Fanfic: Simplesmente | Tema: Portiñon

Pov Dulce

Quando meu celular começou a tocar Welcome to the Jungle do Guns quis logo pela manhã dar um tiro no Axl Rose. Estiquei meu braço para pegar o celular e desligar o despertador, mas tudo o que eu mais queria naquele momento era enterrar minha cabeça no travesseiro e dormir apenas mais um pouco. Estava sucumbindo desejo quando a porta de meu quarto abriu e um garoto com mochila nas costas apareceu.

–Já estou indo – ele avisou.

Girei na cama de forma preguiçosa até deitar de costas e poder encara o garoto. Sean era o meu irmão mais novo, mas sua maturidade era tanta que mal aparentava ter apenas dez anos. Ele pouco se parecia comigo com aqueles cabelos castanhos encaracolados e pele mais bronzeada que a minha. Mas aqueles olhos dourados, tão amarelos quanto o ouro, eram os mesmo que os meus. Arqueei minhas sobrancelhas ao notar que ele já estava tomado banho e arrumado para ir à escola.

–E o café da manhã? – perguntei em tom baixo, sonolenta.

–Deixei torradas e suco de laranja para você – Sean falava enquanto cruzava os braços – Posso ir? Tio Brandon vai me levar. Você pode dormir mais meia-hora.

–Ah graças a Deus, mande um beijo para o Brandon!

Sean deu de ombros e saiu fechando a porta. Eu simplesmente desabei na cama novamente, meu cabelo Ruivo se espalhando pelo travesseiro de forma bagunçada. Meia-hora era como uma preciosidade para mim. Havia trabalhado até às três da manhã e meu corpo parecia pedir para ser internado em um resort esquecido no mundo, onde nenhum problema pudesse me alcançar. Mas isso ainda era um sonho completamente impossível, desde que me conheço por gente minha vida era repleta de problemas. Não faço disso um drama, apesar de ser algo tão parecido ou pior.

Porém, sem querer me alongar em pensamentos dessa estirpe, meus olhos se fecharam e eu tornei a dormir em questão de segundos. O problema foi que eu apaguei de uma forma a acordar apenas uma hora depois, terrivelmente atrasada para a escola. Meu corpo saltou da cama automaticamente ao ver as horas, meus passos foram rápidos e meu banho ligeiro, não podia perder mais tantas aulas ou estaria completamente enrascada! Ao sair de casa estava com uma torrada na boca e uma mochila jogada de qualquer jeito em minhas costas, saltitando para poder encaixar meu tênis enquanto andava.

–Dulce! Atrasada?!

Meu olhar foi em direção à cerca vizinha. Parado lá estava um homem moreno, de cabelos negros lisos e um pouco curtos. O sorriso dele era perfeito e segundo Brandon era a coisa mais apaixonante em seu namorado. Para mim tudo naquele casal era perfeito só por existir e me ajudar tanto, não sei o que faria sem a ajuda deles. Alejandro já sorria enquanto me via aproximar engolindo um pedaço de torrada.

–Tem como me dar carona até o Lyon? – perguntei com um olhar de cachorro abandonado – Por favor, eu já faltei à aula de matemática semana passada!

–Claro que sim, vamos logo. Isso quer dizer que a festa no Club ontem foi boa? – Alejandro perguntava enquanto ia em direção ao seu carro.

Mordi outro pedaço da torrada e sorri para o meu vizinho. O segui até o Civic preto que estava estacionado em um espaço entre minha casa e a dele. Morávamos em um bairro de classe média baixa, mas era calmo e tranquilo, relativamente seguro em comparação aos outros. Entrei no veículo antes de poder responder:

–Obvio Ale, o que esperava de algo feito por mim? – me gabei um pouco.

–Modéstia também deveria ser incluso no seu dicionário, sabia? – ele me provocou dando partida no carro.

Não pude conter o riso. Não, eu não podia deixar meu bom humor ir embora, ou me afundaria em um mundo cinzento e tempestuoso. Sempre que podia eu trabalhava para ganhar dinheiro extra e pagar as contas. Meus pais adotivos moravam em outra casa, melhor e mais luxuosa, alegando deixar-me morar sozinha para poder desenvolver independência e maturidade. Porém tudo o que eles queriam era se livrar de mim e ainda assim receber o dinheiro do governo. Aos 16 isso para mim foi quase como uma benção. Tinha apenas Alejandro como vizinho na época, mas ele era dono de um bar e havia me oferecido emprego de meio-período para poder me sustentar só. Foi assim que aprendi a fazer várias coisas que me qualificavam. Por um tempo trabalhei como bargirl, outro como DJ que fui aprendendo aos poucos. Raramente ousava pegar no microfone e cantar por mim mesma, apesar de ser uma boa cantora, ainda tinha certa timidez com o público quando o assunto era canto. O verdadeiro problema veio quando Sean apareceu em minha vida, deixado para que eu cuidasse dele sozinha. Foi como se uma bomba nuclear explodisse apenas em minha cabeça.

Agora trabalhava dobrado ao mesmo tempo em que tinha de manter minhas notas na escola para não perder a bolsa de estudos. Não foram poucas às vezes em que pensava em desistir, porém sempre me erguia. Não iria dar esse gostinho ao destino, de que risse de mim como bem entendesse. Era forte. Precisava ser. Talvez não conseguisse nada se não fosse Brandon e Alejandro, meus vizinhos e por vezes minha única fonte segura de apoio. Era um casal de gays orgulhosos disso e extremamente amorosos, me acolheram de uma forma que eu jamais poderia agradecer o suficiente.

–Você está ficando famosa, tem um empresário que quer te contratar para a festa da filha dele – Alejandro comentou – Passei seu número para ele e avisei para ligar hoje à noite para você.

–Você é meu anjo! –exclamei extasiada pela possibilidade de mais dinheiro.

–Não vai atrapalhar na escola? – Alejandro indagou assumindo aquele tom paternal.

–Não, sempre que tenho uma brecha eu faço todos os trabalhos possíveis e adianto as coisas. Não sou louca de perder a minha bolsa Ale, sabe disso.

Ele sorriu e eu pude ver orgulho naquele gesto. Havia terminado de comer a torrada de meu irmão quando começamos a conversar sobre coisas mais amenas e triviais, foi o suficiente para começar meu dia um pouco melhor, tirando o sono que ainda rezava em meus olhos. Como imaginei, havia chegado atrasada na escola, perdendo metade do período de matemática, mas ao menos podendo entrar na sala.

Todos me olharam enquanto caminhava para a última cadeira disponível, na lateral esquerda. Era sempre assim e eu os entendia um pouco, apesar de me incomodar. Eu não tinha muito tempo para fazer amizades e só podia contar com uma pessoa ali dentro. O que me deixava praticamente só na escola. Quase sempre chegava atrasada, era uma bolsista em meio a tubarões e pira..nhas ricas. O que eles pensavam de mim pouco me importava, mas podia imaginar os horrores que vinham na mente daquelas crianças mimadas. A Lyon Academy era uma das melhores escolas do Estado, localizada na cidade de San Carlos, consideravelmente pequena em comparação as cidades vizinhas, mas prospera e moderna. Ao menos não poderia ser classificada como uma cidade do interior, ou eu estaria ainda mais encrencada do que já sou. Meu estilo de vida já foi criticado de todas as formas possíveis e que não duvido que novos julgamentos ainda fossem feitos, sempre. Vivendo só, sustentando um irmão, estudando ao mesmo tempo em que trabalhava em festa propagando abertamente a minha escolha sexual. Como estou viva? Boa pergunta.

Tentei prestar atenção na aula o máximo possível, gostava de exatas e esse era um dos motivos de querer fazer arquitetura. Estava copiando a matéria que estava na lousa quando uma bolinha de papel acertou em cheio a minha cabeça. Respirei fundo tentando ignorar, mas outra veio em seguida e por instinto ergui o olhar em busca do infantil. Era sempre o mesmo. Luke, capitão do time de futebol da escola. Ele riu de gozação ao ver minha irritação, mas meus olhos não pararam nele, mas sim na garota mais a frente dele que me encarava com um sorriso soberbo nos lábios pintados de vermelho. Eu sabia o que aquele sorriso significava, se pudesse aquela garota falaria que eu não pertenço àquele lugar e que estava sendo tratada daquela forma porque se ninguém me conhecia então que fosse tratada de qualquer forma. Irritante e mesquinha, assim era Anahi Portilla.

Uma maldita italiana linda, a garota que mais implicava comigo. E o motivo? Eu sempre estava com notas maiores do que ela. E ela não tinha controle sobre mim ou sabia algo sobre mim. Como provavelmente não tinha nada melhor pra fazer, achava isso um insulto a sua popularidade. Ou ao menos era o único caminho lógico que eu poderia imaginar. Ela tinha cabelos castanho Claro enormes e lisos, com leves ondulações nas pontas. Os olhos eram do tom azul mais claro que eu já vi. Devia ter por volta dos 1.68 metros de altura, mas seu corpo era... O mais próximo possível que eu podia classificar a perfeição.

Quando eu olhei para Luke novamente, ele estava com dois dedos abertos ao lado da boca e movimentando a língua entre eles, em um gesto obsceno que fazia apologia a minha preferência. Sim, gostava de garotas. Sempre foi assim e nunca escondi isso de ninguém. Parecia que esse fato completava a minha lista de problemas. Porém, Anahi deu um tapa no ombro do amigo falando algo como falta de modos que o fez encolher na mesa. Oh, estaria ela incomodada com algo relacionado ao homossexualismo?

Dei de ombros e voltei a prestar atenção na aula. Estudava em uma escola de elite chamada Lyon Academy, onde era oferecido anualmente dez vagas para bolsistas, sendo apenas três dela bolsas integrais, ou seja, sem custo algum. Eu havia ganhado uma dessas depois de fazer um pandemônio de testes e entrevistas. Não sei o que me fez ser aceita até hoje, mas sempre mantive minhas notas altas como que para mostrar a diretora que ela fizera o certo ao me escolher. Era quase uma questão de orgulho e dignidade. A velha história de não deixar o destino guiar minha vida à catástrofe.

Porém...

Nunca antes pensei que minha situação na escola fosse ser ameaçada de uma forma tão fútil quanto foi na hora do almoço. Estava almoçando ao mesmo tempo em que resolvia algumas questões de matemática, precisava aproveitar todo o momento que eu tinha... Quando meu caderno foi bruscamente puxado da mesa, fazendo um enorme risco de caneta vermelha que eu usava. Aquela mesa estava sempre isolada, portanto era sempre a que eu escolhia para as refeições se tornando quase uma propriedade minha, assim como outras mesas já eram destinadas aos grupinhos. O problema era que estava sempre sozinha, sem ter ninguém para me ajudar em um momento daqueles.

–Mas que inferno! – falei obviamente zangada.

–Opa, questões de matemática de graça! – Luke foleava meu caderno com um sorriso idiota na cara – Claro que você vai dar isso pra mim, não é Dulce?

–Mas é claro – respondi com um falso sorriso, o fazendo olhar para mim – Que não, seu idiota! Devolva-me a atividade!

–Deveria ter mais educação com quem está tentando ser amigo! – Luke se fez de ofendido, pondo a mão no peito de forma dramática – Mas eu fico com seu caderno até a sexta aula.

Eu estava me irritando mais facilmente, a falta de sono era um dos motivos, mas aquele garoto já estava me enchendo a paciência desde que eu havia ignorado ele no inicio do ano. Havia ferido o orgulho masculino dele e o que ganho como recompensa por ter feito a coisa mais óbvia de minha vida era uma perseguição infantil. Resmungando, puxei meu caderno bruscamente das mãos dele, com uma força que o surpreendeu.

–Deixe-me em paz, estúpido! Vai atrás de sua turminha de vagabundos! – estourei de vez, sentindo o estresse correndo por minhas veias.

–O que está acontecendo aqui?!

Era só o que me faltava. A italiana junto com sua armada havia se aproximado ao ver a confusão. Eu estava completamente sem paciência e me irritava ainda mais com a presença dela. Por quê? Porque ela era linda e ainda assim tão fresca! Dei uma última olhada para Luke que sorria vitorioso, respirei fundo e peguei minha mochila para dar o fora dali, não podia arranjar encrenca de forma alguma, minha bolsa de estudos estava em jogo e não seria aquela trupe de riquinhos a tirá-la de mim.

–Não me dê às costas! – Anahi falou e como não dei atenção ela segurou meu braço – Io estou falando com você!

–Desculpe princesinha, mas eu que não quero falar com você. Poderia me dar licença? – respondi a ela de forma fria e polida, com uma educação forçada.

–Não posso aceitar que você maltrate um amigo meu e saia dessa forma! O mundo não gira em torno de você ragazza!

Por incrível que pareça, ela parecia estar realmente zangada comigo. Ótimo, éramos duas! Puxei meu braço do dela, sem me importar que todos tenham parado para ver aquela pequena discussão.

–Já experimentou dizer essas palavras para você mesma? – ataquei e revirei os olhos – Claro que não, está ocupada escolhendo qual maquiagem usar amanhã. Por favor, italiana, eu não vou perder meu tempo com você. Tenho o que fazer de verdade.

–Sua estúpida! Não é melhor do que eu ou alguém aqui, não é especial nem nada! E você não merece...

–O que é isso?

A fala de Anahi foi cortada ao mesmo tempo em que meu sangue gelava. Era a diretora! Girei meu corpo alarmada, encontrando a Sra. Moore parada de braços cruzados, seus olhos cinza estavam severos. Se tiver alguém que eu respeitava e temia, era a diretora da Lyon. Alta e de cabelos negros, com alguns fios grisalhos, a Sra. Moore tinha aquele ar de superioridade inata,

–Ela que começou, Sra. Moore! – Luke logo argumentou.

–Io só estava defendendo il mio amico! – Anahi logo completou.

–Srta. Portilla e Srta. Savinon me acompanhe – foi a ordem absoluta da diretora.

Eu não me defendi, não era tão tola de falar coisas bobas quando a situação estava tão séria. Escutei Anahi resmungar baixo e lancei um olhar assassino para ela. Deus, porque tinha de ser justo hoje quando o sono me deixou fraca? Ela me olhou irritada, como se eu fosse a culpada de todos os seus problemas e tudo o que eu fiz foi suspirar. Mal ela sabia quantos problemas eu tinha para poder me vim com mais esse. Encolhi meus ombros enquanto seguia a diretora para a sua sala. Fosse o que fosse, já estava feito e agora eu veria as conseqüências.

Bom aqui começo mais uma web adaptada espero que gostem acho ela bem fofa, gostaria de saber oque ja estao achando?