Fanfic: Sete Demônios | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass
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A noite parecia estar aproximando-se de forma rápida. Rápida demais. Ainda que o sol brilhasse fortemente sobre o solo, aquecendo-o de maneira absurdamente insuportável, a escuridão avizinhava-se cada vez mais.
Caminhando lentamente debaixo dos raios solares que pareciam tencionar derreter-lhes a cabeça, era difícil reconhecer o local onde estavam.
O acidente ocorrera três horas antes, quando o avião que os levava chocara-se conta o solo, terminando parcialmente destruído. Quando descobrira-se em vida, James Braxton acreditou veemente que presenciara um milagre. Havia ferimentos por seu corpo, mas nada que o impedisse de escapar entre ferragens e cadáveres daqueles que vinham na cabine do avião de pequeno porte. Encontrara a pequena Willow desacordada e, desesperado para fazer com que a menina despertasse, James entrou em pleno pânico. Willow, entretanto, voltara a si logo em seguida, muito assustada. James ajudara-a a retirar-se do meio das ferragens, e seguiram calados sem rumo algum.
Se estivesse seguindo completamente seu instinto e percepção, James Braxton afirmaria com convicção que estavam em solo mexicano, próximos à fronteira com os Estados Unidos. O deserto ao redor deixava clara tal suposição.
Contudo, não era possível ter completa certeza.
Para a pequena Willow, nenhum trauma aproximava-se da apatia com a qual tratava a morte agora. Presenciara momentos terríveis, de modo que sua mente tornara-se quase que blindada. Calada, a menina seguia os passos de Braxton sem objetar.
O silêncio prevaleceu pelo que mais parecia ser o infinito. Willow Hope acreditou que a situação se manteria daquela forma, que hora ou outra ambos cairiam mortos no solo quente devido à desidratação, fome ou cansaço. Ou todos os três fatores juntos.
Desta vez, definitivamente, não haveria saída.
Fora pega de surpresa quando a voz de James irrompeu no ar, quebrando a tensão e o silêncio de uma só vez.
– Precisamos seguir até encontrarmos uma carona.
Willow franziu os lábios secos. A ideia lhe parecia tola.
Braxton prosseguiu rapidamente:
– Deve haver algum... Abrigo, não sei. Arranjaremos comida e algo para beber.
A menina negou-se a se manifestar. Nenhum dos dois brecava seus passos, ainda que parecessem estar sucumbindo ao desgaste físico. Com os grandes olhos fixos no deserto adiante, Willow colocou-se a rezar mentalmente, fazendo inúmeras preces que aparentemente não alcançariam os ouvidos de Deus. O local parecia esquecido pelo mundo. Fez com que Willow acreditasse que o Inferno fosse ali. E ela estava nele. Queimando viva debaixo do sol escaldante, sentindo seu estômago dar mil e uma voltas em torno de si mesmo, seus lábios se partindo e seu coração enfraquecendo a cada passo que se arrastava, avançando lentamente.
Atormentado pelo silêncio da garota, James virou-se bruscamente e ajoelhou-se perante ela, segurando-a pelos ombros.
– Eu quero que me escute. E quero que me escute muito bem. – olhou-a com severidade, como se quisesse meter-lhe comandos em sua mente. – Disse-me que tem um deus poderoso. Seja o que for o que ele lhe concedeu, foi isto que fez com que me trouxesse de volta à vida. Se seu deus é tão justo como diz, certamente ele lhe fará justiça. Sairá viva desta situação.
Com os olhos cansados, Willow olhou-o apaticamente. Sua voz doce e jovial não passava de um sussurro patético quando afirmou:
– Você também sairá vivo desta situação. Mais uma vez. Com toda a certeza.
Franzindo o cenho, Braxton foi subitamente tomado pela surpresa.
– O que quer dizer com isto?
– Eu o vi lutando esta noite, obtendo vitória. Esta noite você lutará em nome da justiça. E Deus é a justiça. Está no caminho certo.
Isento de certeza, com o semblante coberto de dúvidas, James suspirou e colocou as costas de uma das mãos contra a testa suada da menina.
– Está delirando.
Os olhos da pequena profetisa mudaram de direção, avistando algo por cima dos ombros dele. Sua expressão mudou repentinamente.
James pôde ouvir a respiração ofegante de uma terceira presença soar por detrás dele próprio. Seguindo a direção do olhar de Willow, Braxton virou-se lentamente para trás.
Deparando-se com um canídeo de porte médio. A coloração de seus pelos beirava ao castanho-claro, com uma listra prateada que estendia-se por suas costas. Os olhos vigilantes e intimidadores, e as presas escancaradas.
Muito lentamente, sem deixar de fitar o animal, James colocou-se em pé. A criatura selvagem rosnou alto, colocando-se em posição de ataque.
– Shhh... – Braxton fez um sinal discreto para que Willow não se manifestasse. – Com muita calma... Muita calma... – começou a aproximar-se do animal em passos cautelosos, os olhos fixos nos olhos da criatura. Ocorreu uma estranha comoção interior em Braxton no momento em que seus olhos encontraram-se com os do cão selvagem. Uma estranha familiaridade. Algo curioso e inexplicável. – Está tudo bem...
Um grito subitamente ecoou aos quatro cantos, fazendo com que tanto James quanto Willow estremecessem diante do cão.
O animal procurou por algo com os olhos, girando ao redor, atento ao som.
O grito soou novamente, desta vez mais alto e horrorizado.
– O que foi isso? – Willow arriscou perguntar.
De repente, o canídeo emitiu um som como se quisesse dizer-lhes algo e correu em meio às árvores que encontravam-se mais adiante, desaparecendo em meio à troncos e folhagens secas.
– Venha. – Braxton tomou a mão da pequena profetisa e esforçou-se em arrastar-lhe consigo enquanto seguiam a direção de onde supostamente vinham os gritos.
Seguiram em alta velocidade por entre as árvores. Willow Hope deu-se conta de que a noite finalmente caíra sobre eles. Já não sentia sua pele queimar sob o calor do sol, mas seu coração escoiceava o peito violentamente, fazendo queimar todas as células de seu corpo frágil. Não conseguia manter os olhos abertos, quase entregue ao próprio cansaço.
Foi apenas quando sentiu que James já não corria mais, a arrastando consigo, que Willow regressou à realidade, forçando a si mesma a manter os olhos abertos.
Suas narinas dilataram imediatamente quando inalou fumaça. Havia fogo. E não apenas isto, também havia pessoas. Um grupo de pessoas que trajava branco caminhava ao redor de algo semelhante a um altar improvisado no meio de uma antiga construção de aparência arruinada. O grupo de aproximadamente dez pessoas resmungava algo impossível de se compreender de imediato, segurando em suas mãos direitas tochas acesas.
Fixando seu olhar no centro do altar, Willow Hope avistou algo preso à madeira. Mas não tratava-se de algo, e sim de alguém.
Os gritos partiam da pessoa amarrada ao altar, gritos de pânico e horror.
Somente quando a percepção o invadiu por completo, James Braxton pôde compreender o que diziam as pessoas que rodeavam o pequeno altar.
– Esta noite nós libertaremos nossas almas da maldição que caiu sobre nossa era! – anunciou um deles, um homem de meia-idade coberto em seus trajes brancos como a neve. – Maldição esta que iniciou-se com a promiscuidade humana. Esta noite, meus irmãos, nós restauraremos a inocência!
O resto do grupo consentiu com glorificações e gritos de guerra. O sujeito acrescentou, erguendo suas mãos ao céu.
– Nesta noite travaremos uma luta contra o demônio. A criatura maligna e impura que desta vez vem escondendo-se por detrás de uma face inocente. – apontou para a pessoa presa ao altar. – Esta mulher abriga nosso inimigo. E nós fomos os escolhidos para enviá-lo de volta ao lugar de onde veio, para que queime no fogo eterno do Inferno.
As glorificações surgiram novamente e o homem foi aplaudido por seus seguidores. O – supostamente – líder do grupo tomou uma segunda tocha em mãos, aproximando-se do altar improvisado. A mulher ali amarrada soltou outro grito, choramingando.
– Cale-se, maldito! – ordenou o velho. – Seu tempo está encurtando-se. A vitória pertence aos verdadeiros donos da verdade.
Outro grito escapou dos lábios da desconhecida. Seu desespero tornou-se ainda maior quando o homem fez menção de deitar as chamas sobre a madeira que sustentava seu corpo amarrado. Ela debateu-se, tentando desvencilhar-se, mas suas tentativas seriam claramente executadas em vão.
Havia um sorriso débil nos lábios do homem, seus olhos tinham um brilho infernal. O sorriso alargou-se conforme as tochas aproximavam-se do corpo da garota. Ele murmurava algo, entregue à sua insana ideia de justiça, pronto para assisti-la queimar quando uma súbita presença alheia fez com que seus instintos fossem atiçados.
Quando fez menção de virar-se para trás, não tivera tempo de reagir. Um animal que possuía quase o dobro de seu tamanho jogara-se contra ele, fazendo seu corpo ser projetado ao chão. Gritos escaparam dos seguidores de seu culto, enquanto o animal arrancava-lhe metade do rosto em uma mordida única e brutal.
Um de seus homens aproximou-se, tentando atear fogo na criatura, mas algo puxou-o pelo ombro. Virando-se para trás, o sujeito sentiu que algo chocava-se contra sua face, jogando-o para trás.
Vendo o homem que acabara de atacar com o punho cerrado, James Braxton correu para um segundo desconhecido, batendo-lhe contra o estômago com força. Seguiu atacando os seguidores do estranho ritual, derrubando-os sem qualquer sinal de dificuldade. Uma estranha força inumada lhe havia sido concedida no momento em que avançara para eles.
Willow Hope afastou-se do meio das árvores, correndo para o altar no meio das ruínas. Aproximou-se da desconhecida presa à madeira, tentando com todas as suas forças desatar os nós das cordas que a mantinham no altar.
Enquanto desamarrava-lhe os braços, a pequena menina ousou espiar pelo canto dos olhos o imenso canídeo que devorava o corpo do líder que outrora tencionava atear fogo no altar. Sentiu seu estômago girar ainda mais rápido, enojada com a cena. Quando percebeu que havia libertado a mulher, tornou a olhar para o altar. Ela já não encontrava-se mais ali.
Frente a frente com o último homem que restará em pé, James viu-o tentar atacá-lo com sua tocha acesa.
– Mais um passo e eu o queimarei vivo, discípulo do diabo! – assegurou o sujeito.
Braxton inclinou a cabeça para um dos lados, esboçando seu melhor sorriso sarcástico, intrépido.
– Eu não teria tanta certeza.
O animal que instantes atrás alimentava-se do corpo do líder do culto, agora saltava sobre o homem que empunhava a tocha, surgindo por detrás dele.
Arrancou-lhe a cabeça com uma só patada, grunhindo ferozmente sobre a carcaça sangrenta que tornara-se o corpo do homem.
James assistiu-o desmembrar o sujeito em movimentos bruscos e rápidos, até que a criatura virou-se para ele. Seus olhos eram vermelhos como sangue e cruéis como os do próprio diabo. Analisando-o com atenção, esforçando-se para vê-lo em meio às trevas, James Braxton não pôde deixar de sentir-se espantado ao notar a listra prateada que o animal levava em suas costas.
Fungando pesadamente, o cão gigante virou-se e correu para as árvores, sendo engolido pela escuridão da noite.
Ouviu-se um click seco.
Tomado pela certeza de uma nova presença que surgia logo atrás, James Braxton virou-se instintivamente.
Seus olhos cruzaram-se com os olhos acinzentados – que mesmo sob a mais plena escuridão irradiavam uma luz única – da desconhecida que empunhava um arco acinzentado no qual, utilizando uma de suas mãos, ela esticava uma flecha, mirando Braxton minuciosamente. Com os fartos cabelos castanho-escuros amarrados para trás e as roupas sujas e amassadas, ela não emitiu um só movimento, fixa como uma estátua.
James sentiu algo tocar-lhe a mão. Willow havia se colocado ao lado dele. Imediatamente, a menina reconheceu a mulher. Fora aquela que acabara de desamarrar. Aquela que o grupo tencionara sacrificar por alguma razão. Os olhos da profetisa arregalaram-se em admiração ao deparar-se com a arqueira.
Olhando-a no estado em que estava, não aparentava perigo algum.
Mas, melhor do que ninguém, James Braxton estava completamente ciente de que as aparências enganavam.
E muito.
–--
Muito ansiosa, Eleonora adentrou o prédio da Sétima Divisão, seguindo o corredor até o galpão principal. Vincent Hurst pedira a ela para que comparecesse urgentemente ao local.
Pela voz empolgada de seu superior, Ellie acreditou que fosse receber boas notícias, finalmente.
Caminhou sobre seus saltos altos na direção do galpão, deparando-se com osummus. Hurst virou-se e um sorriso delineou seus lábios no momento em que avistou a jovem. Estendeu-lhe ambas as mãos e seus olhos brilharam.
– Minha querida.
Ellie sorriu sem entender e deixou que ele tomasse-lhe as mãos, depositando um beijo em sua face em um gesto terno.
– O que houve desta vez, Vincent? – ela perguntou, sem hesitar.
– Precisava lhe explicar isto em pessoa. – o sorriso desapareceu no rosto do homem e ele agora parecia terrivelmente perturbado. – As demais divisões definitivamente querem bani-la da Fraternidade.
A garota agitou sua cabeça meneando-a negativamente, uma mecha dourada de seus cabelos caiu-lhe sobre a testa e ela ergueu os olhos para seu superior.
– Isto me é indiferente.
– Não deveria ser. Não mais. – afirmou Vincent. Ele virou-se e começou a caminhar de um lado para o outro. – Algo mudou, Ellie.
Ela arqueou uma sobrancelha, confusa.
– O que mudou?
– Acreditam que... – um suspiro impediu-o de prosseguir. – Lembra-se da história que lhe contei quando veio até mim?
Um sorriso desconsertado surgiu no canto dos lábios de Ellie.
– Tenho ouvido muitas histórias desde então.
– Refiro-me à Elizabeth Knightingale. A Dama da Morte. Você estava curiosa a respeito dela, não estava?
– Julguei este um assunto intocável em nosso meio.
– E é, de fato. – ele consentiu. – Mas não deixarei que isto me impeça de explicar-lhe a proporção da guerra que ameaça rebentar.
– O fim d...
– Não, Ellie. Estou falando da guerra entre todas as sete divisões. Algo que está se iniciando porque acreditam que Elizabeth regressou dos mortos e planeja vingança.
Aquilo não estava seguindo caminho algum, não havia coerência nas palavras de Hurst. Ellie não conseguia decidir-se entre rir ou permanecer calada.
Vincent seguiu explicando:
– Acreditam que ela tenha reencarnado, que tenha regressado do Inferno.
– Ainda não estou entendendo...
Ele virou-se bruscamente para ela:
– Eles acreditam que você seja a reencarnação de Elizabeth Knightingale.
Dentre todas as mais absurdas teorias e lendas que ouvira desde que entrara para aquele mundo, aquela com certeza fora a mais fantasiosa. Ellie gargalhou alto demais, deixando transparecer seu nervosismo e incerteza.
– Mas que diabos? – riu-se a jovem. – Isto é um absurdo, Vincent. Estão ficando todos loucos.
– Eles deveriam saber, claro... – murmurou ele em um tom de voz vacilante. – Elizabeth foi morta pelo fogo, do fogo ela regressaria, e seria imune a ele... Faz todo o sentido...
As afirmações aleatórias do homem deixaram Ellie perplexa.
– Do que está falando?
– Sabe que esta divisão será sua algum dia, não é mesmo? – ele inquiriu, subitamente. – Conhece seu lugar.
– B-bem, sou sua substituta conforme mandam as tradições...
– Elizabeth tomou para si todas as sete divisões. – esclareceu. – Enquanto era destruída pelo fogo, clamava aos sete demônios para que a trouxessem de volta sete vezes mais poderosa. – Vincent Hurst agora olhava-a diretamente nos olhos. – Suficientemente poderosa para tomar para si... O mundo.
– Vincent, eu não...
– Tudo isto deve fazer sentido para você agora, minha querida. Nem eu mesmo poderia negar. Você é Elizabeth Knightingale.
– N-não, eu...
– Negar o destino seria hipocrisia. Aceite-o como tal. Você nasceu com o poder em mãos, não deixe-o escapar tão facilmente. – o tom de voz do superior tornava-se cada vez mais irreconhecível, como se fosse outra pessoa. Não falava mais como ele próprio. Falava como um dos homens de Aaric Hunter, ou um dos seguidores da Ordem da Santíssima Trindade. Ellie jamais sentira-se tão confusa antes.
– Eu sempre soube. – confessou, de repente.
Ellie arregalou os olhos castanho-claros, surpresa.
– O que disse?
– Tem sido um prazer prepará-la para seus sete anos de reinado, mas certamente não tão prazeroso quanto governar ao seu lado.
Ela abriu a boca para dizer algo, mas Hurst prosseguia sem qualquer hesitação:
– Desde o dia em que seu pai veio até mim... Eu mal pude acreditar na sorte... Estava bem ali, diante de meus olhos. A arma mais poderosa, a chave da maldita profecia. Colocaram-na em meu caminho para que eu a pudesse guiar, claro, claro... – um sorriso insano estampava o rosto de Vincent enquanto ele andava de um lado para o outro. – Mas eu não... Eu não poderia governar ao seu lado se ainda fosse a garotinha tola que costumava ser. Oh, não. Precisava prepará-la. Nada de misericórdia ou temores.
– O-o q...
– Para tornar-se fria e astuta é necessário sofrer algumas... Perdas.
Um inesperado flashback começou a ser reproduzido diante dos olhos da garota. Agora tudo, absolutamente tudo fazia sentido. As palavras encaixavam-se, as frases subliminares possuíam um sentido. Durante todo aquele tempo estivera em busca do assassino de seu pai, do culpado pelo acidente de James, do traidor que manchara o nome da Fraternidade.
E agora...
E agora tinha o maldito filho da mãe diante de seus olhos.
Estivera ali o tempo todo. Bem debaixo de seu nariz. Zombando dela como se sua trágica vida fosse uma bela comédia.
Por meses ela planejara sua vingança, imaginando o que faria quando tivesse o culpado em suas mãos. Por diversas vezes imaginara a forma como o faria pagar, imaginara a si mesma arrancando-lhe os olhos, forçando-o a confessar. Agora, ironicamente, não tivera de esforçar-se para fazê-lo confessar. Ele próprio o estava fazendo. O culpado. Vincent Hurst era o homem. O mesmo que outrora ela vira como o pai que perdera. O pai que ele mesmo assassinara sem qualquer consideração ou misericórdia.
– C-como... Pôde...? – havia um nó em sua garganta que a impedia de gritar ou manifestar-se histericamente.
– Ora, não me venha com lágrimas. – Hurst aproximou-se dela. – Acredita mesmo que teria se saído bem com seu pai para vendar seus olhos para a verdade? Que se tornaria uma verdadeira governante se ainda fosse submissa como costumava ser? Eu eliminei todas as pedras de seu caminho quando elas se tornaram desnecessárias. Eu a tornei o que é hoje. És uma criação minha, Lizzie. E minha recompensa será sete anos de glória e poder... Ao seu lado.
Lizzie...
O nome ecoou em sua cabeça por milhões de vezes, todas de uma só vez. Mas o que ele dissera ao final da frase?
Ao seu lado...
– A-ao... Ao me...
– Juntos nós tomaremos o poder, minha querida. Não haverá inimigo páreo se nos unirmos. – ele ergueu as mãos, agitando os braços. – Possuiremos o mundo!
Aquilo lhe doera mais que dez adagas perfurando-lhe o coração. Ouvira aquela promessa uma vez antes, as mesmas palavras. Palavras estas vindas do homem que ele – Vincent Hurst – arrancara de sua vida como se fosse um direito dele comandar-lhe seu destino.
– Tirou-me tudo o que mais amava... V-você... Você assassinou meu pai, meu marido, traiu seus irmãos, sua honra e palavra. Você... Oh, Inferno! – lágrimas de horror banhavam-lhe o rosto lívido, caíra em si quando percebera mais uma revelação. – Assassinou os pais de James... Você... Você... Maldito seja, Vincent...
– Não há vergonha alguma em assassinar sendo eu um assassino, tal como você e todos neste meio. Fiz o que era necessário para torná-la forte. – Hurst ergueu a cabeça em um gesto orgulhosamente superior. – Deve a mim tudo o que é.
– Tudo o que sou? – Eleonora teria rido se a dor que lhe percorria a alma não fosse tão insuportável. – O que eu sou, Vincent? Diga-me! Já não me resta mais nada. Absolutamente nada.
– É a dona deste mundo que se aproxima.
– Pois eu trocaria... Sete anos de reinado... Por sua cabeça decorando este galpão... – com os dentes cerrados, ela afirmou.
– Já vivenciamos drama o suficiente, não acha? Eu lhe proponho isto, minha bela governante. – aproximou-se ainda mais da garota. – Quero que nós dois tenhamos o maior papel nesta profecia. Quero que case-se comigo.
A vontade de atacar o homem tomara agora proporções incalculáveis até mesmo para a própria Ellie. Recuou um passo, balançando a cabeça, incrédula.
– Está completamente louco...
– Eu a farei feliz, Lizzie. Prometo-lhe que terá tudo o que seu coração desejar.
E, no entanto, o maior desejo dela agora era vê-lo morto.
Sentia-se incapaz de falar. O choque era ainda maior que seu desejo de vingança, que sua raiva.
De repente, foi como se todos aqueles sentimentos se fundissem em um só, tornando-se uma reação química fortíssima que agia ali, dentro de seu ser, saindo de sua alma até sua mente. Perdera o autocontrole antes mesmo que pudesse entender o que estava havendo. Sua figura frágil e adoravelmente bela ainda era mesma, mas quem comandava seu corpo não era mais seu próprio espírito.
Seu olhar tornou-se frio, sedento de sangue e morte, os olhos estreitos como os de um predador feroz. Ela respirava pesadamente, o coração batia-lhe violentamente, rápido demais.
Vincent Hurst afastou-se em um passo e abriu um sorriso ainda maior.
– Finalmente manifesta-se neste corpo, Elizabeth.
– O traidor morre pela boca como um peixe. – sua voz rouca e intensa proferiu as palavras com infinita seriedade. – Não me agrada o cheiro de um traidor.
– Eu sempre soube, oh, sim. Nenhum dos Sete manifestou-se nela porque... Ela é você. Afugentou até mesmo os sete lordes do Inferno, mas que grande poder leva consigo, querida.
– Cale-se. – ordenou em tom baixo. – Ousou enganar-me por todo esse tempo.
– Tudo o que fiz foi para que alcançasse sua glória o quanto antes.
– Mentiras! – alegou ela. – Tudo o que deseja é tomar-me o que é meu. É como eles. Como todos eles, seu maldito filho da mãe.
– Elizabeth, eu n...
– Mandei se calar! – a poderosíssima entidade começou a dar passos adiantes, encurralando sua presa. A pressão espiritual que emanava dela era forte o suficiente para preencher todo o ambiente, tornando o local tempestuoso e sombrio como o Inferno em si. – Em nome do Inferno, eu o amaldiçoo, desgraçado.
– Eu lhe peço para rever os...
– Esta foi sua última chance de manter-se calado. – esticou a mão na direção do homem. – Ure!
Um círculo de fogo cercou-o, brotando do chão, subindo com suas chamas altas.
Vincent soube que a situação fugira de controle quando Knightingale finalmente manifestara-se na garota. Aquilo era mais do que ele poderia controlar. O tiro parecia estar saindo pela culatra, e Hurst penitenciou-se mentalmente por seu ato falho.
– Não viverá para ver-me governar sobre a Terra. Tampouco o fará ao meu lado. Você é um nada. – Elizabeth cuspiu-lhe as palavras, deixando transbordar todo o seu ódio e desprezo. – Sequer posso chamá-lo de homem. Lutou tanto para manter este solo limpo, mas, oh, vejam só... Teremos de manchá-lo novamente. Com seusangue, traidor imundo!
– Elizabeth, não...
– Dirija-me a palavra mais uma vez e farei com que derretam-lhe a língua.
Hurst calou-se, engolindo a seco seu próprio temor. As chamas abaixaram-se ao redor dele. Ela virou-se para os portões do galpão, esticando a mão livre na direção deles.
– Aperire! – ordenou. E os portões foram abertos imediatamente. Virou-se novamente para seu interlocutor. – Em breve eles estarão chegando. Todos eles. E então eu irei expor o maldito traidor que você é.
Hurst fez menção de manifestar-se.
– Oh, não, não. – ela disse. – Mantenha-se calado enquanto lhe proporciono estes últimos minutos de vida. Será um prazer ver sua alma esvaindo-se de seu corpo, Vincent. Quase tão prazeroso quanto... Governar o mundo. – abriu um sorriso irônico.
A pressão espiritual dela tornava-se maior a cada segundo que se seguia. Vincent sentia sua cabeça pesar, chegando ao ponto de quase explodir. Quando a enxaqueca tornara-se totalmente insuportável, ele nada mais conseguia sentir. Fugiram-lhe todos os sentidos. E tudo o que conseguira memorizar fora sua queda ao chão, inconsciente, e os olhos demoníacos de Knightingale vidrados nos seus.
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Afastando suas pálpebras lentamente, sentiu uma luz fraca penetrar-lhe os olhos. A cabeça ainda doía, desta vez com mais força, como se uma pressão estivesse se projetando sobre seu corpo. Tentou movimentar-se. Os braços e pernas encontravam expostos, algo ao redor deles, algo gelado.
Abrindo os olhos por completo para a realidade, Vincent Hurst descobriu que ainda encontrava-se em vida. Esforçou-se para sentar-se no chão, apoiando-se em seus próprios joelhos. Havia correntes que o mantinham preso ao solo. À sua frente, sua velha cadeira trazida até o centro do galpão principal. Estava agora ocupada por uma figura distintamente intimidadora. Olhando ao redor, encontrou olhares curiosos. Surpresos. Frios. Familiares.
Seus irmãos da Fraternidade o assistiam, enojados.
Sentada diante dele, Eleonora colocou-se a discursar com seu tom de voz intenso e autoritário:
– Sabe por que está aqui, Vincent?
Uma gota de suor desceu fria pela testa, deslizando lentamente por seu rosto perturbado. Hurst foi imediatamente dominado pela revolta.
– O que pretende?
Ellie esboçou um sorriso maléfico pelo canto dos lábios róseos.
– Não está claro o suficiente para você, meu caro? Eu disse-lhe muitas vezes. Sou aquela que ouve e executa justiça. E este – esticou os braços para os lados, indicando todo o ambiente ao redor. – É o seu julgamento.
– Está completamente...
– Louca? Talvez eu esteja. Há muito tempo, Vincent. Há muito tempo. – lentamente, ela colocou-se em pé, posando diante dele como uma verdadeira soberana. – Eu pouparei meu tempo. Seremos rápidos com isto. Joshua, por favor. – chamou um dos assassinos.
Quando Joshua Wilder aproximou-se dela, Vincent pôde ver que ele trazia consigo um enorme facão reluzente que imediatamente causou nele um calafrio.
– O-que está faz...
– Cale-se! – esbravejou a jovem. Cochichou algo ao ouvido de Wilder e ele avançou até Hurst carregando um olhar apático consigo.
Colocando-se perante o homem ajoelhado, aquele que fora seu superior por tantos e tantos anos, Joshua Wilder empunhou o facão com mais força. Hurst ergueu o rosto para fitá-lo.
– Joshua... – Vincent Hurst deixou o nome dele escapar em um suspiro, algo próximo de um pedido de misericórdia, mas sabia que seria em vão.
– Assassinou James. – declarou com os dentes cerrados. – Traiu a todos nós. Manchou nossa honra com suas mentiras, com seu egoísmo e falsas promessas. É um miserável.
– Joshua, eu n...
Wilder cuspiu-lhe no rosto, desferindo um chute em seu queixo. O som do impacto ecoou. Vincent Hurst jogou a cabeça para trás. Quando tornou a erguê-la, havia uma fina linha escarlate escorrendo de seu nariz.
– Fui designado para cumprir vingança em memória de James. E não sabe o imenso prazer que me dá vê-lo sofrer de tal forma.
Vincent mudou seu olhar de direção, observando Eleonora que encontrava-se em pé atrás de Wilder.
– Foi por você que fiz o que fiz...
– Tirou-me minha vida. – ela avançou alguns passos, colocando-se ao lado de Joshua, diante de Hurst. – Agora tirarei a sua.
– Não ous...
– Vamos logo com isto, por favor. Não tenho estômago para ouvir este verme falar nenhum segundo a mais. – ela deu dois tapinhas no ombro de Joshua e recuou alguns passos para contemplar justiça com seus próprios olhos.
Joshua Wilder ergueu o facão com suas duas mãos, mirando muito bem o ponto que tencionava acertar de uma só vez. Todos estavam presentes. Michael Graber mantinha-se cabisbaixo diante da situação. Bryan Carter permanecia calado, um olhar cruel em seus olhos estreitos, muito atentos ao que estava ocorrendo. Dominic Ryder utilizava toda a sua apatia para se manter firme.
Vincent começou a agitar-se, debatendo-se contra si mesmo. As correntes apertavam-lhe o sangue.
– Não! Por favor, não! Não faça isto! Tudo o que fiz foi para nosso futuro, para o bem de nossa organização!
Wilder olhou-o profundamente nos olhos marejados e os seus próprios brilharam entre raiva e sadismo. De seus lábios, uma sentença final fora proferida como um decreto:
– Vejo-te no Inferno, maldito traidor!
Desceu as mãos com o facão em extrema velocidade, passando-o em lateral pelo pescoço de Vincent. Tudo ocorrera em menos de um segundo. Em um momento, Hurst tentara gritar, fugir ou até mesmo fazer o tempo parar, mas era impossível. No instante seguinte, sua cabeça decepada rolava pelo chão do galpão, manchando-o de sangue.
Ellie engoliu a própria respiração a seco. Uma batida de seu coração falhou e ela sentiu-se tentada a vomitar, mas não o fez, controlando-se com firmeza.
O silêncio prevaleceu.
Joshua Wilder respirava ofegantemente, o facão pendendo em suas mãos trêmulas, o metal reluzente banhado em sangue...
Caminhando de volta à cadeira, assentando-se em um gesto indiferente e elegante, Ellie inclinou a cabeça diante da cena e citou um versículo conhecido que parecia ter se cumprido bem ali, diante de seus olhos:
– “O vingador da vítima matará o assassino. Quando o encontrar, o matará”.
Ainda que exteriormente se demonstrasse firme e confiante, seu interior gritava por socorro. Já não havia mais para onde correr. A hora havia chegado. Agora, mais do que nunca, teria de encarar seu destino e lutar por justiça.
Afinal, fora este o seu objetivo desde o dia em que aceitara fazer parte daquela fraternidade.
Por medo. Por raiva. Por incerteza, rebeldia e desespero.
Por justiça.
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* Ure! - Queime!
* Aperire! - Abram-se!
Prévia do próximo capítulo
“Apenas os mortos verão o fim da guerra.” – Platão. ˟˟˟ A sombra das árvores que encontravam-se ao norte do que parecia ser um deserto de solo infinito mais pareciam um milagre vindo dos Céus. O calor da manhã era insuportável, mas o aquecimento súbito que alcançava o ambiente quando ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 51
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shadowxcat Postado em 19/07/2016 - 16:24:44
ESSA FANFIC ESTÁ SENDO REPOSTADA AQUI: http://fanfics.com.br/fanfic/54463/sete-demonios-romance-terror-horror-teen-amor -suspense-thriller-aventura-acao-vampiros-bruxas-demonios
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raysantos Postado em 12/08/2015 - 20:10:35
Sua fic e muito top e bem escrita tudo d bom tomara que logo logo a Ellie e James possam ficar juntos sem a essa fulana que eu nao aprendi a dizer muito menos escreve o nome no meio nada contra a crianca mais fazer oq ne continua
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vverg Postado em 08/02/2015 - 23:19:37
Olá, to lendo pelo spirit anime =)
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vverg Postado em 08/02/2015 - 22:54:24
Por favor!!! Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa mais!!! Okk, já sabes q amo de paixão esta web!!! To sentindo muita falta dela....please, preciso de mais caps!!!! Não me deixe na curiosidade por muito tempoooooo *_*
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vverg Postado em 10/01/2015 - 01:47:30
Desculpe meu sumisso!! Mas assim q der, comento qdo ler todos os caps =)
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vverg Postado em 19/08/2014 - 23:57:43
Poxa não judia tanto de sua leitora caramba!!! Minha fic perfeição, posta mais, preciso de mais.... Estou ficando agoniada sem suas atualizações Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa maissssssssssssssssssssssssssss nesta fic perfeitaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa amo sua fic, ok vc já sabe disso, mas não custa falar né hahahahahahahaha
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vverg Postado em 12/08/2014 - 12:10:07
Meu Deus! Que nojo deste Declan!!!! Cara##@%@#$#! Putz!!! Como ela se deixa dominar desta forma, caramba!!! Posta mais mais mais mais mais mais. Poxa vc me deixou curiosa agora, tadinha da Elie, ela é muito fraca e se deixa dominar por este imundo.... Estou pasma, posta mais na minha fic perfeição mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais =)
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vverg Postado em 09/08/2014 - 17:08:49
Quero maisssssssssssssss!!! Preciso mais desta fic perfeita!!! Posta sim??? Necessito ler.... =)
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vverg Postado em 06/08/2014 - 10:33:43
Dahlia tah ferradinha kkkkk. Posta mais! Necessito de mais rsrsrs *_*
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vverg Postado em 02/08/2014 - 09:55:32
Minha fic mais q perfeitaaaaa posta mais quero mais caps