Fanfics Brasil - 59 A Madiadora aya adaptada

Fanfic: A Madiadora aya adaptada | Tema: Ponny AyA


Capítulo: 59

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Capítulo 14


O único problema é que os mediadores não sabiam exatamente como cuidar da situação.


— Olhe — sussurrei enquanto o padre Dominic largava uma vela branca na caixa que eu estava segurando e pegava uma roxa. — Deixe-me dar um telefonema anônimo para a polícia. Vou dizer que estava de carro em Big Sur naquela noite e vi tudo, e que não foi acidente.


O padre Dominic atarraxou a vela onde a branca estivera.


— E você acha que a polícia acredita em todo telefonema anônimo que recebe? — Ele não se incomodou em sussurrar, porque não havia ninguém para ouvir. O único motivo para eu ter baixado a voz era que a basílica, com todas as suas folhas de ouro e o vitral majestoso, me deixava nervosa.


— Bom, pelo menos eles vão suspeitar — segui o padre Dominic, que desceu da escada de mão, dobrou-a e foi até a próxima Estação da Cruz. — Quero dizer, talvez eles comecem a investigar um pouco mais, chamem Michael para ser interrogado, ou algo assim. Juro que ele vai se dobrar, se fizerem as perguntas certas.


O padre Dominic levantou a bainha da batina preta enquanto subia de novo na escada.


— E quais seriam as perguntas certas? — perguntou, trocando outra vela branca por uma das roxas da caixa que eu estava segurando.


— Não sei.


Meus braços estavam ficando cansados. A caixa era bem pesada. Normalmente as noviças é que trocariam as velas. Mas o padre Dominic não pôde ficar parado desde nossa pequena excursão na véspera e ofereceu seus serviços ao monsenhor. Nossos serviços, devo dizer, já que me arrastou da aula de religião para ajudar. Não que eu me importasse. Sendo agnóstica devota, não estava captando grande coisa da aula de religião – algo que a irmã Ernestine esperava consertar antes de minha formatura.


— Acho que a polícia pode se sair muito bem sem nossa ajuda — disse o padre Dom enquanto torcia a vela de modo decidido, já que ela não parecia se encaixar direito no castiçal. — Se o que sua mãe disse é verdade, a polícia já suspeita de Michael, de modo que não deverá demorar muito até chamá-lo para interrogatório.


— Mas e se mamãe estivesse apenas reagindo exageradamente? — Notei uma turista ali perto, usando um lenço de madras e um Izod, admirando os vitrais, e baixei mais ainda a voz. — Puxa, ela é mãe. As mães fazem isso. E se a polícia não estiver suspeitando de nada?


— Anahi.


Com a vela no lugar, o padre Dominic desceu a escada e me olhou com uma expressão que parecia uma mistura de exasperação e afeto.


Notei que havia sombras roxas sob os olhos dele. Ambos ficamos bem exaustos depois da longa caminhada até a praia e a subida de volta, para não mencionar o desgaste emocional que tínhamos experimentado lá embaixo.


Mesmo assim o padre Dominic parecia ter acordado com mais vigor do que seria de esperar para um cara de sessenta e poucos anos. Eu mal conseguia andar, de tanto que as canelas doíam, e não conseguia parar de bocejar, já que nossa pequena reunião com os Anjos tinha durado até bem depois da meia-noite.


A não ser pelas olheiras, o padre Dom estava quase saltando, borbulhando de energia.


— Anahi — disse ele de novo, desta vez menos exasperado e mais afetuoso. — Prometa que não vai fazer nada parecido. Não vai dar nenhum telefonema anônimo para a polícia.


Ajeitei a caixa de velas nos braços. Certamente havia parecido uma boa ideia quando pensei nela por volta das quatro da madrugada. Tinha ficado acordada quase a noite inteira imaginando que diabos iríamos fazer quanto aos Anjos da RLS e Michael Meducci.


— Mas...


— E sob nenhuma circunstância — o padre Dominic, aparentemente notando meu problema com a caixa, levantou-a facilmente dos meus braços e a colocou no último degrau da escada — você vai tentar falar com Michael sobre nada disso.


Esse, claro, era o plano B. Se o negócio da denúncia anônima à polícia não desse certo, eu tinha planejado encurralar Michael e jogar uma conversa macia – ou cair em cima, o que quer que parecesse mais eficaz – para arrancar uma confissão.


— Você vai deixar que eu cuide disso — falou o padre Dominic suficientemente alto para que a turista usando o lenço de madras, que estava para tirar uma foto do altar, baixasse rapidamente a máquina e se afastasse. — Eu pretendo falar com o rapaz, e posso garantir que, se ele for mesmo culpado desse crime hediondo... — eu puxei ar para falar, mas o padre Dominic levantou um dedo em alerta. — Você me ouviu — disse ele em voz um pouco mais baixa, mas só porque tinha notado que uma das noviças havia entrado na igreja trazendo mais tecidos pretos para cobrir as muitas estátuas da Virgem Maria na basílica. Elas ficariam cobertas até a Páscoa, pelo que percebi. Religião. Isso é que é coisa esquisita, vou lhe contar. — Se Michael for culpado do que esses jovens dizem, vou convencê-lo a confessar.


O padre Dominic parecia estar falando sério. Tanto que eu nem tinha feito nada, mas não sei por quê, olhando sua expressão séria, senti vontade de confessar. Uma vez peguei cinco dólares da carteira de mamãe para comprar um pacote gigante de Skittles. Talvez devesse confessar isso.


— Bom — disse o padre puxando a manga da batina preta e olhando seu Timex. Os padres não ganham o suficiente para comprar relógios maneiros. — Estou esperando o Sr. Meducci a qualquer momento, portanto você precisa sair. Acho que será melhor que ele não nos veja juntos.


— Por quê? Ele não faz ideia de que nós passamos a maior parte da noite de ontem conversando com suas vítimas.


O padre Dominic pôs a mão no centro das minhas costas e empurrou.


— Vá embora, Anahi — disse numa voz meio paternal.


Fui, mas não muito longe. Assim que o padre Dom virou as costas, enfiei-me num banco da igreja e fiquei abaixada, esperando. Não sabia bem o quê. Bom, certo, sabia: estava esperando Michael. Queria ver se o padre Dom realmente seria capaz de fazê-lo confessar.


Não precisei esperar muito. Uns cinco minutos depois escutei a voz de Michael falar, não muito longe de onde eu estava escondida:


— Padre Dominic? A irmã Ernestine disse que o senhor queria falar comigo.


— Ah, Michael. — A voz do padre Dominic não revelava nada do horror que eu sabia que ele estava sentindo com a perspectiva de um dos seus estudantes ser um possível assassino. Parecia relaxado e até mesmo jovial.


Ouvi a caixa de velas chacoalhar.


— Aqui — disse o padre. — Segure isso, por favor.


Percebi que ele tinha acabado de entregar a Michael a caixa que eu estivera segurando.


— Hã... Claro, padre Dominic — disse Michael.


Escutei o barulho da escada sendo dobrada outra vez. O padre Dom estava pegando-a e indo para a próxima Estação da Cruz. Mas eu ainda podia ouvi-lo... Fracamente.


— Andei preocupado com você, Michael. Soube que sua irmã não está dando muitos sinais de melhora.


— Não, padre. — A voz de Michael saiu tão baixa que eu mal podia ouvir.


— Sinto muito. Lila é uma menina muito doce. Sei que você deve amá-la demais.


— Sim, padre.


— Sabe, Michael, quando coisas ruins acontecem com pessoas que amamos... bem, algumas vezes nós viramos as costas para Deus.


Argh, nossa, pensei no meu banco. Não devia ir por aí. Não com Michael.


— Algumas vezes ficamos tão ressentidos com essa coisa terrível que aconteceu a alguém que não merece, que não somente viramos as costas para Deus, mas até podemos começar a pensar em... bom, em coisas que normalmente não pensaríamos se a tragédia não tivesse acontecido. Como, por exemplo, em vingança.


Certo, pensei. Está ficando melhor, padre Dom.


— Srta. Portilla.


Espantada, olhei em volta. A noviça que tinha vindo cobrir as estátuas estava me olhando do fim do banco.


— Ah — tirei os joelhos do genuflexório e me sentei. Vi que o padre Dominic e Michael estavam de costas para mim. Longe demais para nos ouvir.


— Oi — falei à noviça. — Eu só estava... hã... procurando um brinco.


A noviça pareceu não acreditar.


— Você não tem aula de religião com a irmã Ernestine agora?


— Sim, irmã. Tenho.


— Bem, então não era melhor estar na sala?


Lentamente, fiquei de pé. Não teria importado, mesmo que eu não fosse apanhada. Padre Dominic e Michael tinham se afastado demais para eu ouvir alguma coisa.


Andei até o fim do banco, com o pouco de dignidade que consegui juntar, e parei ao chegar à noviça, antes de ir em frente.


— Desculpe, irmã. — Então, lutando para romper o silêncio incômodo durante o qual a noviça me encarou numa desaprovação muda, acrescentei: — Gostei da sua... é...


Mas como não conseguia me lembrar de como chamam aquela roupa que elas usam, o elogio ficou meio fraco, mesmo que eu tenha quase salvado no fim, sinalizando para ela e dizendo:


— A senhora sabe, a sua coisa. Cai muito bem no seu corpo.


Mas acho que é a coisa errada para dizer a alguém que está estudando para ser freira, já que a noviça ficou com o rosto muito vermelho e disse:


— Não me obrigue a fazer uma advertência, Srta. Portilla.


O que achei meio grosseiro, considerando que estivera tentando ser gentil. Mas deixa para lá. Saí da igreja e voltei à sala de aula. Peguei o caminho mais longo, pelo pátio ensolarado, para aplacar os nervos em frangalhos ouvindo o som da fonte borbulhante.


Mas logo meus nervos se esfrangalharam outra vez quando vi mais uma noviça parada perto da estátua do padre Serra, fazendo uma pequena palestra para um grupo de turistas sobre as boas obras do missionário. Para não ser vista fora da sala de aula sem um passe (por que não pensei em pedir um ao padre Dom? Com o negócio das velas acabei esquecendo) enfiei-me no banheiro feminino, onde fui recebida por uma nuvem de fumaça cinza.


O que só podia significar uma coisa, claro.


— Dulce — falei, curvando-me e olhando por baixo das portas para deduzir em que cabine ela estava. — Pirou de vez?


A voz de Dulce veio flutuando de uma das cabines no final, perto da janela, que minha amiga havia aberto estrategicamente.


— Acho que não — respondeu Dulce, abrindo a porta da cabine e se apoiando nela enquanto soltava uma baforada.


— Pensei que você tivesse parado de fumar.


— Parei.


Dulce se juntou a mim perto da janela, em cujo parapeito eu havia me sentado. Tendo sido construída por volta de 1600, ou sei lá quando, a Missão era feita de um adobe grosso de verdade, de modo que todas as janelas ficavam recuadas uns sessenta centímetros na pedra. Com isso os parapeitos funcionavam como bancos que, apesar de meio altos, eram pelo menos frescos e confortáveis.


— Atualmente só fumo em emergências — explicou Dulce. — Tipo em aulas de religião. Você sabe que eu me oponho filosoficamente às religiões organizadas. E você?


Levantei as sobrancelhas.


— Não sei. O budismo sempre me pareceu maneiro. O lance da reencarnação é bem atraente.


— Isso é o hinduísmo, sua boçal. E eu estava falando sobre fumar.


— Ah. Certo. Não. Nunca peguei o jeito. Por quê? — Ri para ela. — Soneca não contou a você sobre quando me pegou tentando fumar?


Ela franziu a testa de um jeito bonitinho.


— Não. E eu gostaria que você não o chamasse assim.


Fiz uma careta.


— Christopher, então. Ele ficou bem irritado. É melhor não ser apanhada fumando, se não ele larga você que nem uma batata quente.


— Duvido muito — disse Dulce com um sorriso misterioso.


Estava provavelmente certa. Imaginei como seria ser como Dulce e ver cada garoto que conhece se apaixonando loucamente por você. Os únicos garotos que se apaixonavam loucamente por mim eram como Michael Meducci. E ele nem estava tecnicamente apaixonado por mim. Estava apaixonado pela ideia de eu estar apaixonada por ele. Algo em que, a propósito, eu ainda não conseguia pensar sem estremecer.


Soltei um suspiro arrasado e olhei pela janela. Cerca de um quilômetro e meio de paisagem inclinada, repleta de ciprestes, estendia-se até o mar muito azul que brilhava ao sol da tarde.


— Não sei como você aguenta. — Dulce exalou uma nuvem de fumaça cinza. Tinha voltado a falar da aula de religião, dava para ver pelo tom de voz. — Puxa, isso tudo deve parecer realmente uma besteira para você, considerando o negócio de ser mediadora.


Dei de ombros. Eu tinha chegado tarde demais na noite anterior para ter a “conversa” com Dulce. Ela estava dormindo profundamente quando me esgueirei de volta para casa. O que foi ótimo, porque eu me sentia exausta.


Mas não o suficiente para cair no sono.


— Não sei. Bom, não tenho a mínima ideia de para onde os fantasmas vão depois que eu mando os ditos cujos se catarem. Eles simplesmente... Vão. Talvez para o céu. Talvez para a próxima vida. Duvido que vá descobrir antes de morrer também.


Dulce apontou a próxima nuvem de fumaça para a janela.


— Você faz parecer que é uma viagem. Tipo: quando a gente morre, só está mudando para outro endereço.


— Bem...


Pessoalmente, acho que é assim que a coisa funciona. Só não peça para eu dizer qual é o endereço. Porque não sei.


— E então — tendo acabado o cigarro, Dulce o apagou no adobe embaixo de nós, depois jogou a guimba habilmente por cima da porta da cabine mais próxima, dentro do vaso. Ouvi o “plop” e depois o chiado. — O que aconteceu ontem à noite?


Contei. Sobre os Anjos da RLS e como eles achavam que Michael os tinha matado. Contei sobre a irmã de Michael e o acidente na Estrada Pacific Coast. Contei que Josh e seus amigos estavam querendo vingar a morte e que o padre Dominic e eu tínhamos discutido com eles, noite adentro, até finalmente convencê-los a levar Michael à justiça convencional – você sabe, utilizando as instâncias legais adequadas e não um contrato de assassinato paranormal.


Só não contei uma coisa. Sobre Poncho. Por algum motivo, simplesmente não conseguia me obrigar a falar dele. Talvez por causa do que tinha dito a vidente. Talvez porque sentia medo de que Madame Zara estivesse certa, que eu realmente era uma gigantesca fracassada que só ia me apaixonar por uma pessoa em toda a vida, e essa pessoa era um cara que: (a) não me amava, e (b) não era exatamente alguém que eu poderia apresentar à minha mãe, já que nem estava vivo.


Ou talvez fosse simplesmente porque... bem, porque Poncho era um segredo que eu queria guardar para mim, como uma garota estúpida apaixonada por Carson Daly ou alguém assim. Talvez algum dia eu passe a ficar embaixo da janela do quarto com um grande cartaz dizendo Poncho, quer ir ao baile de formatura comigo? como aquelas garotas que ficam do lado de fora dos estúdios da MTV, mas esperava sinceramente que alguém me desse um tiro antes de chegar a esse ponto.


Quando terminei, Dulce suspirou e disse:


— Bem, é sempre assim. Os bonitinhos sempre acabam sendo os assassinos psicóticos


Estava falando de Michael.


— É. Mas ele nem é tão bonitinho assim. A não ser sem roupa.


— Você sabe o que eu quero dizer — Dulce balançou a cabeça. — O que você vai fazer se ele não confessar ao padre Dominic?


— Não sei — essa era uma das coisas que haviam colaborado para a minha insônia. — Acho que vamos ter de arranjar alguma prova.


— Ah, é? E onde? Na loja de provas? — Dulce bocejou, olhou o relógio e depois pulou do parapeito. — Faltam dois minutos para o almoço. O que você acha que vai ser hoje? Salsicha de novo?


— Sempre é.


A Academia Missionária não era exatamente conhecida pela excelência de sua lanchonete. Isso porque não existia lanchonete. Nós almoçávamos do lado de fora, num trailer. Era esquisito, mesmo para duas garotas do Brooklyn que tinham visto de tudo – como foi ilustrado pela total falta de surpresa de Dulce com relação ao que eu tinha acabado de contar.


— O que eu quero saber — ela falou enquanto saíamos do banheiro feminino e íamos para o caminho externo que logo estaria cheio de gente — é por que você nunca me contou nada disso antes. Você sabe, o negócio de mediadora. Até parece que eu não sabia!


Você não sabe, pensei. Pelo menos a pior parte.


— Eu tinha medo de você contar à sua mãe — foi o que falei em voz alta. — E que ela contasse à minha mãe. E que minha mãe me enfiasse num manicômio. Para o meu próprio bem, claro.


— Claro — Dulce olhou bem para mim. — Você é uma idiota. E sabe disso, não sabe? Eu nunca teria contado à minha mãe. Nunca conto nada à minha mãe, se puder evitar. E certamente não teria contado a ela, nem a ninguém, sobre o negócio de ser mediadora.


Dei de ombros, desconfortável.


— Eu sei. Acho... bem, na época eu vivia muito tensa com tudo. Acho que relaxei um pouco nos últimos tempos.


— Dizem que a Califórnia faz isso com as pessoas.


E então o relógio da Missão tocou o meio-dia. Todas as portas das salas de aula em volta de nós se abriram e uma enchente de pessoas começou a vir em nossa direção.


Demorou apenas uns trinta segundos para Michael me descobrir e vir direto falar comigo.


— Ei — disse ele, sem parecer nem um pouco alguém que tivesse acabado de confessar um homicídio quádruplo. — Estive procurando você. O que vai fazer depois da aula hoje?


— Nada — falei rapidamente, antes que Dulce pudesse abrir a boca.


— Bem, a companhia de seguros finalmente arranjou um carro alugado para mim, e eu estava pensando, sabe, se você queria voltar à praia, ou algo assim...


Voltar à praia? Esse cara tinha amnésia ou o quê? Era de pensar que, depois do que aconteceu com ele na última vez em que foi à praia, seria o único lugar onde não quereria ir.


Mesmo assim, embora sem saber, ele estaria em perfeita segurança lá.


Graças ao Poncho. Ele estava de olho nos Anjos enquanto o padre Dom e eu tentávamos levar seu suposto assassino à polícia.


Foi enquanto pensava numa resposta para esse convite que vi o padre Dominic vindo na nossa direção. Logo antes de ser puxado para a sala dos professores pelo Sr. Walden que gesticulava entusiasmado, ele balançou a cabeça. Michael estava de costas, por isso não viu. Mas a mensagem do padre Dom para mim foi clara: Michael não tinha confessado.


O que só podia significar uma coisa: estava na hora de trazer os profissionais.


Eu.


— Claro — falei, olhando de volta para Michael. — Talvez você possa me ajudar com o dever de geometria. Acho que nunca vou conseguir sacar nada desse estúpido teorema de Pitágoras. Juro que vou levar bomba depois daquele último teste.


— O teorema de Pitágoras não é difícil — disse Michael, parecendo achar divertida a minha frustração. — A soma dos quadrados dos catetos do triângulo retângulo é igual ao quadrado da hipotenusa.


Fiz “Hein?” de um jeito desamparado.


— Olha, eu tirei dez em geometria — disse Michael. — Posso ensinar a você.


Olhei para Michael com o que esperava que ele confundisse com adoração.


— Ah, você faria isso?


— Claro.


— Podemos começar hoje? Depois da aula? — Eu deveria ganhar um Oscar. Verdade. Tinha dominado totalmente aquela coisa de fêmea indefesa. — Na sua casa?


Michael só pareceu um pouquinho perplexo.


— Hã... Claro. — Depois, quando se recuperou da surpresa, acrescentou maroto: — Mas meus pais não vão estar em casa. Meu pai vai estar trabalhando, e mamãe passa a maior parte do tempo no hospital. Com minha irmã. Você sabe. Espero que isso não seja problema.


Fiz tudo, menos tremelicar os cílios para ele.


— Ah, não — falei. — Tudo bem.


Michael ficou satisfeito – mas ao mesmo tempo um pouco desconfortável.


— Hã... — disse ele enquanto as hordas de alunos passavam por nós. — Olha, com relação ao almoço, eu não posso ficar com você. Tenho de fazer umas coisas. Mas encontro você aqui depois da última aula. Ok?


Respondi um “ok”  numa imitação total de Kelly Prescott em seu jeito mais colegial. Deve ter funcionado, porque Michael se afastou meio tonto, mas satisfeito.


Foi então que Dulce agarrou meu braço, me puxou para uma porta e sibilou:


— O que há com você, está drogada? Você vai à casa do cara? Sozinha?


Tentei afastá-la.


— Calma, Dul — o apelido que Soneca tinha posto nela pegava, por mais que eu odiasse admitir que qualquer coisa bolada por meu meio-irmão pudesse ter algum mérito. — Isso é o que eu faço.


— Sair com possíveis assassinos? — Dulce pareceu cética. — Não creio, Any. Você conversou sobre isso com o padre Dominic?


— Dul. Eu sou uma garota crescida. Posso cuidar de mim mesma.


Ela estreitou os olhos.


— Não conversou, não foi? O que você está fazendo? Dando uma de freelancer? E não me chame de Dul.


— Olha — expliquei no que esperava que fosse uma voz tranquilizadora. — As chances são de que Michael não vá falar uma palavra sobre isso comigo. Mas ele é um nerd, certo? Um nerd de computador. E o que os nerds de computador fazem quando estão planejando alguma coisa?


Gina continuou parecendo irritada.


— Não sei. E não me importo. Estou dizendo...


— Escrevem coisas — falei calmamente. — No computador. Certo? Eles mantêm um diário, ou contam vantagem para os outros nas salas de bate-papo, ou fazem plantas dos prédios que eles querem explodir, ou sei lá o quê. Assim, mesmo que eu não consiga fazer com que ele admita alguma coisa, se puder ficar algum tempo sozinha com o computador de Michael, aposto que consigo...


— Dul! — Soneca veio até nós. — E aí, vai almoçar agora?


Os lábios de Dulce estavam comprimidos de irritação comigo, mas Soneca não pareceu notar. Nem Dunga, que apareceu um segundo depois.


— Ei — disse ele sem fôlego. — Por que vocês estão parados aí? Vamos comer.


Então me notou e deu um risinho de desprezo.


— Any, onde está sua sombra?


Respondi fungando:


— Michael está impossibilitado de se juntar a nós para o almoço, uma vez que foi retido de modo inevitável.


— É — disse Dunga, e depois fez uma observação grosseira sobre Michael estar retido pela incapacidade de colocar algumas partes de seu corpo de volta nas calças. Isso, aparentemente, era uma alusão à falta de coordenação de Michael, e não uma sugestão de que fosse mais bem-dotado do que um rapaz mediano de dezesseis anos.


Optei por ignorar a observação, assim como Dulce, mas acho que isso foi porque ela nem ouviu.


— Espero que você saiba o que está fazendo — foi tudo o que ela disse, e ficou claro que não estava falando a nenhum dos meus meios-irmãos, o que os deixou tremendamente intrigados. Por que qualquer garota iria se incomodar em falar comigo quando podia falar com eles?


— Dul — falei com alguma surpresa. — O que você acha que eu sou? Uma amadora?


— Não. Uma idiota.


Ri. Achei realmente que ela estava apenas sendo engraçada. Só muito depois percebi que não havia nada de engraçado naquilo.


Porque, por acaso, Dulce estava cem por cento certa.



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Autor(a): ponnymym

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    Capítulo 15 Esse é o negócio com os assassinos. Se você já conheceu algum, tenho certeza de que vai concordar comigo: eles não conseguem deixar de contar vantagem sobre o que fizeram. Sério. São totalmente vaidosos. E isso, em geral, é o que acaba com eles. Veja a coisa pelo ponto de vista deles: ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 39



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  • maryangel Postado em 20/03/2015 - 17:15:12

    Continuaaaaa! Amooo essa fic, leio á muito tempo e é uma das minhas prediletas.

  • colucciwake Postado em 19/08/2014 - 19:51:29

    Continua pf eu n tive muito tempo essa semana e entro sempre que posso :)

  • colucciwake Postado em 08/08/2014 - 23:34:49

    ñ exclui ññññññnññññ ;~continua pf

  • bedlens Postado em 08/08/2014 - 19:59:56

    NÃOOOOOOOOOO!!! NÃO EXCLUA, POR FAVOR!!! EU AMO ESSA FIC <3

  • bedlens Postado em 04/08/2014 - 20:41:01

    Pressinto fortes emoções... POSTE MAAAAIS

  • bedlens Postado em 30/07/2014 - 21:55:04

    Por favor, poste maaaaais

  • bedlens Postado em 28/07/2014 - 23:31:20

    AAAAAAH! EU AMO O PONCHO <3 Algo me dizia que ele iria aparecer. Adeus Tad! Olá possível possibilidade de Ponny finalmente acontecer! Estou ansiosa para saber o que vai acontecer durante essa temporada da Dulce na Califórnia

  • colucciwake Postado em 28/07/2014 - 20:08:38

    eeeeee !!!! Dulce vai vim agora ss começa a ficar interessante

  • bedlens Postado em 28/07/2014 - 14:51:00

    Esse cara é um psicopata O.O Cadê o Poncho para salvar a Any? Cadê? Cadê?

  • bedlens Postado em 27/07/2014 - 16:41:46

    E eu que pensava que o Marcus era bonzinho. Cadê o Poncho para salvar a Any do tio maluco do Tad? Posta maaaaaais


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