Fanfic: Um amor desastrado - AyA - Adaptada - Finalizada | Tema: AyA

Depois da decolagem, pôs os fones de ouvido e percebeu que enganara-se ao pensar que voltar para casa seria a solução para todos os problemas. Na verdade, quando mais o horizonte de Fort Myers se distanciava, mais clara se tornava a verdade.
Em vez de tentar dissecar o rolo compressor de emoções que ameaçava esmagá-lo, tinha de considerar os fatos: estivera vulnerável, e Anahi dispusera-se a consolar um amigo. Mesmo que as circunstâncias fossem ideais, o que não eram, e mesmo que tivesse a intenção de tomar uma esposa, o que não tinha, não conseguia imaginar alguém menos adequada ao casamento do que Anahi Portilla.
Felizmente o vôo foi tranqüilo. O fato de Anahi ter vomitado na cabeça de um passageiro nem mereceu atenção em vista de sua nova escala de relatividade. Despreocupada, ela nem parecia notar seu silêncio, conversando com as comissárias e pintando as unhas dos pés durante o vôo.
Só quando já estavam aterrissando e ele notou a palidez no rosto delicado, Alfonso percebeu como havia aprendido a gostar dela. Afagou a mão sobre o braço da poltrona e o sorriso grato o atingiu como um soco no estômago. Nesse momento soube que, mesmo que o olho ficasse curado, a tatuagem fosse removida, os processos fossem encerrados e o seguro do carro não fosse cancelado, nunca mais conseguiria recuperar-se daquela semana em companhia de Anahi Portilla.
Ela se comportou normalmente enquanto retiraram as bagagens e passaram pelo portão de desembarque, reforçando suas suspeitas de que, para Anahi, a semana havia sido apenas uma travessura inconseqüente. E apesar dos problemas que pareciam segui-la por todas as partes, sentiria saudade dela. Quando o tempo cicatrizasse as feridas e pusesse cada coisa em seu devido lugar, talvez a procurasse para ver como estava passando.
Ofereceu-se para chamar um táxi, mas ela insistiu em levá-lo para casa, dizendo que precisava mesmo dar uma olhada em alguns imóveis localizados em sua vizinhança. No caminho ela ultrapassou dois sinais vermelhos, mas parou o trânsito numa ponte sobre um lago para permitir que uma pata atravessasse a pista com seus filhotes.
— Aqui estamos — Anahi informou ao parar diante da imponente residência dos Herrera. — Alfonso, eu... sinto muito.
— Por quê? — Ele forçou um sorriso.
— Por quebrar seus óculos, amassar a limusine, provocar a multa, convencê-lo a fazer uma tatuagem, acertar seu olho e mandá-lo para a cadeia.
— Duas vezes.
— Duas vezes.
— Esqueça.
O sorriso de alívio e felicidade que iluminou o rosto de Anahi compensou todo o sofrimento da semana anterior.
Alfonso abriu a porta e foi buscar a mala preta que ela comprara e onde guardara suas coisas. Quando contornou o automóvel e parou junto à janela do motorista, lembrou-se subitamente do pingente que comprara para ela.
— Oh, ia me esquecendo — e abriu a bolsa de ginástica, de onde tirou a caixa de veludo escuro. — É para você.
— Para mim? — ela se surpreendeu, abrindo a embalagem com curiosidade quase infantil. — Oh, Alfonso, é lindo! Mas... por quê?
Porque quero que se lembre de mim. De nós.
— Porque queria agradecer por ter me feito companhia. Foi divertido — mentiu. Havia sido surpreendente, inquietante, estimulante, estressante e assustador, mas divertido? Nunca.
— Também gostei muito.
Anahi prendeu a corrente em torno do pescoço e o pingente desapareceu entre seus seios. Alfonso engoliu em seco.
— Obrigada, Alfonso.
— Até qualquer dia... — A voz tremeu, e ele teve medo de demonstrar a esperança que sentia de revê-la o mais depressa possível.
— Até qualquer dia.
Alfonso a viu fechar a janela, arrancar várias centenas de dólares de grama com os pneus carecas e entrar na estrada bem na frente de um carro luxuoso cujo motorista pisou no breque e enfiou a mão na buzina para evitar uma colisão. Depois, deixando no ar apenas um som estridente da borracha dos pneus contra o asfalto, ela desapareceu.