Fanfic: Sociedade Secreta lesbos - Adaptada | Tema: Portiñon

 Capítulo 89

Dulce mexeu nos talheres sem saber o que responder, o que irritou Anahi, que instantaneamente mudou de humor e o silêncio se instalou na mesa de almoço na varanda. Sandra tentava minimizar o clima tenso puxando assuntos amenos, inutilmente. Anahi e Dulce permaneceram caladas, fugindo do olhar uma da outra.

O resto do dia foi cercado de apreensão pela decisão de Dulce. Anahi sequer aceitou a sobremesa do almoço, deixando a mesa com seus pais e Dulce em um “silêncio gritante”. Peter aproveitou a saída de Anahi, e apareceu no quarto da sobrinha a fim de sondar quais os planos da moça para seu futuro próximo.

-- Incomodo, querida? -- sondou Peter.

-- Não, claro que não tio, pode entrar.

-- Gostaria de conversar um pouco com você.

-- Any ainda não chegou?

-- Não, ligou agora pouco, avisando que vai dormir na fraternidade.

-- Ah... Entendo.

-- Minha querida, Sandra já me torrou o juízo por eu ter falado do contrato justo quando você e Anahi se entenderam. Eu sinto muito querida, não foi intencional.

-- Eu sei tio, não se martirize, eu preciso mesmo tomar essa decisão que, aliás, já estava tomada até dias atrás...

-- O que mudou?

-- Nada mudou tio, por que nunca deixei de amar Any. Mas tê-la por perto, me fez querer tê-la sempre ao meu lado...

Peter sorriu, sentou-se ao lado da sobrinha na cama, segurou sua mão e disse:

-- Dulce, seu coração já está te dando as respostas que você precisa.

-- Mas tio, nós temos problemas demais, e essa é uma grande oportunidade para mim... Não sei se quero abrir mão disso para arriscar um relacionamento que já cultivou tanta mágoa.

-- Minha querida, alguém tem que ceder...

 A observação do tio soou como uma grande indireta para Dulce, a insônia foi sua companhia naquela noite, sua vontade era contrariar qualquer ordem médica e ir ela mesma arrancar Anahi da mansão Gama-Tau e trazê-la para seu lado da cama. Não suportava imaginar que sua loirinha pudesse estar na cama de Angelique. Um misto de ciúme, angústia e dúvida ganhou uma proporção inimaginável para Dulce, a ponto de a ruiva sentir seu corpo queimar e tremer de calafrios. Revirava-se na cama com dores, mal sabia se estava sonhando ou acordada, o fato é que não conseguia chamar ninguém para pedir ajuda, a voz parecia engasgada.

Assustada, Dulce reuniu suas forças e levantou-se da cama, vagou sozinha pela casa luxuosa, não protelou sua agonia, envolveu-se em um casaco, pegou as chaves do carro de Peter, e desceu lentamente em direção à garagem da casa. Entrou no carro e dirigiu até a mansão Gama-Tau, com a visão completamente embaçada, bateu á porta da sua antiga casa, quando foi atendida por sua amiga Rachel.

-- Dul! O que você faz aqui?

-- Any...

Dulce não conseguiu dizer mais nada, e desmaiou nos braços de Rachel. A presidente da Gama-Tau com muito esforço segurou a amiga, gritando por sua namorada Nicole. A moça veio da cozinha rapidamente angustiada:

-- O que houve Rach? Meu Deus, é Dulce?

-- Sim, ajude-me a colocá-la no sofá, preciso ligar para o médico.

-- Mas o que ela faz aqui?

-- Acho que veio procurar Anahi... Meu Deus ela está ardendo em febre.

Rachel buscou no seu celular o número de uma médica da cidade, veterana Gama-Tau, sempre atendia as irmãs em urgências. Enquanto Nicole acomodava a ex-irmã no sofá ouvindo a ruiva gemer chamando pelo nome de Any.

-- Pronto, a Dra. Lewis está vindo para cá -- comentou Rachel.

-- Minha querida, ela não pode ficar aqui, esqueceu-se que ela foi banida?

-- Você acha mesmo que estou preocupada com as regras da fraternidade nesse momento? Agora é minha amiga que está precisando de minha ajuda Nico...

-- Tudo bem meu amor, desculpe-me. Acha que devo chamar Anahi?

-- Sim minha querida, por favor, fico aqui com ela.

Nicole bateu na porta do quarto de Anahi, e a loirinha atendeu com cara de espanto:

-- Nicole? O que aconteceu?

-- É Dulce. Está lá embaixo, Anahi. E não está bem.

Anahi mal escutou as últimas palavras de Nicole e saiu descendo as escadas apressadamente. Ao ver sua amada ali inconsciente, delirando pronunciando seu nome, anahi foi tomada por um sentimento de culpa irracional, se jogou no chão ao lado do sofá no qual Dulce encontrava-se, acariciando seu rosto e falando ao seu ouvido:

-- Estou aqui meu amor, do seu lado, como sempre.

-- Any, já chamei a médica, ela está vindo. Por que ela veio te procurar? -- perguntou Rachel.

-- Como?

-- Ela chegou aqui quase sem forças chamando seu nome, depois desmaiou.

-- Oh meu Deus, ela veio dirigindo?

-- Sim -- respondeu Nicole.

-- Por favor, liguem para meus pais, eles devem estar preocupados se notaram a ausência de Dulce em casa.

Nicole se apressou em atender ao pedido de Anahi, enquanto Rachel providenciava cobertores para a amiga. O delírio de Dulce só tinha um nome: Anahi, e por mais que a situação fosse preocupante, absurdamente a loirinha sentia uma alegria por estar até mesmo presente no inconsciente de sua amada, ao ouvir:

-- Any... Te amo...

A loirinha sorriu beijando a testa de Dulce repetindo:

-- Também te amo, meu amor.

Não demorou muito tempo até a Dra. Lewis chegar, examinou Dulce, administrou um analgésico e antitérmico, e pediu que ela fosse removida até o hospital para realizar alguns exames, para assegurar que não se tratava de alguma infecção. Anahi angustiada seguiu na ambulância ao lado de sua amada, seus pais já estavam aguardando no hospital igualmente apreensivos. Entretanto, antes da chegada ao hospital, Dulce despertara com um sorriso discreto ao ver Anahi na sua frente com os olhos marejados.

-- Dul! Meu amor, você está bem? Fala comigo!

Imediatamente a médica que a acompanhava, tratou de examinar a ruiva, assegurando que a alta febre já estava controlada, e Dulce voltava à consciência e à normalização dos seus sinais vitais.

-- Como ela está, doutora? -- perguntou Anahi nervosa.

-- Está bem, mas vamos descartar um quadro infeccioso com os exames.

E no mesmo quarto de hospital que Dulce ficou internada semanas atrás, a família recebeu a boa notícia sobre o bom estado da ruiva. A médica sugeriu que a febre súbita poderia ter sido causada por algum estresse.

-- Você precisa de repouso mesmo moça! Sua cirurgia foi de grande porte, tente esquecer até as preocupações -- orientou o médico que operou Dulce.

-- Pode deixar doutor, ela vai ficar quietinha e tranquila, eu garanto -- afirmou Anahi acariciando o rosto de Dulce.

Dulce sorriu segurando a mão de Anahi sobre sua face.

-- Então posso me despreocupar. Mas por precaução, acho melhor você passar a noite aqui, Dulce -- recomendou a Dra. Lewis.

-- Eu fico com ela, pode deixar -- afirmou Anahi.

E assim Anahi retribuiu a gentileza de sua amada, dormindo com ela no quarto de hospital. Evitaram falar no assunto que no momento era ponto de tensão entre elas: a decisão de Dulce sobre o contrato.