Fanfic: Simplesmente | Tema: Portiñon

Pov Anahi

Eu a odiava. Desde o momento em que se mostrou tão perfeitinha para os outros. Dulce era nada, mas parecia conseguir tudo. Era uma injustiça a forma como os professores a tratavam. A forma em como ela sempre ganhava de mim sendo que sempre chegava atrasada e mal parecia ligar para o que acontece a sua volta. Isso me irritava de uma forma sem lógica, já que ela nada fazia contra mim. Mas era um sentimento que eu não conseguia controlar ou pensar sobre, pois sempre que tentava mais raiva eu sentia dela.

Quando a vi discutindo com Luke não pude me controlar e fui enfrenta-la. Luke não merecia nada disso e eu poderia apostar que ele fizera algo de errado. Mas não importava, era Dulce e eu queria longe de mim e de meu mundo lógico, mas incontrolável. Porém no que isso tinha resultado? Era a primeira vez na vida em que eu estava indo para a sala da diretora receber uma reclamação e eu estava nervosa. Meu pai iria ficar decepcionado. E tudo era culpa daquela garota!

Caminhei de queixo erguido até a diretoria enquanto por dentro tremia pela futura repreensão. Dulce seguia ao meu lado quieta e com uma expressão que eu não conseguia decifrar. Droga! Odiava não saber o que ela pensava, porque ela tinha de ser tão difícil?! Quando finalmente chegamos, a diretora pediu para que sentássemos nas cadeiras de frente a mesa, obedecemos em um silêncio absoluto. A Sra. Moore fazia movimentos lentos e ponderados quando se dirigiu a mesa para sentar na cadeira giratória.

–Os professores vêm comentando dessas discussões que as duas vem tendo uma com a outra – A Sra. Moore começou, em um tom calmo e frio ao mesmo tempo – Quero que justifiquem-se.

O silêncio de Dulce se prolongou, ela encarava diretamente a diretora como se recusasse a me fitar. Aquilo foi o suficiente para mexer com meu humor novamente.

–Porque ela tem privilégios?! Isso é injusto com qualquer outro membro dessa escola! – protestei veemente – Chega atrasada, dorme em algumas aulas, recebe vantagens...

–Tiro as notas mais altas – Dulce me interrompeu.

Fechei minhas mãos em punhos. Eu podia apostar que ela fazia nada para estar no topo, enquanto pessoas como eu, se preocupavam com os mínimos detalhes.

–Nota não explica conduta – completei ríspida.

–Tem gente pior do que eu e você não acha que há injustiça – ela argumentou finalmente me fitando – Você não sabe nada sobre mim e me julga, italianinha burguesa.

–SUA...!

–Chega! – a diretora bateu a mão na mesa em um baque surdo, fazendo com que nós duas ficássemos quietas – Quero que prestem atenção. Há um modo para que não recebam uma punição por causarem desordem.

–Mas... – falou eu e Dulce ao mesmo tempo.

–Mas nada, escutem. Vocês terão um mês para realizar um trabalho juntas. Quero que façam uma redação sobre a outra, como foi o tempo juntas e sobre a história das duas – a Sra. Moore decretou de forma definitiva.

–Não tem lógica nisso! – Dulce replicou.

–Pela primeira vez Io concordo com essa ragazza! – falei logo depois.

–Querem optar pela lógica de cumprirem detenção? – a diretora arqueou uma sobrancelha dando um quê maior de poder.

–E como a senhora quer? Uma redação de quão perfeitinha é a vida dela? – protestou Dulce finalmente se alterando – Sarah, você sabe que eu não tenho tempo para isso!

Ela estava tratando a diretora pelo primeiro nome?! Olhei para a senhora a minha frente e ao que aparentava era algo normal, pois a diretora em nada mudou sua postura ao ser chamada dessa maneira. O que era incrível, desde sempre eu a conhecia apenas como Sra. Moore e para todos continuava sendo apenas Sra. Moore ou Sra. Diretora.

–Dulce, vejo isso como algo necessário – a diretora falou mais amena – Estou providenciando para que as duas parem de brigar. É apenas um meio diferente que arranjei. É isso ou punição. Quero que conheçam uma a outra e me façam uma redação sincera sobre isso, pode haver críticas e opiniões, não precisam virar amiguinhas ou coisa parecida. O que me dizem?

–Eu estou ferrada – lamentou Dulce pondo as mãos sobre a cabeça.

Aquilo me fez olhá-la furiosa. Quem ela pensava que era para julgar ser ruim estar ao meu lado? Qualquer um naquela escola queria estar dessa forma, seja por popularidade, seja por causa de meu nome, seja por amizade. Quem... Quem ela era? Como ficamos em silêncio, a diretora apenas suspirou e nos mandou sair. Eu ainda não entendia ao certo o que deveria fazer ou como lidar com a situação.Havia acordado naquela manhã com minha maior preocupação sendo a festa no final de semana, não queria ir e não sabia como declinar o pedido de minha amiga.

–Como vamos fazer isso? – Dulce perguntou quando o silêncio se prolongou demais.

–Você começou a encrenca, você ajeita, ragazza stupida – murmurei ainda zangada.

Então ela fez tudo o que eu menos esperava. Segurou meu braço e começou a me puxar para longe da sala da diretoria. Consegui me soltar apenas quando havíamos chegado a uma parte isolada de um corredor da escola.

–Isso é sério, Anahi – ela falou chamando-me pela primeira vez pelo nome – Eu não posso ter nenhum indicativo ruim em minha ficha. Eu não posso pagar minha faculdade e preciso dessa bolsa se quiser continuar estudando depois do colegial.

–Deveria pensar isso antes de insultar meu amigo – reclamei a fitando.

–Você nem sabe o que ele fez e já vem pondo a culpa encima de mim! É tão difícil assim sair de seu mundo e enxergar o dos outros?

–É tão difícil ser educada?!

Ela ia falar algo, porém fechou a boca forte se contendo. Bom, ao menos Dulce tinha noção de que era ela que sairia perdendo mais do que eu. Porém eu não queria ter de enfrentar meu pai, o famoso promotor de justiça, dizendo que havia levado detenção por causa de uma briga qualquer. Respirei fundo para me acalmar.

–Você precisa saber de minha vida e eu da sua. Simples. Complicado – ponderei mais para mim mesma.

–Eu não tenho muito tempo. Teremos de sair para conversar – ela falou afastando um pouco – Esse final de semana não posso.

–Por que não? – perguntei mais por curiosidade do que por intriga.

–Vou estar ocupada – Dulce mordia o lábio inferior ficando evasiva – Olha, não sei me abrir muito bem, ok? Uma coisa de cada vez. Se não podemos esse fim de semana, segunda-feira conversamos um pouco melhor. Isso se eu conseguir me manter sã perto de você.

–O que quer dizer com isso ragazza?

–Que você é chata.

Abri a boca para tentar me defender, mas Dulce sorriu logo depois. Eu nunca a tinha visto sorrir, por isso foi a primeira vez que vi covinhas naquelas bochechas claras. Não consegui ficar tão zangada quanto queria e isso me incomodou bastante.

–Você é uma ragazza stupida – rebati, mas não com tanta raiva.

–Já disse isso e no meu pouco italiano isso significa garota estúpida. Mas acho melhor irmos, estamos perdendo a aula de geografia e eu realmente não gosto dessa matéria.

Dulce deu as costas e começou a andar. Não gostava de geografia, mas simplesmente fechava praticamente todas às meterias. Todo mundo sabia da nerd que ela era. Mesmo assim, ela parecia não se encaixar em lugar nenhum. Usava roupas sem nexo às vezes, como se pegasse as primeiras que vinham à frente. Geralmente uma calça desgastada, um tênis velho e uma regata ou blusinha simples. Foi então que as perguntas que sempre tentava não pensar me atingiram em cheio. Quem era ela? De onde veio? Porque era daquele jeito?

Tentei não ficar pensando muito nisso, mas fora praticamente impossível. Quando a aula terminou, peguei carona com Lindsay como sempre, estava tão distraída que não sabia sobre o que minha melhor amiga falava, apenas balançava a cabeça afirmando tudo o que ela parecia dizer.

–Anahi! Acorda, o que aconteceu na diretoria? – Lindsay perguntou em um berro.

–Sua pazza! Não me assuste! – reclamei enquanto piscava para tentar me habituar ao presente – Mas enfim, a diretora passou um trabalho para que eu fizesse junto com a ragazza stupida. Teremos de fazer uma redação uma sobre a outra.

–Mentira né?! – Lindsay gargalhou divertida – Que sorte! Todo mundo quer saber mais sobre a Dulce. Sem contar que metade das garotas da escola querem um pedaço dela. Inclusive eu, daria meu carro por um beijo dela. Dizem que é muito bom.

–Dizem? Você mal tem coragem de sair com sua Mercedes para passear Lindsay, com medo de que ela arranhe.

–Sabe a Alice do segundo ano? Aquela loira de olhos castanhos da turma de teatro que fiquei ano passado? Ela ficou com a Dulce em uma festa e passou a semana tentando se declarar para ela. Disse que o beijo da garota era enlouquecedor.

Revirei meus olhos. Lindsay era minha melhor amiga desde que havia chegado ao Lyon, era linda e extrovertida, energética para uma baixinha como ela. Uma morena de cabelos castanhos escuros e olhos verdes, era uma das maiores conquistadoras do Lyon, famosa por ser bissexual e ter altos números em ambos os lados do time. Eu sabia que Dulce era lésbica, mas não que fosse tão cobiçada assim. Ou que tivesse uma fama tão grande. Eu mal sabia dessas coisas quando se tratava garota com garota e o que eu sabia era graças a Lindsay.

–Sabe mais algo da Dulce? Preciso pro maldito trabalho – pedi a olhando com um sorriso – Assim não vou passar tanto tempo com ela.

–A garota é um mistério. Não sei muito mais do que todo mundo. É o charme dela. E eu vou querer saber todos os detalhes desse seu trabalho! Mas mudando de assunto, vai para a festa da Barbara não é?

–Io não queria, tem prova terça-feira...

–Corta essa. Você vai sim. Vai chover gatinhos e gatinhas. E pelo que eu soube, vai ter música muito boa. O pai dela encontrou uma garota DJ que o velho gostou. Se até pra ele gostar deve ser muito boa!

–Ta, ta, você me seqüestraria de qualquer forma.

Lindsay sorriu, mas eu sabia que era verdade. Aquela garota o que perdia em tamanho ganhava em atitude, não duvidava que invadisse minha casa e me puxasse porta a fora em caminho à festa.