Fanfic: Um amor desastrado - AyA - Adaptada - Finalizada | Tema: AyA
Anahi respeitou o silêncio do amigo. Cantarolando com o rádio, não tentou conversar. Depois de alguns minutos ele abriu os olhos e fitou-a. Seu perfil era quase perfeito. A inclinação do nariz, a proporção das faces, o formato do queixo... a única exceção era a boca, cujo lábio superior impunha-se ao inferior criando a impressão de que alguém montara o conjunto de cabeça para baixo. Os cabelos louros e abundantes e os olhos azuis completavam o quadro de beleza quase intimidante. Anahi tinha metade dos homens solteiros de Savannah correndo para sua cama, e a outra metade, a mais esperta, correndo para longe dela.
Ouvira histórias sobre a srta. Portilla no vestiário do clube. As incursões sexuais de Anahi eram lendárias. Mas sempre imaginara que porção dos rumores era baseada em fatos reais, e quantos haviam sido imaginados tomando por base o passado da jovem exuberante. Ela crescera em Grasswood, a mancha negra no elegante centro de Savannah. Grasswood era um projeto social conhecido por sua população eclética. Várias gerações de drogados, prostitutas e ladrões baratos haviam saído de lá.
Na primeira vez em que vira Anahi, tivera de arrancá-la das costas de outra garota no meio do saguão de sua escola particular, e ela o recompensara com um doloroso chute na canela. Em resposta à pressão da opinião pública, o Colégio Saint London oferecera bolsas de estudos para uma dúzia de famílias do projeto, e Anahi havia sido uma das sorteadas. Lembrava-se dos irmãos dela, dois grandalhões arruaceiros, e de como ela sempre fora rebelde e indisciplinada, irreverente e desbocada, sempre provocando brigas horríveis com os colegas e os professores. Um a um, todos os Portilla acabaram expulsos da escola.
Quando começara o relacionamento com Lucy, muitos anos atrás, surpreendera-se ao descobrir que a namorada e a antiga colega de escola eram grandes amigas, e ficara ainda mais surpreso ao saber que a temida Anahi transformara-se numa das mais eficientes corretoras da maior imobiliária da cidade. Lucy não se importava com a exuberância e a reputação da amiga, e logo Alfonso relaxara e aprendera a desfrutar da alegre companhia de Anahi, apesar de seu comportamento imprevisível e escandaloso.
A primeira vez que Lucy pedira a ele para acompanhar Anahi numa de suas inúmeras funções de caridade, sentira-se incomodado e apreensivo, e rezara para que a mãe, uma mulher conservadora e rígida, jamais soubesse disso, ou passaria meses ouvindo seus sermões. Mas assistira fascinado à transformação da sereia sexy em profissional competente. Desembaraçada, Anahi cativara a atenção de uma sala repleta de eventuais clientes e, para retribuir o favor, ela o apresentara a algumas pessoas que foram muito úteis nos primeiros meses de sua empresa de consultoria em informática.
Era tão diferente de sua ex-noiva como a noite do dia. Lucy era um confortável banco de leitura, Anahi era a cama desfeita. Lucy era um pacato gato doméstico, Anahi, uma tigresa faminta.
Alfonso franziu a testa. A mulher era assustadora.
— Vou ficar e esperar com você — ela anunciou ao entrar no estacionamento do aeroporto.
— Não é necessário.
— Faço questão de pagar um drinque — ela insistiu, desligando o motor e saindo do carro. — Só preciso calçar sapatos decentes.
Erguendo a saia acima dos joelhos, ela se dirigiu ao porta-malas usando apenas as meias. Alfonso a seguiu e, intrigado, viu a espantosa coleção de sapatos que ocupava o bagageiro do automóvel. Havia um pouco de tudo. Mocassins, sandálias, tênis, sapatos de saltos altos, botas... Devia haver cerca de cinqüenta pares.
— Está tentando ganhar dinheiro como vendedora ambulante?
Ela riu:
— Nunca sei que tipo de terreno encontrarei ao levar um cliente para visitar um imóvel, e por isso tento estar preparada.
Alfonso estendeu a mão e apanhou uma bota vermelha cujo cano ia até o meio da coxa.
— Não esqueceu o chicote? — perguntou.
Ela riu e arrancou o calçado da mão dele. Depois de vasculhar a pilha desorganizada, Anahi encontrou um mocassim de saltos médios e calçou-o, jogando o sapato com o salto quebrado no meio dos outros. Foi preciso bater a porta três vezes antes que ela conseguisse fechar o compartimento.
— A fechadura está enferrujada! — ela comentou jogando a bolsa sobre o ombro. — Vamos.
Não houve uma única pessoa que não se virasse para olhar o estranho casal que atravessava o saguão em direção ao bar. Para criar um clima propício à viagem, Anahi pediu uma jarra de margaritas com gelo e serviu a bebida nas taças de cristal fino. Depois de lamber a mão, cobriu a área com sal e esperou que Alfonso fizesse o mesmo.
— Muito bem, você faz o brinde — disse.
A beleza da loura o pegou de surpresa mais uma vez e, confuso, ele disse qualquer coisa.
— À vida de solteiro.
— Ótimo brinde. Bebamos a ela! — Anahi esvaziou metade do copo de um gole, lambeu o sal da mão e chupou uma fatia do limão cortado que o garçom deixara ao lado da jarra.
Alfonso a imitou, mas não conseguiu impedir uma careta ao sentir o sabor azedo do sumo.
— Não queria mesmo me casar — disse.
— Então, por que a pediu em casamento?
— Sei que vai soar tolo, mas na época me pareceu a atitude mais correta.
Ele parecia confuso, e por isso Anahi decidiu não questioná-lo. Em vez disso, riu e balançou a cabeça.
— Você está horrível.
Alfonso examinou o fraque molhado e sujo e sorriu.
— Você não está muito melhor.
Os dois gargalharam e ele afrouxou a gravata borboleta, deixando as pontas caírem soltas sobre a camisa respingada de barro.
— Que dia! — exclamou, balançando a cabeça e pegando o copo que deixara sobre o balcão.
— Tem razão — ela concordou, esvaziando a taça e repetindo o ritual com o sal e o limão. — Sabia que ela estava interessada em John Sterling?
— Sabia que ele estava interessado nela, mas nunca imaginei que Lucy pudesse olhar para um homem com tantos filhos — e esvaziou o copo, realizando mais uma vez a operação de lamber o sal e chupar o limão. — E você? Sabia de alguma coisa?
Anahi negou com a cabeça e encheu o copo.
— Sabia que algo a estava aborrecendo, mas deduzi que fosse apenas tensão pré-nupcial — e bebeu uma boa dose de margarita.
— Sinto-me um idiota — ele anunciou, imitando o procedimento completo. — Todos estão rindo de mim.
— Bobagem — ela argumentou, tentando ajeitar as mechas que escapavam do penteado rebuscado. Os cabelos estavam duros em função do excesso de laquê. — Devem estar sentindo pena de você.
— Muito obrigado. Agora me sinto muito melhor.
— Alfonso, quando você voltar de viagem, todos terão esquecido o episódio — e encheu os dois copos pela terceira vez.
O álcool começava a fazer efeito no estômago vazio de Alfonso. A língua e as pontas dos dedos estavam entorpecidos, e a visão começava a ficar turva.
— Espero que sim, mas não tenho tanta certeza. Talvez mude de cidade.
— Isso é ridículo. Você mora em Savannah desde que nasceu. Seus pais ficariam magoados, seus negócios seriam prejudicados... Não pode partir sem conquistar a conta do velho Gordon! Tive muito trabalho para apresentá-lo a ele naquele jantar de caridade — e bebeu com voracidade.
— Eu sei — Alfonso choramingou, esvaziando o copo e esperando que ela o servisse mais uma vez. — É claro que tem razão! Mas meu ego está ferido, e preciso viver essa tristeza intensamente, ou jamais conseguirei superá-la.
— Você vai superar — Anahi afirmou confiante. — Haverá uma fila de debutantes na porta de sua casa quando voltar de viagem.
As palavras soavam confusas e a voz pastosa. Ou seria ele que já não conseguia ouvir direito?
— Não. — Alfonso balançou a cabeça, levando o polegar ao peito num gesto desajeitado. — Nunca mais pensarei em me casar. De hoje em diante, esposa será uma palavra de seis letras.
— Alfonso — Anahi inclinou-se para frente —, esposa sempre foi uma palavra de seis letras.
— Você sabe o que quero dizer.
Tonta, ela olhou para o amigo e sentiu-se invadida por uma inveja súbita. Gostaria de saber como era ter um homem tão apaixonado a ponto de jurar nunca mais se casar, depois de saber que não poderia ter a mulher amada. Conhecia Lucy Montgomery há anos, e a amiga sempre demonstrara muito bom senso. Até hoje.
O que podia tê-la possuído para abandonar o namorado de três anos e subir ao altar com um viúvo pai de três filhos? Sim. Lucy confidenciara que o relacionamento sexual com Alfonso deixava a desejar, e pessoalmente o considerava infantil e aborrecido, mas nem mesmo um homem aborrecido merecia ser abandonado no altar. Mas sabia que Lucy estava preocupada, temendo que ele cometesse alguma loucura, ou não teria pedido para segui-lo.
Viu Alfonso inclinar a cabeça e esvaziar o copo de um gole. Na escola, apelidara-o de "boneco Ken", um apelido que ainda usava nas conversas com Lucy, para desespero da amiga. Os cabelos escuros eram mantidos sempre bem cortados, e os óculos de aros de metal eram como todo o resto de seu guarda-roupa: caros e elegantes.
O homem vivia bem barbeado, e usava roupas tão engomadas que tinha a impressão de que, quando as despia, podia deixá-las em pé num canto do quarto. Era bonito, mas absolutamente previsível.
Alfonso Herrera tinha dinheiro, nome e uma família aristocrata. Não devia nem imaginar o que era sentir fome, faltar à escola por não ter sapatos ou juntar moedas para pagar o ônibus. Os mundos a que pertenciam eram tão distantes, que faziam parte de dimensões diferentes.
Anahi conteve um sorriso. Nesse momento, com os cabelos desalinhados, os óculos sujos e uma mancha de barro no queixo, Alfonso parecia um de seus antigos amantes, desordeiro e indisciplinado. Mas sabia que era só uma impressão. Alfonso era um gênio da informática, um homem contido e de vida regrada cujo livro de cabeceira devia ser a própria agenda.
— Qual é a graça? — ele perguntou com ar ofendido.
— Oh, não é nada — ela respondeu com dificuldade, chamando o garçom e pedindo mais uma jarra de margarita. Depois passaram meia hora relacionando as virtudes de serem solteiros e livres enquanto esvaziavam a jarra.
Alfonso jogou uma fatia de limão sobre a pilha de bagaços e consultou o relógio, movendo-o para frente e para trás como se tentasse focalizar melhor os números.
— É hora de ir — anunciou com voz pastosa. Anahi estendeu a mão.
— Acho que vou ficar por aqui e recuperar a sobriedade antes de voltar para casa.
— Tem certeza? Talvez dirija melhor embriagada. Ela riu.
— Bem, divirta-se, Alfonso.
— Divertir-me? Estou partindo em lua-de-mel... sozinho!
— Talvez conheça alguém.
Alfonso ergueu o corpo, franziu a testa e apertou os lábios.
— O que é? — ela perguntou, intrigada com a expressão pensativa.
— Por que não vem comigo?
— Você está bêbado!
— E daí?
— Alfonso, não vou acompanhá-lo em sua lua-de-mel.
— Por que não? Minha secretária reservou a suíte de um hotel de primeira classe, e já paguei todas as despesas. Alimentação, passagens, hospedagem. Tudo. Que tal? Preciso mesmo de companhia, e você está precisando de férias.
Uma semana longe de Savannah era uma proposta tentadora.
O sorriso de Alfonso era convincente.
— Dias inteiros na praia, bebendo margaritas e comendo camarões, noites ao luar saboreando lagostas e outros pratos exóticos... homens seminus...
Finalmente conseguira conquistar a atenção dela.
— Disse alguma coisa sobre homens? — Anahi riu.
— Sim, eu disse. E você pode ter sorte.
Mas não podia imaginar-se passando uma semana ao lado de Alfonso, e jamais dormiria na mesma cama com ele, mesmo que fosse uma cama espaçosa.
— Não posso.
— Vamos lá, Anahi! Eu durmo na cama de armar.
— O que as pessoas vão pensar? O que Lucy vai pensar?
— O que quer dizer?
— Ah, você sabe... Vamos passar uma semana juntos...
A expressão chocada de Alfonso foi um duro golpe contra sua vaidade feminina.
— Está insinuando que alguém pode pensar que estamos... que temos... um envolvimento? — A gargalhada rouca a fez sentir-se uma idiota.
Era evidente que ninguém chegaria a essa conclusão. Um cavalheiro fino e elegante, nascido numa das mais aristocráticas famílias da cidade, envolvido como uma mulher de formação duvidosa criada num projeto social? Era ridículo!
— Quanto a Lucy — Alfonso prosseguiu —, se ela acreditasse na possibilidade de nos sentirmos atraídos um pelo outro, não teria sugerido que eu a acompanhasse a todas aquelas funções de caridade.
O cérebro confuso de Anahi registrou o insulto oculto por trás das palavras inofensivas, mas estava bêbada demais para reagir. Alfonso encolheu os ombros.
— Além do mais, a viagem não será anunciada no jornal de Savannah.
Ela olhou para o horrível vestido cor de pêssego.
— Mas eu não tenho roupas.
— Faremos compras quando chegarmos lá. E então? Vem comigo, ou não?
Há anos não tirava férias. Tinha apenas uma transação pendente, e podia acompanhá-la por telefone. E Lucy havia pedido para cuidar de Alfonso. Se não fosse aquela terrível dor de cabeça talvez pudesse pensar melhor.
Anahi esvaziou o copo e limpou a boca com o dorso da mão. Em seguida, encarou-o e sorriu.
— Pensando bem, estou precisando de sandálias novas. O que estamos esperando?
Autor(a): ayaremember
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 74
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maralima Postado em 02/05/2015 - 00:46:02
- web , muito legal . Amei.
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ponnynobre Postado em 10/07/2014 - 21:13:59
Uma pena que tenha acabado essa web é muito engraçada morri de rir com eles dois até no parto. E claro que vou acompanhar a nova
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daninha_ponny Postado em 10/07/2014 - 14:24:45
ahhhhhhhhhhhhhhh amei a web kkkk ri muito me enantou do começo ao fim bjos.... :)
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vanessap. Postado em 10/07/2014 - 02:34:13
Nem acredito que passou assim tao rapido!! :O amei cada capitulo da web!! Foi extremamente linda!! Parabeeeens *----*
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Angel_rebelde Postado em 10/07/2014 - 02:08:58
Adooorei sua fic ! Poncho com ciúmes do Manny kkkkkkkkkk e só relaxou quando a Anny falou q o amigo é gay. Mas a parte mas hilária foi quando ele disse amar ela e do nada ela soltar q tá grávida fazendo ele desmaiar kkkkkkkkkkkkkkkk. Esse *P* foi o mais hilário kkkkkkkkkkkk. Tanto mistério pra acabar virando nome do filho deles kkkkkkkkkkkkkkkkkk. 2 figuras. Deu dó do Poncho que tomou bolo no jantar. Eu bem sabia q a Lucy nem ia ligar pelo fato dele amar a Annie e ainda ia dar força pros 2. Sua fic foi hilária. Dei muita risada aqui. Já favoritei a outra e vou acompanhar. Eu tbm tenho uma, se quiser ler o link é esse ~> http://fanfics.com.br/fanfic/35111/saudade-de-um-amor-que-nao-acabou-anahi-e-alf onso-aya-ponny
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vondy4everponny Postado em 10/07/2014 - 01:44:04
Nossa, como eu vou sentir falta dessa web. Com certeza eu vou ler ela de novo mais pra frente, porque eu amei deeeemaaaais! Ta de parabéns pela adaptação, sério. Eu ri muito com ela no parto kkkkkkkkk e o casamento tb kkkkkkkk Annie doida!Agora é rumo a nova web u.u <3
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edlacamila Postado em 09/07/2014 - 23:23:45
KKKKKKKKKKKKKKK Ai amei o fim *-* presley KKKKKKKKKKK
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dessita Postado em 09/07/2014 - 22:58:05
Eu amei o fim... kkkkk coitado do Poncho sempre apanhando! Amei mesmo
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camile_ponny Postado em 09/07/2014 - 22:16:12
Amei cara simplesmente Perfeito! ^_^ Amei a parte do parto ri muitooo com a Anahi brigando com ele e ele concordando... kkkk tenho nem palavras. Bom demais sério mesmo. Agora partiu pra sua proxima fic ;)
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daninha_ponny Postado em 09/07/2014 - 00:51:56
kkkkkkkkkkkk morrri quase de tanto rir....kkk nossa ele fez a tatuagem na bunda com o nome dela jajjaja aiii ele tem que ir atras dela pow amando a fic posta maisssss bjos