Fanfics Brasil - Primeiro Ciclo - Capítulo XXX - Peça do Destino Sete Demônios

Fanfic: Sete Demônios | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass


Capítulo: Primeiro Ciclo - Capítulo XXX - Peça do Destino

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[A música tema do capítulo será anexada no momento em que deverá ser executada, okay? Okay.]


▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬


A cada passo, cada vez que seus saltos altos Prada tocavam o chão dos corredores do Holy Cross Hospital de Washington, os sons ocos ecoavam aos quatro cantos, deixando Ellie Braxton ainda mais ansiosa e agoniada do que quando recebera a notícia.


Finalmente encontrou-se com o irmão. Com a cabeça baixa, coberta por ambas as mãos, Declan parecia afundado em frustração. Ellie dirigiu-se a ele, nada hesitante.


– Declan, estou aqui. – disse.


Ele levantou os olhos para ela, inchados e vermelhos. Ela jamais o tinha visto em tal estado antes. Olhou-o com surpresa. De um salto, ele se levantou, colocando-se perante ela. Ellie não disse-lhe uma palavra sequer, não entendia como ele podia reagir de tal forma como se o acontecimento o afetasse mais do que a qualquer outra pessoa.


Ela recebera uma ligação do hospital naquela noite, anunciando que Katherina – sua madrasta – havia sido internada em grave estado após sofrer um acidente de automóvel. Katherina agora se encontrava desacordada, segundo o médico que a estava tratando naquele momento. Provavelmente não acordaria tão cedo. Não depois da grave lesão que sofrera no crânio. O acidente em si havia sido indescritivelmente trágico e nem mesmo os médicos conseguiam explicar como a mulher ainda encontrava-se com vida.


– É horrível, Ellie... – com os olhos verdes marejados, Declan sequer dava-se conta do quão ridículo parecia agora. – É mil vezes horrível...


– Sabe como aconteceu? – Ellie perguntou. Não demonstrara qualquer emoção em suas palavras. E por que deveria? Katherina fora a pessoa que menos se importara com ela e agora podia ver os fatos com clareza.


Declan emitiu um suspiro, abaixando os olhos.


– Estávamos ao telefone. Ela desligou e... Eu... Eu n... Não sei... – tornou a olhá-la nos olhos. – Eles não têm me dado boas expectativas...


– Lamento muito. – declarou a garota. – Talvez devesse voltar para casa. Está tarde. Os médicos cuidarão de tudo. Katherina estará em boas mãos.


– Não posso deixá-la! – exclamou entre soluços, gesticulando com as mãos. Ellie arregalou os olhos, indignada. Declan começou a deslizar para o chão, a mão entre o rosto banhado em lágrimas que não cessavam. Ellie tomou-o pelos ombros, forçando-o a se manter de pé.


– Mas que diabo de cena está fazendo? – ela indagou seriamente.


– Ela não p... Não pode morrer... Não...


– Declan, por favor. – Ellie mantinha-se séria, mas a surpresa a tomara de modo incontrolável. Nem mesmo quando o pai falecera ela vira o irmão reagir de tal forma. A suspeita atingiu-a logo em seguida, e, temendo a resposta que provavelmente arrancaria dele, ela fitou-o intensamente nos olhos avermelhados. – Por que está agindo assim? Por que se importa tanto com ela?


Os lábios dele tremiam e ele mal conseguia manter seu autocontrole. A voz saíra estremecida quando a respondeu:


– Porque eu a amo.


Ellie franziu as sobrancelhas, dominada por um misto de emoções nada positivas que arrebentara em seu interior como uma imensa onda. Como se aquilo não bastasse, ouviu o irmão mais velho prosseguir:


– Eu a amo e não posso abandoná-la.


– Declan... – ela murmurou, contendo a raiva que transitava por seu corpo naquele instante. – Há quanto tempo?


– Mas será que é ingênua ao ponto de nunca ter percebido? – ele elevou seu timbre, parecendo quase tão surpreso quanto ela. – Kat e eu... Nós nos amamos, Ellie... Nós... Sempre nos amamos.


– Não. Não acredito nisso. – Ellie abanou a cabeça. – Papai a amava, Declan.


– E você realmente acredita que ele era capaz de satisfazer uma mulher como ela?


Ela abriu a boca, mas nenhum som saiu de seus lábios. Mal conseguia processar o que o irmão lhe confessava. A voz finalmente saiu. Trêmula e envolta em desprezo:


– Como pôde? – disse ela. Os olhos estavam estreitos, um gesto de pura aversão e repulsa.


– É o tipo de coisa que não se controla. Você deveria saber. – afirmou Declan. – Agora, mais do que nunca, precisamos do dinheiro que papai nos deixou.


– O que?! – Ellie praticamente gritou de indignação.


– Não tenho o suficiente para pagar os gastos de Kat neste hospital. – ele suspirou. – Encontre uma forma de conseguir minha parte o mais rápido possível.


– Está louco! – ela riu, desacreditando.


Declan olhou-a, estupefato.


– Louco? Kat está morrendo e não posso pagar pelo tratamento dela! – respondeu, perdendo o resto de seu autocontrole. – Aquele dinheiro também é um direito meu e dela, mas você e aquele pilantra se negam a...


– É tudo por causa do maldito dinheiro, não é? – ela o interrompeu.


– Será que não entende? Kat morrerá se eu não puder pagar este hospital!


Olhando-o intensamente, com o ódio dançando em seus olhos de forma quase hipnotizante, sua voz soou mais como um sussurro arrebatadoramente intimidador, porém firme quando disse:


– Pois eu espero que ela apodreça no Inferno.


A primeira reação de Declan foi a de arregalar os olhos, sentindo o sangue se esvair de seu rosto molhado. Em seguida, levantou a mão, fazendo menção de esbofeteá-la. No entanto, Ellie fora mais rápida, segurando a mão dele com a sua, mantendo-a suspensa no ar com firmeza. Ela o fitava fixamente nos olhos, fungando como um animal revidando um ataque. Declan franziu o cenho.


– Toque-me uma vez mais e fará companhia à sua amante quando ela estiver a sete palmos abaixo da terra. – afirmou ela com convicção.


Declan livrou-se da mão dela com um rápido e brusco movimento. Ellie prosseguiu firmemente:


– Esqueça aquele dinheiro, porque sequer verá a cor dele.


Em seguida, virou-se e começou a se afastar. A voz do irmão fez com que seus passos cessassem:


– Está se afundando cada vez mais nisso.


Ellie sorriu para si mesma, um sorriso irônico e desdenhoso. Seguiu com seus passos até retirar-se do hospital. Em seu interior, desejava profundamente que nunca mais lhe fosse necessário tornar a ver Declan ou Katherina.


–--


Sentado à mesa com uma xícara de café fumegante e amargo em mãos, Christian Madden voltou à realidade, deixando seus pensamentos de lado quando ouviu que batiam à sua porta. Tomado pelo desânimo, levantou-se e seguiu até a porta. Ao abri-la, surpreendeu-se por encontrar Dahlia. A expressão no rosto dela era séria, insípida. Ele teve certeza de que ela não viera até ele por boas razões.


– O que quer aqui? – inquiriu.


– Precisamos conversar. – ela adentrou o quarto de hotel, passando por ele sem que ele permitisse. Parou diante dele, um olhar apático em seu rosto frio. Christian não deixara de notar que ela ainda tinha o braço enfaixado.


– Não consigo imaginar que tipo de assunto tem a tratar comigo. – ele cruzou os braços em frente ao peito após fechar a porta por dentro.


– Precisa rever sua decisão.


– Minha decisão já está tomada, Dahlia. E, de qualquer forma, eu fui expulso da Ordem, lembra-se?


– Christian... – disse o nome dele num suspiro. – Eu poderia falar com Bartholomew, eu...


– Não. – interrompeu. – A única coisa que quero de vocês é distância.


Ela abaixou o olhar, pensando a respeito.


– Está partindo?


– Da cidade? Não. Não ainda. – ele disse. Olhou ao redor. – Bem, já que está aqui, queira sentar-se.


Dahlia viu-o indicar o sofá ao seu lado. Sentou-se em silêncio. Madden sentou-se à sua frente e seguiu falando:


– Bartholomew ficaria furioso se soubesse que veio até mim. Ainda mais por uma causa perdida como esta.


– Não julgo esta uma causa perdida. – afirmou ela.


– Então o que quer de mim? – o exorcista inquiriu diretamente.


– Nós temos agido muito bem, Christian. Você e eu, nós somos uma equipe.


– Éramos. – corrigiu. – Até eu abrir meus olhos e voltar a ver com clareza.


– Talvez Barth tenha exagerado.


– Talvez todos vocês estejam obcecados. – Christian Madden colocou uma mão no bolso do sobretudo de onde tirou um maço de cigarros. Colocou um entre os lábios e com a outra mão apoderou-se de um isqueiro, acendendo o cigarro lentamente. Devolveu o maço no bolso e deu uma longa tragada. – A filha de Babilônia reinará por sete anos, que seja. Acha mesmo que eu ou você seremos capazes de impedir tal feito? Nem mesmo com mil exércitos, Dahlia.


– Pois eu tenho fé.


– Seja realista. O que faria se eu lhe dissesse que esta é a vontade de Deus? Seria capaz de contrariar um desejo Dele?


– Christian, o fim do mundo não é uma vontade de Deus.


– E como você sabe? – ele perguntou. – Dahlia, o Apocalipse é algo que nenhum de nós poderá impedir. Ele acontecerá. Está escrito e isso é tudo.


Ela não respondeu, certa de que tentar convencê-lo de seus propósitos era perda de tempo. Christian, no entanto, não limitou-se à poucas palavras.


– Por favor, termine de explicar-se.


Dahlia voltou a olhar para ele, procurando pelas palavras certas embaralhadas em sua cabeça.


– Juntos nós podemos fazer grandes mudanças. A Ordem precisa de você, Christian, mas não é apenas uma questão de necessidade. Eu sei... Eu... Eu sinto que você tem grande porcentagem de envolvimento neste futuro de quem todos nós falamos. Quero dizer... Se o Apocalipse acontecer ou não, sinto como se você fosse fazer parte dele.


– Não compreendo. – ele balançou a cabeça negativamente.


– Há algo em você. Sua pressão espiritual está em um nível muito mais elevado se comparado às de outras pessoas.


Madden pigarreou, desinteressado.


– Isso não altera muito a minha situação no momento.


– Deixe o orgulho de lado. – ela pediu. – Volte à Ordem. Nós conseguiremos impedir que pessoas boas sejam destruídas.


– Mas que contradição, não acha? – Christian emitiu um riso baixo. – Eu vi pessoas boas morrendo todos os dias desde que juntei-me à vocês. Seu objetivo está trazendo morte e nada mais do que isso. Aliás, – impôs firmeza em seu tom de voz. – Não há nenhum nós. Eu sempre trabalhei sozinho e é assim que tenciono continuar.


Dahlia calou-se por instantes, soltando apenas um suspiro de derrota.


– Tem certeza de que a decisão está permanentemente tomada?


– Tenho. – ele apagou o cigarro na mesinha ao lado do sofá.


Sem tornar a insistir, Dahlia colocou-se em pé. Christian fez o mesmo, acompanhando-a até a porta. Colocou a mão na maçaneta, pronto para abri-la. A ruiva colocou-se à sua frente, fitando-o prontamente nos olhos.


– Você fará falta nas seguintes missões impostas por Deus à Ordem. – lamentou-se ela. Pousou uma das mãos sobre o ombro dele. – Rezarei por sua alma, Christian, mas não espero que você sobreviva já que rebelou-se contra sua própria fé.


Christian Madden franziu os lábios, esforçando-se para não rolar os olhos e expulsá-la. Abriu a porta e indicou a saída com a mão. Abanando a cabeça, Dahlia fez menção de sair.


De repente, porém, algo a deteve.


Sentiu as células de seu corpo ardendo como se uma pequena chama transitasse por seu interior. Algo comprimia-se em seu crânio, causando-lhe uma terrível e incontrolável enxaqueca repentina. Havia algo dentro dela e algo que se esvaía ao mesmo tempo. Assim sendo, Dahlia não soube dizer como, mas, de alguma forma, perdeu todo o controle sobre si mesma.


Quando virou-se novamente para Christian, não era ela quem tinha posse sobre seu corpo. Era outra coisa. Outro alguém.


Vendo-a com os olhos inteiramente negros e um sorriso malicioso nos lábios, Madden recuou, surpreso. Levou uma mão discretamente para o interior de suas vestes enquanto mantinha-se atento aos movimentos da entidade à sua frente.


– Olá, Christian. – disse. A voz era perturbadora e grave. – Há quanto tempo.


–--


Violette e Scarlett tornaram a aparecer na mansão naquela mesma noite. Recusaram-se a entrar, obviamente, pois sentiam-se envergonhadas devido aos problemas causados pela irmã mais velha. Os empregados trataram de trazer-lhes seus pertences enquanto elas esperavam do lado de fora da propriedade, encostadas à limousine negra.


Marina Baresi surgiu no meio dos empregados, ajudando-os a trazer as malas até as duas bruxas. Quando alcançou o veículo, aproximando-se de ambas, Marina decidiu se manter quieta, cumprindo com seu trabalho. No entanto, uma delas manifestou-se inesperadamente. Violette aproximou-se da prima, um olhar hesitante em seus olhos cor-de-mel.


– Sei que não temos a melhor das relações...


Marina encolheu os ombros, colocando as malas para dentro da traseira do automóvel.


– Gostaria de reunir nossos antigos laços, Marina.


– Que laços? – a empregada virou-se para ela. – Nós nunca fomos uma família e estamos longe de nos tornarmos uma.


Scarlett interveio, aproximando-se delas:


– Não. Nós ainda podemos nos unir e fazer uma reforma em nosso clã.


– Sejam claras. – pediu Marina.


– Queremos que volte ao clã e que tome posse do cargo de Lilith, que agora está vago.


Marina riu abertamente.


– Nem em um milhão de anos.


Ela assistiu ambas suspirarem em lamentação. Violette declarou:


– Pensamos que, talvez, essa fosse uma forma de nos redimirmos consigo.


– Querem me fazer um favor? Pois tenho uma ideia melhor. – respondeu. – Quero que desapareçam desses arredores. Nunca mais tornem a pisar nesta propriedade. Lilith já nos trouxe problemas demais.


Sem insistir, reunindo o pouco de orgulho que ainda lhes restava, Violette e Scarlett adentraram seu veículo. O motorista fechou o porta-malas e sentou-se atrás do volante. Em uma breve sensação de alívio, Marina observou-as indo embora. A limousine atravessou os portões que fecharam-se em seguida, desaparecendo na escuridão da noite. A jovem bruxa esperava que as outras atendessem seu pedido e que não voltassem novamente àquela casa.


–--


Quando retornou à casa, depois de ter passado o resto da noite conversando com Vincent Hurst a respeito de uma quebra para a maldição de Lilith, James Braxton encontrou uma Ellie revoltada sentada à beira de sua cama. Ele entrou no quarto e, sentindo a presença dele, ela logo ergueu o rosto corado pelo sangue que parecia ter subido completamente para sua cabeça, uma evidência de que ela estivera furiosa.


– Mas o que houve? – ele perguntou.


– Fui até o hospital. – Ellie soou séria.


– Saiu de casa? – imediatamente, James aproximou-se dela. – Não devia tê-lo feito. Precisa de repouso.


– Sei disso. Mas...


– Foi ver Katherina? Qual é o estado dela?


O semblante de Ellie alterou-se subitamente.


– Está em estado grave. E eu honestamente espero que piore.


Surpreso, com um sorriso no canto dos lábios, James Braxton sentou-se ao lado dela.


– Por que está dizendo isso?


Ellie praguejou mentalmente tudo ao seu redor. Olhou-o com indiferença e disse:


– Declan e ela mantém um... Eles mantiveram um caso durante todo esse tempo, pelas costas de meu pai.


Braxton fitou-a, admirado. Tentou não deixar transparecer o fato de que já sabia daquilo há muito mais tempo que ela.


– Bem, pelo menos vejo que você sente-se mais bem-disposta.


Ela forçou-se a sorrir. Chegava a ser engraçado o fato de todos ao seu redor terem começado a revelar segredos dos quais ela jamais desconfiara antes.


– Ele disse que a ama e que precisa do dinheiro para salvá-la.


James emitiu uma curta gargalhada.


– Seria cômico, se não fosse trágico. – comentou. – O que você disse?


– Controlei-me para não meter-lhe a mão na cara.


Ele conteve outro riso, pensando no quanto a personalidade dela o intrigava, ora ingênua, ora impetuosa, vivendo em eterna contestação. Ellie levantou-se, dirigindo-se à penteadeira onde admirou sua imagem, tentando comprimir o tamanho de sua revolta.


– Parece que recuperou-se com rapidez dos últimos acontecimentos.


– Tal como você se recuperou do que lhe fizeram na mão, não? – respondeu ela em tom ríspido.


James abriu outro sorriso. Analisou-a por minutos, o vestido de cetim azulado lhe caía perfeitamente bem. Ela ainda falava, mas ele não conseguia acompanhar sua narração, imerso em seus impudicos pensamentos.


– Não darei nenhum centavo àqueles dois. Minha decisão já foi tomada. – Ellie decretou, virando-se para ele. Percebeu então que ele lhe fitava da cabeça aos pés, com uma intensidade tão grande que ela sentiu-se incomodada. No rosto dela havia uma expressão de descontentamento. – Agradeço por ter me ouvido compartilhar meus problemas familiares.


Braxton piscou duas vezes firmemente, caindo no choque da realidade. Rapidamente tomou a voz mais uma vez:


– Não são problemas familiares. O melhor que você faz é esquecer-se deles. Eles seriam um atraso em sua vida.


Ellie deu de ombros.


– Por mim, podiam ir os dois para o Inferno.


Ele tornou a estudá-la com os olhos, impregnando-se de sua beleza.


A garota bufou, passando as mãos pelos fartos cabelos dourados.


– Preciso desafogar toda essa frustração. – Ellie fazia menção de livrar-se dos sapatos que tanto a estavam incomodando. – Sinto-me como se pudesse exterminar uma multidão na minha frente.


Foram essas as exatas palavras que fizeram com que uma abrupta luz parecesse iluminar a mente de Braxton, refletida em seu rosto agora muito mais expressivo do que antes.


– Deixe os sapatos. – pediu gentilmente.


– Por quê? – ela franziu o cenho.


– Porque sairemos esta noite. Não é a única que precisa libertar-se de sua frustração.


Ela não compreendeu de imediato, mas James tinha um sorriso malicioso nos lábios e aquilo era um sinal de que ele tencionava algo. Ele levantou-se e seguiu até seu criado-mudo. Abriu a gaveta e dela tirou uma pasta amarelada. Adiantou-se para a jovem, sua proximidade exalava perversidade.


– O que...? – ela não pôde terminar a pergunta. Braxton interrompeu-a com uma resposta feita de prontidão.


– Vincent não dará falta de um ou dois alvos, não é mesmo?


[MÚSICA TEMA DO CAPÍTULO].


Há muito tempo Ellie não era designada para uma missão. Tampouco sentia-se parte da Fraternidade, já que por conta de acontecimentos paralelos tanto ela quanto James tiveram de parar de seguir com o objetivo da organização. Uma pausa. Ela se perguntou se ele havia surrupiado a pasta dos arquivos de Hurst. A resposta era óbvia, assim como a questão era retórica.


Minutos mais tarde, encontravam-se ambos em um dos veículos da frota que Braxton mantinha ao redor de sua propriedade. Seguiam rumo aos endereços escritos nos documentos dentro da pasta. Traziam consigo um pequeno arsenal no porta-malas e o desejo de libertarem-se das frustrações causadas nos últimos dias.


Quando chegaram próximos à um dos bairros menos favorecidos da cidade, tomaram posses de suas armas e desceram do automóvel. James conduziu Ellie até a porta de uma pequena propriedade de aspecto velho e sujo, da qual música extremamente alta vinha, fazendo tremer todo o chão.


Pararam um a cada lado da porta, empunhando armas. Ellie viu James sibilar algo, mas apenas com os lábios. Não ouviu-o articular som algum. No entanto, ela entendera aquilo como uma contagem de três segundos. Adentraram o local, colocando a porta para baixo em um violento e rápido gesto.


Um bando de homens mal-encarados derrubaram seus cigarros e bebidas como uma reação ao susto. Eles imediatamente colocaram-se em pé, levando suas mãos até o bolso das calças, tomando em mãos suas armas.


– Mas o que é isto? – inquiriu o que parecia ser o líder do grupo. Olhou para James com mais intensidade, sua expressão mudou. – Braxton...


– Em pessoa. – respondeu, sorrindo.


– Vejo que finalmente Vincent ordenou que viesse atrás de mim.


– Oh, não. Não me insulte de tal forma, meu amigo. – deu um passo adiante, a arma fixa em sua mão direita mantinha o homem em sua mira. – Não sou um soldado camponês, não recebo ordens de ninguém.


Os olhos do sujeito desviaram na direção de Ellie.


– É uma mulher condenada, querida. – disse.


Ellie arqueou uma das sobrancelhas, apertando seu revólver com mais força.


– O que está dizendo?


– Não é você a garota da profecia? – o desconhecido soltou um riso quase inaudível. – Dizem que foi beijada pelo diabo.


– Estão enganados. – em tom de ironia, James declarou. E, em seguida, puxando Ellie pelo braço livre, selou seus lábios em um beijo repleto de ferocidade. O silencio prevaleceu. Quando o contato foi quebrado, Braxton esboçou um sorriso triunfalmente sarcástico. – Agora sim, essa sua afirmação fez todo o sentido.


O sujeito arregalou os olhos. Ainda tinha a arma nas mãos, mas o tempo que lhe restava para apertar o gatilho não fora o bastante. Em um movimento que durou menos de um segundo, James Braxton acionou sua arma. A bala partiu dela como um raio, atingindo o indivíduo no meio de sua fronte, jogando-o para trás.


Foi o disparo pelo qual Ellie tanto esperava. Ela juntou-se à ele, deitando o dedo sobre seu gatilho. Os homens à frente revidavam. Ellie viu-se obrigada a correr e continuar atirando. Eram cinco meliantes no total. A primeira bala de James acertara o suposto chefe do restante. A seguinte bala, vinda da arma de Ellie, acertara outro deles em uma região entre os olhos. Outro disparo de James despedaçou a faringe do terceiro homem. Ellie atingiu o quarto no coração. Restava agora apenas um. Ambos, lado a lado, dispararam na direção do último. Rindo insanamente, Ellie assistiu com prazer a rajada de tiros que pulverizava o corpo do desconhecido. Ele caiu ao chão, isento de qualquer sinal de vida.


Após o feito, o casal buscou do porta-malas do carro dois galões de gasolina. Despejaram o líquido sobre os corpos, móveis e chão. O passo seguinte fora o mais inacreditável. Eles estavam do lado de fora, admirando a casa do grupo de gangstersque tinham acabado de eliminar com uma facilidade inumana. James alcançou um isqueiro no bolso e jogou-o aceso na direção da porta aberta da casa. As chamas rapidamente começaram a se alastrar pelo imóvel, consumindo todas as partes dele como cupins famintos.


Seguiram para o veículo. James colocou-se atrás do volante e arrancou com o carro bruscamente enquanto Ellie colocou metade do corpo para fora do teto-solar, contemplando a explosão logo atrás. Olhou adiante, o vento forte batendo contra seu rosto molhado pelo suor, a adrenalina correndo em suas veias como um vírus incontrolável. Pela primeira vez em anos ela sentia-se completa e verdadeiramente viva.


Então ela se deu conta de que para sentir-se viva, lhe fora necessário encarar a morte. E isto ocorrera quando invadiram aquela casa. Ela viu a morte nos olhos daqueles desconhecidos cujas vidas lhes foram arrancadas de modo tão cruel e, ao mesmo tempo, tão... Justo.


Lendo os documentos na pasta antes de agir, Ellie descobriu que o grupo tratava-se de homens envolvidos com tráfico de drogas e assaltos nos quais muitos inocentes haviam sido mortos.


Durante toda aquela noite, eliminaram mais de vinte alvos incluídos na pasta que James encontrara na sala de Vincent. Houve um alvo em um bar no qual beberam uma garrafa de champagne antes de cumprir a missão. Também houve dois casos dos quais se livraram com rapidez, após atravessar toda a cidade com música alta vinda dos alto-falantes que tremiam a cada segundo.


Executaram um massacre em um clube onde um grupo de policiais corruptos bebiam e faziam apostas. O local terminara banhado em sangue, o verdadeiro cenário de um filme macabro.


Voltaram à casa às três da manhã, longe de sua sobriedade. Quando entraram pela porta principal, toda a casa parecia terrivelmente silenciosa. Seguiram pelas escadas, parando a cada degrau para beijarem-se. Ellie deixou-se ser conduzida até o quarto. Apressou-se em finalmente se livrar dos sapatos que lhe apertavam o sangue. Encarou seu reflexo no espelho da penteadeira, achando-se em estado cômico. James sentou-se à beira da cama, exausto pelo forte efeito do álcool que agora o dominava por inteiro.


– Agora sei que sou a Gata Borralheira.


– Mas você se divertiu, não foi?


Assistiu-a contemplando a si mesma em frente ao espelho. Ela tinha todo o cabelo preso para cima, mas decidiu também se livrar de todos aqueles grampos, deixando suas madeixas escorrerem suavemente pelos ombros.


– Deixa assim. – ele disse. Ela virou-se em sua direção.


– Você prefere esse penteado?


– Em você fica bem. Tudo fica.


Ellie emitiu uma gargalhada alta, completamente alcoolizada. James esforçou-se para não acompanhá-la, sem entender.


– Mas o que há agora?


– “Em você fica bem.” – ela demonstrou numa versão inglesa realmente exagerada, o que seria uma imitação de James.


– Quanta audácia, menina malvada. – ele riu quase tão alto quanto Ellie.


– Aceitarei isto como um elogio. – assegurou, mordendo o lábio inferior suavemente.


De inocente, a expressão da jovem tornou-se provocante. O vestido azul à altura dos joelhos emoldurava seu corpo delicado com perfeição, favorecendo cada pequena curva. Os olhos castanho-claros harmonizavam-se graciosamente com os cabelos louros levemente ondulados. Para James não havia visão melhor do que aquela.


Umedecendo os lábios, ele bateu com as mãos de leve em suas próprias coxas, emitindo um sinal para que ela sentasse-se ali. Dirigindo-se até ele com cautela, Ellie parou diante dele. James sentiu as pernas dela encostadas às suas e pensou que fosse derreter.


Levou ambas às mãos à cintura dela, puxando-a para si. Ellie acomodou-se em seu colo, colocando uma perna de cada lado e sorriu, fitando-o com um misto de sensações causadas pelo álcool.


– Nós somos maravilhosos juntos. – ela disse entre um largo sorriso. – Digo... Somos uma dupla, certo?


Ele não pôde conter o riso.


– Faremos história se agirmos daquela forma com frequência. Todos falarão sobre nós. – admoestou ele.


– Como Nancy e Sid?


– Não. – James balançou a cabeça, mas ainda sorria constantemente. – Como Bonnie e Clyde.


Ellie tornou a rir, uma gargalhada escandalosamente estrondosa que ecoou no quarto. O riso cessou quando ela sentiu as mãos de James deslizando por debaixo de seu vestido, subindo para suas coxas descobertas.


– Eu não sei o que fazer. – admitiu ele. Tanto para si mesmo quanto para ela. Surgiu um brilho de confusão nos olhos de Ellie enquanto James a fitava com imensa ternura.


– O que quer dizer?


– Desde que você chegou à minha vida, isso tem se tornado tão complicado... – disse, sem deixar de fitá-la nos olhos. – Eu tenho me envolvido demais com você. Cada vez que eu a toco, cada vez que eu a beijo, é como se... Alcançar o paraíso fosse algo possível para mim. – confessou, por fim. – E eu não s... – ele sentiu que ela pousava o dedo indicador levemente sobre seus lábios, calando-o.


– Deixe as coisas serem assim.


Os lábios dela foram de encontro aos dele, deslizando devagar. Ela gemeu alto demais quando os dentes dele passaram a arranhar seu pescoço. Com ansiedade, ela desabotoou-lhe a camisa engomada.


A iniciativa de Ellie agradava-o enormemente, mas ele tinha certo receio devido ao último acontecimento. A perda do filho abalara ambos de forma violenta. Contudo, quando sentiu que ela estendia a mão por entre as pernas dele, acariciando-o, James resolvera não esperar por muito mais tempo. Ela era tudo o que ele desejava.


Tirou-lhe o vestido, puxando-o pelas alças, deixando-o cair e se amontoar aos pés dela enquanto – cuidadosa e implacavelmente – ela o despia. Tornou a pousar as mãos sobre as coxas dela, puxando-o para si, lentamente penetrando-a, cobrindo seus lábios macios de beijos.


– Eu amo você, pequena. – sussurrou ele, a respiração quente batia contra o pescoço dela. O tumulto de seu coração parecia encher todo o aposento. Ela deixou-se levar e, naquela noite, fizeram amor com uma ternura – até então – nunca explorada antes.


Ele deitou-a na cama, colocando-se por cima dela, o corpo pesado comprimindo-a, as mãos subindo por suas coxas. Ellie sentiu que a paixão profunda que ela receava explorar agora podia ser finalmente liberta.


– Possuiremos o mundo. – ele decretou, vendo-a corresponder a cada movimento seu. – Prometo-lhe.


Logo após, houve um suspiro prolongado e trêmulo, o silêncio suave. Estavam lado a lado na cama, exaustos. Ellie comprimiu-se contra James e conseguiu adormecer de uma forma que não dormira durante anos: feliz.


Sentindo-a tão entregue e satisfeita em seus braços, James Braxton concluiu que ela fazia-o sentir-se vivo, fresco, melhor do que uma suave brisa vinda do Rio Tâmisa em Abingdon ou uma boa noite de sono em um hotel cinco estrelas. A garota tinha um efeito poderoso sobre ele. Sempre tivera, desde que se conheceram. Agora já não lhe parecia tão difícil assumir.


[MÚSICA TEMA DO CAPÍTULO #2].


Despertaram ao mesmo tempo, quando o retinir suave do telefone soou no ambiente. Virando-se para o criado-mudo ao seu lado, Braxton tomou posse do auscultador, naturalmente.


Já estava sorrindo, falando antes mesmo de aguardar por uma palavra. Sabia que devia ser algum conhecido, sócio ou irmão da Fraternidade. Mas não era. Era um homem estranho cuja voz ele nunca ouvira antes.


– Sr. Braxton? – a voz indagou.


– Sim?


– Sou o delegado Miller. Seu advogado, Michael Graber... Ele está com alguns problemas no Departamento. Sua presença é necessária para que ele possa explicar-se.


James suspirou.


Michael, em que se meteu dessa vez?


Estava acostumado com tais situações. Os homens da organização, ora ou outra precisavam dele. Apertando o telefone, ele respondeu rispidamente:


– Diga-me em qual departamento ele se encontra.


O homem passou-lhe as coordenadas e James decorou-o rapidamente.


– Estou a caminho. – anunciou, desligando.


Ele pousou o auscultador e começou a se levantar da cama. Ellie sentou-se na cama, ainda com os olhos pesados.


– Aonde vai? – perguntou, esfregando os olhos.


– Michael está com problemas.


– Michael? – ela ergueu os olhos enquanto ele se levantava, vestindo-se com pressa. – O que houve desta vez?


– Certamente algo relacionado aos homens que ele defende...


Ela franziu a testa, confusa.


– Bem, eu... Quando você volta?


– Volto em breve para encerrarmos nossa missão. – sorriu para ela e Ellie riu, tornando a se deitar.


Deixando-a sozinha, James começou a caminhar em direção à saída do quarto. De um súbito, porém, Ellie deu um salto para fora da cama, como se um impulso a empurrasse.


– Espere! – a doce voz soou como um grito desesperado.


Ele virou-se para trás, olhando-a com surpresa.


– O que há?


Sem hesitar, ela jogou os braços ao redor dele, os olhos inesperadamente estavam marejados. Os cabelos estavam em completo desalinho e seu aspecto deixava claro que abusara do álcool na noite anterior. Vendo-a abraçá-lo espontaneamente, James acolheu-a nos braços. Pensou que fosse morrer sufocado quando ouviu a voz dela novamente.


– Preciso muito de você. Prometa que nunca me abandonará.


O curioso era que ele também precisava dela, mais do que sabia como dizer, mais do que desejava admitir. Apertou-a contra seu corpo, desejando que aquele contato nunca se quebrasse. Foi quando ele teve a certeza de que seus sentimentos por ela eram plenamente recíprocos.


– Não importa o que venha a acontecer nos próximos dias, meses ou anos. – ele disse. – Eu sempre estarei de volta para você.


O choque do alívio a afogou como uma onda, arrastando-a de volta à tranquilidade e momentânea alegria. Regressou à cama, cobrindo-se e cerrando os olhos com um sorriso nos lábios.


James Braxton consultou o relógio de pulso. Cinco horas da manhã. Ele meneou a cabeça em um sinal negativo e riu nervosamente, saindo do quarto.


O vento soprava forte as árvores que rodeavam a propriedade. A fim de proteger-se do frio, James rapidamente dirigiu-se a um de seus automóveis. Ajeitou-se no banco do motorista do veículo intacto e ligou o motor. Seguiu até o outro lado da cidade, preparando-se para ouvir a desculpa que Michael Graber logicamente inventaria.


–--


À muito custo, Christian Madden conseguira amarrar o corpo de Dahlia à uma cadeira, usando cordas firmes e espessas. O demônio hospedado no corpo da mulher manifestava-se de forma violenta, rosnando, grunhindo e debatendo-se, lutando para livrar-se das cordas que apertavam-lhe.


Colocou-se diante dela, olhando-a profundamente nos olhos.


– O que quer, maldito? – o exorcista exigiu uma resposta.


A entidade mostrou os dentes, delineados em um sorriso cheio de malícia.


– É tão patético, Christian. – debochou. – Não pode sequer ver o que está diante de seus olhos. A vida que leva é de imensa hipocrisia, sendo você quem verdadeiramente é.


Ignorando-o, Christian tirou de seu sobretudo um crucifixo. Beijou o objeto e estendeu-o na direção do demônio.


– Awan d’wash-maya, nith-qa-dash shmakh, teh-teh mal-ku-thakh...


– É um traidor, exorcista! – bradou a voz grave.


– Neh-weh tzew-ya-nakh, ay-ka-na d’wa-shma-ya ap b’ar-aa...


A voz estourou em uma gargalhada irônica e ensurdecedora.


– Hipócrita!


Christian abaixou a cruz, analisando o rosto contorcido à sua frente. Tinha a boca escancarada e os olhos muito negros.


– Quem é você, demônio? – inquiriu com autoridade. – Diga-me seu nome.Agora!


As luzes de seu quarto de hotel começaram a piscar, emitindo flashes que faziam arder seus olhos atentos. Christian tornou a encarar o corpo preso à cadeira. Do braço direito, sangue parecia brotar da pele dela, maculando as faixas do curativo.


– Foi possuída por um cão do Inferno... – murmurou para si mesmo, constatando o mais óbvio. – Saia agora mesmo desta serva de Deus! – ele ordenou.


A voz demoníaca tornou a gargalhar em puro sarcasmo. Impaciente, Christian Madden retirou um frasco de água benta do bolso. Destampou-o, jogando o líquido sobre o corpo amarrado.


– Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incuriso infernalis adversarii, omnis legio, omnis congredatio et secta diabólica... – a entidade diabólica manifestou-se entre gritos e movimentos bruscos. – Benedictus deus, gloria patri. – jogou-o outro punhado de água no rosto, vendo-o queimar. – Et aspergatur locus aqua benedicta.


De repente, os gritos cessaram. A cabeça dela caiu para trás e houve um suspiro alto e aliviado da parte dela. Quando a cabeça pendeu para frente, os olhos encontravam-se fechados, a expressão era sonolenta. Christian concluiu que era Dahlia quem estava à sua frente novamente.


– Dahlia... – deu-lhe leves tapas nas faces geladas. – Dahlia, acorde...


Ela abriu os olhos, arregalando-os. Eles haviam tornado a parecer normais. Havia confusão e receio em seu rosto. Ela olhou ao redor.


– O que houve?


O olhar de Madden respondeu por suas palavras não ditas.


– Oh, céus, não! – exclamou a ruiva. Cautelosamente, Christian desamarrou-a da cadeira. Ela se levantou, espantada. – C-como? Por quê?


– A mordida que levou na noite do ataque. – observou ele. – Os dois cães que encontram-se naquela casa, Dahlia. Himon e Eluton.


– Guardiões de Lúcifer. – completou ela com os olhos muito abertos.


– Tais como os seguranças que assumiram sua verdadeira aparência naquela noite.


Ela passou as mãos pelos cabelos desgrenhados, suspirando. Voltou a olhá-lo.


– Por favor, não diga a ninguém. – suplicou. – Eles me expulsariam da Ordem se soubesse que meu corpo foi... Tomado desta forma. Eu n...


– Não se importe. – disse o exorcista com certa naturalidade.


Ele mesmo não parecia se importar muito com o que acabara de acontecer ali, debaixo de seus olhos, ao seu alcance. Todavia, as palavras articuladas pelo demônio que possuíra Dahlia estavam trancafiadas em sua mente, atormentando-o.


É um traidor, exorcista!


A frase tornara-se perturbadora. Ele sabia que tinha de ignorar o que ouvira, sempre o fizera em todos os exorcismos que executara durante toda a sua vida. No entanto... Havia algo naquelas palavras. Um fundo de verdade, talvez.


Tudo o que Madden sabia, entretanto, era que tinha de continuar na cidade. E que precisava de mais um cigarro.


–--


Michael Graber despertou quando ouviu o telefone ao seu lado tocar. Com os olhos fechados, relutante em abri-los, o advogado sentou-se na cama, levantando o auscultador.


– Pois não? – atendeu à chamada.


– Não faça perguntas. – ordenou a voz desconhecida do outro lado da linha. – A única questão é o que faremos ao seu cliente.


Telefonema de um maníaco. Só lhe faltava essa. E, num breve espaço de tempo, Graber sentiu-se um idiota. Só podia ser alguma brincadeira.


– A quem se refere?


– James Braxton. – respondeu a voz, por sua vez. Ele ouviu o desconhecido lhe passar coordenadas, mas não conseguia compreender por que. A voz prosseguiu: – Você o encontrará neste local. Tem dez minutos para salvá-lo.


O coração dele havia disparado. Quem era esse homem? Algum vingador? Não havia tempo para pensar. Ele parecia falar sério. A vida de Braxton corria perigo.


– Sr. Graber?


Ele mal podia falar, dominado pelo pânico.


– P-por que está fazendo isto? – indagou, trêmulo. – Quem diabos é você?


– Dez minutos, Michael. – a ligação foi encerrada.


Michael fitou o telefone. Precisava agir depressa.


Cogitou a ideia de que aquilo fosse uma armadilha. Talvez James estivesse em casa. Talvez sequer soubesse o que estava havendo. Telefonou a casa dele, mas, ninguém atendia.


Então, rapidamente, Michael saiu de casa, instalou-se em seu carro e partiu para a residência de Braxton.


Ao chegar lá, passando pelos portões principais, ele praticamente se atirou do automóvel e correu para a porta de entrada. Bateu contra ela dez vezes seguidas.


Dora, a governanta, atendeu-o.


– Sr. Graber? O que está havendo? – perguntou. Michael se deu conta de que ainda era noite. Cinco da madrugada.


– Onde está James? – ele inquiriu, desesperado. Viu Ellie descendo as escadas com rapidez, dirigindo-se até ele.


– Sr. Graber, o que faz aqui? – ela soou quase tão confusa quanto ele.


– Diga-me onde James está! – pediu, adentrando a sala.


– Ele foi ao seu encontro. – Ellie franziu o cenho. – Telefonaram dizendo que você precisava dele, dizendo que você o esperava em um departamento de polícia...


– Maldito Inferno! – praguejou, deixando-se cair na poltrona atrás dele.


– O que está acontecendo? – a garota agora parecia receosa.


Michael levantou-se, segurando-a pelos ombros, a forçando a olhar para ele.


– Ouça. Aconteça o que acontecer, não saia desta casa.


Novamente, com o mesmo desespero, Michael Graber retirou-se da casa e entrou no carro, arrancando e acelerando bruscamente.


Conduziu como um louco, excedendo o limite de velocidade, ignorando os sinais vermelhos. Seguiu as coordenadas dadas pelo desconhecido ao telefone.


Percorrendo o caminho informado pela voz, ele logo avistou a Ferrari pertencente à Braxton. Reconheceu o veículo pela placa.


Antes de pular para fora de seu carro, Michael consultou seu relógio e quase se afundou em pleno desespero ao notar que seu tempo estava se esgotando.


Havia apenas mais quinze segundos.


Se aquele homem que telefonara, estivesse a falar a verdade, algo aconteceria a James em seguida.


Sem pensar duas vezes, Michael desceu do automóvel e correu o mais rápido que pôde para o automóvel de James, gritando enquanto o carro continuava parado em frente ao sinal vermelho do semáforo.


Porém, rapidamente, aquele mesmo semáforo piscou em verde. A Ferrari de cor preta acelerou, avançando o sinal.


Numa fração de milésimos, Michael Graber gritou para que Braxton o escutasse, mas fora inútil.


Fora de si, ele assistiu à súbita e violenta explosão que sacudiu todo o bairro.


A explosão formara uma espécie de clareira.


Ele manteve os olhos muito abertos, atentos àquela cena aterrorizante. Estava sufocado pela fumaça negra e ácida que saía do fogo que consumia o automóvel.


O advogado não soube interpretar nenhum sentimento naquele momento.


O que havia acontecido ali, acontecera como num pesadelo, um filme de terror. E ele haveria de acabar logo pela manhã.


Mas não.


Em pleno estado de choque, com as ideias desordenadas e os pensamentos confusos mesclando-se, minutos mais tarde Michael foi levado por dois policiais até a casa de Braxton. Foi quando ele retornou à realidade.


Ellie atendera a porta, com ansiedade. Ela viu que o homem aparentava um aspecto horrível, chocante, desesperador.


– O q...?


Ela não sabia perguntar, e nem Michael responder.


Um policial de fisionomia amigável surgiu na porta, e, com muita naturalidade, comunicou à Ellie:


– Sra. Braxton, lamento muito. – disse, brandamente. – Seu marido acaba de sofrer um acidente. – ela ficou petrificada, como se não tivesse ouvido nada. – Não resistiu.


Aquela fora a sentença final. Mas Ellie negava-se a acreditar no homem. Nada conseguia dizer.


– Ocorreu uma terrível explosão. – prosseguiu o policial. – Não restou nada. Sinto muito.


Houve uma pausa dolorosamente sem fim.


Não era verdade. Não podia ser.


Aquele sujeito estava enganado... Ou a estava enganando.


Todo o corpo de Ellie começou a tremer violentamente enquanto ela ainda agarrava-se ao batente da porta para não cair.


Assim, o policial desapareceu de sua vista e Michael Graber permaneceu parado em pé à sua frente. Ellie não emitia reação alguma.


Depois de um longo tempo em silêncio, ela deixou-se cair no chão, destroçada pelos soluços. Michael tentou consolá-la, mas não podia sequer controlar a si mesmo. Agachou-se em frente à ela, tentando dizer as palavras certas naquele momento. Porém, não conseguia encontrá-las.


– Ellie, eu... A culpa foi toda minha...


– O que... O que este louco disse? – perguntou em tom de voz bastante elevado.


Ele olhava-a com horror, enquanto ela ainda estava dominada pela convulsão causada pelo que ouvira. Seu corpo agitava-se como se estivesse recebendo uma forte descarga elétrica.


Por um momento, ela não conseguiu falar. A seguir, sem compreender, ficou olhando para Graber fixamente, as lágrimas rolavam por suas faces.


Sua voz não passava de um lamento patético quando finalmente falou:


– Diga que não é verdade.


Michael foi incapaz de responder.


Ela tentou levantar-se, inconsciente das lágrimas que lhe banhavam o rosto, mas suas pernas estavam trêmulas demais.


Tudo estava perdido. Ela havia perdido absolutamente tudo. Inclusive o controle sobre suas próprias emoções. O chão parecia abrir-se debaixo de seus pés, puxando-a para baixo.


Assim sendo, ela tornou a cair ao chão, isenta de consciência alguma.


Estava tudo acabado.


–--


* A oração feita durante o exorcismo de Dahlia é o Pai Nosso em aramaico antigo seguida do Ritual Romano em latim.



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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 51



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  • shadowxcat Postado em 19/07/2016 - 16:24:44

    ESSA FANFIC ESTÁ SENDO REPOSTADA AQUI: http://fanfics.com.br/fanfic/54463/sete-demonios-romance-terror-horror-teen-amor -suspense-thriller-aventura-acao-vampiros-bruxas-demonios

  • raysantos Postado em 12/08/2015 - 20:10:35

    Sua fic e muito top e bem escrita tudo d bom tomara que logo logo a Ellie e James possam ficar juntos sem a essa fulana que eu nao aprendi a dizer muito menos escreve o nome no meio nada contra a crianca mais fazer oq ne continua

  • vverg Postado em 08/02/2015 - 23:19:37

    Olá, to lendo pelo spirit anime =)

  • vverg Postado em 08/02/2015 - 22:54:24

    Por favor!!! Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa mais!!! Okk, já sabes q amo de paixão esta web!!! To sentindo muita falta dela....please, preciso de mais caps!!!! Não me deixe na curiosidade por muito tempoooooo *_*

  • vverg Postado em 10/01/2015 - 01:47:30

    Desculpe meu sumisso!! Mas assim q der, comento qdo ler todos os caps =)

  • vverg Postado em 19/08/2014 - 23:57:43

    Poxa não judia tanto de sua leitora caramba!!! Minha fic perfeição, posta mais, preciso de mais.... Estou ficando agoniada sem suas atualizações Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa maissssssssssssssssssssssssssss nesta fic perfeitaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa amo sua fic, ok vc já sabe disso, mas não custa falar né hahahahahahahaha

  • vverg Postado em 12/08/2014 - 12:10:07

    Meu Deus! Que nojo deste Declan!!!! Cara##@%@#$#! Putz!!! Como ela se deixa dominar desta forma, caramba!!! Posta mais mais mais mais mais mais. Poxa vc me deixou curiosa agora, tadinha da Elie, ela é muito fraca e se deixa dominar por este imundo.... Estou pasma, posta mais na minha fic perfeição mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais =)

  • vverg Postado em 09/08/2014 - 17:08:49

    Quero maisssssssssssssss!!! Preciso mais desta fic perfeita!!! Posta sim??? Necessito ler.... =)

  • vverg Postado em 06/08/2014 - 10:33:43

    Dahlia tah ferradinha kkkkk. Posta mais! Necessito de mais rsrsrs *_*

  • vverg Postado em 02/08/2014 - 09:55:32

    Minha fic mais q perfeitaaaaa posta mais quero mais caps


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