Madden conseguira retirar Ellie da propriedade deforma totalmente imperceptível. Seu ato fora encoberto por toda a confusão que ocorria no local. Fizera com ela o mesmo que fizera à Marina. Ele a encontrara na suíte principal, muito assustada. Antes que ela pudesse agir, ele a deixou inconsciente com apenas um injetar da seringa com o tranquilizante.


Carregou-a inconsciente até um dos automóveis e partiu rumo à igreja mais próxima. Ao deparar-se com uma, freou o carro bruscamente.


Tomou a garota desacordada nos braços, colocando-a sobre os ombros e entrou na igreja, abrindo as portas com força. Ele carregou-a até o altar, onde depositou seu corpo frágil e vulnerável.


Estava na hora de preparar-se para o ato final.


Retirou do sobretudo um par de algemas abençoadas por Bartholomew e colocou-as nos pulsos de Ellie, ainda inconsciente. Isto fez com que ele tivesse a certeza de que ela não teria como reagir ou escapar, quebrando o ritual.


Além disto, ele estava em uma corrida contra o tempo. Logicamente Braxton já estava atrás da esposa. Precisava agir com rapidez.


Quando concluiu que tudo estava pronto, viu Ellie despertar. Ela abriu os olhos lentamente e, ao notar o que estava havendo, assustou-se como se uma descarga elétrica caísse sobre sua cabeça.


– Não, por favor! – implorou aos gritos. Estava presa à uma espécie de cama de madeira no altar, as mãos estavam algemadas e os pés amarrados. Sentia-se imóvel.


– Cale-se. – ele ordenou. Tinha uma Bíblia em mãos e encontrava-se ajoelhado perante o altar, próximo a ela. – “Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo, pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais”.


Ellie começou a suplicar por ajuda, gritando o mais alto que seus pulmões permitiam. A angústia a sufocava de modo violento. Sem escutá-la, Christian Madden prosseguia recitando suas preces. De repente, sua voz tornara-se mais intensa e elevada, ele parecia entusiasmado. Aproximou-se dela, inclinando-se sobre seu corpo. Fez o sinal da cruz em frente ao próprio rosto.


– Ergo, draco maledicte et omnis legio diabolica, adjuramus te per Deum vivum, per Deum verum, per Deum sanctum, per Deum qui sic dilexit mundum.


Ellie cessou seus gritos quando sentiu que havia algo de errado com ela. Fortes pontadas em seu ventre causaram nela uma dor ainda maior que seu desespero. Sentiu um liquido quente escorrer de seu interior.


– Por favor! – suplicou. – Ajude-me!


Madden não interrompeu seu ritual, ignorando-a.


– Non ultra audeas, serpens callidissime, decipere humanum genus, Dei Ecclesiam persequi, ac Dei electos excutere et cribrare sicut triticum.


As dores aumentaram, tomando proporções fora do comum. Não suportando mais as fortes pontadas contra seu corpo, Ellie soltou um grito animal que fez tremer toda a igreja. Christian parou de falar, arregalando os olhos. Viu-a sangrar incontrolavelmente sobre o altar.


– Que diabos...? – olhou-a com espanto.


– Meu filho... – a voz dela não passava de um mero sussurro enfraquecido. – Por favor...


E Madden pensou consigo: não posso desistir agora.


Tentou prosseguir com o ritual, tomando em mãos duas adagas prateadas, mas a poça de sangue debaixo do corpo da garota aumentava conforme o tempo seguia-se.


– Oh, meu Deus! – ele exclamou. A Bíblia caiu de suas mãos.


– Eu imploro, ajude-me... – lágrimas escorriam de seus olhos no maior sinal de uma busca por misericórdia. – Não deixe meu filho morrer.


Fortes batidas contra as portas da igreja soaram como trovões. Já não havia tempo. Christian teve de resolver-se o mais rápido possível. Ainda tinha as duas adagas em mãos. Suspendeu uma no ar, mantendo o local do coração da garota na mira. Vendo-o executar tal ato, ela se desesperou por completo.


– Não! Por favor! – implorava em sua agonia.


O objeto tremia na mão dele. Seus olhos estavam estreitos, gotas de suor banhavam-lhe o rosto.


– Não deixe-o morrer. – ela choramingou.


– Esta criança será a maldição de toda a Terra. Não haja como se importasse-se. Não há mais sentimentos em seu coração corrompido pelos pecados da carne. – disse em tom acusador.


Destroçada pelos soluços, Ellie declarou:


– A dor de perder um filho é cruel como a dor de perder uma mãe.


A frase foi processada pelo cérebro dele em extrema velocidade. Um filme foi reproduzido diante de seus olhos, mergulhando-o de volta ao passado.


Tinha dez anos. A visão de sua mãe sendo morta repetia-se em modo infinito dentro de sua cabeça. A dor da solidão, do medo, da saudade. Todos mesclados em um só pesadelo.


A adaga prateada despencou de sua mão e ele suspirou profundamente, abaixando a cabeça.


As pancadas contra as portas da igreja trouxeram-no de volta à realidade.


Sem manifestar-se, Christian Madden afastou-se do corpo de Ellie. Observou-a em estado crítico. As portas não aguentariam por mais tempo. Sem hesitar, Madden resolveu-se. Olhou para a garota amarrada no altar e afirmou:


– Não terá a mesma sorte na próxima vez.


Ele virou-se e tomou um vaso de flores em mãos. Lançou-o contra uma das janelas de vidro que quebrou-se instantaneamente. Em seguida, ele aproximou-se do buraco na janela e atravessou-o, retirando-se da igreja discretamente.


As portas foram abertas, seguidas de um estrondoso som causado quando elas bateram contra as paredes. Acompanhado dos outros membros da Fraternidade, James correu em direção ao altar. Encontrando Ellie inconsciente e imóvel, ele praguejou:


– Maldição! – precipitou-se em livrá-la do que a mantinha presa ao móvel de madeira e tomou-lhe o pulso. Ela ainda vivia.


Aproximando-se deles, Joshua Wilder arregalou os olhos, surpreendido pela assustadora situação na qual a garota se encontrava.


Em menos de um minuto, era ele quem conduzia o veículo no qual estavam levando-a ao hospital. No banco traseiro do automóvel, James aninhava Ellie nos braços, e Joshua não soube como interpretar aquela rara e nunca vista antes reação da parte dele.


Quando chegaram ao hospital e Ellie fora levada à sala de emergências, James pedira a Joshua que retornasse ao prédio da Fraternidade com os outros. Relutante, ele acabou concordando.


Contendo sua angústia dominante, James recorria a qualquer um que surgisse nos corredores. Após uma série de exames feitos na paciente, o médico que a atendera saíra da sala com uma expressão melancólica. Dirigiu-se à Braxton em passos lentos.


– Lamento muito, senhor.


– Como ela está? – a voz parecia um murmúrio de agonia.


O médico suspirou, abaixando os olhos.


– Perdeu a criança.


Sem esboçar qualquer reação, James Braxton deixou-se cair na cadeira atrás dele. Passou as mãos pelos cabelos, ofegante. Desorientado, ele ficou ali, com a cabeça rodando.


Quando finalmente conseguiu falar, indagou:


– Ela já sabe?


– Sim. – o homem respondeu. – Está histérica. Demos a ela um calmante.


–--


Sob os efeitos do calmante, Ellie sentia-se fraca e confusa em sua cama de hospital. Acabara caindo em um sono involuntário. Contudo, não encontrara repouse em seu sono. Na realidade, descobrira-se ainda mais angustiada quando a voz sufocada de Lilith tornou a invadir sua mente.


Sete vezes eu a amaldiçoo...


Depois do último lamentável acontecimento, Ellie passou a acreditar que a bruxa falara sério.


–--


* Per eumdem Christum Dominum nostrum, qui venturus est judicare vivos et mortuos, et saeculum per igne! - Pelo mesmo Cristo, nosso Senhor, que virá para julgar os vivos e os mortos, e o mundo pelo fogo!



* Omnis spiritus immunde, in nomine Dei Patris omnipotentis, et in noimine Jesu... - De todo espírito imundo, em nome de Deus Pai Todo-Poderoso, em nome de Jesus...



* Ergo, draco maledicte et omnis legio diabolica, adjuramus te per Deum vivum, per Deum verum, per Deum sanctum, per Deum qui sic dilexit mundum. - Portanto, dragão amaldiçoado e toda legião diabólica, nós vos suplicamos pelo Deus vivo, pelo verdadeiro Deus, pelo Deus santo, pelo Deus que amou o mundo.



* Non ultra audeas, serpens callidissime, decipere humanum genus, Dei Ecclesiam persequi, ac Dei electos excutere et cribrare sicut triticum. - Já não se atreve, astúcia da serpente, a enganar o gênero humano, perseguir a Igreja, atormentar aos eleitos por Deus e peneire-los como trigo.



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– Você tem ciência da gravidade de sua falta, Christian? – indagou Bartholomew, acusador. Os membros da Ordem estavam todos ao seu redor e o líder deles agora assemelhava-se a um juiz em pleno julgamento. Eles já haviam escolhido um réu para julgar: Christian Madden. Com os olhos apaticamente fixos em Bartholomew, Christian sabi ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 51



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  • shadowxcat Postado em 19/07/2016 - 16:24:44

    ESSA FANFIC ESTÁ SENDO REPOSTADA AQUI: http://fanfics.com.br/fanfic/54463/sete-demonios-romance-terror-horror-teen-amor -suspense-thriller-aventura-acao-vampiros-bruxas-demonios

  • raysantos Postado em 12/08/2015 - 20:10:35

    Sua fic e muito top e bem escrita tudo d bom tomara que logo logo a Ellie e James possam ficar juntos sem a essa fulana que eu nao aprendi a dizer muito menos escreve o nome no meio nada contra a crianca mais fazer oq ne continua

  • vverg Postado em 08/02/2015 - 23:19:37

    Olá, to lendo pelo spirit anime =)

  • vverg Postado em 08/02/2015 - 22:54:24

    Por favor!!! Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa mais!!! Okk, já sabes q amo de paixão esta web!!! To sentindo muita falta dela....please, preciso de mais caps!!!! Não me deixe na curiosidade por muito tempoooooo *_*

  • vverg Postado em 10/01/2015 - 01:47:30

    Desculpe meu sumisso!! Mas assim q der, comento qdo ler todos os caps =)

  • vverg Postado em 19/08/2014 - 23:57:43

    Poxa não judia tanto de sua leitora caramba!!! Minha fic perfeição, posta mais, preciso de mais.... Estou ficando agoniada sem suas atualizações Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa maissssssssssssssssssssssssssss nesta fic perfeitaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa amo sua fic, ok vc já sabe disso, mas não custa falar né hahahahahahahaha

  • vverg Postado em 12/08/2014 - 12:10:07

    Meu Deus! Que nojo deste Declan!!!! Cara##@%@#$#! Putz!!! Como ela se deixa dominar desta forma, caramba!!! Posta mais mais mais mais mais mais. Poxa vc me deixou curiosa agora, tadinha da Elie, ela é muito fraca e se deixa dominar por este imundo.... Estou pasma, posta mais na minha fic perfeição mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais =)

  • vverg Postado em 09/08/2014 - 17:08:49

    Quero maisssssssssssssss!!! Preciso mais desta fic perfeita!!! Posta sim??? Necessito ler.... =)

  • vverg Postado em 06/08/2014 - 10:33:43

    Dahlia tah ferradinha kkkkk. Posta mais! Necessito de mais rsrsrs *_*

  • vverg Postado em 02/08/2014 - 09:55:32

    Minha fic mais q perfeitaaaaa posta mais quero mais caps


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