Fanfic: Um amor desastrado - AyA - Adaptada - Finalizada | Tema: AyA

As coisas seriam melhores quando voltassem a Savannah. Raramente o veria, já que a ligação entre eles, Lucy, deixara de existir, e assim não teria de passar o resto da vida lembrando o tempo que haviam passado juntos num hotel à beira-mar.
— Olá.
Anahi desviou os olhos do livro e viu Enrico parado ao lado da cadeira. Resplandecente num espremedor de ovos cor de laranja, ele acenou para Alfonso que permanecia escondido atrás do jornal.
— Vejo que seu acompanhante a negligenciou novamente. Talvez eu possa remediar a situação.
Aborrecida, Anahi abriu a bolsa.
— Duvido.
— Quer dar um passeio pela praia?
— Não — disse, e pôs os óculos escuros.
— Que tal um drinque?
— Não.
Ele aproximou-se e o hálito de álcool a atingiu em cheio.
— Gosta de provocar, não é?
— Não — Alfonso respondeu atrás dele.
Anahi o viu parado com o jornal dobrado sob o braço, os olhos fixos no rosto de Enrico.
— Eu posso cuidar disso, Alfonso — disse irritada.
Ele encolheu os ombros e voltou à cadeira.
Mas Enrico o seguiu.
— Decidiu que ela não merece uma boa luta, señor!
— Já chega! — Anahi ergueu o corpo. — É melhor ir embora, Enrico.
— É mulher demais para você? — ele insistiu.
A paciência de Anahi chegou ao fim e ela se levantou.
— Vá embora, Enrico!
— Qual é o problema? O mocinho precisa da mulher para se defender?
Furiosa, Anahi investiu contra ele e pendurou-se em seu pescoço, montando nas costas peludas enquanto tentava atingi-lo com tapas desferidos às cegas. Alfonso levantou-se para ajudá-la, mas Enrico deu um passo à frente e o derrubou na areia, caindo sobre ele. Os três rolaram pelo chão enquanto Anahi esmurrava as costas do sujeito.
A areia os cegava. A briga era uma confusão de braços e pernas. Alfonso e Enrico trocavam golpes violentos. Alguém gritou pela polícia e, enfurecida, Anahi decidiu que era hora de pôr um ponto final da cena lamentável. Cerrando um punho, preparou-se para acertar um direto no queixo de Enrico. Afastando o braço, pôr toda a força que tinha no movimento e desferiu o golpe. O gemido aflito comprovou que ela atingira seu objetivo.
Ofegante, levantou-se para limpar a areia dos olhos e, ao massagear os dedos doloridos, viu Enrico correndo pela praia, aparentemente imune ao soco com que acabara de brindá-lo.
Quando olhou novamente para o local da luta, Sentiu o estômago contrair-se. Alfonso estava sentado na areia, cobrindo o olho direito com uma das mãos.
Adoraria pedir desculpas, mas a chegada da polícia a impediu de falar.
— Olá — o oficial cumprimentou. — Sabia que nos encontraríamos novamente.
— Veja pelo lado positivo — Anahi aconselhou-o na manhã seguinte enquanto caminhavam até a limusine estacionada em fila dupla.
Atordoado depois de mais uma noite na cadeia e sentindo uma dor intensa no olho ferido, Alfonso, suspirou:
— O que há de positivo nisso?
— Não fizemos sexo ontem à noite. E vamos embora hoje. Já encerrei nossa conta no hotel. Twiggy mandou lembranças. Comprei uma mala e já trouxe todas as suas coisas. Estão no porta-malas.
Alfonso parou e olhou para os dois novos amassados no carro azul-celeste, mas não disse nada. Em vez disso, abriu a porta de trás, sentou-se no banco e bateu a porta com violência.
— Vai me deixar dirigir até o aeroporto? — Entusiasmada, Anahi acomodou-se atrás do volante e abriu a divisória de vidro entre os bancos.
Alfonso pôs o cinto de segurança.
— Estou exausto demais para discutir.
— Então relaxe. Que tal comermos alguma coisa a caminho do aeroporto? Ainda temos muito tempo antes do vôo.
— Como quiser — disse, e tirou os óculos para não ver o que estava prestes a enfrentar.
Por piores que fossem suas expectativas, não antecipara que ela tentaria passar por um drive-thru com a limusine. Ficaram presos no corredor estreito por mais de quarenta minutos, enquanto um manobrista desesperado tentava ajudá-la a liberar a passagem para a fila de clientes que aumentava a cada segundo. Quando sentiu que não suportaria o ruído do metal contra a parede cada vez que ela punha o carro em movimento, Alfonso ligou a tevê e pediu um sanduíche.
Finalmente conseguiram livrar-se da situação constrangedora e voltaram à estrada.
— Ainda temos uma hora — ela gritou, animada. — Vamos chegar a tempo.
Alfonso fechou a divisória e olhou para a tevê. Cinco minutos mais tarde estavam parados novamente. Anahi abriu a divisória.
— Estamos presos num congestionamento. O rádio informa que houve um acidente alguns metros à frente, e a pista só será liberada dentro de cinqüenta minutos. Mas não se preocupe. Vamos conseguir — e fechou a divisória.
Alfonso suspirou e pegou o controle remoto. Então uma idéia passou por sua mente e ele abriu a divisória.
— Ei, Portilla?
— O que é?
— Já ficou nua numa limusine?
— Não.
— Quer experimentar?
Ela fechou a divisória sem responder. Alfonso recostou a cabeça no banco e suspirou.
— Não custa nada tentar.
De repente a porta se abriu e ela entrou, atirando-se sobre ele e rindo como uma adolescente. Montando sobre seus quadris, beijou-o e perguntou: — Acha que uma hora será suficiente?
— Vamos ter de nos apressar — ele sussurrou, trancando a porta.
Anahi corria pelo saguão do aeroporto e gritava:
— Isso não pode mais acontecer!
— Nunca mais — Alfonso respondeu no mesmo tom.
Deixara uma quantia obscena no balcão da locadora de automóveis, caso sua companhia de seguros não cobrisse os danos causados à limusine, e correra até o balcão da companhia aérea ignorando a dor provocada pelo contato da calça com a pele tatuada. Quando sentaram-se nas poltronas do avião, surpreendeu-se por só ter passado sete dias longe de casa. Era como se tudo houvesse acontecido há um século! Um século e uma pequena fortuna...