Fanfics Brasil - Segundo Ciclo - Capítulo XXI - Abandonando a Razão Sete Demônios

Fanfic: Sete Demônios | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass


Capítulo: Segundo Ciclo - Capítulo XXI - Abandonando a Razão

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Regressando ao hotel onde hospedara-se graças ao auxílio de Amber Holden, James deixou-se cair sobre a cama um tanto desconfortável, sentindo-se atormentado por fantasmas de um passado incerto. Quando pedira a ajuda da médica, ela soube exatamente o que fazer. Havia um amigo, alguém que poderia fazer com que ele saísse do país sem que o identificassem. Na realidade, portando identidades falsas, ele conseguira cumprir com o prometido com êxito. Amber hesitara, mas após ouvir o que ocorrera naquela tarde, após descobrir o que acontecera a Noah e Seth, ela não vira saída melhor. Partira com James e a pequena Willow para Londres, seguindo para Abingdon.


E lá estavam agora, trancados em um pequeno e pacato hotel.


Willow sentou-se na cama ao lado, suspirando. Engolira a seco a morte de seus dois velhos amigos. Ainda perturbada pelo que vira, a garota guardara para si mesma todo o sofrimento e revolta. Sempre fora assim. Aprendera a ser forte depois de enfrentar circunstâncias pouco justas em sua vida.


– Amber deve ter saído para buscar algo para comer. – observou ela.


James levantou-se, também sentando-se à beira de sua cama.


– Aquela casa – disse ele. – Pertencia aos meus pais.


– Não pude ver muito. – ela falou, indiferente. Talvez os últimos acontecimentos estivessem pouco a pouco esfriando seu bom coração. Nem ela mesma saberia responder, de qualquer forma. – Mas vi a garota de quem me falou. Está certo de que é uma inimiga?


– Não tenho certeza de nada. Mas sei o que senti quando vi o que habita nela.


– Pois eu não sei ao que se refere.


– Trevas. – declarou. – Foi isto o que vi.


Willow encolheu os ombros.


– Deveria tentar entrar em contato.


– Não. – ele protestou. – Ainda há muito que preciso investigar. Há alguém que preciso encontrar.


– Quem seria?


– Alena. – respondeu. – Minha irmã. Lembro-me dela... Ainda é uma menina. Preciso saber se está bem, se... Se está viva.


– Talvez esteja naquela casa.


– É o que descobrirei amanhã de manhã. – ele suspirou. – Se acham que estou morto, Alena é a herdeira de tudo o que pertence à família. Não entendo o que aquelas pessoas faziam na propriedade.


Willow decidiu não insistir, mudando o olhar de direção. Silenciosa, pareceu estar muito pensativa.


– Willow... – James a chamou. Ela virou-se para ele mais uma vez. – Estarei aqui para quando sentir-se pronta para desabar.


– Do que está falando?


– Não guarde tudo para si mesma. Se quiser chorar ou gritar, faça-o.


Ela esforçou um sorriso. Braxton soara conciliador e compreensivo, algo que não condizia com seu semblante tão sério e cruel. A menina não sentia-se sozinha, afinal. O fato de ainda ter alguém aquietava seu já não tão brando espírito.


– Avisarei quando precisar de um ombro. – advertiu ela, seriamente. – Obrigada.


A formalidade da garota não deixava de impressioná-lo. Soava muito mais velha do que realmente era. Chegava a ser algo assustador e peculiar. Willow não era uma criança comum, claramente.


– Também quero que saiba que eu a ajudarei a encontrar alguém com quem possa viver.


A afirmação a pegara de surpresa. Willow arregalou os grandes olhos azuis, inquisitiva.


– Como assim?


– Bem... Não sei. – ele falou. – Estou certo de que gostaria de ter uma família, um lar. Encontraremos alguém que aceite criá-la.


– Não. – Willow balançou a cabeça. – Não preciso ser adotada.


– Pelo que sei, não há ninguém de sua família que conheça. – analisou Braxton. – Não gostaria de viver em uma casa de verdade com pai e mãe?


– Eu já tenho família. – declarou a garota.


– Mesmo? – James indignou-se. – Sabe quem são seus pais?


– Meu pai é um cavaleiro negro e minha mãe uma arqueira. – esclareceu, simplesmente.


James Braxton fez grande esforço para não rir. Respirou fundo, passando as mãos pelos cabelos. Encarou-a, ainda tentando se manter sério.


– Willow, olha... Estamos falando sobre seus pais agora, pessoas reais. Sabe quem são eles?


– Acabo de dizer. – insistiu ela. – Não estou brincando. Eu os vi, está bem?


– Você os viu?


– Em meus sonhos, com muita frequência. Sei quem são eles e sei que um dia voltarão para me buscar.


Ela soara tão segura de suas palavras que James negou-se a se opor, ainda que sua opinião fosse contrária. Obviamente a menina não estava interligando seus sonhos, seu dom com a realidade que vivia.


O silêncio ameaçou tomar conta do ambiente em seguida, mas foi rapidamente quebrado uma vez que Amber Holden abriu a porta do quarto de hotel, adentrando o local com sacolas em mãos. Encarou ambos com curiosidade, depositando as sacolas sobre a mesa de madeira próxima a porta, fechando-a por dentro.


– O que houve? – ela quis saber.


– Estávamos conversando. – James Braxton colocou-se em pé. – Passamos pela propriedade de minha família.


– Ocorreu algo por lá?


– Não. – negou ele. – Não exatamente. O que trouxe?


Amber olhou para Willow que mantivera-se quieta em seu canto.


– O jantar. – respondeu a médica. Em seguida, pôs-se a cochichar, aproximando-se dele: – O que há com ela?


– Ainda está abalada pelo que houve com Noah e Seth. – James disse em tom baixo. – É uma garota forte, acredito que irá superar a perda muito em breve.


Holden respirou fundo, tomada pela dor da menina.


– Assim espero. – disse.


–--


Marina certificou-se de que Alena dormiria confortavelmente naquela noite. Fez com que ela se deitasse e permaneceu em seu quarto por instantes, pensando no que ocorrera recentemente. Quando a vira no escritório da Catedral, sendo atacada pela entidade que possuíra Dahlia, a jovem bruxa não compreendera o que ela fazia no local. Perguntou-a mais tarde, quando foram embora para casa, mas Alena dissera-lhe simplesmente que fora visitar Christian Madden para fazer-lhe perguntas. Marina temeu que a menina fosse se envolver ainda mais na obscuridade que rondava a família. Decidiu não entrar em detalhes, evitando tocar no assunto desde então.


– Ficará assistindo meu sono? – a pergunta de Alena trouxe Marina de volta à realidade.


– Desculpe. – disse, saindo de seus devaneios. – Pensei que estivesse dormindo.


– Estou tentando.


A empregada assentiu com a cabeça, dizendo:


– Bem, boa noite. – e fez menção de se afastar.


– Espere. – pediu a garota. Marina voltou-se para ela, fitando-a. – Quero lhe contar algo.


– Pois diga. – Marina cruzou os braços, esperando a explicação que viera em seguida.


– Sobre Madden. Eu o procurei para que me ensinasse algumas coisas.


– Sim, eu logo vi. Tentou executar o exorcismo sozinha.


– Tentei. – confessou a jovem. – Mas falhei. Certamente voltarei a tentar, pois é o caminho que escolhi seguir.


Marina Baresi exalou um suspiro opositor, olhando-a com firmeza.


– Alena, não deve envolver-se nisso.


– Quero ser como ele, Marina. – decretou severamente. – O que ele fez por mim... Quero fazer o mesmo por outras pessoas.


– É ótimo que pense assim, mas...


– Você não está entendendo. – Alena começou a se exaltar, havia um sorriso em seus lábios e ela sentou-se na cama, muito entusiasmada. – Este homem salvou-me a vida, mas não apenas isso. Arrancou-me da escuridão. Sinto como se... Deus o tivesse colocado em meu caminho.


A bruxa sorriu de canto, surpresa pelo otimismo da menina. Jamais a vira tão radiante antes, e isto, de certa forma, também a deixara feliz.


– Eu entendo. – ela falou. – Se está certa de que isto a fará bem, então deve seguir seu novo propósito. Escolheu o lado correto, o lado bom.


– Christian Madden é um homem bom. – corrigiu Alena.


Sim. Marina pensou consigo. E possui o coração mais puro de toda a Terra.


Talvez fosse por isso que sentia-se fascinada desde que pousara os olhos nele pela primeira vez. Colocava fé nele, certa de que ele tinha seu papel no que se aproximava dia após dia, mas também temia pelo que poderia acontecer a ele caso seu tão bom coração sucumbisse às atrocidades do mundo. O incluíra em suas orações noturnas desde que se dera conta do quanto se importava, muito embora não quisesse admitir nem mesmo para si própria.


– Estou lhe contando isto para que não se oponha. Continuarei visitando-o. – Alena Braxton prosseguiu, trazendo Marina de volta à conversa.


– Não há problema. – concordou ela. – No entanto, terá de ser mais cuidadosa quando a esposa de seu irmão regressar.


– Ellie não me impedirá, não saberá de nada.


– Bem, devemos manter segredo então.


– Sei que o guardará. É de confiança.


Marina sorriu em resposta.


– Deve dormir agora.


Alena assentiu, tornando a deitar-se, cobrindo-se com rapidez. Marina apagou as luzes com um toque no interruptor e retirou-se do quarto, fechando a porta.


Passando pelo corredor, adiantando-se em descer as escadas, ela notou algo através da janela de vidro, algo que a fez cessar seus passos. Parou diante da janela, avistando uma figura um tanto sombria do lado de fora, além dos altos portões da propriedade.


Reconhecendo-o, Marina desceu as escadas correndo, passando pela porta principal, saindo da casa. Atravessou o jardim às pressas, correndo até os portões. Estava sorrindo sem perceber, uma alegria desconhecida a invadira quando o vira ali.


Tentou se manter séria quando parou diante dos portões principais, frente a frente com Christian Madden.


– O que faz aqui?


– Precisamos conversar. – explicou o exorcista. – Mas não aqui.


Marina olhou ao redor, hesitante.


– É um pouco tarde.


– Por favor. – pediu ele. – É realmente muito importante.


Ela pensou por instantes. Alena estava dormindo, não entraria em problemas. Pediu para que ele aguardasse e adentrou a casa novamente. Surgiu no jardim segundos depois, trazendo consigo uma bolsa de couro e um casaco azulado por cima de suas roupas. Abriu os cadeados dos portões com uma única chave, passando por eles, indo para o lado de fora. Em seguida, trancou-os e encarou Christian, hesitante.


– Para onde vamos?


– Vai descobrir.


A expectativa imensa que a garota criara dentro de si não diminuiu nem mesmo quando pararam em uma lanchonete a céu aberto próxima dali. Não importava onde estavam, nem por que. Marina estava feliz por ele ter recorrido a ela, embora ainda não soubesse do que se tratava.


Sentaram-se em frente ao balcão e Madden fez os pedidos. Ainda sorrindo, Marina decidiu manifestar a curiosidade:


– Sobre o que quer me falar?


– Eleonora Braxton. – ele respondeu em tom extremamente sério. Os olhos negros brilharam contra a luz fraca posta sobre o balcão.


O sorriso no rosto da bruxa desapareceu imediatamente. Ellie era o que os mantinha em caminhos diferentes, mas não a culpava por isto. Eram as circunstâncias, e elas sempre falariam mais alto.


– O que quer falar a respeito dela?


– Alena disse-me que a mulher a assusta, que está muito mudada. Quero saber o que ela tem feito.


– Está fora do país. – Marina disse-lhe, desinteressada. – Uma viagem de negócios, certamente.


– Nós dois sabemos bem quais são os negócios daquela...


– São negócios. – ela interveio. – É ela quem cuida do patrimônio da família agora.


Madden estreitou os olhos, estudando a expressão da jovem com cuidado, tentando desvendar seus pensamentos.


– Está mesmo ao lado dela?


– Até a morte. – disse, honrando sua palavra.


– Sabe que é um caminho sem volta. – advertiu o caçador de demônios.


– Eu me pergunto se há caminho que possua volta uma vez que se segue um. – Baresi comentou, muito séria.


– Soube que há pouco sofreram um novo ataque, algo que não partiu da Ordem.


– Sujeitos vestidos de azul, com enormes facões em mãos. – ela recordou-se brevemente. – Mas recuaram. Ellie estava com seus homens.


– Sabe quem são?


– Isto não tem a menor importância. – a bruxa tornou a fitá-lo, o rosto rígido em uma expressão de desconforto. – Somos todos inimigos uns dos outros. É a profecia se cumprindo.


– É conhecedora da teoria mais aceitável da profecia, segundo me parece.


– “Do mar eterno ele se ergue, criando exércitos nos litorais, jogando irmão contra irmão, até a humanidade não existir mais”. – citou ela. – Vocês acham que Eleonora é o Anticristo.


– Bem, não pode negar que ela realmente causa essa impressão. – Madden riu ironicamente. – Quero dizer, Alena contou-me como ela tem agido. Está se tornando cruel.


– Está em busca de justiça.


O exorcista soltou outra gargalhada, desta vez sem economizar seu sarcasmo.


– A Mulher de Vermelho não é uma justiceira. – afirmou. – É uma mercenária.


– É uma pessoa justa. – rebateu a bruxa. – Não sabe o que está dizendo, pois não conhece o coração dela.


– E você sim? – Christian arqueou uma sobrancelha.


– Houve uma noite – ela colocou-se a esclarecer seu ponto de vista. – Em que trouxeram para aquela casa uma garota amedrontada e trêmula. E Braxton disse: "É minha esposa, trate de servi-la e atender aos seus pedidos". – Marina olhou-o profundamente nos olhos. – Haviam acabado de se casar, mas não havia alegria ou espírito de celebração em nenhuma de ambas as partes.


– Aonde quer chegar?


– A garota nunca foi verdadeiramente feliz. Perdeu a mãe muito cedo, o pai foi assassinado e a polícia negou-se a ajudar. O irmão a quer morta, e sua família foi praticamente extinta. Perdeu o marido de forma cruel, tal como sua governanta, alguém que considerava parte da família. – prosseguiu ela. – Ellie teria razões suficientemente aceitáveis para que a vida enegrecesse seu coração, mas não. Ela é boa, Christian. Tem propósitos bons para todos nós.


Diante do esclarecimento da bruxa, Madden soltou a respiração, perturbado.


– Olha só, eu respeito sua opinião, mas... Não me convencerá a aceitá-la como governante.


– Se não for ela, quem será? A Ordem? – inquiriu Marina. – Quem você tem em mente?


– O mundo pertence a Deus.


– Deus não descerá na Terra para reinar.


– Não precisamos de governantes sobre a Terra. – ele resmungou.


– Não? Consegue imaginar o caos que se tornaria o mundo depois do dia final? Precisamos de alguém que mantenha a ordem e a paz. Alguém com propósitos bons. – ela insistiu. – Eleonora é esta pessoa.


Christian desviou os olhos dos delas, incomodado. A conversa não o estava levando a lugar algum. Contudo, era bom estar ali, expondo suas opiniões. Há dias não conversava com alguém àquele respeito. O pedido finalmente havia chegado. Madden apoderou-se do sanduíche e arrancou uma mordida, descobrindo que, afinal, estava faminto.


– Há mais algo que gostaria que me explicasse. – ele falou, olhando-a novamente. – O exorcismo. Onde aprendeu a executá-lo?


– Sou uma bruxa. – ela disse. – Mas uma bruxa branca. Sou uma adversária para demônios, preciso saber como repeli-los.


Madden calou-se perante a expressão sisuda da garota. Ela falava sério. Causou nele a impressão intimidadora de que sabia sobre demônios quase tanto quanto ele próprio. Mas lembrou-se de que era óbvio. Marina vivia cercada por eles. Fora assim durante toda a sua vida, pois crescera naquela família. E Deus sabia quantas inumanidades que rondavam aquela árvore genealógica.


Silencioso e pensativo, Christian Madden arrancou mais uma mordida de seu sanduíche. A conversa não parecia lhe desagradar, mas o lanche esfriara devido ao clima frio daquela noite. Contudo, Christian acreditou que não era apenas o clima da cidade. O ambiente estava frio.


Talvez a entidade que falara através de Dahlia estivesse certa.


Talvez tudo já estivesse corrompido.


Madden temia que ele próprio também estivesse.


–--


Contemplando a própria imagem em frente à penteadeira do quarto principal da propriedade, Ellie não soube dizer se sentia-se desconfortável naquele ambiente. A verdade é que há muito tempo não sabia o que era verdadeiramente estar em casa. A sua ideia de lar fora esquecida há muito tempo, e com ela a normalidade – ou não – de sua vida.


Estava desatando o nó da fita de cetim que mantinha seu cabelo preso para cima quando batidas contra sua porta a impediram de seguir com seu ato. Adiantou-se para a porta, abrindo-a. A surpresa não fora tão grande, como se já estivesse certa de que ele apareceria ali, no meio da noite à porta de seu quarto.


– O que quer? – indagou sem muito interesse na resposta.


– Desculpe. – Dominic Ryder disse-lhe em tom comedido, apoiava-se ao batente da porta. – Não temos nos falado desde que me procurou para anunciar sua decisão, a de me manter em sua organização.


– Talvez seja porque não temos sobre o que falar.


– Sou de opinião contrária.


Ellie suspirou alto demais, franzindo os lábios em plena contrariedade. Ergueu os olhos para ele novamente.


– Por favor, entre. Não quero ter conversas no meio do corredor para que depois gritem aos quatro ventos.


– Bem, as paredes têm ouvidos em qualquer lugar.


Ela não disse nada, fazendo um gesto com a mão para que ele parasse de falar e adentrasse seu aposento. Ryder passou por ela, entrando, e então ela fechou a porta. Virou-se para ele e cruzou os braços em frente ao peito, uma atitude que pareceu cômica aos olhos do rapaz. Era docemente encantadora em sua postura tão séria.


– Seja breve. – ela ordenou.


– Sobre a brincadeira que eu fiz, eu...


– Pare. – Ellie emitiu um gesto rápido. – Não precisamos falar sobre isto.


– Mas eu lhe devo desculpas.


– Não estaria aqui hoje se eu já não o tivesse perdoado. – afirmou. – Não fez nada. Está tudo bem, acredito eu.


– Bem, se está dizendo... – Dominic encolheu os ombros.


– Quero saber a respeito de outra coisa. – ela disse. – Elisha. Como ela está?


– Desolada, eu diria. – respondeu. – O irmão era sua única família.


Ellie levou tempo para se manifestar em resposta. A frase final a deixara pensativa. Declan também era sua única família até então, entretanto, via-o mais como um completo desconhecido. Ainda, em seu interior, desejava profundamente tê-lo próximo. Ainda acreditava que ele apareceria qualquer dia daqueles diante dela, arrependido e decidido a fazer as pazes. Era um sonho. Um sonho impossível ou apenas muito distante da realidade.


Desistindo de pensar, ela finalmente tornou a falar:


– Eu lamento.


Ryder colocou as mãos nos bolsos das calças amarrotadas e pigarreou.


– Bem, devo ir. Desculpe-me por ter aparecido no meio da noite.


– Fique. – pediu ela. – Ainda há algo que gostaria que me mostrasse.


Ele estranhou o pedido, franzindo as sobrancelhas.


– E o que seria?


Viu-a caminhar na direção de um móvel posto ali, no quarto. Estava parcialmente escuro, como todo o resto da casa. Ela poderia simplesmente acender as luzes do quarto, mas não o fizera. Dominic Ryder perguntou-se por que.


Quando ela caminhou na sua direção, tornando a se aproximar, tinha dois copos de cristal em mãos. Estendeu um para ele, o rosto ainda muito sério.


– Beba.


Ele hesitou, mas não deixou transparecer. Tomou o copo das mãos dela e ergueu-o, levando até os lábios. Experimentou a bebida incolor que desceu rasgando por sua garganta.


– Que diabo é isto? – perguntou, indignado.


Ellie soltou uma gargalhada que soou alta demais e ecoou por todo o quarto.


– Não faço ideia. Pedi para que me trouxessem algo forte.


Ryder fitou-a em silêncio por um longo momento, pensando consigo mesmo até chegar a uma breve conclusão.


– Tencionava se embebedar sozinha em seu quarto?


O semblante dela se alterou, ela pareceu subitamente desconfortável diante da afirmação dele.


– Também sabe ler mentes? – perguntou, irônica.


– Não é preciso saber ler mentes para concluir tal coisa. – declarou. – Mas quem sou eu para julgar, não é mesmo?


Ele sorriu pelo canto dos lábios e tornou a bebericar da mistura em seu copo. Ainda com o outro copo em mãos, Ellie olhou-o atentamente nos olhos, analisando sua expressão.


– Aquilo que fez em minha casa. – disse, inesperadamente. – Quero que me mostre novamente.


Dominic não respondeu-a de imediato. Quando finalmente decidiu lhe falar, estendeu o copo vazio para ela e disse:


– É melhor sentar-se. Apreciará o show de um ângulo mais agradável. Aliás, – virou-se para os lados. – Deveria acender as luzes.


– Não. – Ellie objetou. – A claridade me causa enxaquecas.


Caminhou até uma mesinha de canto e depositou os copos sobre ela. Em seguida, dirigiu-se até sua cama e sentou-se à beira, muito apreensiva. Emitiu um sinal com a cabeça e esperou que ele fizesse o resto.


Ele colocou-se de pé diante dela. Cerrou os olhos levemente e deixou que as células de seu corpo se manifestassem em favor de sua transformação. Sentiu algo quente lhe percorrer a pele, os olhos, cada gota de seu sangue.


Aos olhos de Ellie, o que estava presenciando era surreal. Assistiu o rosto dele se alterar em milhares de expressões, o corpo tremendo violentamente, a pele parcialmente coberta por tatuagens foi dando espaço para um tom mais pálido e delicado. O ato fora rápido demais, até mesmo para ela.


Em um piscar de olhos, já não estava diante de Dominic Ryder.


Estava diante da imagem de si própria.


Pasma e incrédula, Ellie colocou-se de pé. Ficou face a face com o que via em sua frente agora.


– É... Incrível. – admirou-se ela. Sentia-se como se estivesse em frente a um espelho. – Como é possível?


A garota que mais parecia um perfeito clone de sua matéria sorriu. Em seguida, em questão de um ou dois segundos, a alteração se reiniciou. O corpo tremia e o rosto mesclava-se em várias expressões faciais.


Novamente, era Dominic Ryder quem estava à sua frente.


– Alguns nascem com dons especiais, eu suponho. – gabou-se ele. E então Ellie sentiu-se tentada a ferir o ego inflado do sujeito. Todavia, ele próprio manifestara-se a respeito, surpreendendo-a. – Também tem seus truques, não é?


Ellie arregalou os olhos, de repente.


– Truques? – ela indagou.


– Vi o que fez com o homem que liderava aqueles que nos atacaram em sua casa. – respondeu. – Ateou fogo em seus pés sem precisar tocá-lo.


Ela riu, incomodada. Aquilo não era um truque, manifestava-se nela toda vez que encontrava-se em situação criticamente perigosa. Não era algo que podia controlar ou simplesmente deixar de lado. Pelo menos ela acreditava que não.


– Aquilo é...


– Um dom. – completou ele. Levantou o rosto e sorriu presunçosamente. – Mostre-me.


– E-eu não sei se devo. – balbuciou a garota.


– Não sabe como controlar?


A questão a pegou de surpresa, fazendo com que acreditasse que ele realmente pudesse ler sua mente. Ou, talvez, ela estivesse sendo transparente demais. Sentenciou-se mentalmente por isso.


– Não é algo que se pode controlar. – ela disse, seriamente.


Dominic riu baixo.


– Mas é claro que é. – aproximou-se dela e tomou-lhe ambas as mãos. Ellie recuou, esquivando-se dele instintivamente. – Acalme-se. Quero lhe mostrar algo.


Ele tornou a tomar-lhe as mãos e guiou-a até a lareira do cômodo. Posicionou-se atrás dela, segurando seus pulsos, fazendo-a esticar as mãos para frente.


– Concentre-se. – sussurrou-lhe ao ouvido. Estavam suficientemente próximos para que ele notasse que um leve arrepio havia percorrido todo o corpo dela. Abriu um sorriso vitorioso e prosseguiu: – O segredo é simples. Está em você, em cada célula, em cada pensamento...


Ellie cerrou os olhos para a mais profunda escuridão. Sentia uma comoção em seu interior. Subitamente, sua alma parecia estar sendo transportada para outro ambiente. Outra época. Outra vida.


As vozes ecoavam em sua mente, mas nada conseguia ver. Os sussurros tornavam-se mais próximos conforme ela esforçava-se mais em se concentrar, porém ela não conseguia distinguir as palavras umas das outras. Sentiu algo brotar de sua alma, uma chama incandescente que seguia na perenidade do calor, mas não a queimava. Pelo contrário. Fazia com que sentisse-se firme, como se a pequena chama fosse sua fortaleza, alimentando seu espírito com poder.


A chama em seu interior ergueu-se mais alta, subindo de seus pés até seu estômago, causando-lhe um súbito pânico. Mas ela manteve-se calma, concentrada. Quando a chama subiu alto demais, até atingir seus membros superiores, a mesma percorreu seus braços, escapando pelas palmas de suas duas mãos, fugindo para seu lado exterior.


Ellie abriu os olhos rapidamente, tempo suficiente para que pudesse assistir ao espetáculo causado por ela mesma. As chamas que saíam de suas mãos por ligeiros segundos aqueceram a lareira à sua frente, acendendo-a imediatamente. Ela então ficou estupefata, arregalando seus olhos. Dominic recuou um passo e colocou-se ao lado dela, sorrindo.


– Como vê, tudo pode ser controlado.


Ela virou-se para ele, a boca entreaberta em surpresa. Balançando a cabeça para os lados, com os olhos brilhando, Ellie declarou:


– Nunca fiz isto por conta própria antes.


– Agora sabe como fazê-lo. – ele alargou o sorriso, achando graça no quão surpresa a garota encontrava-se. – Está pronta para a guerra.


Ellie não respondeu. Ergueu o rosto para ele enquanto o silêncio ameaçava permanecer no aposento por um longo tempo. A proximidade deles era inevitável, Ellie observou-o, calada.


Estudou atentamente suas feições suavizadas pelo olhar irônico carregado por detrás dos intensos olhos verdes. Descobriu que sentia-se fisicamente atraída por ele, talvez mais do que gostaria. Acontecera no momento em que haviam se conhecido, mas Eleonora era orgulhosa demais para admitir. Naquele instante, entretanto, deixara o orgulho de lado.


Fitou-o nos olhos, e, sem qualquer hesitação, permitiu que os pensamentos falassem através de suas palavras, deixando-as fluir antes que pudesse detê-las.


– Faça amor comigo. – murmurou em um tom que soou baixo demais. Mas para Dominic o pedido não poderia ter soado mais claro.


Sem esperar pela resposta, Ellie avançou-se para ele, procurando pelos lábios dele com os seus. Quando ele tomou-a nos braços, ela imediatamente se censurou por seu ato. Não sabia como ou por que o estava fazendo, não conseguia encontrar uma explicação para como havia decidido deixar-se beijar por aquele homem que conhecia há tão pouco tempo. Tampouco como estava prazer naqueles beijos.


Sabia quem e o que era Dominic Ryder, mas, no entanto, isso não tinha a menor importância em comparação com o que ele havia feito, com sua lealdade e determinação em lutar ao lado dela e por ela.


Desistiu de pensar e deixou que as emoções tomassem conta dela.


A timidez de Ellie desapareceu quando permitiu que Dominic puxasse seu vestido cor-de-rosa pelos ombros.


Docemente, ele tomou-a uma das mãos e, então, a pôs sobre a cama. Em seguida, também lentamente, a despiu por completo e fez o mesmo com suas próprias roupas, evitando perder mais tempo.


Ficou por um longo tempo a contemplá-la, ao mesmo tempo acariciando-a com uma mão atenta. Jamais tinha imaginado conhecer uma mulher como aquela, sobretudo desejá-la tanto junto a si.


As mãos dele passaram a madrugada conhecendo-lhe o corpo até que, afinal, ela adormecera em seus braços, quando o céu estava clareando em cinza-pálido.


De manhã, quando ela afastou-se dos braços de seu amante adormecido, colocou-se em pé descobrindo seu aposento iluminado pela luz do dia. Seguiu para sua penteadeira e, diante do espelho, Ellie contemplou seu rosto de lábios inchados que ainda tinham as marcas da noite anterior.


Recordou-se da primeira vez que tivera de submeter-se a tais atos. Estava trêmula e assustada, tinha acabado de casar-se com um completo desconhecido. Quando James Braxton deixara de ser um desconhecido, tornara-se seu único ponto de segurança. Censurou-se por pensar nele depois de ter se abandonado nos braços de outro na noite passada.


Ausente, James fazia-se ainda mais presente, como se seu fantasma estivesse destinado a persegui-la pelo resto de sua vida.


Pensando consigo mesma, Eleonora chegou à conclusão de que através de Dominic Ryder, fora com James que ela fizera amor.


Por outro lado, pensou que talvez não devesse se penitenciar tanto. O que acontecera era a prova de que ainda estava viva, ainda havia um coração batendo em seu peito, ela ainda era uma mulher e tinha suas próprias necessidades. A lucidez permanecia presente em sua vida. Ellie achou que devesse agradecer por isso.


Dominic Ryder havia sido apenas um instrumento de prazer necessário à sua sobrevivência.


Ou quase isso...


Repentinamente, houve uma comoção alheia em seu quarto. Ellie virou-se na direção do som. Ryder havia despertado, fazendo menção de levantar-se da cama.


Sem se incomodar com a sua própria nudez, a jovem virou-se novamente, recusando-se a olhar para ele.


– Tenho de encontrar-me com membros da sociedade. – declarou, indiferente. – Quero que me acompanhe.


Estranhando a atitude dela, sem reagir, Ryder deu de ombros.


– Como desejar.


– Michael Graber também nos acompanhará. – ela anunciou. – Avise-o, por favor.


Por sua vez, ele não respondeu. Colocou-se em pé e vestiu-se com imensa rapidez. Soltou um suspiro e sorriu para si mesmo, retirando-se do quarto.


Quando fechou a porta pelo lado de fora, sentiu a presença de mais alguém no silencioso corredor. Virou o rosto para um dos lados, encontrando-se agora diante do olhar incrédulo de Michael Graber. Ciente do motivo pelo qual o advogado aparentava um misto de surpresa e raiva, Ryder sorriu de canto. Graber aproximou-se dele, encarando-o firmemente.


– O que diabos fazia neste quarto?


– Tenho completa certeza de que você não gostaria de um relatório a esse respeito. – ironizou o mais novo. – A propósito, foi convocado para acompanhar sua querida soberana a reunião desta manhã.


– Não recebo ordens suas. – resmungou Michael, estava praticamente rangendo os dentes.


– Estou repetindo o que me foi dito. Agora, se me der licença... – olhou-o com sarcasmo. Graber estreitou os olhos. Dominic Ryder sorriu mais uma vez, afastando-se dali.


Michael Graber assistiu-o afastar-se dali em passos rápidos. Não precisava olhá-lo no rosto para saber que o filho da mãe estava sorrindo.


E Graber detestava o fato de saber perfeitamente bem o exato motivo da alegria matinal de Ryder.



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  • shadowxcat Postado em 19/07/2016 - 16:24:44

    ESSA FANFIC ESTÁ SENDO REPOSTADA AQUI: http://fanfics.com.br/fanfic/54463/sete-demonios-romance-terror-horror-teen-amor -suspense-thriller-aventura-acao-vampiros-bruxas-demonios

  • raysantos Postado em 12/08/2015 - 20:10:35

    Sua fic e muito top e bem escrita tudo d bom tomara que logo logo a Ellie e James possam ficar juntos sem a essa fulana que eu nao aprendi a dizer muito menos escreve o nome no meio nada contra a crianca mais fazer oq ne continua

  • vverg Postado em 08/02/2015 - 23:19:37

    Olá, to lendo pelo spirit anime =)

  • vverg Postado em 08/02/2015 - 22:54:24

    Por favor!!! Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa mais!!! Okk, já sabes q amo de paixão esta web!!! To sentindo muita falta dela....please, preciso de mais caps!!!! Não me deixe na curiosidade por muito tempoooooo *_*

  • vverg Postado em 10/01/2015 - 01:47:30

    Desculpe meu sumisso!! Mas assim q der, comento qdo ler todos os caps =)

  • vverg Postado em 19/08/2014 - 23:57:43

    Poxa não judia tanto de sua leitora caramba!!! Minha fic perfeição, posta mais, preciso de mais.... Estou ficando agoniada sem suas atualizações Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa maissssssssssssssssssssssssssss nesta fic perfeitaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa amo sua fic, ok vc já sabe disso, mas não custa falar né hahahahahahahaha

  • vverg Postado em 12/08/2014 - 12:10:07

    Meu Deus! Que nojo deste Declan!!!! Cara##@%@#$#! Putz!!! Como ela se deixa dominar desta forma, caramba!!! Posta mais mais mais mais mais mais. Poxa vc me deixou curiosa agora, tadinha da Elie, ela é muito fraca e se deixa dominar por este imundo.... Estou pasma, posta mais na minha fic perfeição mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais =)

  • vverg Postado em 09/08/2014 - 17:08:49

    Quero maisssssssssssssss!!! Preciso mais desta fic perfeita!!! Posta sim??? Necessito ler.... =)

  • vverg Postado em 06/08/2014 - 10:33:43

    Dahlia tah ferradinha kkkkk. Posta mais! Necessito de mais rsrsrs *_*

  • vverg Postado em 02/08/2014 - 09:55:32

    Minha fic mais q perfeitaaaaa posta mais quero mais caps


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