Fanfic: Sete anos de azar | Tema: Comédia e própria
Eu já estava acordada há um bom tempo - quer dizer, se é que podemos chamar isto de "acordada" talvez... um estado pseudo-consciente - ,mas não tinha coragem o suficiente para me levantar. A cama estava tão confortável... Para que eu iria deixa minha caminha confortável, meu travesseiro fofinho e meus quentinhos quentinhos para ir para o frio miserável lá de fora?
Eu e minha cama estávamos em uma perfeita harmonia, até que...
–LUNAAAAAAAAA!!
A doce voz da minha querida, amável e educada empregada chegou ao meus ouvidos, estourando meus tímpanos.
Resmunguei e virei-me, enfiando a cabeça debaixo do travesseiro. Infelizmente, ele não era à prova de som.
– Luna?
– O que foi, Bete? - resmunguei, com uma voz sonolenta
Mas ela não pareceu ouvir.
– LUNAAAAAA!! - voltou a gritar, do outro lado da porta
Essa mulher é surda?
– O QUE FOI, BETE?! - gritei com toda a força de vontade que ainda me restava. Era impossível que ela não me ouvisse depois disso.
– Ah, graças a Deus! Pensei que a senhora estava morta! - respondeu.
– E eu pensei que a senhora estava moca!
– Luna, acorde, já são 7 horas da manhã! - ela disse com um tom preocupado na voz, quer dizer, não tenho certeza, eu não estava prestando muita atenção. Meus neurônios produzem poucos neurotransmissores quando estou com sono.
– Uhum...
É sempre a melhor resposta a dizer quando não se entende absolutamente nada.
– Luana! Você está atrasada para o colégio! - disse em tom imperativo.
– Aham...- Outra boa resposta, pra variar um pouco.
Bete suspirou, resolveu tentar um método mais eficiente:
– LUNAA!! O SEU SIMULADO!!
– QUEEEEEEE?!!
Saltei da cama imediatamente. Como assim colégio? Como assim aula? Hoje não era domingo? E o pior: COMO ASSIM SIMULADO?! Eu não tinha estudado!!
Fiquei desesperada. Se existia uma coisa que me botava medo era simulado. Questões de marcar são um terror para mim! Como você já sabe, sou bastante insegura e indecisa, chego até a ser dramática! - na verdade, uma coisa leva à outra. Se você é insegura, obviamente vai ser indecisa. Por exemplo: você está fazendo uma prova e fica em dúvida entre duas alternativas, você fica insegura para marcar, e acaba ficando indecisa em relação às duas. Mas o fato de suma importância, é que você sempre marca a errada - E também o que era pior, aquela bosta chamada simulado era apenas a miniatura de um ENEM! E depois me perguntam por que eu morro de medo dele!
Resolvi me acalmar. Um simulado? Só pode ser sacanagem! Já esqueci de várias provas, mas nunca esqueceria de um simulado!
Talvez fosse apenas uma "brincadeira" da Bete. A Bete dizia que fazia isso "por que era o único jeito de me acordar, senão ia ficar dormindo o dia todo!" Mas eu sabia que no fundo,ela se divertia com isso. Não que eu não gostasse dela, eu gosto muito dela, ela trabalha aqui em casa desde que era criança - antes do acidente da mamãe - E não consigo imaginar essa casa com outra doméstica. Mas vamos lá, eu tenho vontade de rachar a cara dela quando faz isso! Amigas, amigas; sono à parte
Apesar de todos os defeitos de Bete, não aceitaria nem à pau que ela fosse substituída. Ela é simpática e cozinhava bem, e era bastante tagarela, até que eu gostava disso. A típica empregada fofoqueira, conversar com ela é mais prático do que ler um jornal.
– Bete, isso só pode ser uma sacanagem para me acordar. Pra começar, hoje é domingo! Está feliz agora? Eu acordei! Mas vou dormir de novo! Só de ruindade!
– Não, dona Luna, hoje é segunda.
Não, hoje não podia ser segunda! Olhei para o calendário esperando - rezando - que fosse apenas uma das "brincadeirinhas" da Bete. E meu coração estava na mão quando vi todos aqueles dias riscados, esperei que a segunda estivesse entre eles. Mas não estava. Hoje era segunda. O dia que o diabo leva seus capetainhas para passear na terra.
– Jesus Cristo! - gritei.
Corri para a porta e abri para Bete. Ela entrou e deixou a bandeja com o meu café-da-manhã em cima da minha cabeceira.
– Bete, eu te amo! - lhe dei um beijo na bochecha - se não fosse por você eu estaria mais ferrada do que já estou! Mas enfim, não tenho tempo para agradecimentos calorosos.
– Que nada, dona Lun...
– Agora... você poderia chamar o Marcos? Por favor... - implorei.
Bete bufou
– Consideração, hein?
E saiu
Comecei a vestir minha farda o mais rápido que podia. Vestia e comia ao mesmo tempo. Resultado: molhei minha blusa de café. Reação: fo*da-se! Dá pra cobrir com o casaco!
Em torno de 5 minutos eu já estava completamente pronta - não só em relação à roupa, ao cabelo e todo o resto - . Nossa! Esse é o meu recorde! Eu já estava acostumada à acordar atrasada, mas eu estava tão desesperada para o simulado que consegui me arrumar neste tempo!
Fui lá fora, graças à Deus, Marcos já estava lá. Deixe-me esclarecer: Marcos é o meu motorista particular. Algumas pessoas acham estranho eu ter um motorista particular, - Adoro esse nome! Parece até que sou uma daquela vilãs ricas de novela - mas eu não vejo nada de mais, o meu pai só não pode me levar à todos os lugares que eu preciso ir.
Entrei no carro. Pude ver o rosto de Marcos pelo "espelhinho" - dane-se! Eu não sei o nome desse troço! - Ele era um velho de uns 60 anos, tinha uma pele cor de marfim e enrugada; e o que lhe faltava em cabelo, sobrava-lhe em bigode - ambos eram tão brancos quanto sua pele - Ele falava pouco, pra ser sincera, não ouvi sua voz muitas vezes, nem me lembro mais como era. Mas ele era legal.
– Preciso ir rápido para esco...
Antes de completar a frase fui "empurrada" pra trás - que vá para o inferno essa porr* de inércia! - Marcos pisou fundo e foi cantando os pneus para o colégio. Para um velhinho de 60 anos, ele tinha bastante adrenalina. Com a velocidade que ele estava, chegamos à escola em poucos minutos, ela não ficava tão longe da minha casa - Graça à Deus!
Entrei correndo e esbarrei em umas 5 pessoas - e derrubei uma delas - Entrei na minha sala, o 3ºA, e nunca estive tão feliz em vê-la. Era ela, a minha salvação, Natália! Ela era minha melhor amiga, na verdade, a minha única amiga de verdade. Os outros eram amigos distantes, com quais eu conversava pouco; ou os "amigos" falsos - quero mais é que se exploda! Odeio gente falsa, e sem tem uma coisa que Natália tem, é sinceridade... até de mais.
Natália Yamaha - não, ela não é da família dos donos ou dos criadores daquela marca de motos - é a típica santinha-do-pau-oco: tem cara fofinha, mas só a cara mesmo. Com aquela carinha de asiática ninguém desconfia do capeta que ela é! Ela tem os olhinhos puxados; e cabelo curto, pretinho e liso - Aquele maldito cabelo oriental: ninguém derruba. Pode vir o furacão que vier, quando acabar, o cabelo vai voltar ao mesmo de sempre - Ela se assemelhava um pouco àquela atriz, Danielle Suzuki... só que versão branquela. Natália sempre se metia - e me metia junto - em confusões.
Era brasileira, mas era uma... asio-descendente? - essa palavra existe? - Seu pai é brasileiro, mas sua mãe e toda sua família materna é japonesa. Seu pai, André, ganhou uma bolsa de estudos no japão e lá conheceu a Dona Keiko, mãe da Natália. Eles se casaram e decidiram vir para o Brasil, onde Natália nasceu.
Mas apesar de todos os barracos e confusões que Natália apronta, ainda tem um pouco do espírito asiático dentro de si. E uma boa ajuda asiática no simulado não faria mal.
– Natália!!!! - gritei
Ela se virou
– Luna? Que aconteceu contigo? Morreu subitamente e ressuscitou? Isso lá é hora de...
Segurei-a pelos ombros, interrompendo sua fala.
– Natty, por favor, me ajuda!
Ela arqueou a sobrancelha
– Em que?
– No simulado! Eu não estudei! Tô ferrada! Por favor...
– O QUE?! VOCÊ NÃO ESTUDOU PARA O... peraí, que simulado?
– Até você esqueceu??Você é uma desonra asiática!
– Hoje não tem simulado, menina! Tá doida? O simulado é só daqui à duas semanas!
– Duas... semanas? - agora eu estava confusa
– Olha - Natália era inteligente, não significava que era organizada, pegou o caderno e passou uns bons 2 minutos tentando procurar uma página e então finalmente me mostrou. Lá estava escrito, o simulado realmente só seria daqui à duas semanas. Natália não se enganaria em suas anotações.
– Ah, graças à Deus! - disse, aliviada
Fiquei tão feliz por não ter simulado hoje que esqueci por um momento a raiva mortal que estava sentindo por Bete. Mas Natália fez questão de estragar minha felicidade.
– Mas hoje tem prova de física
– QUE?!
Autor(a): Francy
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