Fanfic: Sete Demônios | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass
James Braxton contemplou sua imagem no espelho à sua frente.
Passando a mão pelo rosto mal barbeado cujas feridas já estavam praticamente cicatrizadas, ele constatou que aparentava progresso em sua recuperação. As dores de cabeça haviam desaparecido, tal como as dores que outrora se alastravam por todas as partes de seu corpo. As queimaduras estavam se fechando, pois ele seguira com o tratamento à base de ervas sugerido por Seth e Noah. Tinha a impressão de que muito tempo se passara, mas não lembrava-se do ponto em que havia se perdido no tempo. Não lembrava-se de nada. Absolutamente nada.
Os cabelos castanho-claros escorriam pela nuca, desta vez mais compridos. Os olhos azuis-escuros estavam opacos, vidrados na angústia de um passado completamente apagado. Vestia-se utilizando as roupas emprestadas pelos curandeiros. Não havia qualquer marca do passado em sua fisionomia, tampouco em sua memória. Era como se ele tivesse acabado de abrir os olhos para o mundo, nascendo novamente. Detestava aquela sensação vazia que transitava por seu corpo, pois a cada dia que se passava James tornava-se mais desejoso de saber mais a respeito de si mesmo. Queria se conhecer, descobrir quem eram seus amigos, familiares, quais haviam sido seus feitos...
A curiosidade era imensa, mas maior ainda era a agonia que lhe apertava o coração sempre que percebia que nada podia fazer a respeito. A pequena Willow estava certa. Alguém o havia tentado assassinar, e este mesmo alguém permanecia solto pelo mundo, como um predador à espera. O culpado por seu trágico acidente precisava ser desvendando, e uma fez que isto fosse feito, Braxton finalmente colocaria seus pés para fora mais uma vez.
Precisava esperar, pensar, investigar.
O que descobrira sobre si mesmo fora o que lera nos jornais trazidos por Willow todas as manhãs. Descobrira por intermédio deste fato que possuía uma propriedade no exterior, onde nascera e fora criado. Ir à Abingdon parecia ser a saída para aquela maré de angústia. A ideia não abandonara sua mente. Precisava seguir seu instinto, pois, até aquele ponto, era o que parecia certo. Era a coisa certa a se fazer.
Perdido em meio a estes planos ainda não finalizados, James Braxton sentiu uma forte pressão lhe caindo sobre a cabeça. Um latejar insuportável fez com que ele levasse ambas as mãos à cabeça, pressionando-as fortemente em uma tentativa inútil de tentar comprimir a terrível enxaqueca.
Dobrou-se sobre si mesmo, resmungando, tentando parar a dor que parecia estar fazendo com que seu cérebro explodisse. Cerrando os olhos com firmeza, ele avistou inúmeros flashbacks de imagens e sons mesclados uns aos outros sendo rapidamente reproduzidos em sua mente, uma mistura psicodélica que não parecia ter fim. Os sons cessaram de repente e as imagens se congelaram em uma só. Em seguida, esta mesma passou a ser reproduzida em velocidade normal, como um filme. Mas não tratava-se de uma alucinação. James soube que era uma memória há muito tempo esquecida, uma lembrança. Não deixou que ela escapasse, vendo-a ser executada em seu cérebro, diante de seus olhos.
Tinha quatorze anos e era a perfeita imagem de uma criança diferente das demais. Muito sério, os olhos frios, porém atentos, e os lábios selados. Talvez fosse este o resultado da forma como o pai o estava criando, como o pai o treinara durante toda a sua vida. Seu pai, Angus Braxton, encontrava-se ali, ao redor, acompanhado da bela mulher que era sua mãe, Gemma.
O pai sempre demonstrara-se amistoso com seus sócios e amigos, algo que deixava James – por diversas vezes – abismado, pois ele agia de modo completamente diferente quando estavam a sós.
A mãe, no entanto, sempre fora a mesma. Uma dama da alta sociedade muito elegante e adorável, sempre atenciosa e educada. Estava a par dos atos do marido, da forma como treinava seu primogênito como se treina um cão de guarda, mas estava sempre de mãos atadas diante de tal situação.
James acreditava que ela temia a reação do marido, caso tentasse impedir que ele prosseguisse com seus atos em relação ao filho. Não a culpava por isso. Angus Braxton era, de fato, um homem intimidador, implacável.
Estavam os três ali, mas o cenário não era familiar. Não estavam em sua casa. O local era agradável, muito elegante e admirável. Seu pai falava em tom empolgado com o anfitrião, um velho amigo, Maurice Donovan. Os dois pareciam animados com o que parecia ser um jantar de negócios.
A esposa do homem, Serena Donovan, os recebera de muito bom grado, demonstrando-se educada diante deles. Havia um garoto com eles, um pouco mais novo que James, trazia um sorriso mesquinho consigo, algo que desagradou o mais velho de imediato.
O ambiente parecia-lhe formal demais, fechado demais.
Subitamente, entretanto, toda a formalidade que pesava no ar foi rompida uma vez que uma figura de pequeno porte desceu correndo as escadas da sala principal onde todos se encontravam, indo ao encontro do dono da propriedade com um largo sorriso no rosto iluminado pela mais completa felicidade.
Maurice Donovan tomou-a nos braços uma vez que se encontraram, erguendo-a no ar, e a menina de fartos cabelos dourados onde pendiam duas fitas vermelhas – uma de cada lado – gargalhou alegremente. Tinha seis anos e era feliz como qualquer outra criança. Como qualquer criança, menos James Braxton.
– Ora, mas quem é a menina mais linda de todo o mundo? – Donovan fê-la rir mais uma vez. Em seguida, colocou-a no chão e a pequena correu para os braços da mãe.
– Vai se tornar uma garota muito bonita, Maurice. – Angus Braxton comentou, e Maurice Donovan encheu-se de orgulho da filha caçula, como sempre fizera. – Futuramente poderia casá-la com meu Jimmy.
Braxton indicou o filho com os olhos, mas Donovan hesitou. Tinha ciência de que Angus preparar seu primogênito para se tornar um assassino de elite. Apesar da pouca idade, o garoto causava-lhe arrepios, tinha o semblante de um matador. Havia algo demoníaco no filho de Angus Braxton, disso Donovan estava seguro. Completamente seguro.
O próprio Maurice conhecia de perto a angústia de Serena pelo fato de estar casada com ele, um homem da Fraternidade, um assassino. Não desejava o mesmo futuro para sua filha. De forma alguma.
O anfitrião não manifestara resposta. James permaneceu atento ao que o pai dizia ao homem, porém. Mal sabia ele que as palavras de seu pai se concretizariam anos mais tarde.
As imagens começaram a se distorcer de modo súbito, e os sons se desvaneceram, tornando-se sussurros quase inaudíveis. A realidade o tomou rapidamente, trazendo-o de volta para o mundo real, o mundo no qual ele quase nada sabia e muito desejava descobrir.
As dores de cabeça desapareceram da mesma forma que se iniciaram, inesperadamente. Estava sozinho no galpão novamente. Willow e os dois anciões haviam saído para conseguir mantimentos.
– Oh, meu Deus! – alguém exclamou. Era Amber Holden. Ele reconheceu sua voz imediatamente.
A médica que adentrara o local segurando sacolas de supermercado deixou as mesmas caírem e adiantou-se para James, que agonizava no chão, ainda perplexo pelo que vira. Sem notar, ele emitia sons, desejando que a dor parasse.
– O que está havendo? – ela indagou, muito preocupada.
Percebendo lentamente que as dores que cabeça já não estavam mais presentes, James Braxton abaixou as mãos e virou-se para fitar a mulher que ajoelhara-se ao seu lado. Parecia terrivelmente assustada.
– Lembrei-me de algo. – declarou ele. A voz soara muito baixa, vacilante.
– De que? – a médica inquiriu, ainda assustada pelo que vira.
– Eu n... Não tenho certeza. – a dúvida passeava por sua expressão confusa. – Uma lembrança de muito tempo, talvez.
– Isto nos informa algo. – constatou ela. – Agora, ao menos, temos certeza de que sua amnésia é apenas temporária.
James não respondeu, mas esforçou-se em se animar com a afirmação. Amber, no entanto, dando-se conta do que acabara de dizer, temeu pela reação dele uma vez que recordasse-se de todos os seus atos e de seu passado sangrento.
Se o diabo tornasse a corromper sua alma, uma segunda vez, claramente não haveria volta.
E todo o trabalho dificilmente empenhado teria sido executado em vão.
–--
– Poderíamos entrar pelos fundos. – sugeriu Zeke Trent. Três de seus amigos estavam ao seu redor, e o que eles planejavam não era nada louvável. – A casa é grande, deve ter seguranças, mas talvez consigamos uma forma de passar.
– Tem certeza disso? – um deles perguntou. – Quero dizer, a garota te aceitou na organização dela...
Ax Blaze, que também encontrava-se ali, dirigiu um olhar severo ao comparsa, dizendo:
– Ela tem grana, muita grana. Vale a pena perder um cargo qualquer naquela seita de malucos.
Trent assentiu com a cabeça. O mesmo fez o restante deles.
Tinham um plano. Há dias estavam aprimorando a ideia. Fora o próprio Zeke quem apresentara a sugestão de um assalto à mansão de Eleonora Braxton. Ele e Blaze haviam prestado atenção nela e na forma como agia, sempre tentando coletar mais uma informação ali e aqui.
Estavam agora sentados no meio da sala da casa de Ax Blaze. Elisha havia saído com algumas amigas. Ninguém mais sabia a respeito do que planejavam. Nem mesmo Dominic Ryder.
– Preciso de um desenho da planta original. – Trent analisou o mapa colocado na mesa de centro da sala, onde seus amigos assentavam-se ao redor com suas garrafas de bebida e cigarros. Ele mesmo havia desenhado o que pudera ver do lado de fora da mansão, mas não era o suficiente. Não seria prudente invadir o local sem antes ter ciência de suas saídas e entradas, portas e janelas. O problema, no entanto, era que Zeke Trent nunca fora prudente. Era um garoto ambicioso, porém pouco esperto.
– Parece meio impossível, não acha? – Ax Blaze disse, finalmente.
– Bem, pois então que se dane. – declarou Zeke. – Invadiremos a casa ainda esta semana. Todos de acordo?
Os comparsas assentiram silenciosamente. Ax abriu a boca para manifestar-se, mas recuou com as palavras não ditas assim que soaram batidas contra a porta.
– Entre. – declarou Trent.
Dominic Ryder surgiu por detrás da porta, abrindo-a e adentrando o local. Emitiu um sinal com o olhar, decretando:
– Temos de ir ao prédio da organização. Estão à nossa espera.
Blaze e Trent se entreolharam discretamente. Aquele olhar, entretanto, não escapara da vista de Ryder.
Foram os três em um veículo alaranjado até a antiga construção, a sede da Sétima Divisão.
Logo na entrada da construção, Ellie Braxton os esperava com certa empolgação, diferente de seu superior, Vincent Hurst. Os outros homens da divisão também estavam presentes, incluindo Bryan Carter com uma das mãos enfaixadas e um dedo em falta.
O primeiro a descer do veículo laranja fora Dominic Ryder, tomando seu posto de líder do trio, adiantando-se para a garota que vestia-se de modo extremamente formal, com seus cabelos dourados presos para cima, o rosto firme em uma expressão sério, algo que não condizia com a doçura de seus olhos.
– Sra. Braxton. – ele a saudou.
– Recebemos informações a respeito de um possível novo ataque. – Ellie esclareceu brevemente.
– A tal Ordem? – Dominic Ryder arqueou uma sobrancelha, desdenhoso.
– Os Ceifeiros do Equilíbrio. – ela o corrigiu. – O líder tenciona atacar-nos até a meia-noite do dia de hoje. Preciso que todos vocês estejam preparados.
Ryder virou-se e encarou seus companheiros que haviam também descido do veículo para ter com ele. Tornou a encarar Ellie.
– Estamos sempre preparados.
– Ótimo. – concluiu. – No entanto, não permitiremos que este prédio sofra o ataque.
A expressão do rapaz alterou-se com a afirmação.
– O que quer dizer?
– Todos nós estaremos em minha casa. É lá que esperaremos pelo ataque do inimigo. – ela afirmou, muito segura.
– Uma decisão com a qual não concordo. – interveio Vincent Hurst, finalmente. – Mas Ellie tem razão. Precisamos preservar o prédio da organização. É nossa história que se constitui destas paredes velhas e solo manchado.
– Bem... Está bem. – Ryder concordou.
Todos rumaram à propriedade de Ellie. A mesma seguia conduzindo sua motocicleta vermelha, logo depois do veículo alaranjado de Dominic Ryder e seus homens. Depois deles, automóveis negros dos homens da Fraternidade.
Adentraram a propriedade, atravessando os altos portões. Ellie ordenou que espalhassem-se pelos cantos, preparados para o ataque que possivelmente viria.
Horas seguiram-se longamente, de modo que Ellie chegou à conclusão de que as informações não eram verdadeiras. O ataque não viera. A noite caíra sobre a cidade, o céu estrelado logo acima não parecia refletir o que, no entanto, acontecera horas mais tarde.
Veículos de lataria branca como a neve aproximaram-se dos portões, seus faróis cegavam aqueles que – do lado interior da propriedade – notaram a presença indesejável, mas já esperada.
Um homem de cabelos pretos começando a ficar grisalhos e olhos escuros como o céu logo acima dele desceu de um dos automóveis em passos elegantes e firmes. Adiantou-se para os portões. Outros desceram dos demais veículos, mas Ellie tinha a impressão de tê-los visto antes, pois estes trajavam vestes azuladas e traziam consigo facões compridos e afiados.
– Onde esconde-se, Impostora? – o homem indagou em tom muito alto diante dos portões fechados.
De dentro da sala principal da casa, Ellie fez menção de colocar-se para fora, para enfrentá-lo. Instintivamente, Michael Graber deteve-a, segurando-a delicadamente pelo braço.
– Deixe isto para os outros, por favor.
– Não. – ela protestou com calma, fitando-o seriamente. – Esta é minha casa.
O advogado tentou fazer com que ela mudasse de ideia, mas conhecia a persistência da jovem quase tanto quanto os outros. Ela virou-se para aqueles que surgiram dos outros cômodos, empunhando suas armas de fogo.
– Nada de rodeios. Nada de misericórdia. – esclareceu. – Se eles atacarem, – olhava cada um deles nos olhos, dirigindo-lhe claras instruções. – Matem-nos.
Em seguida, abriu a porta da sala e caminhou para fora, seguindo até o jardim. Assistindo-a se afastar lentamente, Michael Graber abanou a cabeça e seguiu logo atrás dela. Joshua Wilder olhou para Bryan Carter, hesitante. Viu-o com um revólver na mão que ainda encontrava-se inteira e os curativos na outra.
– Tem certeza de que ainda pode fazer isto?
Carter riu nervosamente, parecendo ter sido ofendido pela pergunta.
– Como se eu precisasse de todos os meus dedos para mandar aqueles filhos da mãe direto para o Inferno.
Wilder sorriu de canto, balançando a cabeça negativamente. Os dois começaram a caminhar atrás de Ellie e Michael Graber.
Dominic Ryder manteve-se fixo no chão, calado. O nervosismo o tomou de forma violenta, como sempre acontecia toda vez que precisava meter-se em um tiroteio. Apertou a arma em sua mão com muita força, uma gota de suor deslizando por sua testa. Olhou diretamente para seus dois companheiros.
– Ouviram o que ela disse. Nada de hesitação. Vamos acabar com todos eles.
Ax Blaze emitiu um aceno com a cabeça, assentindo. Zeke Trent, hesitante, parecia ainda mais nervoso que o amigo. Lentamente ele concordou em silêncio. Dominic Ryder virou-se de costas e começou a se afastar. Trent fê-lo parar, indagando subitamente:
– Onde esteve?
Ryder virou-se imediatamente para o garoto.
– Do que está falando?
– Quando chegamos aqui. Onde você se meteu? Esteve longe dos demais por alguns minutos, não pense que eu não notei.
Dominic deixou escapar um riso irônico.
– Eu estive analisando o perímetro, está bem? Agora, por favor, vamos parar com essas conversas paralelas.
Tornou a se virar de costas e saiu na direção do restante. Zeke e Blaze entreolharam-se novamente, partilhando do mesmo pensamento. Em seguida, uniram-se aos outros, saindo do local, dirigindo-se ao jardim da mansão.
Ellie parou em frente aos seus portões, do lado de dentro. Frente a frente com o inimigo, ela percebeu a frieza em seus olhos negros, mas sentia o mesmo percorrendo suas veias no momento.
– Não escondo-me de quem não temo, senhor. – disse-lhe.
Aaric Hunter, o tal homem que liderava os homens de azul, riu-se debochadamente.
– Pois deveria. – ele afirmou com sua voz autoritária. – É uma pedra em meu caminho, menina. E não posso dizer que sinto em ter que eliminá-la.
– Seria admirável se conseguisse cumprir com o que acaba de dizer. – Ellie sorriu de canto, sarcástica. – Apresente-se.
O homem esticou os braços para seus arredores, indicando seus subalternos.
– Nós – disse. – Somos os Ceifeiros do Equilíbrio. Equilíbrio este que você rompeu com sua repugnante existência.
– Não seja imprudente, Sr. Hunter. – de dentro da casa, Vincent Hurst aproximou-se deles. Sua postura era despreocupada, porém severa. O timbre de voz brando e, ao mesmo tempo, firme. – Subestimar seu adversário poderá custar-lhe a vida.
– Ameaças de um mercenário aposentado não podem me atingir. – comentou o sujeito. – Não estou aqui por nenhum de vocês. Meu alvo é único. Mas aviso-lhes que caso se oponham contra mim, terão o mesmo fim que esta... – seus olhos pousaram sobre o rosto de Ellie. – Maldita impostora.
– É assim que me denomina? – ela perguntou. – Em que se baseia para chamar-me de impostora?
– Idiotas são estes que creem que é você a escolhida para reinar sobre a Terra.
– Bem, então parece-me que o senhor tem uma nova teoria para apresentar-me.
– Teorias são estórias. Contos narrados por gente ignorante. – rosnou o homem. – Meu destino é um fato.
– Ainda não terminou de se apresentar. – prosseguiu a garota.
– Eu – inclinou o queixo e fitou-a nos olhos em uma atitude desafiadora. – Sou Aaric Hunter, aquele que governará sobre o Novo Mundo por sete anos e restaurará a pureza e a inocência.
Ellie não emitiu qualquer reação. Desta vez era ela quem olhava-o nos olhos, destemida, muito séria.
– Luta pela pureza e inocência, Sr. Hunter?
– Luto pela verdade. E a verdade é esta. Há dezoito anos tem estado em meu caminho. Está na hora de eliminar o mal pela raiz.
– Devo realmente rir se o senhor acredita mesmo que governará sobre a Terra.
– Pois estaria sendo tola se agisse de tal forma.
– Na verdade, não. – ela arqueou uma sobrancelha e sorriu pelo canto dos lábios róseos. – Afinal, esta é apenas mais uma teoria. E teorias são estórias contadas por ignorantes.
Aaric Hunter sentiu a raiva chocar-se contra seu corpo. Bufou e virou-se para seus homens.
– Matem-na.
O pequeno exército de azul começou a se mover com agilidade. Ellie pôde vê-los escalando os portões, saltando para o lado de dentro. Não precisou ordenar que seus irmãos da Fraternidade contra-atacassem. Quando deu-se por si, já podia ouvir os disparos contra os homens que empunhavam facões. Estes mesmos usavam os facões como escudos, rebatendo as balas que eram disparadas na direção deles. Em movimentos rápidos, tentavam atacar os membros da Sétima Divisão.
Vincent Hurst arregalava os olhos diante da forma extremamente rápida com a qual os Ceifeiros atacavam seus homens. Tomando um revólver em mãos, ele tentou acertar dois deles, mas seus disparos foram inúteis. Dominic Ryder colocou-se em sua frente, de repente, disparando contra os pés dos dois homens, distraindo-os, e, sem seguida, entre seus olhos, vendo-os desabar ao chão. Virou-se para Hurst.
– Mude sua tática. Eles são rápidos, mas não imortais.
O rapaz correu para outra direção, disparando contra mais dos homens que trajavam azul.
Aaric Hunter não se movia, assistindo com orgulho o ataque executado por seus seguidores. Entre ele e Ellie, havia apenas os portões de ferro altos pertencentes à mansão. A garota também não se movia, olhando-o com desdém. Seus olhos caíram para os pés do homem, fixou sua visão no chão. As palavras afloraram sua mente antes que pudesse controlar seus lábios.
– Ure! – ela gritou. E um círculo de fogo cercou o líder dos Ceifeiros do Equilíbrio.
Hunter recuou alguns passos, apagando as chamas com as solas do sapato, praguejando em plena raiva.
– Desgraçada! – exclamou, quando, por fim, conseguiu conter o fogo ao seu redor. – Que outro maldito feitiço esconde por trás dessa face inocente?
Era uma pergunta que vinha à mente da garota toda vez que perdia seu autocontrole e tomava atitudes como aquela. Tudo ainda era um grande mistério para ela, mas já não se importava mais.
– Retire-se de minha casa. – Ellie ordenou friamente. – E leve consigo seus homens se não quiser que eu os mande ao Inferno.
– Cale-se diante de minha presença, cria do diabo. – resmungou Aaric Hunter. Ele abriu os braços mais uma vez e inclinou a cabeça aos céus. – War zuqna sha fá `atahu yaum-al-qiyamah in naka la-tukh liful mia`d!
Ellie franziu o cenho ao ouvir o que assemelhava-se a uma prece. Assustou-se quando os portões foram abertos como em um passe de mágica. Uma forte ventania fustigou seu rosto, fazendo voar seus cabelos dourados. Aaric Hunter deu passos adiante, os olhos fixos nos dela.
– Finalmente, pequena impostora, terei o prazer de eliminá-la com minhas próprias mãos.
Parou a centímetros de distância da garota, sem deixar de fitá-la nos olhos. Ellie respirava pesadamente, as narinas dilatadas pelo ódio. Os olhos brilhavam, refletindo a chama de sua revolta. Não sentia-se ameaçada. Era ele sua presa, e não o contrário.
– Ousou invadir minha propriedade. – mantendo os olhos fixos nele, ela esticou uma mão. Inexplicavelmente, o corpo do homem começou a levitar, suspenso por algo invisível que apertava-lhe a garganta. Aaric Hunter debatia-se no ar, tentando libertar-se do que o matinha levitando, sufocando-o. – É você a pedra em meu caminho, pobre criatura. Está cego por sua maldita fé. – Ellie cerrou o punho esticado. Hunter sentiu a pressão ao redor de sua traqueia aumentar. – E sou euquem terá enorme prazer em ver a vida esvaindo-se de seu corpo inútil.
Ela fechou o punho bruscamente no ar e Aaric começou a perder seus sentidos, impossibilitado de respirar. As pernas agitavam-se no ar, o corpo estremecia por completo. Ellie manteve-se olhando-o nos olhos, determinada a saborear o momento em que a alma do sujeito abandonaria sua matéria. – Sofra, maldito. Vamos, sofra.
– Pare! – ouve um protesto. Ellie virou-se na direção da voz.
De dentro de um dos veículos brancos, uma figura de cabelos vermelhos esvoaçantes por conta da forte ventania corria até ela. Ellie a reconheceu rapidamente.
Manteve o homem suspenso no ar, olhando agora para a mulher que adiantava-se em sua direção.
– Solte-o. – ordenou a ruiva.
– O que diabos faz aqui? O que faz com essas pessoas? Onde está seu maldito grupo?
– Eu disse para soltá-lo. – ela insistiu com firmeza.
– Não recebo ordens suas. – declarou a mais nova.
Sem hesitar, Dahlia arrancou um crucifixo dourado do bolso da jaqueta espessa que vestia e esticou-o em frente ao rosto da menina.
– Crux sacra sit mihi lux! Vade retro, satana!
Ellie abriu os olhos por completo. Uma queimação incontrolável brotou de seu estômago, subindo até seu rosto. Ela perdeu o controle que impunha sobre o corpo do adversário e sua cabeça começou a latejar fortemente. Aaric Hunter despencou ao chão, enfraquecido pelo ataque da jovem. Dahlia devolveu o crucifixo em seu bolso e correu para Hunter, ajudando-o a se levantar. Encolhida em sua dor, Ellie tentou se manter firme, mas caiu de joelhos diante deles, tomada pela forte enxaqueca e pela agitação descontrolada em seu interior. Ergueu o rosto para a mulher e aquele que quase assassinara segundos antes. Ela respirava com dificuldades, a dor era insuportável. Sentiu que alguém aproximava-se dela com rapidez. Reconhecera a presença, tal como reconhecera a voz que soou em seguida:
– Retirem-se! – ordenou Vincent Hurst. – Agora!
Dahlia não manifestou-se, ajudando Aaric Hunter a seguir para um dos veículos. Adentraram-no e os homens de azul – ao menos os que restaram – fizeram o mesmo, colocando-se dentro de seus carros brancos. Os motores foram ligados, e eles desapareceram do local em poucos segundos. A ventania havia cessado. Um silêncio perturbador tomava conta do ambiente.
Vincent colocou Ellie em pé, puxando-a pelos braços. Olhou-a com infinita preocupação.
– Sente-se bem, querida?
– Ela uniu-se àqueles malditos, Vincent. – ela concluiu. As dores desapareceram junto à ventania que acompanhara Aaric Hunter. – Dahlia não está mais do lado da Ordem.
– Descobriremos o que houve mais tarde.
Joshua Wilder e Bryan Carter correram até eles, suados, exaustos, furiosos.
– Desta vez quase fomos derrotados. – Wilder esforçava-se em sorrir. – Está tudo bem, Ellie?
Corpos caídos sobre aquele solo faziam com que a cena toda se assemelhasse a um acontecimento anterior, um outro ataque, algo parecido, porém de menor proporção.
– Ficarei bem. – respondeu ela. Procurou pelo restante deles com os olhos.
Dominic Ryder e seus comparsas não encontravam-se ao redor.
–--
Às pressas, em um dos cômodos da mansão, Ax Blaze e Zeke Trent corriam contra o tempo, coletando tudo o que viam pela frente, colocando objetos pequenos, porém valiosos, em seus bolsos.
– Essa oportunidade surgiu em boa hora. – Trent fez um breve comentário, tomando para si as joias que encontrara nas gavetas da cômoda da suíte principal. – Eles todos estão distraídos demais com o ataque. Sequer perceberão o sumiço dessa coisa toda.
– Ainda acho que deveríamos esperar, deixar isto para outro dia. – afirmou Blaze. Ele fazia o mesmo, esvaziando as gavetas e enchendo os bolsos das calças.
– Ora, cale-se. Não podemos deixar uma oportunidade dessas escapar assim. – ele terminou de encher os bolsos e riu consigo mesmo. – Dom nos mataria se soubesse.
– Não tenho tanta certeza.
– Pois eu sim. Ele tem um senso de justiça extremamente exagerado. Toda aquela história sobre confiança não enche os bolsos de ninguém.
– Ah, você acha mesmo? – uma terceira voz interveio.
Blaze e Trent viraram-se ao mesmo tempo para a porta à qual Dominic Ryder encontrava-se parado. Havia uma expressão assustadoramente séria em seu rosto, os punhos cerrados em um aviso nada amistoso.
– Cara, se acalma. – Zeke fez um gesto com as mãos. – É necessário, está bem? Eles sequer vão se dar conta da ausência destas joias. Esse pessoal é podre de rico.
– Não se rouba de inocentes, Zeke.
– Inocentes? – Trent gargalhou, incrédulo. – Aquela maluca é uma assassina, você não viu? A ficha dela deve estar mais suja que a de nós três juntos.
– Ela ofereceu-nos apoio, nos ajudou a eliminar nosso maior problema. É assim que você agradece?
– Ora, Dom, me poupe de seus sermões!
– Você estava certo. Eu realmente os mataria por isso.
– Qual é? – Zeke ainda ria. – Tudo isso por causa daquela garota? Está interessado nela? Não tem problema, cara. Nós podemos dividir. – sorriu, malicioso. – Assim como podemos dividir toda a grana pelo que conseguimos aqui. – mexeu nos bolsos cheios e seguiu sorrindo.
Dominic Ryder estreitou os olhos.
– Escolheu as palavras erradas, Zeke. – disse. – E palavras erradas levam aos piores destinos.
– Ei, ei. – Ax Blaze interveio, receoso. – Vamos parar por aqui. Nós somos amigos, cara. Somos como irmãos, se lembra?
Ryder sacou seu revólver e estendeu-o, colocando seus dois amigos na mira. Olhou-os uma última vez, declarando:
– Não quero laços com traidores.
Ele subitamente mudou a direção de sua mira, disparando a arma para cima. Rapidamente, um pedaço de metal fino como uma navalha despencou da parede, balançando e deslizando na direção de Zeke e Ax, arrancando-lhes a cabeça em velocidade incalculável, fazendo-as rolar pelo chão até os pés de Dominic. Os dois corpos decapitados caíram como bonecos de pano, manchando o carpete em tom escarlate.
Ryder já estava ciente dos planos deles. Assim sendo, preparara-lhes a armadilha perfeita. Havia feito aquilo nos minutos em que estivera ausente.
Esperava que aquilo respondesse à pergunta de Zeke Trent quando ele indagara onde havia se metido quando chegaram à mansão.
–--
* War zuqna sha fá `atahu yaum-al-qiyamah in naka la-tukh liful mia`d! [em árabe] - Concede-nos a sua intercessão, Tu jamais faltas às Tuas promessas!
* Ure! [em latim] - Queime!
* Crux sacra sit mihi lux! Vade retro, satana! [em latim] - A Cruz Sagrada seja minha luz! Para trás, Satanás!
Prévia do próximo capítulo
– Exorcizam... Exorcizamus te, om... Omnis immun... Immundus... Spiritus... Omnis satânica protesta... – Postesta. – uma segunda voz corrigiu a primeira. Alena Braxton encontrava-se assentada à mesa do escritório da catedral mais uma vez. Havia um livro aberto à sua frente e um exorcista exigente de pé ao seu lado. T ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 51
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shadowxcat Postado em 19/07/2016 - 16:24:44
ESSA FANFIC ESTÁ SENDO REPOSTADA AQUI: http://fanfics.com.br/fanfic/54463/sete-demonios-romance-terror-horror-teen-amor -suspense-thriller-aventura-acao-vampiros-bruxas-demonios
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raysantos Postado em 12/08/2015 - 20:10:35
Sua fic e muito top e bem escrita tudo d bom tomara que logo logo a Ellie e James possam ficar juntos sem a essa fulana que eu nao aprendi a dizer muito menos escreve o nome no meio nada contra a crianca mais fazer oq ne continua
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vverg Postado em 08/02/2015 - 23:19:37
Olá, to lendo pelo spirit anime =)
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vverg Postado em 08/02/2015 - 22:54:24
Por favor!!! Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa mais!!! Okk, já sabes q amo de paixão esta web!!! To sentindo muita falta dela....please, preciso de mais caps!!!! Não me deixe na curiosidade por muito tempoooooo *_*
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vverg Postado em 10/01/2015 - 01:47:30
Desculpe meu sumisso!! Mas assim q der, comento qdo ler todos os caps =)
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vverg Postado em 19/08/2014 - 23:57:43
Poxa não judia tanto de sua leitora caramba!!! Minha fic perfeição, posta mais, preciso de mais.... Estou ficando agoniada sem suas atualizações Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa maissssssssssssssssssssssssssss nesta fic perfeitaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa amo sua fic, ok vc já sabe disso, mas não custa falar né hahahahahahahaha
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vverg Postado em 12/08/2014 - 12:10:07
Meu Deus! Que nojo deste Declan!!!! Cara##@%@#$#! Putz!!! Como ela se deixa dominar desta forma, caramba!!! Posta mais mais mais mais mais mais. Poxa vc me deixou curiosa agora, tadinha da Elie, ela é muito fraca e se deixa dominar por este imundo.... Estou pasma, posta mais na minha fic perfeição mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais =)
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vverg Postado em 09/08/2014 - 17:08:49
Quero maisssssssssssssss!!! Preciso mais desta fic perfeita!!! Posta sim??? Necessito ler.... =)
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vverg Postado em 06/08/2014 - 10:33:43
Dahlia tah ferradinha kkkkk. Posta mais! Necessito de mais rsrsrs *_*
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vverg Postado em 02/08/2014 - 09:55:32
Minha fic mais q perfeitaaaaa posta mais quero mais caps