Ao chegar em casa, Maite se sentou no sofá com seu bebê e o abraçou forte. O alivio caiu em seu coração, por poder ter seu bebêzinho em seus braços novamente.
— Meu pequeno anjo... — ela falou baixinho pra ele. — Desculpa por não ter cuidado de você direito. Nada de ruim irá te acontecer, eu prometo.
— Filha, o que aconteceu? Por quê está tão abraçada com o Nick?
Maite suspirou e o colocou no chão. Nick engatinhou pela sala, indo em direção a uma pilha de brinquedos.
— Ai mãe. Tomei um susto enorme hoje que meu coração tá doendo até agora, sabe.
— O que aconteceu?
— Bom, mais uma vez eu tive problemas com William, suspendi ele do ensaio e disse pra ele cuidar do Nick e fui ver os meninos. Quando o ensaio acabou, o William não estava mais ali, muito menos o Nick. Fiquei com medo achando que ele podia fazer algum mal ao meu bebê.
— Nossa filha. Mas o que aconteceu depois?
— O Chris achou ele, num bar na esquina. Nervosa, eu acabei dando um tapa nele. Mas depois ele disse que não teve idéia que isso iria acontecer.
— É... — Helena inclinou a cabeça. — Acho que você foi um cado injusta com ele.
— Ai mãe, eu não sabia o que fazer poxa. Fiquei com medo, só isso.
— Eu já lhe disse pra ver a situação antes de tomar qualquer atitude.
Maite ficou híper pensativa com o que a mãe disse. Olhou para Nick, que estava sentadinho brincando. Ele era tão indefeso, que ela realmente tinha medo de Will fazer algum mal. Lembrou-se da cena em que ela chorava, e William entrou com seu filho no colo naquela tarde, Nick estava com a cabeça deitada no ombro dele. Se Will tivesse feito algo, ele não estaria assim tão tranquilo. Admitiu a si mesma que tinha exagerado.
Depois de uns minutos, ela deu a comidinha de Nick, que estava faminto e cansado com o dia de hoje. O colocou em sua cama, e dormiu juntinho do seu filho aquela noite.
...
William está no escuro do seu quarto, tocando algumas notas de violão até o sono vir. Estava sozinho. Os amigos estavam na sala vendo TV, mas ele preferiu não incomodar dessa vez. Também nem queria, pois estava com uma dorzinha de cabeça chata.
Talvez a única que estivesse de divertindo bastante naquela noite era Pauliana. Que foi para um lugar bastante, incomum para quem ela chamava de "amigo". Motel geralmente não era lugar para "amigos" ficarem, mas ela adorava quebrar as regras. Era seu amigo colorido. Amizade com sexo. Era assim desde o fim da adolescencia, os dois se encontravam e "ficavam" pra valer, sem assumir nenhum compromisso. Já que William havia lhe colocado inumeros chifres, ela resolveu fazer o mesmo, com um homem que valia por 100.
...
No dia seguinte, Will havia chegado um pouco mais cedo na gravadora. Estava sentado concentrado terminando de escrever uma canção.
— Parece que ficou bom. Hm... — ele murmurou, falando com si mesmo.
Maite chegou com Nick no carrinho e o encontrou sozinho. Se espantou primeiramente por sua precoce chegada.
— Você, por aqui? — ela perguntou.
— Ahm, eu trabalho aqui né... — olhou para ela de cima a baixo olhando sua roupa.
— Claro, mas... — pausou. — Não te esperava tão cedo. Seus amigos nem chegaram.
— Eles não sabem que eu vim sozinho. Enfim, vim só pra escrever. — ele balançou a folha.
— Posso ver? — perguntou olhando pra folhar.
Ele franziu a testa e disse:
— Nops!
Ela revirou os olhos e pegou a folha da mão dele. Viu que estava escrevendo uma canção e a leu:
Faz frio em Porto Alegre toda noite
E de longe eu não posso te ver
Então me perco em pensamentos de um passado
Que há muito tempo eu quero esquecer
Eu só quero falar que ao teu
lado eu tava errado
Eu nunca consegui viver
Mas só eu sei de você
Só não queria dizer adeus
(É que eu tinha tanto pra contar)
Eu não queria dizer
Eu volto há tanto tempo e cada vez parece
que o meu tempo não passou
Eu não encontro nada que me dê motivo
outra vez pra procurar o que sobrou
Eu vivo condenado e sem saída
de um passado que parece não ter fim
Você não sabe de mim
Só não queria dizer adeus
(É que eu tinha tanto pra cantar)
Eu não queria perder o que sempre foi meu
Pois não há alguém que possa te amar
Pois não há alguém que possa nos salvar
Eu não queria dizer adeus
(É que eu tinha tanto pra contar)
Só não queria perder o que sempre foi meu.
— Olha, eu realmente não entendo. — ela falou sincera num suspiro.
— Não entende o que?
— Como você... hm... escreve algo na qual não sente?
William olhou para ela fixamente durante alguns segundos. Maite olhava nos olhos dele, esperando pela resposta que talvez podia ser um fora.
— Acho que eu não entendi sua pergunta. — ele se aproximou dela.
— Acho que você entendeu, só não tem certeza da sua resposta, pois nunca ninguém falou isso para você. Você sabe, várias letras da banda que foram escritas por você, falam de amor. E até onde eu te conheço, você não tem o amor como sentimento dentro de você.
William permaneceu carado, encarando ela por mais alguns segundos. Talvez ela tivesse certa. Mas será que William realmente nunca amou ninguém ou só não demonstra nunca?
— Olha... Maite,— olhou para baixo. — Talvez você não entenda o meu modo de ver o mundo. Essa letra pode não ter sentido para mim hoje, mas futuramente, quem sabe. Eu só escrevo aquilo que meu cérebro manda.
— Mas talvez lá para frente, pode ser tarde demais, não acha?
— Se esse tal "amor" que todos falam existe mesmo, ele não sairá da validade.
— Depende. Mas ninguém espera por ninguém por anos. Não sei se você entende.
— Sim, eu entendo. E você sabe que sim. Como minha ex fã, aposto que sabe exatamente o que eu passei no incio da adolecencia né?
— O que você passou não justifica uma vírgula o modo como trata as pessoas.
— Eu aposto, — ele olhou pra cima. — Que quando aquele nosso lance acabou, você se fez a pegurgunta "por que eu?".
Maite mordeu os lábios. Ele estava certíssimo. Ela fez essa perguntas mil vezes para sí mesmo, buscando a resposta pela qual tinha sido usada.
— Sim. — apenas disse.
— Eu também fiz. Quando era moleque. Quando não entendia por qual motivo meus pais estavam preferindo outra criança à mim. Quando eles faziam planos e não me incluiam juntos. Quando eu parei de ter festas de aniversários, por que eles davam tudo para o meu irmão. Ou quando iam ao parque com ele, e me deixavam com minha tia, esquecendo completamente da minha existencia. O QUE MAIS DOÍA, era que eles diziam me amar. Viu só? Nem sempre quando falamos de amor, nós sentimos. A resposta de sua pergunta é essa. Mas agora me diz... o amor existe?
O rosto de William estava vermelho, mas nenhum sinal de lágrima se exibiu em seu rosto. Ele se dizia forte demais para chorar na frente de alguém.
— Bom, — ela tentava justificar. — talvez você não estivesse merecendo essas coisas.
— Eu era um aluno excelente. Minha média era 8, estudava pra caralho noite em dia pra no fim do bimestre entregar o boletim e ouvir "Não fez mais que seu dever". Eu fazia exatamente o que eles pediam, mas isso não era suficiente. Quando fiz dezoito, cansei de tudo aquilo. Não deixei mais nenhum deles me tratar como se eu realmente não importasse. Saí de casa no meu aniversário de 19 e nenhum deles tentou me impedir. Nenhum deles percebeu que a cada palavra dita, eles acabavam com o "bom eu" que existia dentro de mim. Hoje eu sou assim. Ninguém vai me mudar. É por isso que eu nunca quero ser pai. Uma pessoa com minha mente e traumas não deveria se quer ter o direito de ter filhos.
Maite engoliu seco e olhou para William. Ele não falava com ódio mas com decepção. Ela tocou a mão dele, que estava gelada e se aproximou mais.
— Você não precisa ser assim. — ela disse baixinho.
— Eu já sou.
— Muda... — ela se aproximou mais, fazendo seus rostos ficarem bastante próximos, tocou seu rosto e levantou os pés para beijá-lo.
Perceberam amores? Will tem um passado que ainda é doloroso para ele D: Fiquei até com pena dele nesse capítulo.
Hmmmm, será que tem beijo aí, hm?!?!