Fanfics Brasil - Primeiro Ciclo - Capítulo III - Sacrifício Sete Demônios

Fanfic: Sete Demônios | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass


Capítulo: Primeiro Ciclo - Capítulo III - Sacrifício

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O desmaio inesperado da filha de Maurice Donovan havia sido comentado em todas as colunas sociais dos jornais.


Ela sentia-se incapaz de deixar seu quarto após o ocorrido. Não pelo fato de sentir-se doente – embora, de fato, sentisse-se assim –, mas pelo quão envergonhada sentia-se a respeito do que acontecera em seu jantar de noivado.


Voltara a si minutos mais tarde, deitada em sua cama. Ouvira os sermões de seu pai, que falara como se ela tivesse cometido um crime. Ellie sentia-se mergulhada em um mar de problemas que pareciam não se acabar. Os problemas continuaram a chegar.


A prova disto era o que ela estava vivendo agora.


Parada em frente à uma mesa cuidadosamente decorada com uma bela toalha branca, pálida como cera, e com bordados delicadamente feitos em tom dourado, Ellie encarou o juiz de pé perante a ela, logo atrás da mesa.


O sujeito certamente estava habituado a esperar pela noiva, que, seguindo algumas tradições, atrasava-se para seu casamento. Bem, não neste caso.


James Braxton estava dez minutos atrasado para a cerimônia. Imóvel, suando frio por debaixo de seu vestido Chanel cor-de-creme, Ellie Donovan se perguntou se o futuro marido havia desistido de todo aquele acordo. Por um momento esperava que sim. Mas logo se lembrou de seu propósito. Aquele casamento era a única forma de recuperar o patrimônio de sua família. E ela certamente não mediria esforços para alcançar tal objetivo.


Tentando manter a sua calma, ela mentalmente começou a fazer uma prece. Cerrou os olhos e pediu a Deus para que tudo saísse como ela havia planejado. Os convidados estavam agitados. Todos fazendo comentários a respeito do quão atrasado o noivo estava. Mas os comentários cessaram assim que fora possível ouvir o grandioso som de um motor que se aproximava da entrada da casa.


Todos viraram seus rostos na direção das portas de entrada que se encontravam fechadas. O som também cessou. Em questão de poucos segundos aquelas mesmas portas foram abertas.


Com um aperto no coração, transbordando temor e ansiedade, Ellie assistiu o futuro marido caminhar em sua direção. Não parecia se importar muito com o fato de estar atrasado ou com os olhares curiosos direcionados a ele.


Usando um smoking inteiramente preto de caimento perfeito, James Braxton caminhou triunfante pelos convidados até alcançar o mesmo lugar onde Ellie e o juiz esperavam por ele. Parou em frente à mesa e ergueu o rosto num gesto de superioridade. Não se desculpou e nem deu uma explicação a respeito de seu atraso. Atraso que deixara tanto Ellie quanto seu pai aterrorizados por minutos.


O juiz – um homem de cabelos brancos ralos, óculos de lentes que refletiam a luz dos luxuosos lustres da sala e uma distinta elegância – olhou para o casal de pé em frente a ele. Analisou-os por rápidos e discretos segundos.


Ellie era a imagem da insegurança. Seus olhos estavam ansiosos e ao mesmo tempo apreensivos. Totalmente o oposto do noivo. Com uma expressão firme, James Braxton levava consigo um olhar ocioso. Ironicamente, era quase como se estivesse se divertindo.


Ninguém realmente entendia o motivo de ele ter escolhido a filha mais nova de Maurice Donovan para ser sua esposa dentre todas as outras mulheres da cidade. Evidentemente eles jamais mantiveram qualquer tipo de relacionamento antes. Era uma situação curiosa, mas ninguém ousava questionar sua escolha. Para qualquer um que não estivesse a par da verdadeira razão para aquela união acontecer, aquele era apenas mais um casamento em busca de status.


Além de Braxton, Maurice Donovan e a filha eram os únicos que realmente sabiam da verdade. A aposta em si e o trato feito entre eles era algo para se manter em segredo. Algo para se guardar debaixo dos panos. Todavia, a jovem Ellie Donovan não queria que as coisas seguissem aquele rumo. Por mais que tentasse com todas as suas forças, ela sabia que não seria capaz de manter aquele segredo por muito tempo. Não por ela não ser digna de confiança, mas pelas circunstâncias nas quais tudo aquilo ocorrera. Ela sentia como se guardar aquele segredo fosse corromper sua alma conforme os dias se seguissem. Temia que algo mais saísse errado. Procurava desesperadamente manter seu autocontrole. Manter-se indiferente diante dos momentos que viriam a seguir.


A cerimônia de seu casamento seria algo, mas mudar-se para a residência de James Braxton e passar dias ao lado dele era uma experiência para qual Ellie não estava preparada. Por este motivo ela receava o que viria depois que assinasse os papéis. Por outro lado, ansiava pelo fim de toda aquela encenação.


O juiz dera início às palavras tradicionalmente ditas no decorrer da cerimônia. Ellie sentiu sua audição falhar. Era como se ela estivesse se afundando em seu próprio desespero e angústia. Não conseguia ouvir nada. Não conseguia se mover ou articular qualquer palavra. Petrificada em frente ao homem que em breve a nomearia esposa do sujeito ao seu lado, Ellie sentiu um impacto contra seu estômago.


Acabara de voltar à realidade.


O juiz havia dito algo que ela não pôde compreender.


– Eleonora? – ela levantou os olhos e fitou-o, aturdida. As palavras ditas anteriormente tornaram a soar, desta vez, claras e diretas: – Aceita como esposo James Braxton aqui presente?


Ellie desviou seus olhos dos do juiz. Cabisbaixa, ela tentou conter seu – felizmente – imperceptível nervosismo. As mãos suavam e suas pernas tremiam. Não podia recuar. Estava na hora de enfrentar a realidade tal como era.


Mesmo sem precisar olhar para o pai, Ellie sabia que ele temia que ela desistisse. Reunindo as forças das quais precisaria naquele momento, Ellie pensou na mãe.


Ergueu seu rosto de uma beleza notavelmente angelical e disse no tom mais firme que conseguia:


– Sim.


Virando-se agora para o noivo, o juiz tornou a falar:


– James, você aceita como esposa Eleonora Donovan?


Pelo canto de seus olhos, Ellie notou que ele havia olhado para ela e esboçado um sorriso irônico antes de voltar-se ao juiz.


– Sim. – respondeu sem hesitar. O acordo estava feito. Faltava selá-lo.


– Pelos poderes em mim investidos, – o juiz lançou um olhar sem expressão para ambos. – Eu os declaro marido e mulher.


Ellie respirou fundo e viu seu – agora – marido inclinar-se para assinar os papéis postos à sua frente. Com a caligrafia perfeita, James Braxton assinou todos os papéis e estendeu a bela caneta tinteiro com detalhes dourados para ela.


Ellie ergueu os olhos para fitá-lo. A expressão dele era desdenhosa, escarnecedora. Ele ainda estava estendendo a caneta para Ellie quando ela finalmente decidiu pegá-la. Levou sua mão ao objeto que James ainda segurava e, involuntariamente, sentiu sua mão tocar a dele.


Foi como se uma descarga elétrica se alastrasse por todo o seu corpo. Ele notou o nervosismo dela e abriu um irônico sorriso de canto que fez com que Ellie ficasse ainda mais angustiada. Ela tinha a mão na caneta e ele ainda a segurava fortemente, estendendo-a para Ellie que se encontrava agora petrificada pelo primeiro contato físico que tivera com ele desde então.


Finalmente levantou o rosto para fitá-lo. Sentiu uma terrível onda de inquietação a dominar quando seus olhos encontraram o empedernido olhar que estampava o rosto de James Braxton. Por fim, ela puxou a caneta da mão dele e ele a soltou deixando seu sorriso irônico ainda mais evidente. Ellie sentiu um embaraço na garganta. Desviou seus olhos dos dele e inclinou-se sobre a mesa.


A caneta tremia em sua mão. Ela aproximou-se dos papéis, fazendo menção de emitir sua assinatura. Começou a assinar seu nome com os dedos trêmulos ao redor da caneta. Todos os olhares estavam pousados nela. Ellie terminou de assinar os papéis e voltou a manter sua postura firme.


Uma chuva de aplausos surgiu por detrás deles. Os amigos mais próximos da família estavam presentes. Pessoas da imprensa. Sócios. Membros da alta sociedade. Todos misturados.


Ellie deixou seus pulmões se esvaziarem, permitindo que todo o seu ar escapasse em um suspiro profundo. Julgou que o pior já havia passado. Minutos mais tarde veio receber os cumprimentos dos convidados. Parada em pé ao lado do marido, Ellie tinha um sorriso forçadamente fixo nos lábios. Tão forçado que suas bochechas já estavam começando a doer.


Ela viu o pai se aproximar com um perceptível ar de entusiasmo e inquietação. Ele trocou algumas palavras com Braxton e apertou-lhe a mão. Dirigiu-se para a filha e abraçou-a. Um abraço frouxo e sem alegria. Ellie não se deu ao trabalho de abraçá-lo de volta. Manteve seus braços fixos, sem sequer se mover. Maurice Donovan afastou-se da filha e fitou-a com uma apática expressão.


Ellie não soube dizer o que o pai estava sentindo naquele momento. Alívio? Orgulho? Tristeza? Talvez tudo isto e nada disto. A vida dele estava uma verdadeira confusão. Um gigantesco caos.


Dora aproximara-se dela para cumprimentá-la com um forte abraço. Ellie desejou que a governanta jamais quebrasse aquele contato entre elas, pois, uma vez que ela o fizesse Ellie teria de voltar à realidade. Realidade que ela queria muito evitar. Mas não podia.


A situação de Ellie não estava muito diferente da do pai.


Quando os convidados pararam de se aproximar dela, esvaziando a casa aos poucos, ela percebeu que a festa estava acabando. O que claramente significava que era hora de ir para casa. Não aquela casa, mas sua nova casa.


Assim que a sala principal encontrava-se quase vazia, Ellie sentiu o desespero dentro dela aumentar. A situação piorou quando James tocou-lhe no braço suavemente e começou a conduzi-la para a saída da casa. Ela se deixou levar, apavorada demais para fazer qualquer tipo de objeção. Ele a guiou para fora de casa, descendo as escadas da entrada, seguindo para uma fila de carros.


Os convidados que ainda estavam presentes os acompanharam até o jardim. Ellie olhou para trás. O pai a observava com melancolia, enquanto Katherina e Declan exibiam exatamente a mesma expressão sádica e sarcástica. Evidentemente achavam a situação agradavelmente divertida.


Ela virou-se, deixando de olhar para eles. Passou seus olhos pela fileira de carros luxuosos que cercavam a casa.


– Em qual destes eu devo entrar? – ela perguntou. A pergunta não havia sido dirigida à ninguém. Era como se ela estivesse falando consigo mesma, pensando em voz alta.


– Em nenhum. – James Braxton respondeu. Em seguida ele aproximou-se da única motocicleta que ali se encontrava. Ellie viu-o subir em uma Harley-Davidson inteiramente preta de lataria muito flamejante e chamativa. Ele virou-se para ela. – Está esperando o quê?


Ellie levantou as sobrancelhas, indignada. Depois balançou a cabeça e declarou em tom discreto:


– Não posso. Estou de vestido...


– Isso não é problema meu. – ele deu de ombros. Pousou ambas as mãos na direção da motocicleta e limitou-se a trocar palavras com ela. Ellie olhou ao redor.


– Irei em um dos carros. – disse em tom sugestivo. James não respondeu. Ellie afastou-se lentamente, mas ele, por fim, decidiu tomar a palavra de modo inesperado.


– Não. – ele protestou. Sua voz era inebriantemente branda, porém autoritária. – Suba. Agora.


Ellie franziu o cenho. Definitivamente ela não aprovava o tom em que ele lhe dirigia as palavras. Nem mesmo seu pai lhe falava naquele tom. Então, ela procurou pelo pai.


Ele ainda encontrava-se parado em frente à entrada da casa. Não emitia qualquer sinal de que a ajudaria naquela situação. Os convidados ainda os observavam e trocavam comentários.


Ellie fechou os olhos e tentou manter sua paciência intacta. Tornou a abri-los e avançou seus passos. Aproximou-se da motocicleta e segurou a barra do vestido com graça, fazendo menção de posicionar uma das pernas do outro lado do assento. Aquilo parecia não funcionar. Ela estava começando a se sentir incomodada.


Sem precisar olhar para trás para concluir que Ellie encontrava dificuldade em sentar-se no assento do passageiro, James virou-se para ela e lhe estendeu uma mão. Ela hesitou, mas não encontrou outra saída para aquele pequeno problema. Deu-lhe a mão e sentiu quando ele a puxou bruscamente para o assento. Ela posicionou uma perna de cada lado, certificando-se de que o vestido não subiria mais do que devia. Segurou-se na parte de trás do banco e respirou profundamente. James Braxton soltou um riso abafado. Girou a chave na ignição e o motor funcionou. Alto e estrondoso. Ele acelerou por diversas vezes antes de arrancar subitamente. Dois carros unanimemente negros com vidros escuros vinham logo atrás. Seguranças.


Ellie nada conseguia ver. A motocicleta avançava em altíssima velocidade, deixando impossível de se acompanhar o trajeto com os olhos. O pânico a invadiu rapidamente. Ela viu James acelerar ainda mais, ultrapassando o limite permitido. Mas foi quando ele fez menção de inclinar a motocicleta para trás que ela teve absoluta certeza de que tais atitudes eram propositais, feitas na intenção de deixá-la assustada. Ela fez o que pôde para não perder o equilíbrio, segurando-se no assento. O rápido e aterrorizante percurso até a casa onde ela passaria os dias seguintes durara vinte minutos.


Quando a motocicleta atravessou os portões feitos em estilo clássico, Ellie sentiu uma ponta de alívio. James freou bruscamente em frente à casa. Ellie ergueu os olhos para observar o lugar onde passaria a viver.


A casa em si era graciosamente luxuosa.A fachada tinha um aspecto elegante. As paredes eram pintadas de branco. As janelas tinham um estilo vitoriano muito agradável. Havia um jardim, muros altos com cercas elétricas por toda a parte e doisrottweilers sentados à porta de entrada do imóvel. James Braxton desceu de sua moto e colocou-se em pé. Virou-se para Ellie e lhe estendeu a mão mais uma vez. Ela olhou-o com surpresa, mas não parou para pensar muito. Tomou-lhe a mão e saltou da motocicleta rapidamente. Assim que seus pés tocaram o chão, ela teve de manter seu equilíbrio.


Toda aquela corrida a tinha deixado atordoada.


– O-obrigada. – ela disse, receosa. Mas, censurou-se por ter soado tão estúpida. Tinha de manter-se firme e forte. James não respondeu. Os carros vieram logo atrás, também estacionando em frente à casa. Ellie ajeitou seu vestido e seus cabelos, mantendo-se séria. Ela assistiu James afastar-se.


Alguém abriu a porta e ele a atravessou, adentrando a casa. Ellie avançou, seguindo-o para dentro da mansão. Subiu os degraus que a levariam para a porta. Ao alcançá-la, porém, hesitou, pois se deparou com os cães parados, um de cada lado da porta. Ela os fitou com receio. Um dos seguranças que vinham nos carros negros aproximou-se.


– Não lhe atacarão. – assegurou.


Ellie decidiu acreditar nele, desejando profundamente que ele estivesse certo. Passou pelos cães e pela porta de entrada da casa.


Ao entrar, ela encontrou uma imensa sala repleta de móveis em designclássico que condiziam perfeitamente com os quadros presos às paredes pintadas em um tom envelhecido de vermelho e marrom. Toda a propriedade era uma obra de arte. Ellie ficou fascinada pela decoração detalhadamente feita.


Uma garota de cabelos castanhos ondulados e fartos, e intensos olhos azuis surgiu no meio da sala. Parecia terrivelmente entediada e sua expressão era de indiferença. Tinha pelo menos dois anos a menos que Ellie. Era essa a impressão que ela causava.


Usando um vestido cintilante que moldava seu corpo de modo totalmente indiscreto e saltos altos, ela fez menção de sair pela mesma porta que Ellie acabara de atravessar. Mas algo a deteve. James Braxton segurou a menina pelo braço em um ato brusco.


– Aonde pensa que vai?


Ela soltou-se da mão que a segurava.


– É aniversário da Melanie. – respondeu. – E eu já estou atrasada.


– Não, não está. – objetou ele. – Você sabe que horas são?


– Voltarei em duas horas.


– Você não vai a lugar algum.


– O quê?! – a garota subitamente pareceu indignada. – É o aniversário da minha melhor amiga!


– Ainda que fosse o aniversário da Rainha Elizabeth, você não iria a lugar algum. – ele declarou severamente. – Eu posso até cogitar a ideia de enviar um pacote de cocaína com minhas saudações para a sua amiguinha viciada, mas você não sai dessa casa esta noite.


O tom dele era sarcasticamente sério. Ela o fuzilou com um olhar repleto de raiva e aversão.


– Você nunca será como o papai. – dizendo isto, a garota virou-se e se afastou em passos firmes.


– Ótimo! Ele errou muito em tê-la mimado daquele jeito. – James Braxton respondeu, mas ela já não ouvia. Ele bufou e por um momento parecia tentar manter a calma. Voltou-se para Ellie que assistira toda aquela cena com surpresa. – Vejo você mais tarde.


Ellie viu o marido se afastar, entrando em uma sala que ela julgou ser um escritório, batendo a porta em seguida. Até então ela jamais o havia visto agir daquela maneira. Estava ligeiramente perturbado. Uma reação diferente das que ele tivera desde que Ellie o conhecera.


Ela abanou a cabeça, confusa. Mais uma garota surgiu na sala. Vestindo um uniforme preto e branco, ela aproximou-se de Ellie com certo entusiasmo.


– Bem-vinda à sua nova casa, Lady Braxton. – ela disse em tom melodioso. Tinha os cabelos pretos presos para trás e olhos castanhos ansiosos. – Sou Marina. – ela abriu um sorriso.


– Muito prazer. – Ellie estendeu uma de suas mãos gentilmente. Viu a jovem recuar, perplexa. – O que houve?


– Não posso. – disse.


– O quê? Por que não?


– Porque existem alguns limites. – explicou ela. – E nós, empregados, não podemos agir de igual para igual com os donos desta casa.


Ellie soltou uma risada. A garota falava de modo tão formal que era impossível não achar aquilo engraçado. Ela soava como um robô, articulando frases decoradas.


– Ora, não seja boba. – disse ainda rindo. – Vamos, aperte a minha mão.


– Eu...


– Por favor, eu insisto. – Ellie manteve sua mão esticada. Marina apertou-lhe a mão com hesitação. Um rápido cumprimento. – Agora já nos conhecemos.


– Fui designada para auxiliá-la em algumas coisas. Tais como se acostumar com o ambiente, decorar todos os cômodos, preparar-se para importantes eventos e...


– Ei, ei. – Ellie a interrompeu. – Não acha que sobrecarregaram você com tantos afazeres?


– Desculpe-me, Lady Braxton. Se a senhora julgar meu auxílio desnecessário, então eu terei de...


– Não foi isto o que eu quis dizer.


– Perdão.


Ellie balançou a cabeça negativamente. Claramente a garota estava exagerando.


– Pode me ajudar com as malas? Estão em um dos carros que acabaram de chegar.


– Estou certa de que um dos outros empregados as levará para seu quarto. – Marina respondeu. – Não precisará levá-las por conta própria.


– Meu quarto? Onde fica? – Ellie indagou.


– Eu a guiarei até lá. – ela sorriu e indicou as escadas com a cabeça. Ellie ergueu os olhos para a grandiosa fila de degraus que constituíam as escadas para o segundo andar da casa.


Marina seguiu para as escadas, subindo lentamente. Ellie vinha logo atrás dela, em passos hesitantes. Assim que subiram as escadas, a jovem empregada a guiou por um imenso corredor de infinitas portas de madeira escura. Todas as paredes do corredor tinham o mesmo tom da sala principal. Ellie começou a se sentir atônita em um lugar tão extravagantemente grande. Marina parou em frente à uma porta. Ellie aproximou-se dela e a garota girou a maçaneta, abrindo a porta do quarto.


As paredes tinham a mesma cor do vestido que Ellie usava. Um tom de cor-de-creme pálido. Havia cortinas amarronzadas nas janelas e um tapete em estilo rústico no chão. Móveis que entravam em harmonia com o restante do quarto e luminárias espalhadas pelos cantos. Havia também uma porta para o banheiro.


Era uma bela suíte.


– Este é o meu quarto? – Ellie inquiriu, admirada.


– Sim, senhora. – Marina sorriu. – O maior de toda a casa. Deixarei tudo preparado para quando a senhora terminar o banho.


– Ahn... Obrigada. – ela respondeu, virando-se para a garota.


– Queira acompanhar-me. – Marina retirou-se do quarto, guiando Ellie para o cômodo em frente. – Pode usar essa outra suíte. Como eu disse, deixarei tudo pronto.


Sem entender muito bem, Ellie apenas assentiu com a cabeça. Havia muita formalidade. Ela estava começando a se incomodar com aquilo.


– Com licença. – a empregada se afastou deixando Ellie no outro quarto. Este era um pouco menor do que o anterior. Também tinha as paredes pintadas em cor-de-creme e móveis a condizer. Havia um banheiro. Ellie logo se precipitou para ele.


Começou a despir-se, livrando-se do vestido e do resto de suas roupas. Soltou os cabelos e sentiu-se aliviada. Caminhou até a banheira e ligou a água, esperando até que ela estivesse cheia. Ela passou a hora seguinte aproveitando cada segundo de conforto que a água morna lhe proporcionava.


Mais tarde, depois de terminar o banho, Ellie vestiu a roupa que deixaram em cima da cama para ela. Enquanto penteava os cabelos, ela tentava imaginar como aguentaria passar os dias que viriam a seguir vivendo naquele lugar. A casa em si era melhor do que qualquer outro sonho de consumo. Mas o ambiente era carregado. As pessoas ali agiam de um modo estranho.


Ellie percebeu então que não teria de viver naquele lugar, e sim sobreviver a ele.


Encarou seu reflexo no espelho da penteadeira daquele quarto e ouviu alguém bater na porta.


– Entre. – respondeu.


Marina tornou a aparecer, abrindo a porta muito hesitante.


– O que houve? – Ellie perguntou.


– Devo acompanhá-la até seus aposentos.


– Mas o quarto está logo em frente. – indignou-se ela.


– Bem...


– Olha, não precisa me acompanhar. E digo mais. Eu acho que você deveria descansar. – Ellie viu a garota fitá-la com surpresa. – Estou falando sério. Está tarde.


– A senhora tem certeza de que não precisará dos meus serviços pelo resto da noite?


– Sim, tenho. Pode ir ao seu quarto e dormir. Teve um dia cheio, não teve? Toda essa preparação para me receber deve ter sido cansativa.


– Longe de mim reclamar de meus afazeres. – disse Marina em tom cauteloso. – Sou paga para isso.


– Você age de forma um pouco exagerada, não acha?


– Perdão, senhora.


Ellie sentia-se profundamente incomodada com o modo extremamente formal com o qual Marina a estava tratando. Evidentemente tinham a mesma idade. Chegava a ser engraçado ser tratada daquela maneira pela garota.


– Pode se retirar. – disse Ellie, por fim.


– Com licença. – Marina afastou-se e fechou a porta.


Ellie olhou para sua própria imagem no espelho mais uma vez e colocou-se em pé.


Sinto-me como num filme de terror.


Deixou aquele quarto partindo para o outro. O quarto principal. Seu novo quarto. Fechou os olhos como costumava fazer sempre que tinha de tomar uma difícil decisão. Abriu as pálpebras e a porta do quarto.


Sentado na beira da grande cama forrada com lençóis marrom-claros, James Braxton tinha papéis em mãos e parecia estar lendo-os com muita atenção. Ellie sentiu sua frequência cardíaca aumentar. Estava nervosa. Aquele sujeito lhe causava arrepios, fazia-a sentir-se ameaçada, de modo que jamais arriscaria fazer qualquer objeção.


Avançou seus passos até a cama, tentando – à muito custo – se manter indiferente.


– Aproxime-se. – ele disse sem olhar para ela. Seus olhos estavam fixos nos papéis, mas eles logo caíram sobre ela quando Ellie também se sentou na cama, limitando-se a sentar-se muito próxima dele.


– Não seria melhor se eu dormisse no quarto de hóspedes? – ela perguntou. – Acho que é o correto a se fazer.


– Este é o seu quarto. Portanto, dormirá aqui. – ele não conteve um sorriso sádico que surgiu em seu rosto. Olhou fixamente nos olhos dela. – Comigo.


Ellie mudou a direção de seu olhar, sentindo o incômodo daquela situação a dominar.


– Posso lhe fazer uma pergunta? – a voz dela soou inocente, baixa, receosa.


– Você acabou de perder sua única oportunidade. – ele respondeu. Viu-a se repreender mentalmente e abriu outro sorriso. – Pode perguntar.


– A garota que eu vi na sala. Ela...


– Alena é minha irmã. – James lhe deu uma resposta antes mesmo que ela tivesse a oportunidade de completar sua pergunta. – Está passando por uma fase difícil.


– Entendo.


Ficaram em silêncio por um longo tempo. Até que ela decidiu arriscar mais uma pergunta.


– Por que propôs ao meu pai este acordo? – Ellie indagou evitando olhar para ele. Sabia que ele tinha os olhos vidrados nela. – Qual o seu objetivo?


– Não está claro o suficiente para você? – ele riu. – Este casamento fará bem à minha imagem.


– Então é isso? Status?


– E o que mais seria?


– Bem, poderia ter escolhido outra pessoa. – ela constatou. No fundo, desejava muito entender o motivo de ele ter feito aquele acordo com seu pai.


– As mulheres sempre visam algo a mais quando estão comigo. Carros, joias, dinheiro... O que consequentemente as levam a crer que podem me dominar. – ele disse com desdém. – Não será assim desta vez.


– Por que acha isso?


– Porque você não é ambiciosa. – James respondeu com convicção. – As circunstâncias colocaram-na em meu caminho por uma razão. Definitivamente você ajudará muito a minha imagem social. E, como sou uma pessoa justa, - ele prosseguiu. – seu pai poderá continuar a cuidar de suas empresas e outros bens.


É uma troca. Ellie pensou com amargura.


– Bens que agora também pertencem à você. – ele acrescentou. Ellie ergueu os olhos para ele, perplexa.


– Mas perdemos nossos bens no jogo. – ela disse.


– Seu pai perdeu, de fato. Os bens de sua família são todos meus. – manteve uma expressão apática no rosto. – Mas ainda são seus, sendo você minha esposa.


Toda aquela conversa sobre negócios a deixava completamente confusa. James notou a confusão nos olhos dela e disse:


– Está vendo? Você não é ambiciosa.


Ellie não disse nada. Talvez ele estivesse certo. Ela encolheu os ombros e abaixou a cabeça. James sorriu novamente e virou-se para desligar o abajur sobre a mesa próxima ao seu lado da cama. Com um click seco a luz do lado esquerdo do quarto se apagou. Ele deitou-se e manteve-se calado. Ellie julgou que devesse fazer o mesmo.


Inclinou-se para a mesa ao seu lado e desligou seu abajur. Com muita cautela, ela deitou-se sobre a cama com um terrível aperto no peito. Ela podia sentir suas pernas trêmulas, suas mãos frias e suadas. Mas não podia esconder seu nervosismo.


O silêncio era aterrador.


Ellie temia o que viria a seguir. O silêncio se prolongou por minutos, até ela concluir que poderia dormir tranquilamente. Cerrou os olhos e tentou cair no sono, virando-se para o abajur que acabara de desligar.


Todavia, algo fez com que ela ficasse subitamente desperta. Ela sentiu James se agitar do outro lado da cama, aproximando-se dela, comprimindo seu corpo contra ela. Petrificada, ela rangeu os dentes.


Fechou os olhos, aterrorizada, enquanto ele despiu-a, admirou o seu corpo, abraçou-a, beijou-a...


Quando ainda era pequena, Ellie acordava pela noite após um terrível pesadelo e corria até o quarto de seus pais, convencendo sua mãe a contar-lhe belas histórias com finais felizes para que ela tivesse sonhos bonitos.


Entretanto, nenhum de seus pesadelos infantis se comparava ao medo que ela estava sentindo agora.


Por mais que tentasse se manter fria e segura de si, – involuntariamente – podia sentir seu corpo corresponder às coisas que Braxton fazia com ela. Ele virou-a para si, inclinando-se sobre ela. Depositou beijos longos e intensos em seu pescoço enquanto pousava as mãos sobre as coxas dela, afastando suas pernas lentamente. Ellie permaneceu imóvel. Ela tentava se preparar para o que viria em seguida. Esperava que ele a invadisse bruscamente, tencionando machucá-la, mas, ao contrário disto, James entrou nela com cuidado e muita calma. Ela tentou conter um gemido que saiu abafado, pois ele ainda pressionava seus lábios contra os dela. Seus movimentos eram lentos, como se ele estivesse deleitando-se de cada segundo daquele momento. Satisfazendo-se. Ellie, por sua vez, limitou-se a não emitir qualquer reação, sentindo-se incapaz de se mexer.


Quando os movimentos dele tornaram-se mais rápidos, ela cerrou os olhos desejando que aquilo acabasse. Com os olhos ainda fechados, ela sentiu um jato quente a preencher. E, então, os movimentos cessaram e ele saiu de dentro dela, deixando-se cair ao seu lado na cama.


Ellie abriu os olhos.


Encarou o teto e continuou petrificada, como se seu corpo estivesse congelado. Sua respiração era suave, lenta. Virou-se para o lado, mas desta vez manteve os olhos muito abertos. James Braxton aproximou-se dela novamente e ela sentiu seus braços a envolverem.


Tornou a fechar os olhos tencionando abri-los pela manhã, quando tudo aquilo estivesse terminado. Acabou caindo no sono. Um sono profundo. Há vários dias não dormia de verdade e já não conseguia lutar contra as reações de seu organismo.


Naquela mesma noite, porém, Ellie tivera um sonho diferente. Estava sentada na mais luxuosa poltrona que já vira. Havia uma grande mesa à sua frente. Estava em uma sala de decoração em tom escuro e elegante.


Homens vestidos de modo completamente formal encontravam-se sentados à mesa. Um deles colocou-se em pé com uma caixa de madeira em mãos. Depositou-a à frente de Ellie. Ela acenou com a cabeça e abriu a caixa.


Olhou para dentro dela. Ergueu o rosto e disse:


– “O vingador da vítima matará o assassino. Quando o encontrar, o matará”.


Ela tornou a olhar para dentro da caixa. Encarou a cabeça decepada que encontrava-se ali e sorriu para si mesma.


Estava orgulhosa.


Muito orgulhosa.



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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 51



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  • shadowxcat Postado em 19/07/2016 - 16:24:44

    ESSA FANFIC ESTÁ SENDO REPOSTADA AQUI: http://fanfics.com.br/fanfic/54463/sete-demonios-romance-terror-horror-teen-amor -suspense-thriller-aventura-acao-vampiros-bruxas-demonios

  • raysantos Postado em 12/08/2015 - 20:10:35

    Sua fic e muito top e bem escrita tudo d bom tomara que logo logo a Ellie e James possam ficar juntos sem a essa fulana que eu nao aprendi a dizer muito menos escreve o nome no meio nada contra a crianca mais fazer oq ne continua

  • vverg Postado em 08/02/2015 - 23:19:37

    Olá, to lendo pelo spirit anime =)

  • vverg Postado em 08/02/2015 - 22:54:24

    Por favor!!! Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa mais!!! Okk, já sabes q amo de paixão esta web!!! To sentindo muita falta dela....please, preciso de mais caps!!!! Não me deixe na curiosidade por muito tempoooooo *_*

  • vverg Postado em 10/01/2015 - 01:47:30

    Desculpe meu sumisso!! Mas assim q der, comento qdo ler todos os caps =)

  • vverg Postado em 19/08/2014 - 23:57:43

    Poxa não judia tanto de sua leitora caramba!!! Minha fic perfeição, posta mais, preciso de mais.... Estou ficando agoniada sem suas atualizações Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa maissssssssssssssssssssssssssss nesta fic perfeitaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa amo sua fic, ok vc já sabe disso, mas não custa falar né hahahahahahahaha

  • vverg Postado em 12/08/2014 - 12:10:07

    Meu Deus! Que nojo deste Declan!!!! Cara##@%@#$#! Putz!!! Como ela se deixa dominar desta forma, caramba!!! Posta mais mais mais mais mais mais. Poxa vc me deixou curiosa agora, tadinha da Elie, ela é muito fraca e se deixa dominar por este imundo.... Estou pasma, posta mais na minha fic perfeição mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais =)

  • vverg Postado em 09/08/2014 - 17:08:49

    Quero maisssssssssssssss!!! Preciso mais desta fic perfeita!!! Posta sim??? Necessito ler.... =)

  • vverg Postado em 06/08/2014 - 10:33:43

    Dahlia tah ferradinha kkkkk. Posta mais! Necessito de mais rsrsrs *_*

  • vverg Postado em 02/08/2014 - 09:55:32

    Minha fic mais q perfeitaaaaa posta mais quero mais caps


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