Fanfic: Sete Demônios | Tema: Original, Originais, Terror, Horror, Suspense, Terror Psicológico, Thriller, Romance, Segredos, Pass
– Vamos! Empurre!
Delilah Mislav gemia tentando comprimir a dor que parecia rasgá-la por dentro. Havia lençóis debaixo de seu corpo suado. Estes estavam agora encharcados.
Encontrava-se em sua casa. Uma mulher na casa dos setenta anos, com a face enrugada e um lenço de estampas aleatórias ao redor da cabeça, cobrindo-lhe os cabelos esbranquiçados. Ela mantinha as pernas da garota separadas, verificando se o parto corria bem.
Atarefada, Willow aquecia panos com água fervente utilizando uma chaleira. A ansiedade era maior do que seu nervosismo. A pequena esforçava-se agora em ser útil. Em ajudar.
Ao lado da esposa, James Braxton falhava em tentar esconder sua preocupação. Segurava a mão dela, enxugando-lhe a fronte com um pedaço de tecido molhado.
Entre uma contração e outra, Delilah apertava-lhe a mão com força e duas linhas de lágrimas escorriam de seus olhos.
– Vamos! – dissera a velha mulher debruçada sobre o corpo da jovem.
E a garota obedecera, utilizando toda a energia que lhe restava para se esforçar. Uma contração a fizera cessar seu esforço. Escapara de seus lábios um grito de dor.
Uma nova contração viera em seguida. E mais uma. Outra.
– Por favor, faça com que isto acabe rápido. – Braxton dissera à velha mulher.
Tratava-se de uma curandeira do vilarejo. Muito conhecida. Recomendada até mesmo por Desmond Walker, o qual afirmara que a mulher sabia o que fazer.
James confiara nas palavras dele.
Virou-se para a jovem esposa:
– Precisa ser forte, querida. Tudo acabará bem. – mas seu nervosismo estava nítido em sua voz, embora ele não quisesse demonstrar.
Delilah então esforçara-se mais do podia, fazendo pressão para que o pequeno corpo que movia-se dentro dela se retirasse de seu próprio corpo.
Um ser minúsculo fora puxado pelas mãos da velha senhora. Seus gritos estridentes eram lançados ao ar, ecoando pela pequena casa.
Aproximando-se deles com uma bacia de água quente, Willow deparou-se com a mulher envolvendo a criança nos braços.
Viu-a cortar com um canivete o que ligava a mãe ao bebê e, depois, envolver o corpo frágil com um lençol limpo, livrando da criança todo o sangue que a cobria.
– É uma linda menina! – a curandeira orgulhosamente fez um comentário. E entregou-a para a mãe que mesmo com o rosto avermelhado e coberto de suor, não deixou de esboçar um largo e radiante sorriso.
Esgotado pelas emoções causadas naquela noite, Braxton depositara um beijo sobre a testa da esposa e sorriu-lhe.
– Como se parece com você! – ele exclamou, notando, perto dela, o pequeno fardo se movimentando. Aos seus olhos, era a mais encantadora criatura.
– Ora, não! – Delilah esforçou-se e riu, retomando suas forças. Apertava a filha contra si docemente. – Está óbvio que ela é um retrato seu.
Era verdade. O ser de rosto minúsculo possuía um par de grandes olhos azuis-escuros muito expressivos. Seus cabelos eram castanho-claros, muito finos e lustrosos.
James lembrou-se de Alena, pois a irmã mais velha possuía também muitos de seus traços. E tal recordação trouxe-lhe um aperto no peito.
Tentando afastar de si tais pensamentos, ele indagou:
– Já sabe como a chamaremos?
Somente depois de dita a pergunta soara boba. Willow Hope havia lhe dito – nove meses antes – que a criança seria uma menina. Houvera tempo de sobra para ele encontrar um bom nome. Mas decidira que não. Gostaria que Delilah o fizesse.
Ela olhou-o com o rosto repleto de alegria.
– Ela terá um nome até a noite de amanhã. Não se preocupe.
James assentiu em um breve gesto com a cabeça.
Willow adiantara-se para eles, aproximando-se ainda mais. Admirou a criança que Delilah aninhava agora em seus braços.
Contemplando tal cena, a pequena profetisa sorrira consigo mesma.
Era mais uma visão – uma boa visão – que se cumprira. A vida estava realmente tomando rumos diferentes. Rumos que aparentemente os estava liderando para as coisas boas.
E Willow agradecia a Deus por isso.
A manhã seguinte caíra rápido sobre o pequeno vilarejo. Já recomposta e sentindo-se melhor, Delilah fora a primeira a despertar.
James deparara-se com ela sentada sobre o sofá de aparência não muito agradável. Nos braços dela, a criança a qual trouxera ao mundo na noite anterior.
Ele permaneceria contemplando aquela cena pelo resto de sua vida se pudesse. Sem anunciar que já havia acordado, manteve-se calado, assistindo a esposa ninando o bebê enquanto ela cantarolava uma antiga canção de ninar de sua terra.
Quando seu olhar encontrou-se com o dele, ela encerrou sua canção imediatamente e sorriu.
E ele sorrira-lhe de volta.
Mais tarde, Delilah – juntamente de Willow – acompanharam Braxton até a porta da casa. Aquela era uma rotina. Não o tipo de rotina da qual eles se cansariam. Ele iria encontrar-se com os homens com os quais trabalhava. Voltaria assim que o sol estivesse se pondo. Delilah acreditava veemente que jamais se cansaria de esperar por ele.
Com mil cuidados, ele pôs a mão sobre a cabeça da criança que a esposa segurava nos braços. Admirou-a por instantes e depois sorriu. A arqueira vira naquele sorriso – mais uma vez – todas as promessas para um futuro. Uma boa vida. Simples, mas repleta de alegrias.
Sem hesitar, James selou os lábios de Delilah em um beijo doce, como se fosse regressar alguns instantes mais tarde.
Mesmo depois do contato, ele não havia deixado de sorrir. Olhava-a com infinita ternura.
– Por favor, tenha cuidado. – ela pedira em tom de preocupação. Jamais estivera completamente ciente do que o marido fazia. Entretanto, confiava nele. Não havia razões para dúvidas.
– Estarei de volta antes que possa sentir a minha falta. – sorrindo pelo canto dos lábios, James olhou-a uma última vez antes de virar-se e se afastar.
Delilah permanecera ali, à porta de sua casa. Ao seu lado, Willow Hope assistia Braxton instalar-se em sua motocicleta.
O barulho ecoou no silêncio da manhã quando ele arrancou, desaparecendo conforme rumava para a fronteira, onde se encontraria com seus companheiros.
Delilah soltou um suspiro, ainda sorrindo. Tornaria a vê-lo pelo anoitecer. Como acontecia todos os dias.
Mas não desta vez.
Antes mesmo de o sol começar a desaparecer, se pondo, ocorrera uma gigantesca comoção na pequena vila.
A garota sérvia estava ocupada demais lidando com a filha, colocando-a para dormir no berço que ela e o marido haviam improvisado, quando, de repente, pudera ouvir – à distância – roncos de motores.
Confusa, caminhou com a filha nos braços até uma das janelas. Através do vidro, avistou alguns automóveis luxuosos em cores escuras como noite. Eles haviam estacionado à entrada do vilarejo. Deles, homens empunhando armas de grande porte saíram, adentrando a vila como soldados prontos para atacar o inimigo.
A visão assustou-a de imediato. Podia sentir o coração batendo mais forte, acelerando. Ela empalidecera rapidamente.
Alguém tocou-lhe o ombro.
Em um salto, Delilah virou-se, quando derrubando a criança de seus braços. Seus olhos encontraram-se com os de Willow Hope.
– O que há? – a pequena perguntara-lhe.
Delilah emitiu um sinal, levando o dedo indicador aos próprios lábios, pedindo para que ela fizesse silêncio.
– Aqui. Pegue-a por um segundo. – abaixou-se e entregou a filha nos braços da profetisa. – Preciso que fique aqui. Verei o que está havendo.
Franzindo o cenho, Willow nada disse. Tomou o bebê nos braços e permaneceu calada.
Caminhando para fora da casa, Delilah viu então que os outros moradores também haviam saído à frente de suas casas para ver o que estava ocorrendo. Viu também o homem que conduzira sua cerimônia de casamento adiantar-se para aqueles que invadiam o local armados até os dentes.
O idoso tomara a palavra por todos, colocando-se diante dos desconhecidos.
– O que querem aqui e quem são vocês? – inquiriu em tom autoritário.
Um homem de alta estatura, cabelos grisalhos e postura elegante, trajando um colete e calças escuras, o respondera em voz alta e clara:
– Nós – começou um discurso com ar superior – Somos uma fraternidade de assassino. E nossa missão é exterminar todo aquele que recusar a se curvar diante daquela que governará sobre todas as terras e povos. – ele recitou orgulhosamente. – A Mulher de Vermelho.
Os olhos de Delilah arregalaram-se diante da atitude do homem. Como se sua presença – e a de seus homens – já não fosse suficientemente intimidadora, este prosseguira, caminhando na direção do velho religioso. Colocou-se frente a frente com ele. Seus olhos caíram sobre o crucifixo que o idoso levava ao redor do pescoço.
Sem cerimônia, o desconhecido tocara-lhe o pingente em formato de cruz, analisando-o.
– Acredita no fim dos tempos? – perguntou ao homem, agora olhando-o fixamente nos olhos.
O religioso, por sua vez, não parecia se intimidar. Ao menos, lutava para não demonstrar isso. Encarou aquele que ainda desconhecia. E nos olhos de seu interlocutor, pudera ver ódio. Perdição. Morte.
Em resposta, o sábio ancião inclinou o rosto para cima, demonstrando-se superior e intrépido.
– Acredito em Deus. – respondeu seriamente. – E somente para Ele me curvarei.
O homem alto então sorriu. Um sorriso sádico. Irônico. Zombeteiro.
Largou o crucifixo do homem e emitiu um estalo com seus dedos, ordenando aos seus homens:
– Executem-no.
Assim dizendo, ele virou-se e começou a caminhar de volta até onde os homens encontravam-se. Eles imediatamente obedeceram-no.
Incrédula, Delilah Mislav assistira o momento no qual aqueles homens dispararam. Todos ao mesmo tempo. Os tiros pulverizavam o corpo frágil do idoso, que caía ao chão aos poucos a cada impacto, a cada bala que perfurava-lhe a carne.
Gritos soavam, escapando daqueles que também assistiam à cena. De repente, tudo começara a se passar como em um filme.
As pessoas passaram a correr. A gritar. Havia tiros. Havia... Sangue.
Delilah finalmente moveu-se, regressando para dentro de sua casa. Em desespero, adiantou-se para Willow que ainda carregava o bebê.
– Rápido! Esconda-se! – ordenou. Estava procurando por algo, caminhando por todos os lados da casa.
– O que está havendo? – Willow perguntou, confusa.
– Faça o que lhe mandei! Vamos! – a arqueira impacientemente tornou a lhe dar ordens.
Willow a obedecera. Correu para os fundos da casa, escondendo-se atrás de uma minúscula construção na qual costumavam colocar botijões de gás. Enfiou-se no pequeno local e fechou a porta. Em seus braços, a criança dormia. O desespero era agora parte da pequena profetisa.
Delilah, dentro da casa, finalmente encontrara o que procurava. Apoderara-se de seu arco, encontrando também uma flecha. Estava aprontando-se para colocá-la no mesmo arco, quando uma mão grande e grotesca tapou-lhe a boca, puxando-a para trás. Ela tentou gritar, mas a mão abafava-lhe a voz.
Quando fora obrigada a virar-se, encontrou-se com um par de olhos muito escuros. Olhos cruéis.
O homem tinha o dobro de seu tamanho. E um sorriso assustador nos lábios.
– Parece-se com mais uma deles. – ele comentou. A voz era rouca, insolente. E ele fedia a sangue fresco. – É uma deles, não?
Mas ela não reagiu. A mão dele ainda tapava-lhe os lábios. Ele afastou a mão, finalmente. Tomou-a pelos ombros, chacoalhando-a brutalmente. O arco caíra de suas mãos. Assim como sua flecha.
– Responda, vadiazinha!
Furiosa, porém relutante em não se demonstrar amedrontada, a arqueira cuspiu-lhe no rosto.
O homem enxugou o rosto com as costas da mão.
– Maldita vagabunda! – vociferou. Deu nela uma forte bofetada. A jovem foi ao chão, devido ao impacto.
Ele a segurava fortemente, estava imobilizando-lhe os braços. Devido à força da pancada, Delilah encontrava-se desorientada. A visão estava turva. Tentou se desenvencilhar do homem, mas ele a colocou-se sobre o corpo dela, forçando-a para o chão.
– Pois vou ensiná-la a ser uma boa garota. – ela estava impotente em seu aperto. Nada conseguia fazer. Sentia o peso do corpo dele sobre o seu.
Montado sobre ela, o homem então afastara as pernas dela com as suas próprias. Com uma mão livre, segurando os braços dela com a outra, levantou-lhe a saia e arrancou-lhe a roupa íntima em um puxão. Vira-o abaixar as próprias calças em seguida.
Ela passara a gritar. A voz saía sufocada. Não eram apenas gritos vindos dela. Havia gritos e tiros por toda a parte.
Não conseguira conter as lágrimas uma vez que o sujeito a penetrara de uma só vez, forçando-se para dentro dela. Machucando-a. Invadindo-a como um animal. Com os olhos cerrados firmemente, ela sentia as mãos imundas subindo por suas coxas, apertando-lhe a pele. Ele enfiava-se dentro dela com mais força, mais fundo.
A dor era indescritível.
Delilah ainda debatia-se freneticamente debaixo dele, tentando se livrar dele. Da dor.
Quando a dor tornara-se insuportável, ela sentira-se incapaz de continuar lutando. Permaneceu com os olhos fechados enquanto ele se satisfazia em seus movimentos brutos.
Por favor, Deus... Por favor... Ela fez suas preces mentalmente, esperando por socorro. Por ajuda.
Ninguém viera até ela.
Depois do que pareceu uma eternidade, o homem retirou-se de dentro dela. Satisfeito. Deixara ali um rastro de sangue. Sangue dela.
A garota mal se movia, estirada sobre o chão, soluçando, balbuciando coisas sem sentido algum. Os olhos acinzentados estavam vermelhos ao redor, arregalados, fixos no nada.
Ele então soltou uma gargalhada debochada. Colocou-se em pé, fechando as calças.
– Agora fale, vadia! – ele tornou a ordenar.
Delilah não esboçara qualquer reação. Estava paralisada, o corpo jogado na sala, incapaz de se mover.
Ouvira-se então o choro estridente de uma criança.
Um bebê.
O som funcionou como um combustível para que Delilah reagisse. No momento em que o som irrompera no ar, o homem começara a seguir para os fundos da casa. Instintivamente, decidida a impedir que ele encontrasse Willow e sua filha, a sérvia agarrara-o pelos pés, puxando-o com toda a sua força. Cravou os dentes em uma das pernas do homem, fazendo-o urrar de dor.
Ele deferiu-lhe um chute na face. Delilah pôde sentir o nariz quebrando. Sangue esguichara dali, molhando os lençóis do pequeno berço improvisado que encontrava-se próximo.
A partir dali, a sessão de tortura tomara um rumo ainda mais cruel.
Extremamente furioso, o grande sujeito começara a chutá-la repetidas vezes em seu rosto, em seu corpo...
As pancadas eram violentas. Forte. A dor duplicara suas proporções.
Delilah começara a perder os sentidos. Isto, no entanto, não fizera com que o homem parasse de espancá-la.
Parecia estar pisoteando-a com seus chutes. Ergue-a pelos braços uma vez, agarrando-a pelos cabelos. Em seguida, fê-la colidir a cabeça fortemente contra a parede.
Atirou-a sobre o sofá e, com um punho cerrado, deferiu diversos socos na face já desfigurada.
Ela já não reagia. O corpo praticamente isento de vida. Como uma boneca de pano.
Não satisfeito com seus feitos, o desconhecido tornou a fazê-la se levantar, puxando-a pelos cabelos ensanguentados mais uma vez.
Derrubou-a no chão, caindo sobre ela, uma perna de cada lado. Montado nela uma segunda vez, ele agarrou-lhe a cabeça com ambas as mãos e começou a fazer com que esta se chocasse contra o chão. Executou o ato por várias vezes, sem cessar. Esmagando o crânio frágil contra o solo sem qualquer hesitação.
Deus... Por favor...
Delilah nada podia ver. Nada além de uma névoa vermelha que cercava cada vez mais os arredores de sua visão danificada.
Tenha misericórdia...
Já não conseguia mais ouvir o choro do bebê. Talvez Willow a estivesse acalmando. Tal pensamento trouxe uma ponta de esperança para Delilah.
Mas a realidade era inevitável.
Sentiu que vomitaria ali mesmo. O gosto metálico do próprio sangue subiu por sua garganta, quente. Ela começou a engasgar.
O homem, todavia, não parou por ali. Continuou batendo com a cabeça dela contra o chão.
Os atos violentos seguiram-se por poucos segundos a mais.
Ele não pararia. Ele não parou.
Não até perceber que a jovem já não reagia por completo.
Até a vida esvair-se daquele corpo violado e ferido.
Vendo-a ali, morta, com os olhos ainda abertos vidrados no infinito, o homem caíra em si.
Afastou as mãos dela, por fim, colocando-se em pé lentamente. Encarou o corpo enquanto limpava as mãos nas próprias calças. Virou-se e tomou posse do fuzil que deixara encostado a uma parede, retirando-se da casa com muita calma.
Quando o sol já ameaçava se pôr, o vilarejo encontrava-se em profundo silêncio. Em luto.
James Braxton regressara a casa em seu usual horário. Ao adentrar a vila montado em sua motocicleta, porém, notara algo estranho. Não tratava-se apenas do silêncio. Tratava-se do cheiro impregnado no local. Um cheiro familiar.
O cheiro da morte.
Implorando para que seus instintos o estivessem enganando, James parara diante da entrada do vilarejo. Desceu da motocicleta e correu em direção à sua casa. Mal dera-se conta do sangue que espalhara-se por todo o solo da pequena vila. Sangue de seus conhecidos. Amigos. Vizinhos.
Entrou na casa completamente desesperado, deparando-se com o local completamente destruído. Rapidamente arrancou do bolso traseiro um revólver, colocando-se atento a qualquer tipo de movimentação.
– Delilah! – gritou. Mas não pôde ouvir resposta alguma. – Willow!
Não ouviu nada além de sua própria voz ecoando pela casa.
– Delilah! – tornou a gritar o nome da esposa.
Ouve-se um som, então. Isto o fez virar para trás. Viu que tratava-se de sua mascote, o chacal, adentrando a casa logo atrás dele.
James suspirou, abaixando a arma.
Fez menção de andar pela casa, mas o canídeo aproximara-se, passando por ele. Apreensivo aos movimentos do animal, Braxton o seguiu com o olhar.
Passando para o outro lado da casa, o chacal emitira um uivo.
James imediatamente seguiu seu som.
O que seus olhos encontraram quando ele descobrira o que sua mascota havia encontrado, um misto de milhões de emoções percorreram sua mente e corpo, todas ao mesmo tempo.
Não. Ela não. Que morressem todos, menos ela.
Delilah jazia sobre o chão do cômodo. Debaixo dela uma poça de seu sangue, já seco. O rosto completamente desfigurado, inchado, repleto de cortes e coágulos. Os olhos abertos e com manchas roxas ao redor. O cabelo desgrenhado. A pele manchada de sangue e sujeira, muito mais pálida do que o normal.
Parecia mergulhada num sono profundo.
A percepção acertara Braxton como um tiro no peito, fincando em seu coração. Ele derrubou sua arma no chão e caiu de joelhos diante do corpo da esposa, aquele cadáver irreconhecível que outrora fora sua fonte de esperança para uma nova vida. Um novo começo.
Pela primeira vez, desde que conseguia recordar-se, James Braxton chorou.
Lágrimas deslizavam descontroladamente de seus olhos, ele não conseguia respirar, havia um nó em sua garganta.
Rastejou até alcançar o corpo dela. Tomou-lhe a mão – completamente fria – e esfregou-a gentilmente contra o próprio rosto, beijando seus dedos.
– Delilah... Meu amor... Não, não, não! – soluçava ele, como uma criança entregue ao pranto. – Não me deixe, por favor... Não...
Tomou-a nos braços, delicadamente, colocando-a sobre seu colo. Começou a afagar seus cabelos, tocando-lhe o rosto maculado. Embalou-a como se faz a uma criança pequena, negando-se a acreditar que aquele pesadelo era real.
Muito tempo mais tarde, quando ele encontrava-se esgotado pelas lágrimas e pelos soluços, sentira o encanto se quebrar. Alguém entrara em sua casa. Ouvira passos.
– Ei... – uma voz soou. Braxton levantou os olhos. O homem que o encarava era conhecido.
Desmond.
– Foi um massacre. Acabam de informar-me. – contou-lhe o amigo.
James deixou de ouvi-lo, de olhá-lo, fitando o nada. Ainda aninhava o corpo da esposa contra si, recusando-se a soltá-la.
– E-eu sinto muito. – disse Walker.
Braxton não respondeu. O choque fora mais do que ele conseguia suportar.
Suspirando, Desmond agachou-se perante o companheiro, fitando-o.
– Precisa deixá-la ir.
– Não. – James objetou seriamente, sem encará-lo. Parecia morto como o corpo que mantinha nos braços.
– Ela já se foi. Precisa deixá-la. Ela precisa descansar agora.
Lágrimas tornaram a deslizar pelo rosto enrijecido. Ele tornou a encarar o rosto de Delilah, os olhos muito abertos, fixos na imensidão.
– Precisa deixá-la descansar. Pode fazer isso? Você a ama, não? – Walker falava-lhe em tom conciliador, brando. – Então permita que ela encontre a paz. Deixe-a ir.
Calado, Braxton olhou-o nos olhos.
– Pode fazer isso, não pode?
Incerto, ele fez que sim com a cabeça. Walker esforçou um sorriso.
– Muito bem, companheiro.
James cuidadosamente passou a mão pelos olhos acinzentados da amada, fazendo com que eles se fechassem. Os olhos nos quais vira toda uma oportunidade. Todo um futuro. Olhos que jamais voltaria a ver.
Deitou-a sobre o chão, acariciando seus cabelos mais uma vez.
Como era bela! Ainda que ferimentos cobrissem-na parcialmente, era ainda belíssima em seu sono eterno. E ele ainda a amava.
Amava-a como a amara antes de deixá-la naquela manhã. A amaria para sempre.
Depositou um beijo terno sobre sua testa e tocou-lhe o rosto, demonstrando ainda muito amor e admiração. Todo o seu corpo tremia, ele sentia o frio do cadáver contagiar sua alma. Sentiu-se gelar também.
Tirou do rosto dela uma longa contemplação, tencionando memorizar sua imagem.
Após encerrar o seu ritual de despedida, porém ainda dominado por diversas emoções, Braxton tornara a erguer o rosto para Desmond Walker.
– Quem causou isto? – perguntou em tom firme.
– Aqueles que avisaram-nos na fronteira mencionaram pouca coisa. Algo relacionado a um bando de homens armados. Assassinos. Algum tipo de seita. – a cada palavra dele, James sentia-se mais sufocado. Levantou-se. Andou pela casa, procurando por Willow e o bebê, mas não os encontrara. Parou novamente diante de Walker. Este continuara falando: – Disseram ter vindo em nome de alguma... Mulher... – Walker fez uma pausa, tentando se lembrar do que ouvira. – Mulher de Vermelho... Era isto, creio eu.
Ao mesmo tempo em que ouvira isto, James Braxton deitou os olhos sobre o pequeno berço ao lado coberto de sangue.
Mordera o lábio inferior com força, até fazê-lo sangrar, contendo – assim – sua fúria. A tristeza cedeu lugar ao ódio. As lágrimas abundantes que lavavam-lhe o rosto haviam secado.
Sua raiva acabou aplacando sua dor.
– O que pretende fazer, companheiro? – Desmond Walker lhe perguntara, pois notara a expressão no rosto do amigo. Isto o preocupara.
Com os punhos cerrados, ele parecia um animal enfurecido. Levantara os olhos enraivecidos para Walker mais uma vez, lançando-lhe um olhar repleto de cólera.
Disse entre os dentes:
– Vingança, Desmond. – declarou. – Executarei vingança.
–--
Christian Madden não ouvira notícias de Marina desde a sua noite com ela. A bruxa desaparecera pela manhã seguinte. Desde então – meses depois – ele não soubera dizer se ela arrependera-se ou se fora o medo que a afugentara. Não poderia, no entanto, ir até ela para lhe perguntar o que havia ocorrido. Ela vivia debaixo do mesmo teto que Alena Braxton. E desta Christian não poderia ouvir falar. Mesmo que se preocupasse.
Alena não era mais uma garota necessitada de ajuda e atenção. Era agora uma mulher casada. Seria imprudente procurar por ela em sua casa. E isto o impedia de também procurar por Marina.
Seguira os meses assim, mantendo-se ocupado de seus estudos sobre tudo acerca do mundo espiritual. Padre Abdon ligava para ele vez ou outra, cerificando-se de que ele estava bem, dando-lhe alguns conselhos – muitos deles repetidos –, mas serviam para aquietar o coração do exorcista. Para mantê-lo fixo em seu caminho.
Naquela noite, por acaso, estava decidido a dar uma caminhada acerca do hotel no qual estava hospedado já há muito tempo. Abrindo a porta para sair, deparou-se com quem acreditava que o estivera evitando por meses.
– D-Desculpe... – Marina Baresi estava cabisbaixa, claramente evitando olhar para ele. Suas bochechas estavam coradas antes mesmo de ele começar a falar com ela.
Christian sentiu o coração saltar no peito ao reencontrá-la. Não soube que emoção expressar. Ela parecia preocupada, hesitante.
– O que aconteceu? – foi o que ele conseguira articular. Era uma pergunta um tanto retórica. Ela sempre procurava por ele quando precisava de sua ajuda. A última noite em que se viram havia sido diferente.
Esta, porém, parecia-se com mais uma das vezes em que ela o procurara em busca de auxílio.
Finalmente ela olhara para ele. Os olhos repletos de amargura.
– Há algo de errado comigo. – disse. A voz soara muito baixa. – Tenho visto em todos os lugares... Em meus sonhos...
Só então ele pudera notar como ela empalidecera subitamente. Havia sombras debaixo de seus olhos. O rosto emagrecido. Não era necessário que ela lhe contasse. Seu estado entregava que algo estava errado.
– Por favor... Aju... Ajude-me... – Ela arregalou os olhos. Algo acontecera. Estava tremendo agora.
– Marina... – Christian encarou-a, confuso. – O que há?
Os olhos dela rolaram, tornando-se brancos. Seus tremores tornaram-se mais violentos.
– Marina! – ela não lhe dera ouvidos, perdendo os sentidos.
Madden segurou-a antes que ela fosse ao chão. Arrastou-a para dentro e fechou a porta. Com cuidado, colocou-a sobre a cama e tocou-lhe o pescoço, certificando-se de que ainda tinha pulso.
Em um salto da cama, ela despertou. Os olhos – agora completamente negros – estavam abertos. Ela sentou-se na cama como um animal, colocando-se em posição de ataque.
Christian recuou, assustado. Sem tirar os olhos dela, arrancou de dentro do sobretudo negro um crucifixo, esticando-o diante da bruxa.
– Em nome de Jesus Cristo, eu ordeno que diga o seu nome. – declarou em tom firme.
A entidade que tomara conta do corpo da jovem emitira um riso mesquinho, mordendo o lábio inferior.
– Sua mãe pediu para lhe dar um olá. – ironizou a voz rouca e gutural. Não era a voz de Marina. – Ela morreu por sua causa, exorcista.
– Seu nome, demônio!
Ela soltou um grito estrondoso, fazendo-o se calar. O som ecoou por toda parte. Ela saltou da cama para o chão, rosnando, agitando os braços como se tentasse arranhar o ar.
– Foi você quem mandou sua mamãezinha para o Inferno. – disse-lhe. – Ela morreu por sua causa. Sua causa!
– Cale-se, enganador! – Madden vociferou, impaciente. Colocou-se diante dela. – Diga-me seu maldito nome agora!
– Será que nunca percebeu, Christian? Todas as vezes em que perguntou à sua mãe onde estava seu pai. Nunca quis saber a verdade? O motivo pelo qual ela nunca lhe respondeu quem foi o homem que a engravidou?
– Ordeno que se cale! – o exorcista tentou manter-se focado em seus próprios pensamentos e preces.
– Pois vou lhe contar uma história, Christian. A história de como a doce Leah Madden enganou-se a respeito do homem que a engravidara.
Christian sentiu-se imediatamente tomado pelo ódio quando a entidade mencionara o nome de sua mãe.
– Não ouse... – ele rangia os dentes.
– Era ainda muito jovem e ingênua. Envolvera-se com um homem de poder. Um homem rico. De posses.
– Cale a maldita boca!
– E como ela fora estúpida acreditando que ele a amava. Era estúpida. Assim como você, exorcista.
– Basta! – ele devolvera o crucifixo no casaco, retirando dali agora um frasco. Livrou-se da tampa, atirando no rosto de Marina um líquido incolor que a fizera gritar de dor.
Seus gritos cessaram. Ela esboçara um sorriso sádico, olhando para ele, sentada no chão com os olhos fixos no rosto dele.
– A história não o agrada? Então lhe contarei outra. – aumentou o sorriso nos lábios. – Sabe como James Braxton foi escolhido pelo diabo? O pai o ofereceu a Lúcifer.
Madden passou a fazer suas preces, não dando ouvidos à voz. Ela, porém, prosseguira relatando os fatos:
– Angus Braxton era sedento de poder. Queria entrar para a Fraternidade. Queria ser o líder absoluto deles. – contou. – Precisava oferecer, no entanto, uma cria sua ao maior dos lordes do Inferno.
Christian seguiu com suas orações.
– “Não temerás os terrores da noite, nem a seta que voe de dia...”
– Mas ele não ofereceria o filho primogênito. Não. – a voz continuou. – Ele precisava de algo avulso. Algo que entregaria ao demônio sem qualquer remorso.
– “Nem a peste que anda na escuridão...”
– Então Angus foi à América, alegando que precisava lidar com negócios de suas empresas. Deixando em Abingdon a esposa e o filho de apenas um ano. Mas a verdade era outra. – disse. – Ele foi atrás de uma vítima.
– “Mil cairão à sua esquerda, dez mil à sua direita...”
– Conheceu uma garota, eventualmente. Envolveu-se com ela. Fez a ela promessas de que se casaria com ela. – a entidade não parara de falar um segundo sequer. – Quando a garota deu-se conta do que estava acontecendo, fugiu. Desapareceu na cidade. Escondeu-se dele para proteger-se. Para proteger o filho.
Madden brecara suas falas. Olhou para ela. Os olhos abriram-se em surpresa e indignação.
– Foi Angus Braxton quem engravidou sua mãe, Christian. – contou-lhe a entidade, por fim. – E ela fugiu quando soube que o homem tencionava tirar-lhe o filho para oferecê-lo como filho de Lúcifer à Fraternidade. Era você quem deveria ter se tornado um assassino. Um filho do diabo.
As emoções que transitavam agora pelo corpo do caçador de demônios disputavam para se manter em sua mente e corpo, tentando permitir que apenas uma predominasse. Ele sentia o suor escorrer por todo o seu corpo. Havia uma ardência em seus olhos.
– Angus Braxton é seu pai. – o demônio declarou, orgulhoso de lhe ter contado aquilo. Viu as expressões no rosto do exorcista oscilar. – E você, Christian, é seu bastardo.
– Calado! – trovejou Madden. Sua voz estourou no ar como uma bomba. Avançou para a entidade, forçando-a a ficar em pé. Olhou-a nos olhos enegrecidos, mergulhados em terror. – In nomine Iesu, exorcizo te. In nomine Iesu, dic nomen tuum.
Marina começara a se debater, mas Madden segurava-a fortemente pelos ombros, impedindo-a de ferir-se.
– Diga imediatamente o seu nome, espírito imundo! – ele ordenara mais uma vez.
– Sua mãe morreu por sua causa, Christian. Eu vim buscá-la.
– Não lhe darei ouvidos!
– Oh, é mesmo uma pena. – disse a voz. – A verdade dói tanto assim? A verdade podre que a vadia da sua mãe escondeu de você?
Christian esbofeteou-a. Ela quase fora ao chão.
Tornou a se recompor, rindo, limpando o pouco de sangue que escorria de sua boca.
– É fruto de uma traição, não vê? Você não foi feito para Deus. – olhava-o diretamente nos olhos castanhos assustados. – Foi feito para mim.
O rosto da bruxa – possuída – alterara-se em inúmeras expressões, parecia transformar-se. Havia agora um sorriso presunçoso em seus lábios partidos. Cortes em seu rosto, como resultado do contado com a água benta. Os olhos permaneceram negros por completo, como a noite. A presença era outra. A entidade era outra. Algo maior. Mais poderoso.
Perante isto, Christian Madden recuou um passo, fitando-a fixamente.
– Diga seu nome! – ele tornara a gritar.
Ela passou a língua pelos lábios e sorriu mais uma vez.
– Lúcifer. – respondeu de forma intimidadora.
E então tudo recomeçara. Ela jogara-se ao chão, se debatendo histericamente. Gritando. Articulando palavras incompreensíveis.
– Não queria vingança, querido? Não queria vingar a morte de sua mãe? – abriu os braços. – Bem, aqui estou. – e sorriu-lhe ironicamente. – Faça-me sofrer, exorcista. Odeie-me.
Sua voz soara desafiadora.
Christian Madden estava pronto para avançar para a entidade, esquecendo-se do corpo que estava sendo usado por ela naquele momento.
Contudo, a verdade iluminara seu coração naquele instante. A luz chegara sobre ele, súbita, em seu momento mais inesperado.
– Não... – Madden abanou a cabeça e abriu os punhos cerrados, parando de ranger os dentes. Deixou cair seu frasco. – Não sou um de seus, Lúcifer. E jamaisserei.
O demônio arqueara as sobrancelhas, transparecendo surpresa.
– “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, pois Tu estás comigo.”
Foi neste instante que a entidade adiantara-se para ele, deferindo uma forte e violenta bofetada contra sua face. Madden caíra ao chão com a pancada.
Virou-se para seu inimigo, levantando-se sem deixar de proferir suas preces.
– “Eu, porém, digo-vos que não resistais ao mal. Mas se alguém te ferir na tua face direita, oferece-lhe também a outra.”
– Cale essa boca! – a entidade enfureceu-se.
– Não, Lúcifer. – Christian aproximou-se dele, colocando-se frente a frente com ele. – Eu sou aquele que fala em Nome Dele. E agora eu o expulso, espírito maligno, deturpador maldito, criador da agonia! – tomou-lhe a cabeça com ambas as mãos, forçando o demônio a ouvi-lo. – Em Nome de Jesus Cristo, abandone este corpo! Eu te ordeno! Sejas extirpado deste corpo, diabo! Sejas lançado da altura dos Céus até as profundezas do Inferno! – o corpo de Marina estremecia conforme o exorcista seguia com seu ritual, mantendo a boca colada ao seu rosto, proferindo-lhe palavras para que o espírito se retirasse. – Ouça e tema, Lúcifer!
O demônio soltara um grito ainda mais alto, como se algo o ferisse. O corpo caiu, inconsciente. Madden segurou-o, ainda falando:
– Entregue-se agora, em Nome do Pai. Do Filho. E do Espírito Santo. Para todo o sempre. – segurando Marina nos braços, Christian notara que sua fisionomia havia se normalizado. Ela estava de volta ao próprio corpo. – Amém... – suspirou, deitando-a sobre o sofá.
– C-Christian... – a jovem murmurou, abrindo os olhos. – O-o que...?
– Está tudo bem agora. Descanse. – debruçou-se sobre ela e depositou um beijo em sua testa, tocando-lhe os cabelos. – Falaremos depois.
Baresi obedecera-o, cansada demais para objetar. Tornou a fechar os olhos e caiu em sono imediato ali, sobre o sofá.
Madden suspirou, contemplando-a, inquieto. Toda a presença tempestuosa retirara-se dali. O ambiente estava tranquilo novamente. Limpo.
Mas a mente do exorcista estava um caos.
As palavras ditas pelo demônio impregnaram-se em sua mente, como uma infecção, seguindo lentamente as linhas de seu coração.
Angus Braxton é seu pai... E você, Christian, é seu bastardo...
Não fazia o menor sentido e, ao mesmo tempo, não era impossível. Christian ligou alguns pontos e fatos. A mãe jamais lhe contando a respeito de seu pai, a forma como ela fora morta, a forte ligação que ele tinha com Alena...
Alena... Ele pensou na garota com amargura. E pensou em como havia acreditado – ainda que por instantes – que sentia-se atraído por ela.
Era sua irmã.
Poderia ser.
Seus fortes laços com ela fariam todo o sentido se aquela fosse a verdade. Se fosse o segredo que a mãe jamais ousara lhe confessar.
Christian não tinha a completa certeza de que a história narrada pela entidade era um mero blefe. A dúvida implantada em seu coração começara a tomar seu espaço.
Em silêncio, observando Marina dormir, ele tomara a decisão de ir atrás da verdade. De descobrir a verdade.
E, para um começo, ele definitivamente ainda tinha muito trabalho a fazer.
–--
O casamento de Eleonora e Oliver – um acontecimento de grande importância para ambos – seria realizado no salão de baile do Ferrini Hotel, um local de imensa elegância. Boa parte da alta-sociedade estava presente. Políticos, em sua maioria. Havia também artistas e proprietários de outros hotéis de luxo. Homens poderosos. Famílias riquíssimas.
Michael Graber, como homem discreto que era, estava vestido de maneira conservadora.
Os arranjos de flores luxuriantes estavam espalhados por toda a parte, havia conjuntos de músicos circulando, um banquete gigantesco e duas fontes de onde jorrava água cristalina.
Todos comentavam que casal maravilhoso formavam o noivo e a noiva, e que casamento maravilhoso era aquele. Não haviam economizado na decoração.
Oliver Blake estava agora parado ali, próximo ao juiz.
Naquele momento, pôde observar Eleonora vir andando em sua direção, no seu vestido de noiva cor-de-creme, o qual não escondia, porém, seu ventre inchado. Os cabelos cor-de-rosa penteados para cima. Um pequeno arranjo de flores brancas em suas delicadas mãos. Tudo era muito belo.
Mas Eleonora não sorria. E quando o fez, ficara óbvio que não havia alegria em seu sorriso.
A maioria acreditava que sua reação se dava ao fato de que estava envergonhada. Afinal, engravidara antes de seu casamento.
Blake, todavia, não escondera o acontecimento da imprensa ou de seus fiéis eleitores. Todos estavam a par da chegada do filho do futuro presidente dos Estados Unidos.
Todos o felicitavam por isso. Ele mesmo estava feliz, ainda que aquilo não estivesse em seus planos.
O juiz que realizaria o casamento tomou a palavra assim que Thomas Montgomery entregara a noiva ao futuro marido, retirando-se dali em seguida.
Depois de um longo tempo de discurso, o juiz começara a dizer as palavras finais para encerrar, por fim, a cerimônia.
– Oliver, aceita como esposa Eleonora aqui presente?
– Sim. – respondeu ele de imediato. Não havia dúvidas de que ele queria aquele casamento. Era um passo a mais para a Casa Branca. O fato de Eleonora estar esperando um filho apenas ajudara-o a ganhar mais eleitores.
Olhando ao redor, a noiva notara os sorrisos direcionados a eles.
Mas, em vez da alegria tão esperada, um sentimento de angústia dominou o coração de Ellie. Ela sabia que tinha de encarar a realidade, uma vez que esta estava ali, diante de seus olhos.
O juiz continuou:
– Eleonora, aceita como esposo Oliver?
Subitamente, Ellie sentiu que a cabeça começava a andar-lhe à roda.
Ela lutava para conseguir controlar-se. O nervosismo já a estava sufocando.
Estivera diante daquela situação antes. Já havia passado por todo aquele processo. Há muito tempo. Quando ainda era inocente. Quando ainda era ingênua. Boa.
Nada disso lhe caía mais. Ela havia mudado, se corrompido. Havia tirado vidas, mentido, enganado, blefado.
Não era mais a garotinha que o pai vendera a um estranho.
Era uma assassina. Uma mulher pronta para tomar posse do que era seu por direito.
– Aceita? – a insistente voz do juiz a fez cair em si.
Os convidados ficaram a espera da resposta, ansiosos. O silêncio prevalecia.
Ellie exalou um suspiro estremecido.
– Sim. – respondeu seu olhar para o – agora – marido ou para o juiz.
Um sentimento de alívio tomara conta de Oliver que a fitou, triunfante.
– Pois bem. – o homem prosseguira. – Pelos poderes a mim investidos, e em nome da lei, eu os declaro...
Um forte barulho irrompeu no ar, como um trovão anunciando uma forte tempestade, interrompendo o encerramento da cerimônia.
A porta principal do salão fora aberta à força, causando comoção imediata no local.
Todos viraram-se para trás.
Os noivos fizeram o mesmo, atraídos pelo súbito e assustador som causado pelo ocorrido.
Eleonora permaneceu imóvel e sem reação ao ver, ali, parado à entrada do salão, James Braxton.
Ela fora incapaz de deixar uma só emoção dominá-la. O autocontrole desaparecera. E Ellie acreditou que o chão debaixo de seus pés também havia desaparecido, pois sentia-se flutuando.
Entorpecida pelo que via.
Com um aperto no coração, Ellie olhava para ele. Vivo.
Estava vivo, contemplando-a, incrédulo, transtornado, perplexo... Como estava mudado! Os cabelos haviam crescido, tocando-lhe os ombros. O rosto mal barbeado marcado por algumas cicatrizes. Os olhos azuis possuíam um brilho diferente. Algo novo. Algo que não condizia com a pessoa que ela costumava conhecer.
E, apesar de tantas mudanças, Ellie o teria reconhecido entre milhões.
Ele vinha caminhando na direção dela, ignorando as vozes daqueles que o haviam acompanhado, deixando-os para trás, à entrada do local. Seus passos eram firmes. Largos.
Ninguém ousava respirar ou emitir som algum.
O silêncio reinava, predominante. Intacto.
Não. Incrédula, Eleonora pensou conforme ele chegava mais perto. É apenas mais um sonho. Um maldito sonho.
Sua cabeça começara a latejar violentamente. Mas Ellie sabia que tinha de ficar ali, de pé, com os olhos abertos. Se aquele era mais um de seus sonhos, ela não desejava acordar. Não queria. E não iria.
Braxton estava muito perto dela agora, caminhando por entre os convidados silenciosos. Ela sabia que não podia ser real.
Mas era. Era verdade. Era real. E ela soube disso no momento em que James parou diante dela.
Queria tocá-lo, mas temia algo. Alguma coisa a impediu. Temor. Hesitação.
A expressão no rosto dele não era de alegria. Ele não esboçava felicidade ao reencontrá-la.
Ainda assim, Ellie sabia que o que estava havendo era loucura, mas era delirantemente maravilhoso.
Impulsivamente, se atirou para ele e começou a chorar, esperando ser aconchegada na segurança dos braços dele. Porém, para sua maior surpresa, James a afastara bruscamente, segurando-a com firmeza pelos ombros.
– Mas o que é isto? – indignou-se Oliver Blake, quebrando o silêncio.
– Senhor juiz, anule essa merda! – James Braxton ordenou ao homem que conduzia a cerimônia, fazendo-o estremecer com sua voz autoritária. – Esta mulher já é casada.
O juiz nada disse. Tampouco os convidados.
Estes permaneceram ali, assustados, incrédulos e boquiabertos.
Mas como podia? Há poucos minutos Eleonora estava certa de que não se arrependeria de casar-se com Oliver Blake, que estava apaixonada por Dominic Ryder e que era conseguira esquecer-se de como sentia-se viva ao lado de James. E agora sabia que não. Não podia. Agora sabia de tudo.
Virando-se para seus convidados, os olhos de Eleonora encontraram-se com os de Dominic. Ele parecia horrorizado.
Tornou a encarar Braxton, sentindo-se ainda incapaz de dizer coisa alguma. Ele mantinha os olhos fixos nela, um olhar rude, frio. Como o que ela recebera no dia em que fora apresentada a ele como sua noiva.
– Isso é loucura! – Blake exclamara. – Seguranças!
Quebrando o contato visual com Eleonora, James sacou uma arma e tomou a jovem para si, mantendo-a imobilizada. A arma encostada à sua cabeça. Ellie sentia-se sufocar com o braço ao redor de seu pescoço, o cano gélido do revólver contra sua pele.
Os convidados finalmente manifestaram-se com gritos. Uma onda de choque espalhou-se por todo o salão.
– Todos calados! – Braxton ordenou. – Ou explodo a cabeça dela!
Oliver Blake deu um passo para trás, completamente assustado. Ellie jamais o vira assim. Não desse jeito.
– Ficarão onde estão se não quiserem a morte dela! – assegurou James, mantendo Ellie como sua refém.
Todos calaram-se, tomados por uma gigantesca parcela de temor. O homem falava sério.
– James... O que... O que está fazendo...? – Eleonora tentou falar, mas o braço dele mantinha-a presa contra seu corpo pelo pescoço.
Ele lançou a todos um olhar que poderia falar por todas as palavras que ele tencionava dizer.
– Não ousem mover um só músculo. – depois encostou os lábios contra o ouvido de sua refém, dizendo-lhe em um sussurro ameaçador. – Você vem comigo.
Ela engoliu a seco as palavras que pensara em dizer.
Muito apreensivo, James Braxton percorreu o salão todo a arrastando consigo, mantendo a arma apontada para a cabeça dela. Sequer havia notado que a garota estava grávida.
Eleonora tentaria desvencilhar-se, mas o choque era ainda maior que seu medo.
Ao passar por Michael Graber, James Braxton brecou seus passos. Olhou para ele:
– Terá notícias minhas, Mike. Não se preocupe.
E retirou-se do salão com a primeira-dama. Os homens – todos armados – que vieram com ele e que instantes atrás estavam à entrada do salão também o seguiram.
O silêncio durou apenas alguns segundos. Depois disto, os convidados começaram a correr, aos gritos.
Oliver Blake fora levado por seus seguranças para os fundos do salão.
Os homens da Fraternidade se entreolharam e correram para fora, em busca de uma explicação.
Graber saíra na frente, desesperado. Tanto pela revelação feita, pelo fato de James Braxton estar vivo quanto pela segurança de Eleonora.
À distância, parado diante do hotel, pôde ver um automóvel negro virar a esquina, desaparecendo, então.
Não conseguia acreditar no que havia ocorrido em tão pouco tempo.
O olhar que Braxton lançara para ele ficara gravado em sua memória. Assim como as únicas palavras que ele lhe dirigira naquela noite.
Terá notícias minhas, Mike. Não se preocupe.
Mas Michael Graber se preocupava. Tinha todas as razões do mundo para se preocupar.
Conhecera James por muitos e muitos anos. E o fato de ele ter regressado dos mortos de tal maneira indicava apenas uma coisa: estava insanamente mais perigoso do que antes.
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 51
Para comentar, você deve estar logado no site.
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shadowxcat Postado em 19/07/2016 - 16:24:44
ESSA FANFIC ESTÁ SENDO REPOSTADA AQUI: http://fanfics.com.br/fanfic/54463/sete-demonios-romance-terror-horror-teen-amor -suspense-thriller-aventura-acao-vampiros-bruxas-demonios
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raysantos Postado em 12/08/2015 - 20:10:35
Sua fic e muito top e bem escrita tudo d bom tomara que logo logo a Ellie e James possam ficar juntos sem a essa fulana que eu nao aprendi a dizer muito menos escreve o nome no meio nada contra a crianca mais fazer oq ne continua
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vverg Postado em 08/02/2015 - 23:19:37
Olá, to lendo pelo spirit anime =)
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vverg Postado em 08/02/2015 - 22:54:24
Por favor!!! Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa mais!!! Okk, já sabes q amo de paixão esta web!!! To sentindo muita falta dela....please, preciso de mais caps!!!! Não me deixe na curiosidade por muito tempoooooo *_*
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vverg Postado em 10/01/2015 - 01:47:30
Desculpe meu sumisso!! Mas assim q der, comento qdo ler todos os caps =)
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vverg Postado em 19/08/2014 - 23:57:43
Poxa não judia tanto de sua leitora caramba!!! Minha fic perfeição, posta mais, preciso de mais.... Estou ficando agoniada sem suas atualizações Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa maissssssssssssssssssssssssssss nesta fic perfeitaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa amo sua fic, ok vc já sabe disso, mas não custa falar né hahahahahahahaha
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vverg Postado em 12/08/2014 - 12:10:07
Meu Deus! Que nojo deste Declan!!!! Cara##@%@#$#! Putz!!! Como ela se deixa dominar desta forma, caramba!!! Posta mais mais mais mais mais mais. Poxa vc me deixou curiosa agora, tadinha da Elie, ela é muito fraca e se deixa dominar por este imundo.... Estou pasma, posta mais na minha fic perfeição mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais =)
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vverg Postado em 09/08/2014 - 17:08:49
Quero maisssssssssssssss!!! Preciso mais desta fic perfeita!!! Posta sim??? Necessito ler.... =)
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vverg Postado em 06/08/2014 - 10:33:43
Dahlia tah ferradinha kkkkk. Posta mais! Necessito de mais rsrsrs *_*
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vverg Postado em 02/08/2014 - 09:55:32
Minha fic mais q perfeitaaaaa posta mais quero mais caps