Fanfic: A Madiadora aya adaptada | Tema: Ponny AyA
Capítulo 3
Por acaso descobri facilmente quem ele era. Só precisei perguntar na hora do almoço se alguém conhecia um cara chamado Red.
Em geral não é tão fácil assim. Nem vou contar sobre a quantidade de catálogos telefônicos que revirei, as horas que passei na internet. Para não falar das desculpas esfarrapadas que tive de dar à minha mãe, tentando explicar as contas de telefone que produzi tentando conseguir informações.
— Desculpe, mamãe. Eu realmente tinha de descobrir se havia alguma loja, num raio de oitenta quilômetros, que vendesse sapatos Manolo Blahnik...
Mas dessa vez foi tão fácil que quase me fez pensar: ei, talvez esse negócio de mediadora não seja tão ruim.
Isso, claro, naquela hora. Eu ainda não tinha achado Red.
— Alguém conhece um cara chamado Red? — perguntei ao pessoal com quem eu tinha começado a almoçar e com quem achava que continuaria almoçando regularmente.
— É claro — disse Christian — O nosso velho amigo Rédia, a larva solitária.
— Não é Red de Rédia — eu disse. — Esse é só Red mesmo. Talvez já seja adulto. Talvez more na área.
— Red Beaumont — disse Maite.
Ela estava comendo pudim num copo plástico.
Uma gaivota grande e gorda se empoleirava a menos de trinta centímetros de distância, olhando a colher a cada vez que Maite a mergulhava no copo e depois levava aos lábios. A Academia Missionária não tem refeitório. A gente come do lado de fora todo dia – até, aparentemente, em pleno inverno. Mas o inverno daqui não era como o de Nova York, claro. Aqui em Carmel fazia uma TEMPERATURA agradável de vinte e um graus e havia sol do lado de fora. Na minha cidade, segundo o Canal do Tempo, tinha nevado quinze centímetros.
Eu estava na Califórnia há quase três semanas, mas até agora não tinha chovido nem uma vez. Ainda estava para descobrir onde a gente comeria se chovesse na hora do almoço.
Eu já havia aprendido do modo mais difícil o que acontece se a gente alimenta as gaivotas.
— Thaddeus Beaumont é um empreendedor imobiliário — Maite terminou o pudim e começou a comer uma banana que tirou de um saco de papel que estava ao seu lado no banco.
Maite nunca compra lanches na escola. Ela tem uma coisa com comida industrializada. Maite continuou, enquanto descascava a banana:
— Os amigos o chamam de Red. Não pergunte por que, já que ele não tem cabelos vermelhos, como red em inglês. Mas por que você quer saber?
Essa era sempre a parte complicada. Sabe, a parte do “por que você quer saber”. Porque o fato é que, afora o padre Dom, ninguém sabe sobre mim. Quero dizer, sobre o negócio de mediadora. Nem Maite, nem Christian. Nem mesmo minha mãe. Mestre, meu irmão adotivo mais novo, suspeita, mas não sabe. Nem tudo. Minha melhor amiga, Dulce, lá do Brooklyn, provavelmente foi quem chegou mais perto de deduzir e isso apenas porque, por acaso, estava presente quando madame Zara, uma taróloga que a Dulce me obrigou a consultar, me olhou chocada e disse:
— Você fala com os mortos.
Dulce achou maneiro. Só que nunca soube – não de verdade – o que isso significava. Porque o que isso significa, claro, é que eu nunca durmo o suficiente, tenho machucados que não posso explicar, provocados por pessoas que ninguém mais pode ver e, ah, claro, não posso trocar de roupa no meu quarto porque o fantasma de um caubói morto há cento e cinquenta anos pode me ver nua.
Alguma pergunta?
Para Maite eu apenas disse:
— Ah, é só uma coisa que eu ouvi na TV.
Não era tão difícil mentir para os amigos. Mas mentir para minha mãe, isso era meio complicado.
— Esse não era o nome daquele cara com quem você dançou na festa da Kelly? — perguntou Christian. — Você lembra, Any. Tad, o corcunda com dentes faltando e um chulé de matar? Depois você me procurou, jogou os braços em volta de mim e implorou que eu me casasse com você para ser protegida dele pelo resto da vida.
— Ah, é — falei. — Ele mesmo.
— É o pai dele — disse Maite. Maite sabe de tudo no mundo porque é editora (e redatora e fotógrafa) do Notícias Missionárias, o jornal da escola. — Tad Beaumont é o filho único de Red Beaumont.
— Ahá — falei.
Então fez um pouco mais de sentido. Quero dizer, por que a mulher morta me procurou. Obviamente ela sentiu uma ligação com Red através do filho dele.
— Ahá o quê? — Maite ficou interessada.
Mas Maite sempre fica interessada. Ela é como uma esponja, só que em vez de água absorve fatos.
— Não diga, você ficou caidinha por aquele gato filho dele. Quero dizer, qual é a do cara? Ele nem perguntou o seu nome.
Era verdade. Eu nem tinha notado, também. Mas Maite estava certa. Tad nem perguntou meu nome. Ainda bem que eu não estava interessada nele.
— Ouvi coisas ruins sobre Tad Beaumont — disse Adam, balançando a cabeça. — Quero dizer, além de andar por aí carregando o gêmeo não digerido nas entranhas, bem, há aquele tique facial embaraçoso, controlado somente por fortes doses de Prozac. E você sabe o que o Prozac faz com os caras...
— Como é a Sra. Beaumont? — perguntei.
— Não existe Sra. Beaumont — disse Maite.
Christian suspirou.
— Produto do divórcio — disse ele. — Pobre Tad. Não é de se espantar que ele tenha tantos problemas para assumir compromissos. Ouvi dizer que ele costuma namorar três, quatro garotas ao mesmo tempo. Mas talvez isso seja por causa do vício sexual. Ouvi dizer que há um grupo de ajuda para isso.
Maite o ignorou.
— Acho que ela morreu há alguns anos.
— Ah — será que o fantasma que tinha aparecido no meu quarto poderia ser a esposa falecida do Sr. Beaumont? Parecia valer uma tentativa. — Alguém tem uma moeda de vinte e cinco centavos?
— Por quê? — quis saber Christian.
— Tenho que dar um telefonema.
Quatro pessoas da nossa turma do almoço estenderam celulares. Sério. Eu escolhi o que tinha a quantidade menos intimidante de botões, depois disquei para Informações e perguntei o número de Thaddeus Beaumont. A telefonista disse que o único número que tinha era das Indústrias Beaumont. Eu falei:
— Tudo bem.
Caminhando até o trepa-trepa das crianças – a Academia Missionária tem turmas do jardim de infância até o terceiro ano, e o playground onde a gente almoça tem até caixa de areia, se bem que eu seria incapaz de encostar nela, com as gaivotas e tudo – para ter um pouco de privacidade, falei à recepcionista que atendeu com um alegre “Indústrias Beaumont, em que posso ser útil?” que precisava falar com o Sr. Beaumont.
— Quem eu devo anunciar, por favor?
Pensei nisso. Eu poderia ter dito “Alguém que sabe o que realmente aconteceu com a mulher dele”. Mas o negócio é que eu não sabia realmente. Nem sabia por que, exatamente, suspeitava que sua esposa – se aquela mulher fosse mesmo sua esposa – estava mentindo e que na verdade Red a tinha matado. É meio deprimente, se a gente pensa nisso. Quero dizer, eu sendo tão nova e tão cínica e cheia de suspeitas.
Por isso falei:
— Anahi Portilla.
E me senti na pior. Por que um homem importante como Red Beaumont atenderia a um telefonema de Anahi Portilla? Ele nem me conhecia.
Sem dúvida, a recepcionista me tirou da espera um segundo depois e disse:
— O Sr. Beaumont está atendendo a outro telefonema neste momento. Posso pegar um recado?
— Ah... — falei, pensando rápido. — É. Diga a ele... diga a ele que estou ligando do jornal da Academia Missionária Junipero Serra. Sou repórter, e nós estamos fazendo uma matéria sobre... as dez pessoas mais influentes do Condado de Salinas. — Eu lhe dei o número da minha casa. — E pode dizer para não ligar antes das três? Por que eu só saio da escola a essa hora.
Assim que a recepcionista ficou sabendo que eu era uma garota, ficou ainda mais gentil.
— Claro, querida — disse ela numa voz açucarada. — Vou dizer ao Sr. Beaumont. Até loguinho.
Desliguei. O até loguinho me irritou. O Sr. Beaumont ficaria bem surpreso quando ligasse para mim e entrasse em contato com a Rainha do Povo das Trevas, em vez de Lois Lane.
Mas o negócio é que Thadeus “Red” Beaumont nem se incomodou em ligar de volta. Acho que, quando você é zilionário, ser considerado uma das dez pessoas mais influentes por um jornaleco de escola não é lá grande coisa.
Fiquei em casa o dia inteiro depois da aula e ninguém ligou. Pelo menos não para mim
Não sei por que achei que seria tão fácil. Acho que tinha sido levada a um falso sentimento de segurança por ter conseguido descobrir o nome dele com tanta facilidade.
Estava sentada no meu quarto, admirando minhas mãos de sumagre venenoso aos raios do sol poente, quando mamãe me chamou para o jantar.
O jantar é um negócio muito importante no lar dos Ackerman. Basicamente minha mãe já havia me informado que me mataria se eu não aparecesse para o jantar toda noite, a não ser que tivesse combinado a ausência antecipadamente com ela. Seu novo marido, Andy, além de tremendo carpinteiro, é um cozinheiro muito bom e vinha fazendo grandes jantares toda noite para os filhos desde que eles ganharam dentes, ou sei lá o quê. E cafés da manhã com panquecas nos domingos também. Posso dizer que o cheiro de xarope de bordo de manhã me dá ânsias de vômito? O que há de errado, pergunto eu, num pãozinho simples com queijo cremoso, e talvez um salmãozinho defumado com uma fatia de limão e umas alcaparras?
— Aqui está ela — disse minha mãe quando eu entrei arrastando os pés na cozinha com as roupas pós-escola: JEANS rasgados, camiseta de seda preta e botas de couro.
São roupas assim que fizeram meus irmãos adotivos suspeitarem que eu faça parte de uma gangue, apesar de minhas negativas insistentes.
Mamãe fez um grande alarde vindo até mim e me beijando no topo da cabeça.
Isso é porque desde que mamãe conheceu Andy Ackerman – ou Andy Jeitoso, como ele é conhecido no programa de trabalhos manuais que apresenta na TV a cabo – casou com ele, me obrigando a me mudar para a Califórnia para morar com ele e os três filhos, ela está incrível e nojentamente feliz.
Vou lhe contar, entre isso e o xarope de bordo, não sei o que é mais repulsivo.
— Olá, querida — disse mamãe, embaraçando o meu cabelo. — Como foi o seu dia?
— Ah. Ótimo.
Ela não ouviu o sarcasmo na minha voz. O sarcasmo era completamente desperdiçado com mamãe desde que ela conheceu Andy.
— E como foi a reunião do diretório estudantil?
— Tediosa.
Isso foi Dunga, tentando ser engraçado imitando minha voz.
— O que quer dizer com tediosa? — Andy, lá no fogão, estava virando quesadillas que chiavam na grelha que ele havia posto sobre os queimadores. — O que exatamente foi tediosa?
— É, Brad — falei. — O que foi tediosa? Você e Debbie Mancuso estavam brincando com os pés debaixo da mesa, ou algo do tipo?
Dunga ficou todo vermelho. Ele faz luta-livre. Seu pescoço é tão grosso quanto minha coxa. Quando seu rosto fica vermelho, o pescoço fica mais vermelho ainda. É lindo de ver.
— Do que você está falando? — perguntou Dunga. Eu nem gosto de Debbie Mancuso.
— Claro que não — falei. — É por isso que se sentou junto dela no almoço hoje.
O pescoço de Dunga ficou cor de sangue.
— David! — Andy, perto do fogão, começou a berrar subitamente. — Ucker! Andem, vocês dois. O jantar está pronto.
Os outros dois filhos de Andy, Soneca e Mestre, vieram arrastando os pés. Bem, Soneca veio arrastando os pés. Mestre veio saltando. Mestre era o único filho de Andy que eu conseguia me lembrar de chamar pelo nome de verdade. Isso porque, com seu cabelo ruivo e aquelas orelhas que se projetam de verdade da cabeça, ele parecia um personagem de desenho animado. Além disso, era muito inteligente e nele eu via um bocado de ajuda potencial para meu dever de casa, mesmo estando três séries à sua frente.
Soneca, por outro lado, não tem qualquer utilidade para mim, a não ser como um cara com quem eu posso pegar carona para ir e vir da escola. Aos dezoito anos, Soneca estava em posse integral da carteira de motorista e de um veículo, um Rambler velho e esculhambado, com partida falha, mas a gente botava a vida nas mãos dele ao pegar carona, porque ele quase nunca estava totalmente acordado, devido ao trabalho noturno como entregador de pizza. Ele vinha economizando, como gostava de nos lembrar nas poucas ocasiões em que falava, para comprar um Camaro. E, pelo que dava para ver, aquele Camaro era a única coisa em que ele pensava.
— Ela sentou perto de mim — gritou Dunga. — Eu não gosto de Debbie Mancuso.
— Abandone a mentira — aconselhei enquanto passava por ele. Minha mãe tinha me dado uma tigela de molho para levar à mesa. — Eu só espero — sussurrei em seu ouvido enquanto passava — que vocês dois tenham feito sexo seguro naquela noite na festa da piscina de Kelly. Eu ainda não estou preparada para ser tia adotiva.
— Cala a boca — gritou Dunga. — Sua... sua... Mão de Micose!
Pus uma das minhas mãos de micose no coração e fingi que ele tinha me esfaqueado ali.
— Nossa — falei. — Isso realmente dói. Zombar das reações alérgicas das pessoas é uma coisa tão incrivelmente incisiva e inteligente!
— É, panaca — disse Soneca a Dunga, enquanto passava por ele. — O que há com você e a gata selvagem, hein?
Dunga, totalmente perdido, começou a parecer desesperado.
— Debbie Mancuso e eu não estamos transando! — gritou ele.
Vi mamãe e papai trocarem um olhar rápido, perplexo.
— Eu realmente espero que não — disse Mestre, o irmãozinho de Dunga, quando passou lepidamente por nós. — Mas se estão, Brad, espero que você esteja usando camisinha. Ainda que uma camisinha de látex de boa qualidade tenha uma taxa de falhas de cerca de dois por cento quando usada segundo as recomendações, tipicamente a média de problemas está mais próxima de doze por cento. Isso faz com que elas sejam apenas cerca de oitenta e cinco por cento eficazes para impedir a gravidez. Se for usada com espermicida, a eficácia aumenta dramaticamente. E as camisinhas são nossa melhor defesa (ainda que não tão boa, claro, quanto à abstenção) contra algumas DSTs, inclusive o HIV.
Todo mundo na cozinha – mamãe, Andy, Dunga, Soneca e eu – encaramos Mestre, que, como eu mencionei antes, tem doze anos.
— Você tem tempo livre demais — falei, por fim.
Mestre deu de ombros.
— É bom ser informado. Ainda que eu não seja sexualmente ativo atualmente, espero me tornar num futuro próximo. — Ele assentiu para o fogão. — Papai, suas chimichangas, ou sei lá o quê, estão pegando fogo.
Enquanto Andy pulava para apagar o fogo do queijo, minha mãe ficou ali parada, aparentemente sem encontrar palavras pela primeira vez na vida.
— Eu... — disse ela. — Eu... Ah. Deus.
Dunga não deixaria Mestre ter a última palavra.
— Eu não estou — repetiu ele — transando com...
— Ah, Brad — disse Soneca. — Corta essa, tá?
Dunga não estava mentindo, claro. Eu mesma tinha visto que ele só tinha jogado hóquei de língua. A paixão feroz de Dunga e Debbie era a causa de eu estar cuidando da mão com CREME de cortisona. Mas qual é a diversão de se ter irmãos adotivos se a gente não pode torturá-los? Não que eu fosse contar a alguém o que tinha visto, claro. Eu sou muitas coisas, mas não sou dedo-duro. Mas não me entenda mal: eu gostaria que Dunga fosse apanhado saindo de casa durante o castigo. Quero dizer, não acho que ele tenha aprendido nada com a “punição”. Ele provavelmente ainda iria se referir ao meu amigo Christian como veado, na próxima vez em que o visse.
Só que não faria isso na minha presença. Porque, mesmo ele sendo lutador de luta livre, eu chutaria a bunda de Dunga daqui até a avenida Clinton, minha rua lá no Brooklyn.
Mas não seria eu a dedurá-lo. Não era uma coisa de classe, sabe?
— E você — perguntou mamãe com um sorriso — achou que a reunião do diretório foi tão tediosa quanto Brad, Any?
Sentei-me no meu lugar à mesa de jantar. Assim que fiz isso, Max, o cachorro dos Ackerman, veio farejando e pôs a cabeça no meu colo. Eu o empurrei. Ele pôs a cabeça de volta. Mesmo eu morando aqui há menos de um mês, Max já havia deduzido que eu sou a pessoa mais provável de deixar restos no prato.
Claro, as horas das refeições eram as únicas em que Max prestava atenção em mim. No resto do tempo me evitava como se eu fosse a peste. Evitava especialmente meu quarto. Os animais, diferentemente dos seres humanos, são muito perceptivos com relação aos fenômenos paranormais e Max sentia Poncho – por isso permanecia longe das partes da casa em que ele normalmente gostava de ficar.
— Claro — falei, tomando um gole d`água. — Foi tediosa.
— E o que foi decidido na reunião? — quis saber minha mãe.
— Eu fiz uma moção para cancelar o baile da primavera — falei. — Desculpe, Brad. Sei como você estava contando em acompanhar Debbie à festa.
Dunga me lançou um olhar sujo do outro lado da mesa.
— Mas por que você iria querer cancelar o baile da primavera, Any? — perguntou mamãe.
— Porque é um desperdício estúpido de nossas verbas muito limitadas.
— Mas um baile! — protestou minha mãe. — Eu adorava ir aos bailes de escola quando tinha sua idade.
Isso, eu queria dizer, é porque você sempre tinha um namorado, mamãe. Porque você era bonita, legal, e os garotos gostavam de você. Não era uma esquisita patológica como eu, com mãos de micose e uma capacidade secreta de conversar com os mortos.
Em vez disso falei:
— Bem, a senhora estaria em minoria na minha turma. Minha moção foi apoiada e aprovada por vinte e sete votos.
— Bem — disse mamãe. — O que vocês vão fazer com o dinheiro, então?
— Gastar com cerveja — falei, lançando um olhar para Dunga.
— Nem brinque com isso — disse mamãe, séria. — Eu me preocupo muito com a quantidade de bebida que os adolescentes consomem aqui.
Minha mãe é repórter de televisão. Ela faz o noticiário matutino de uma estação local perto de Monterey. Sua melhor qualidade é parecer séria enquanto lê num teleprompter sobre acidentes medonhos.
— Eu não gosto. Não é como em Nova York. Lá, nenhum dos seus amigos dirigia, por isso eu não me importava tanto. Mas aqui... bem, todo mundo dirige.
— Menos Any — Dunga apontou.
Ele parecia achar que era seu dever jogar na minha cara o fato de que, mesmo tendo dezesseis anos, ainda não tenho carteira. Nem mesmo permissão para fazer aulas. Como se dirigir fosse a coisa mais importante do mundo. Como se meu tempo já não estivesse totalmente ocupado com a escola, minha recente nomeação como vice-presidente da turma do primeiro ano na Academia Missionária e salvar as almas perdidas dos mortos.
— O que vocês vão fazer realmente com o dinheiro? — perguntou mamãe.
Dei de ombros.
— Nós temos de levantar dinheiro para substituir a estátua do fundador, o padre Junipero Serra, antes da visita do arcebispo no mês que vem.
— Ah. Claro. A estátua que foi vandalizada.
Vandalizada. É, certo. É o que todo mundo dizia, claro.
Mas aquela estátua não foi vandalizada. O que aconteceu foi que um fantasma que estava tentando me matar cortou a cabeça da estátua e tentou usá-la como bola de boliche.
E eu devia ser o pino.
— Quesadillas — disse Andy, vindo à mesa com um monte delas numa bandeja. — Aproveitem enquanto estão quentes.
O que se seguiu foi um caos tão grande que eu só pude ficar sentada, com a cabeça de Max ainda no colo, e assistir em horror. Quando terminou, todas as quesadillas tinham sumido, mas meu prato e o da minha mãe ainda estavam vazios.
Depois de um tempo Andy notou isso, pousou o garfo e disse, irritado:
— Ei, pessoal! Vocês já pensaram em esperar para pegar a segunda porção depois de todo mundo na mesa pegar a primeira?
Aparentemente não. Soneca, Dunga e Mestre olharam sem graça para seus pratos.
— Desculpe — disse Mestre, estendendo o prato, com queijo e molho pingando, na direção de mamãe. — Pode pegar um pouco do meu.
Minha mãe pareceu sentir um certo nojo.
— Não, obrigada, David. Vou ficar só com a salada, acho.
— Any— disse Andy, pondo seu guardanapo na mesa. — — Vou fazer a quesadilla com mais queijo que você já...
Empurrei a cabeça de Max para fora do caminho e estava de pé antes que Andy pudesse sair de sua cadeira.
— Sabe de uma coisa? — falei. — Não se incomode. Realmente acho que só vou comer um pouco de cereal.
Andy ficou magoado.
— Any, não é problema...
— Não, sério — falei. — Eu ia treinar kickboxing com minha fita de vídeo depois e queijo ia ser pesado demais.
— Mas — disse Andy — eu vou fazer mais de qualquer modo...
Ele estava tão patético que eu não tive opção além de dizer:
— Bem, vou experimentar uma. Mas por enquanto termine o que está no seu prato, e vou pegar um pouco de cereal.
Enquanto eu estava falando, ia recuei na sala. Assim que cheguei em segurança à cozinha, com Max nos meus calcanhares – ele não era idiota, sabia que não conseguiria uma migalha daqueles caras na sala: eu era o ingresso de Max para comida de gente – peguei uma caixa de cereal e uma tigela, depois abri a geladeira para pegar um pouco de leite. Foi então que ouvi uma voz suave sussurrar a trás de mim:
— Any.
Girei. Não precisei ver Max saindo de fininho da cozinha com o rabo entre as pernas para saber que estava na presença de outro membro daquele clube exclusivo conhecido como os morto-vivos.
Autor(a): ponnymym
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Capítulo 4 Quase morri de susto. — Meu Deus, papai. — Fechei a porta da geladeira com força. — Eu já disse para não fazer isso. Meu pai – ou o fantasma do meu pai, devo dizer – estava encostado na bancada da cozinha, com os braços cruzados no peito. Parecia presunçoso. Ele sempre parece presun ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 39
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maryangel Postado em 20/03/2015 - 17:15:12
Continuaaaaa! Amooo essa fic, leio á muito tempo e é uma das minhas prediletas.
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colucciwake Postado em 19/08/2014 - 19:51:29
Continua pf eu n tive muito tempo essa semana e entro sempre que posso :)
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colucciwake Postado em 08/08/2014 - 23:34:49
ñ exclui ññññññnññññ ;~continua pf
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bedlens Postado em 08/08/2014 - 19:59:56
NÃOOOOOOOOOO!!! NÃO EXCLUA, POR FAVOR!!! EU AMO ESSA FIC <3
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bedlens Postado em 04/08/2014 - 20:41:01
Pressinto fortes emoções... POSTE MAAAAIS
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bedlens Postado em 30/07/2014 - 21:55:04
Por favor, poste maaaaais
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bedlens Postado em 28/07/2014 - 23:31:20
AAAAAAH! EU AMO O PONCHO <3 Algo me dizia que ele iria aparecer. Adeus Tad! Olá possível possibilidade de Ponny finalmente acontecer! Estou ansiosa para saber o que vai acontecer durante essa temporada da Dulce na Califórnia
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colucciwake Postado em 28/07/2014 - 20:08:38
eeeeee !!!! Dulce vai vim agora ss começa a ficar interessante
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bedlens Postado em 28/07/2014 - 14:51:00
Esse cara é um psicopata O.O Cadê o Poncho para salvar a Any? Cadê? Cadê?
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bedlens Postado em 27/07/2014 - 16:41:46
E eu que pensava que o Marcus era bonzinho. Cadê o Poncho para salvar a Any do tio maluco do Tad? Posta maaaaaais