Fanfic: Not Enough | Tema: Fanfic lésbica.
Um silencio ilusional foi adicionado ao momento. Não durou mais de 10 segundos antes de Mayuri,sem convite nem aviso, se intrometer naquela bolha que a irmã e a melhor amiga tinham criado, iniciando uma conversa descontraída com os outros membros da família e deixando o momento livre pra as duas garotas. Jessie deu uma ultima olhada na situação, o braço de Ryan parecia tão firmemente posicionado na cintura de Faye quanto o aperto em seu peito. Faye tinha aquela expressão arrependida e um pouco desesperada que sempre a derretia e fazia perdoa-la. Então, Jessie fez a única coisa que lhe veio claramente à cabeça. Entre todos os sentimentos e pensamentos que batalhavam ferozmente em sua mente, apenas um parecia uma saída apropriada. Logo, ela se virou e correu.
Faye tentava esconder sua angustia conforme observava a mais nova correndo calmamente pelo gramado. Mesmo naquela situação Jessie parecia simplesmente estonteante. Apenas o mero sinal do corpo bem distribuído e definido da morena já tornava todos os pensamentos da joveminaproveitáveis. Ryan a puxou pra mais perto perguntando coisas que ela apenas entenderia se estivesse prestando atenção na conversa, mas ela não estava e ele não insistiu em nenhuma delas. Aquele era um gesto que lhe parecia clara e unicamente educado já que o menino estava tão interessado na namorada que mal a notara divagando.
Mayuri passou rapidamente ao lado da irmã e a lançou um olhar decepcionado. Ela esperava mais da irmã mais velha do que a indecisão que vinha percebendo. Era tão obvio que a garota amava Jessie, Faye sabia disso, Mayuri sabia, Jessie sabia, até mesmo seu irmãozinho mais novo Nick sabia. Tudo que faltava era Faye finalmente tomar sua decisão e terminar com Ryan, ela nem sabia o que ainda detinha a irmã afinal. Espera! Sim ela sabia. Felícia, sua mãe religiosa, rígida e super-protetora, jamais aceitaria sua filha se relacionando com Jessie.
Ao perceber o olhar da irmã, Faye automaticamente se lembrou de quão complicada era sua situação. Era ridículo, alias como ela se metera nela. Logo ela, Faye Cristis, garota de ouro, educada, heterossexual, esforçada e boa filha... apaixonada por Jessie.
Ela não acreditava que se apaixonara pela melhor amiga.
Que era praticamente uma adolescente.
E babá do irmão dela.
Ela ainda não acreditava em quão madura a jovem se mostrava com a situação.
A mesma menina que abandonara a igreja e tratava a escola com ridículo descaso.
Porém, o pior de tudo, a informação mais difícil de aceitar era que mesmo com tudo contra a relação das duas, Jessie ainda era a melhor coisa que lhe acontecera.
Cada momento com a morena era mais especial que o ultimo, a maneira como a morena sorria pra ela, os toques sempre tão gentis que só ela recebia e o tom de voz terno que só ela ouvia. A sensação de dormir em seus braços, como arrepiava quando Jessie respirava contra seu pescoço. O conforto que só seu abraço lhe dava. Era tudo que Faye queria pra sua vida e ia contra tudo que sua mãe esperava dela.
As expectativas eram claras, tradicionais. Um marido de boa família e que tivesse potencial pra crescer economicamente. Um diploma de medicina e um bom emprego que lhe pagasse bem. Uma filha de ouro, com um marido de ouro e futuramente um netinho de ouro. Algo que a mulher pudesse se orgulhar e gabar.
Uma relação homossexual, com uma garota mais nova que parara de frequentar a igreja e pouco se esforçava com os estudos?
Felícia jamais aceitaria isso. E apesar de todas as exigências, todas as expectativas, a vida excessivamente disciplinada e hábitos desnecessariamente rígido que a mulher lhe impunha, não tinha ninguém nesse mundo que a jovem amasse mais que sua mãe .Nem Jessie, mesmo que chegasse perto.
A culpa era ainda maior por que Faye tinha plena consciência de que Jessie sabia. A morena sempre soube que a relação nunca seria a prioridade de Faye. Que no momento que Felícia decidisse que era hora de Feye casar a garota imediatamente se juntaria a mãe nos preparativos da cerimonia, com nada mais do que um olhar culpado e um sorriso triste de desculpas. Feye seria eternamente infeliz com Ryan contanto que sua mãe estivesse orgulhosa, contanto que Felícia pudesse se gabar.
Mas talvez, apenas talvez, Jessie estivesse cansada de lidar com isso.
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A morena se jogou na cama. Se tinha uma coisa que ela adorava quando Felícia emprestava sua chácara para festas de aniversários ou apenas uma reunião do grupo era aqueles malditos chaléscom ar condicionado e camas ridiculamente confortáveis. Era um conforto que contrastava ridiculamente com o aperto totalmente desconfortável em seu peito, mas pelo menos seu corpo estava confortável, foda-se toda aquela tristeza e dor que lhe assombrava no momento. Foda-se Feye com seu namorado cretino e obediência a mamãe.
A morena estava cansada, simplesmente cansada de aceitar tudo da melhor amiga calada. Cansada de ser compreensiva e ter sua dignidade pisada. Cansada de ser a outra. Cansada de se prender a Feye, naquela mera esperança de que um dia a menina teria coragem de lutar pelo que queria. Cansada de sua covardia. Por que Jessie sabia que assim como Feye amava a mãe a ponto de fazer tudo para alcançar suas expectativas, Felícia amava a filha o suficiente para aceita-la como fosse, para ama-la e apoia-la não importa o que. Doía pensar que Feye simplesmente era covarde demais. Aí uma coisa que ela tinha certeza Felícia não teria orgulho.
Algumas lágrimas caíram naturalmente. Não importa quão forte fosse sua dor a garota jamais se permitiria chorar, soluçar por algo. O máximo que ela deixava eram algumas lágrimas escorrerem em momentos de dor aguda, insuportável foi assim que ela acabou dormindo. Jogada na cama, já feita e sem coberta. O travesseiro, em vez de apoiar a cabeça, preso firmemente em seus braços, uma tentativa fraca de enganar seu corpo que já a muito tempo se acostumara a dormir com a melhor amiga ali.
Foi assim que Feye a encontrou 10 minutos depois.
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Cuidando pra não acordar a mais nova, Feye se deitou ao seu lado, lentamente retirando o travesseiro de seus braços e se encaixando ali. Jessie se remexeu, deitando-se de costas e apertando-a contra si e a jovem aproveitou pra se posicionar melhor. Com delicadeza, deitou sua cabeça no peito da morena, inalando profundamente e se sentindo relaxada no abraço.
It feels like home. - soou em sua cabeça, sem ritmo, nem melodia. Apenas as palavras de uma musica sem nome que Jessie lhe mostrara um dia qualquer.
A jovem podia não se lembrar do ritmo da musica, mas se lembrava perfeitamente do dia que Jessie lhe mostrara. Ela estava de férias da faculdade e Jessie tinha conseguido o feito de cansar Nick o suficiente para que o menino tirasse uma soneca. Sua mãe estava viajando a negócios com seu pai e Mayuri estava no curso de inglês. Ela lembrava como a mais nova tinha a proibido estritamente de estudar e a arrastado para quarto, onde passaram o dia inteiro conversando e se beijando. Ela se lembrava de como Jessie a prensara contra o colchão, de como a beijava tão apaixonadamente, de como a prendera em seu colo e a forçara a ouvir suas músicas favoritas. Da risada rouca e divertida que Jessie soltara quando Feye -a ridiculamente inteligente, super nerd, futura médica Feye Christis- lhe perguntara o que a musica dizia.
Médicos não precisam de inglês - ela se defendera.
E Jessie rira mais uma vez antes de pacientemente lhe traduzir a musica, musica a qual Feye jamais imaginara que se identificaria tanto, a qual ela nunca imaginara que seria praticamente sua `trilha sonora`, como dizia Jessie. Parecendo indignada quando ela lhe dissera que não precisava de uma.
Todo mundo precisa de música doutora. E até parece que eu vou deixar a minha garota com trilha sonora sertaneja - a mais nova brincara.
Ela ainda lembrava-se da maneira cuidadosa -e um pouco dolorida- que Jessie lhe chamara de sua garota. Por que sim, ela era sua garota, sem sombra de dúvida quanto a isso. A maneira como Jessie lhe amava, lhe protegia, lhe entendia como ninguém deixava claro. Elas pertenciam juntas. Mas ela não era sua namorada e Jessie ressentia esse detalhe.
E ela sabia que assim ainda era.
Eu não quero mais fazer isso - uma voz abafada disse e Feye piscou algumas vezes antes de perceber que a voz vinha de baixo de si. A futura médica se sentou, encarando confusamente os olhos verdes sonolentos, porém sóbrios de Jessie.
Fazer o que?
Isso - a adolescente sinalizou entre os dois corpos - Nós.
E em um segundo todo o mundo de Feye desabou.
O que? Por quê?- ela perguntou, seus olhos castanhos já ameaçando lacrimejar.
Eu estou cansada paixão, eu juro que mais um sinal de `carinho` entre você e o Ryan e eu me casava com o Lucca.
Você é lésbica. - comentou Feye, capturando a mão da outra.
Pra você ver meu desespero - ela respondeu gentilmente afastando sua mão da mão de Feye - Não dá mais Feye, dói. - sua voz era gentil, triste, mas o brilho em seus olhos segurava firmeza e conformidade.
Eu...
Nós duas sabemos que eu nunca tive uma chance. Eu passei todo esse tempo tentando me convencer que tinha, que talvez eu conseguisse... Eu não sei achar um jeito de te fazer me amar o suficiente pra você lutar pela gente. Pelo menos tentar... mas, você tem medo e levou um ano e meio pra eu perceber que não importa o quanto eu te apoie, não importa o quanto eu tente, você nunca vai nem tentar lutar contra.
Jessie, se eu...
Sua mãe ia acabar entendendo, mas você não pode aguentar o pensamento dela se sentindo contrariada por um segundo. Então, eu vou te falar o que vai acontecer, eu vou sair por essa porta e agente vai se evitar como a praga. Daqui a dois anos quando você terminar a faculdade, sua mãe vai decidir que tá na hora de casar e você vai obedecer como sempre. Você vai casar com o Ryan e viver juntos tipo um, dois anos antes de sua mãe começar a pedir por netos. Um ano depois e o primeiro neto da dona Felícia vai nascer. E talvez até lá você esqueça que eu existi e comece a amar o Ryan, ou não. Mas você vai ser feliz de qualquer maneira, por que sua mãe vai estar orgulhosa e sua família vai ser simplesmente uma família de ouro. E isso vai ser suficiente pra você. E daqui a dez anos quando a gente se encontrar no casamento da sua irmã você vai olhar pra mim e vai sentir saudades, até seu menininho de cinco anos aparecer e então você vai se lembrar que sua vida é boa. Que seu marido é um bom homem, que sua mãe sempre teve orgulho de você, que você tem um filho ou filha. E vai ser o suficiente pra você ser feliz.
E eu, eu vou arranjar minha vida, como quer que seja e vou tentar achar um suficiente pra mim também. - ela finalizou, encarando os olhos tristes, porém conformados de Feye. - Eu te amo e você sempre vai ser minha garota. Não importa qual titulo você tenha pro Ryan.- ela então se inclinou pra frente e agarrou a cintura da mais velha possessivamente. Feye jamais esqueceria o beijo que recebeu em seguida- Minha garota -repetiu, antes de se levantar e deixar o chalé.
Feye a observou saindo antes de deixar escapar um soluço que foi seguido de outro e muitos outros.
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Acabou que Mayuri tinha um espirito rebelde e não apenas se recusou a deixar a mãe escolher com quem casaria como também fez questão de casar quando quisesse. Por tal razão, quando Jessie e Feye se encontraram oito anos depois, Feye tinha um menininho de apenas três anos. No entanto, quando viu Jessie a médica imediatamente percebeu que a mais nova errara em mais do que uma previsão.
Por que ali vendo Jessie em seu vestido azul-marinho, cabelos negros e corpo tão definido como sempre. A médica constatou -não pela primeira vez nos últimos oito anos- que apesar de que amava o filho, tinha um bom marido e a mãe se orgulhava, apesar de tudo que Jessie acertara. Não, não era o suficiente. Ela jamais seria feliz sem Jessie. E quando a mais nova a cumprimentou calorosamente, com um abraço apertado e um beijo discreto no pescoço e aquela mesma eletricidade se dispersou por seu corpo, a mais velha percebeu que sua relação, sua conexão com Jessie jamais mudaria. Ela ainda era sua garota, ela ainda pertencia com a mais nova. Seus braços ainda eram seu lar.
E quando Jessie se afastou e sua mãe lhes arrastara para tirar foto com Mayuri, Feye finalmente se lembrou da melodia daquela mesma musica de anos atrás.
It feels like home– ecoou em sua cabeça. Parte de sua trilha sonora. E com o pouco do inglês que ela sabia a médica mentalmente completou.
It still does.
Jessie parecendo sem graça, passou um braço ao seu redor, se aproximando mais e dando um pequeno sorriso pra camera. Feye sorriu com certa adoração antes de se inclinar pra frente e beijar a bochecha pálida saudosamente.
And it will forever.
Se tiver alguém lendo isso aqui e tiver gostado, comentem.Também to aceitando ideias pra esse casal, então...
Bom, obrigada por lerem.:D
Autor(a): lucyray
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