Fanfic: Sete Demônios | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass

À tarde, quando a noite já ameaçava cair sobre as ruas úmidas de Washington – resultado de uma chuvinha fraca que, no entanto, surpreendera os moradores, Christian Madden regressara ao seu quarto de hotel sentindo-se exausto.

A surpresa fora imensa ao encontrar a irmã de James Braxton à sua espera, no meio do aposento. Ao vê-lo chegar, recebeu-o com um sorriso empolgado e avançou para ele.

– O que... O que faz aqui? – Madden indagou, confuso.

– Deixaram-me entrar. Sei que esteve ocupado, mas... Agora que Ellie afastou-se de casa acredito que seja mais fácil encontrá-lo e seguir com as lições que tem me ensinado. – Alena explicou-se.

Christian suspirou, deixando transparecer seu cansaço.

– Está anoitecendo. Deveria voltar para casa. Tive um dia um tanto difícil.

– Eu compreendo. – ela abaixou o olhar e o sorriso desmanchou-se em seus lábios. De repente, tornou a fitá-lo, desta vez séria. – Tem visto aquela mulher?

– De quem está falando?

– Dahlia. – respondeu com certo desprezo.

O exorcista olhou em diversas direções, muito desconcertado. Não estava com paciência para falar sobre Dahlia naquele momento. Não depois de tantas tribulações ocorrendo uma atrás da outra. Os dias estavam sendo terrivelmente extenuantes.

– Sim, eu a vi há alguns dias. – ele disse, por fim. – A pedido de um... Amigo. A Ordem acredita que Dahlia os esteja traindo.

– Pois não me admira que suspeitem dela. Disse-me que ela ainda está possuída. James deveria tê-la matado quando teve a oportunidade. – havia tanto ódio envolvido em suas palavras que Christian arqueou as sobrancelhas, indignado.

– Não sabia que guardada tanto rancor.

– Não guardo. – a menina deu de ombros. – A mulher nada me fez, mas preocupa-me o que pode fazer consigo.

Ainda mais surpreso, Madden esboçou um sorriso sem entender.

– Mas por quê?

– Apenas... – Alena perdeu-se em suas próprias palavras. – Não me agrada tudo o que a envolva.

– Bem, – Christian enfiou as mãos nos bolsos do sobretudo e esforçou um sorriso gentil. – Como disse há pouco, deveria voltar para casa. Está anoitecendo e podem se preocupar com você.

– Por que está tão empenhado em mandar-me embora? – a pergunta da garota deixou-o aturdido. Agora havia uma tensa seriedade em seu timbre. – Tem medo de mim? Alguém lhe disse algo?

Dahlia havia dito algo, de fato. Algo que provocara o profundo desconforto que agora transitava pela mente do exorcista.

– Não sei do que está falando agora.

– Então por que não me deixa ficar?

– Preciso deitar-me. Está ficando tarde. Por favor.

– É uma pergunta simples. Por que não permite que eu me aproxime mais? O que mudou nos últimos dias?

Madden manteve-se calado por momentos. Olhou-a profundamente nos olhos e respirou fundo.

– Quer saber? Tem razão sobre uma coisa. Eu tenho medo.

– De quê?

– Medo de machucá-la. – afirmou. – Porque, de uma forma ou de outra, é isto o que acontece com todos que aproximam-se de mim.

Alena Braxton abriu um sorriso e seus olhos brilharam subitamente, avançou ainda mais, ficando cara a cara com o caçador de demônios.

– Jamais me machucaria...

– Eu não, de fato. – ele a interrompeu. – Mas o maldito... Destino. Se você soubesse...

A jovem aproximou-se, pousando as mãos sobre seus ombros, fitando-o diretamente nos olhos. O sorriso bobo permanecia em seus lábios.

– Eu não me importo, está bem? Não me interessa o que vai ou não acontecer. Apenas não... Não se afaste de mim.

Com o olhar fixo no dela, Madden disse-lhe severamente:

– Não posso ter pessoas em minha vida. O diabo faz questão de levá-las uma vez que elas se aproximam de mim.

– Sei que essa não é a verdadeira razão pela qual quer que eu me afaste.

– Por Deus, Alena! – tirou as mãos dos bolsos e afastou-a de si bruscamente. – Será que não vê? As pessoas pensarão coisas horrendas sobre nós se continuar a perseguir-me dessa maneira. Eu estou farto de problemas.

Assustada com a forma em que ele alterara seu tom de voz, Alena encarou-o com os olhos arregalados. Bufando, virou-se e passou por ele, seguindo para a porta. Estava claramente furiosa e magoada.

Christian Madden passou as mãos pelos cabelos, a frustração tornara-se insuportável naquele instante.

– Alena! – chamou-a de volta. Não houve resposta. Ele virou-se para a direção da porta. – Alen...

Não pôde terminar de chamá-la. Alena Braxton correra de volta para ele, esmagando os lábios contra os seus, os braços em volta de seu pescoço, puxando-o para mais perto.

Desta vez com uma lentidão terna, Christian quebrou o contato, afastando-a gentilmente de si. Fez menção de murmurar algo, mas a voz suave de Alena soara antes da dele:

– Eu amo você...

– Alena, isto não...

– Não diga nada. – com o dedo indicador ela tocou-lhe os lábios. – Não agora.

Lentamente e por contra própria, a garota tratou de deslizar as alças do vestido de algodão azul, deixando-o cair sobre seus pés.

Christian forçou-se a desviar o olhar, mas fora obrigado a manter os olhos nela uma vez que percebera os dedos hábeis lhe desabotoando a camisa por debaixo do casaco negro.

Ele recusou-se e tomou-lhe ambas as mãos, detendo-a. Fitou-a nos olhos, extremamente sério.

– Não. – objetou. – Não devemos.

Os olhos azuis-escuros da garota perderam o brilho repentinamente. Outra vez, o sorriso desapareceu, tal como sua empolgação.

– Vá para casa. – ele lhe pediu da forma mais gentil que conseguia.

Todavia, era óbvia a reação da menina.

Sentindo-se profundamente tomada pela raiva e pela dor da rejeição, Alena afastara-se dele e puxara o vestido de volta, às pressas. Em seguida, lançou-lhe um último olhar repleto de mágoa e abandonou o quarto de hotel, batendo a porta com força.

Todo o ambiente tornara-se tenso, pesado. Christian, entretanto, perguntava-se agora como toda a sensação de familiaridade que sentia com a presença de Alena pudera ter desaparecido assim que ela o beijara. Suas palavras haviam soado sinceras e claras como a luz do dia.

Ela o amava.

E Christian preocupava-se com ela, sentia a imensa e não compreendida vontade de protegê-la, de mantê-la a salvo. Estar com Alena era – estranhamente – como estar em casa. Logo, Madden dera-se conta de que também a amava. Não da forma que ela o fazia, mas da maneira que ele amava a mãe que o deixara tão cedo. Da mesma forma que amava padre Abdon, o homem que o criara. O amor que sentia por Alena era – talvez – a última coisa imaculada que restara em seu caminho. E lhe doía saber que não podia permitir que ela continuasse em sua vida. Não era seu direito arrastá-la para aquele mundo. Não seria justo.

–--

Dahlia Mason ajeitara o fino penteado delicadamente com uma das mãos. Sentada com sua postura elegante, ela aguardava ansiosamente pelo momento em que Aaric Hunter fosse quebrar o silêncio. Estavam ambos sentados à mesa de jantar na residência do próprio. E o silêncio era tremendo. Perturbado.

A sala de jantar era decorada com móveis em estilo rústico, as paredes de um verde-escuro muito agradável. Toda a construção era a imagem de uma típica casa de família.

Os empregados haviam lhes servido vitela e vinho, mas Dahlia estava ansiosa demais para degustar do prato ou da bebida. Sequer tocara na comida.

Tudo aquilo ainda lhe parecia estranho, e ela estava começando a desconfiar.

Quando recebera o convite para jantar com Hunter, Dahlia descobrira-se mais surpresa do que esperava ficar. Talvez ele quisesse saber do paradeiro de Declan Donovan. Mas nem mesmo ela sabia onde o rapaz se encontrava. Não o vira desde que passara a noite com ele, acontecimento este do qual quase se arrependia.

Ou, porventura, Aaric fosse lhe cobrar o que havia pedido. Talvez fosse lhe falar sobre a pequena profetisa que ela mesma ficara encarregada de trazer ao homem.

Todavia, quando Hunter pôs-se a falar, o assunto era outro. Algo inesperado.

Havia levantado os olhos para a ruiva, anunciando:

– Tenho estado demasiadamente frustrado com o andamento de meus planos. Não tenho conseguido dormir ou seguir com minha rotina.

– Lamento, senhor. – Dahlia abaixou os olhos, apertando o guardanapo entre as mãos por debaixo da mesa. Estava extremamente nervosa.

– Nada ocorreu nestes últimos dias. A Impostora caminha livre atrás dos anos proféticos que pertencem a mim por direito.

– Estou ciente disso.

– Quero lhe dizer que fico satisfeito que tenha concordado em vir até aqui esta noite. – a voz firme e severa a estava deixando ainda mais nervosa. – É muito importante o que tenho para lhe propor.

Dahlia tornou a erguer os olhos verdes para ele, muito curiosa.

– De que se trata? – inquiriu.

– Sou um homem de propósitos, uma pessoa obstinada. Contudo... Dei-me conta de que não poderei organizar meus planos se a solidão for uma sombra que me persegue para todos os cantos que vou. E estou farto da solidão, Dahlia. Sinto que enlouquecerei se continuar neste caminho sozinho.

A mulher não conseguia despregar os olhos do rosto dele, atenta a cada palavra, a cada movimento. A curiosidade a sufocava.

– Você tem se demonstrado leal e extremamente corajosa. Tem os mesmos propósitos que eu. Acredito veemente que não foi posta em meu caminho por acaso.O Deus tratou de cruzar nossos caminhos por uma razão. E agora... – olhou-a com certa admiração. – Agora eu a vejo.

– Senhor, não sei aonde quer chegar com isto. – ela confessou-lhe.

– Preciso de alguém ao meu lado. Alguém que acredite no mesmo futuro em que eu acredito. Que defenda meus propósitos. Alguém ao lado de quem eu poderei deixar todo um legado. A perfeita companheira para um governante. Alguém... – inclinou a cabeça para um dos lados, os olhos vidrados nos dela. – Como você, Dahlia.

O coração dela disparara de um salto, fazendo com que sua respiração se tornasse ofegante. Ela julgara tê-lo ouvido mal. Já ia pedir para que ele repetisse, mas as palavras de Aaric vieram primeiro que as suas:

– Quero que esteja ao meu lado durante os sete anos de reinado e até depois deles. Sei que será uma excelente esposa. É por isto que lhe peço para que abandone a Ordem. – viu-a arregalar os olhos diante de suas palavras. Estava na hora de lançar a ela o ultimato. Em um gesto despreocupado, Aaric levou uma das mãos para o bolso do blazer escuro. Puxou para fora uma pequena caixa vermelha aveludada. Abriu-a diante da mulher de cabelos vermelhos, exibindo aos seus olhos um belo anel de esmeraldas. – Case-se comigo, Dahlia.

Primeiro, ela não soube qual reação esboçar. Um misto de surpresa, angústia e algo próximo da alegria mesclava-se dentro dela. Lembrou-se imediatamente da última conversa que tivera com seu pai, Solomon Mason. Suas palavras acenderam-se sobre a cabeça de Dahlia como uma lâmpada.

Já serviu a Deus por muito tempo... Está na hora de tomar o que lhe cai bem... E lhe cairá muito bem o papel de esposa de um governante...

Agora – mais do que nunca – os sonhos do pai pareciam lhe fazer algum sentido. O velho estivera certo o tempo todo.

Ao lado de Aaric Hunter ela nada teria de temer. Nem mesmo Bartholomew ou a Ordem da Santíssima Trindade ousariam atentar contra ela. Ao lado dele ela seria intocável. Quase imortal. O poder a protegeria. Não apenas de seus inimigos, mas dos próprios medos que tanto tentava esconder até mesmo de si mesma.

Não havia muito em que pensar. Não havia nada a perder. Absolutamente nada.

Mas – definitivamente – havia muito a ganhar.

Erguendo o rosto em um movimento firme, olhando-o profundamente nos olhos, Dahlia Mason respondeu-lhe com a voz repleta de convicção, de infinita certeza:

– Sim. – e abriu um largo sorriso. – Aceito casar-me consigo.

Hunter retribui-lhe o sorriso e retirou o anel da caixinha, esticando para ela. Dahlia estendeu-lhe a mão e assistiu-o colocar o anel em um de seus dedos.

Os planos estavam funcionando, afinal. Seu pai não falhara em suas instruções. Tudo estava finalmente se encaixando.

Certa de que conseguiria alcançar o que tanto almejava, Dahlia admirou o belo anel dado por Aaric Hunter. Gostou do que via. Gostava do som das palavras proferidas pelo superior dos Ceifeiros da Ordem.

Seu pai tinha a mais plena razão.

Ela havia se submetido às ordens de outras pessoas durante uma grande parcela de sua vida. Estava exausta de servir. Estava na hora de ser servida.