Fanfic: A Madiadora aya adaptada | Tema: Ponny AyA
Capítulo 18
Era isso que eu pretendia que acontecesse o tempo todo?
Não sei. Certamente houvera um momento no quarto de Dunga em que fui tomada por uma espécie de fúria. Foi a fúria, e não os pedais da bicicleta, que me levou para o Vale, e foi a fúria que me fez colocar uma moeda naquele telefone público e ligar para Michael.
Mas parte dessa fúria se dissipou quando falei com a mãe de Michael. Sim, ele era um assassino. Sim, ele tinha tentando me matar e matar várias pessoas de quem eu gostava.
Tinha uma mãe, porém. Uma mãe que o amava a ponto de se empolgar porque uma garota estava telefonando para ele, talvez pela primeira vez na vida.
Mesmo assim entrei naquele carro. Falei para ele ir ao Ponto, mesmo sabendo o que o esperava. E fiz com que ele admitisse. Tudo. Em voz alta.
E então os chamei. Não havia dúvida disso. Chamei os Anjos da RLS. E quando eles apareceram, tudo o que fiz foi sair calmamente do carro.
Isso mesmo. Saí do caminho. E deixei que eles fizessem o que estavam querendo há tanto tempo... desde a noite em que tinham morrido.
Olha, não sinto orgulho disso. E não posso dizer que fiquei ali parada, olhando, com prazer. Quando o cinto de segurança que Michael havia tirado se enrolou subitamente em sua garganta e o banco ajustável do carro começou a se inclinar inexoravelmente em direção ao volante, esmagando suas pernas, não me senti bem.
Mas os Anjos pareciam estar se sentindo.
E provavelmente deviam se sentir. Dava para ver que seus poderes telecinéticos haviam melhorado muito. Agora não estavam mexendo com algas marinhas ou enfeites de carnaval. A força de seu poder combinado era suficiente para acender as luzes e os limpadores de para-brisa do carro alugado. Pelas janelas erguidas, pude ouvir o rádio se ligar. Britney Spears estava gemendo sua última dor de cotovelo enquanto Michael Meducci agarrava o cinto de segurança em volta do pescoço. O carro tinha começado a balançar e estava fantasmagoricamente iluminado por dentro, quase como se as luzes do painel fossem lâmpadas halógenas.
E o tempo todo os Anjos da RLS estavam ali parados em silêncio, com as mãos estendidas para o carro e o olhar fixo em Michael. Puxa, até para fantasmas eles pareciam assustadores, brilhando daquele modo irreal; as meninas de vestido longo e pulseiras com flores, os garotos de smoking. Estremeci olhando-os, e não era só por causa da brisa fria que vinha do oceano.
Odeio dizer, mas foi Britney que quebrou o feitiço para mim. Bom, dá para gostar dela, mas morrer ouvindo aquilo? Não sei. Pareceu meio pesado demais.
E havia a pobre Sra. Meducci. Ela já havia perdido uma filha – bem, mais ou menos. Será que eu podia simplesmente ficar ali parada vendo-a perder o filho?
Minutos – talvez até segundos – antes, a resposta a essa pergunta poderia ter sido sim. Mas quando chegou a hora, não pude. Não pude, apesar do que Michael tinha feito. Eu simplesmente tinha muitos anos de mediação nas costas. Anos demais e mortes demais. Não podia ficar ali parada deixando que mais uma acontecesse diante dos meus olhos.
O rosto de Michael estava contorcido e roxo, com os óculos tortos, quando finalmente gritei:
— Parem!
Instantaneamente o carro parou de balançar. Os limpadores de parabrisa se imobilizaram. A voz de Britney foi cortada no meio de uma nota e o banco de Michael começou a deslizar lentamente para trás. O cinto se afrouxou em volta de seu pescoço o bastante para ele ofegar. Michael desmoronou de encontro ao encosto, parecendo confuso e apavorado, com o peito arfando.
Josh olhou para mim como se alguém o tivesse acordado de um transe.
— O quê? — perguntou ele, parecendo incomodado.
— Desculpem — falei. — Mas não posso deixar vocês fazerem isso.
Josh e os outros se entreolharam. Mark foi o primeiro a falar. Deu um risinho e disse:
— Ah, certo.
Então o rádio foi ligado de novo, e de repente o carro estava balançando nos amortecedores.
Reagi rápida e decisivamente dando um soco na barriga de Mark Pulsford.
Isso foi o suficiente para afastar a concentração dos Anjos e permitir que Michael pudesse abrir a porta e se jogar para fora do carro antes que mais alguém pudesse começar a estrangulá-lo. Ficou caído no cascalho, gemendo.
Mark, por outro lado, se recuperou bem depressa de meu ataque.
— Vaca — disse ele, parecendo ligeiramente ofendido. — Qual é a sua?
— É — Josh estava claramente lívido. Seus olhos azuis pareciam pedaços de gelo brilhando para mim. — Primeiro diz que a gente não pode matá-lo. Depois diz que pode. Depois diz que não pode. Bem, sabe de uma coisa? Estamos cansados dessa droga de mediação. Vamos matar esse cara e ponto final.
Foi então que o carro começou a balançar a ponto de parecer que ia capotar em cima de Michael.
— Não! — gritei. — Olha, eu estava errada, certo? Quero dizer, ele tentou me matar também, e admito que fiquei meio pirada. Mas acreditem, esse não é o modo...
— Fale por você — disse Josh.
E um segundo depois eu estava voando para trás, jogada longe por um choque de energia tão forte que me convenci de que o carro de Michael havia explodido.
Só quando caí violentamente na terra, no lado mais distante do estacionamento, percebi que não tinha sido o carro explodindo. Tinha sido meramente a força combinada do poder psíquico dos Anjos, lançada casualmente na minha direção. Eu fora jogada longe com tanta facilidade quanto uma formiga numa mesa de piquenique.
Acho que foi aí que eu soube que estava numa encrenca de verdade. Percebi que tinha libertado um monstro. Ou quatro, melhor dizendo.
Estava lutando para ficar de pé outra vez quando Poncho se materializou ao meu lado, parecendo quase tão furioso quanto Josh.
— Nombre de Dios — ouvi-o ofegar enquanto absorvia a visão à sua frente. Depois me olhou. — O que está acontecendo aqui? — perguntou, estendendo uma das mãos para me ajudar a ficar de pé. — Eu dei as costas um segundo e eles sumiram. Foi você que os chamou?
Encolhendo-me – e não de dor – segurei sua mão e deixei que ele me levantasse.
— Chamei — admiti, limpando a sujeira da roupa. — Mas não... bem, não queria que isso acontecesse.
Poncho olhou para Michael, que estava andando de quatro pelo estacionamento, tentando se afastar do próprio carro que girava.
— Nombre de Dios, Anahi — disse Poncho outra vez, incrédulo. — O que você esperava que acontecesse? Você traz o garoto logo aqui? E agora pede para eles não o matarem?
Balançando a cabeça, Poncho começou a andar na direção dos Anjos.
— Você não entende — protestei, correndo atrás dele. — Ele tentou me matar. E tentou matar Mestre, Gina, Dunga e...
— E então você faz isso? Anahi, você já não sabe que não é uma assassina? — Os olhos escuros de Poncho se cravaram em mim. — Por favor, não tente agir como se fosse. A única pessoa que vai acabar se machucando com isso é você.
Fiquei tão abalada com a censura em sua voz que lágrimas me encheram os olhos. Sério. Lágrimas de verdade. De fúria. Foi o que disse a mim mesma. Estava chorando porque fiquei furiosa com ele. Não porque ele havia magoado meus sentimentos. De jeito nenhum.
Mas Poncho não notou minha fúria. Tinha me dado as costas e então foi até os Anjos. Um segundo depois o carro parou de se sacudir, os limpadores de para-brisa e o rádio se desligaram e as luzes se apagaram. Os Anjos eram fortes, verdade. Mas Poncho estava morto há muito mais tempo.
— Voltem à praia — ordenou ele.
Josh riu alto.
— Está brincando comigo, não é?
— Não estou brincando.
— De jeito nenhum — reagiu Mark Pulsford.
— É — Carrie apontou para mim. — Puxa, ela chamou a gente. Ela disse que podia.
Poncho não virou a cabeça na direção em que Carrie apontou. Estava bastante claro que se sentia enojado comigo.
— Agora ela diz que não pode — informou Poncho. — Vocês farão o que ela diz.
— Você não sacou? — Os olhos de Josh estavam relampejando outra vez, brilhando com a energia psíquica da qual estava tão cheio. — Ele matou a gente. Ele matou a gente.
— E vai ser punido por isso — disse Poncho em tom calmo. — Mas não por vocês.
— Então por quem?
— Pela lei — respondeu Poncho.
— Besteira! — explodiu Josh. — Isso é besteira, cara! A gente está esperando o dia inteiro pela lei! O velho disse que era isso que ia acontecer, mas não estou vendo esse garoto ser levado pelos caras de uniforme azul. Você está? Não acho que isso vá acontecer. Então deixe a gente dar uma lição do nosso modo.
Poncho balançou a cabeça. Era um gesto perigoso diante dos quatro jovens fantasmas furiosos e descontrolados que o enfrentavam. Mas mesmo assim fez isso.
Dei um passo mais para perto de Poncho ao ver os Anjos da RLS brilhando de fúria. Fiquei na ponta dos pés para ele me ouvir quando sussurrei:
— Eu pego as garotas. Você pega os garotos.
— Não — a expressão de Poncho era séria. — Vá, Anahi. Quando eles estiverem ocupados comigo corra para a estrada e pare o próximo automóvel que vir. Depois vá embora em segurança.
Ah, é. Certo.
— E deixar você lidar com eles sozinho? — Olhei-o irritada. — Ficou maluco?
— Anahi — sibilou ele. — Você não entende. Eles vão matá-la...
Ri. Ri mesmo, toda a minha raiva contra ele havia sumido. Poncho estava certo. Eu não entendia.
— Deixe que eles tentem — falei.
Foi então que nos atacaram.
Acho que os Anjos deviam ter combinado um arranjo parecido com o que eu havia tentado fazer com Poncho, já que as garotas vieram para cima de mim e os rapazes para Poncho. Não fiquei muito chateada. Quero dizer, dois contra um é injusto, mas, a não ser pelo negócio do poder telecinético, eu achava que estávamos niveladas. Carrie e Felicia não haviam sido briguentas enquanto eram vivas – isso ficou claro no instante em que me atacaram –, de modo que não tinham uma ideia sólida de onde era melhor aplicar um soco para causar mais dor.
Pelo menos foi o que pensei antes que elas começassem a me acertar. A coisa com que eu não tinha contado era que essas garotas – como seus namorados – estavam muito, muito furiosas.
E se você pensar bem, eles tinham todo o direito. Certo, talvez tivessem sido uns panacas enquanto eram vivos – não me pareciam exatamente o tipo de pessoas com quem eu gostaria de andar, com sua obsessão por festas e atitudes elitistas – mas eram jovens.
Provavelmente cresceriam e virariam cidadãos, ainda que não sensíveis, pelo menos produtivos.
Mas Michael Meducci havia interrompido isso. E por isso eles estavam doidos de pedra.
Acho que você pode argumentar que o comportamento deles não fora exatamente imune a censuras. Quero dizer, tinham dado aquela festa em que Lila Meducci se ferrou, devido não somente à própria estupidez mas também à negligência deles – e dos pais.
Mas pareciam não pensar nisso. Não. Para os Anjos da RLS, eles tinham sido trapaceados. Foram trapaceados e perderam a vida. E alguém teria de pagar por isso.
Esse alguém era Michael Meducci. E qualquer um que tentasse ficar no caminho desse objetivo.
A fúria deles era sinistra. Sério. Não creio que eu já tenha estado tão completamente, cem por cento furiosa como aqueles fantasmas. Ah, já fiquei louca da vida, claro. Mas nunca a tal ponto, e nunca por tanto tempo.
Os Anjos da RLS estavam furiosos. E jogaram essa fúria contra Poncho e contra mim.
Nem vi o primeiro soco. Fez com que eu girasse do mesmo modo como a picape fez com o Rambler. Senti meu lábio se partir. O sangue jorrou como uma fonte no rosto. Parte dele pingou nos vestidos de baile das garotas. Elas nem notaram. Só bateram de novo.
Não quero que você pense que não bati de volta. Eu bati. Eu era boa. Boa mesmo.
Só que não o bastante. Tive de reavaliar toda a minha teoria sobre aquele negócio de duas contra uma. Não era justo. Felicia Bruce e Carrie Whitman estavam me matando.
E não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer.
Nem podia olhar para ver se Poncho estava se saindo melhor do que eu. A cada vez que virava a cabeça, parecia que outro punho me acertava. Em pouco tempo não conseguia enxergar. Meus olhos estavam cheios de sangue, que parecia escorrer de um corte na testa. Ou isso ou alguns vasos sanguíneos nos olhos tinham estourado com a força daqueles socos. Esperava que Poncho ao menos estivesse bem. Afinal, ele não podia morrer. Não como eu. A única coisa que continuava me passando pela cabeça era: bem, se elas me matarem, finalmente vou saber para onde todo mundo vai. Depois de ser despachado por um mediador, claro.
Num determinado ponto, durante o ataque de Felicia e Carrie, eu tropecei em alguma coisa – algo quente e meio macio. Não tive certeza do que era – não podia ver, claro – até que aquilo gemeu meu nome.
— Any — disse a coisa.
A princípio não reconheci a voz. Depois percebi que a garganta de Michael devia ter sido esmagada por aquele cinto. Ele só conseguia grasnar.
— Any — chiou ele. — O que está acontecendo?
O terror na sua voz mostrava que provavelmente se sentia tão apavorado agora quanto Josh, Carrie, Mark e Felicia tinham estado quando ele acertou o carro deles e os mandou voando para a morte.
Bem feito, pensei em alguma parte distante da mente que não estava se concentrando em tentar escapar dos socos que choviam em cima de mim.
— Any — gemeu Michael embaixo de mim. — Faça com que isso pare.
Como se eu pudesse. Como se eu tivesse algo parecido com controle sobre o que estava me acontecendo. Se eu sobrevivesse a isso – o que não parecia provável – seriam feitas algumas grandes mudanças. Em primeiro lugar, ia praticar kickboxing com muito mais dedicação.
Então alguma coisa aconteceu. Não posso dizer o que era porque, como falei, eu não conseguia enxergar. Mas conseguia ouvir. E o que ouvi talvez tenha sido o som mais doce que já escutei na vida.
Era uma sirene. Polícia, carro de bombeiro, a ambulância, não sei. Mas estava chegando perto, mais perto, mais perto ainda até que, de repente, pude ouvir os pneus do veículo esmagando o cascalho diante de mim. Os socos que choviam sobre meu corpo pararam abruptamente, e eu caí frouxa contra Michael, que estava me empurrando debilmente, dizendo:
— A polícia. Saia de cima de mim. É a polícia. Preciso ir embora.
Um segundo depois, mãos tocavam em mim. Mãos quentes. Não mãos de fantasma. Mãos humanas. Então uma voz de homem estava dizendo:
— Não se preocupe, moça. Nós estamos aqui. Estamos aqui. Você consegue ficar de pé?
Eu conseguia, mas ficar de pé provocava ondas de dor que me atravessavam. Reconheci a dor. Era o tipo de dor tão intensa que parecia ridícula... tão ridícula que comecei a rir. Verdade. Porque era simplesmente engraçado alguma coisa doer tanto. Uma dor assim significava que alguma coisa, em algum lugar, estava quebrada.
Em seguida havia alguma coisa macia apertada embaixo de mim, e mandaram que eu me deitasse. Mais dor – dor que queimava, que rasgava, dor que me deixou rindo debilmente. Outras mãos me tocaram.
Então escutei uma voz familiar chamando meu nome, como se viesse de um lugar muito distante.
— Anahi.Anahi, sou eu, o padre Dominic. Está me ouvindo, Anahi?
Abri os olhos. Alguém tinha enxugado o sangue. Dava para enxergar de novo.
Eu estava deitada numa maca de ambulância. Luzes vermelhas e brancas piscavam a minha volta. Dois paramédicos cuidavam do ferimento no couro cabeludo.
Mas não era isso que doía. Era o peito. As costelas. Eu tinha partido algumas. Dava para sentir.
O rosto do padre Dominic pairou acima da maca. Tentei sorrir – tentei falar – mas não conseguia. Meu lábio estava machucado demais.
— Dulce me ligou — disse o padre Dominic, acho que em resposta ao olhar interrogativo que lhe dei. — Ela disse que você ia se encontrar com Michael. Achei, depois que ela contou o que você disse sobre o acidente de hoje, que era para aqui que você iria trazê-lo. Ah, Anahi, como gostaria que você não tivesse feito isso!
— E — disse um dos paramédicos. — Parece que o cara trabalhou direitinho nela.
— Ei. — O parceiro dele estava rindo. — Quem você quer enganar? Ela levou mas deu de montão. O garoto está um estrago só.
Michael. Estavam falando de Michael. De quem mais podia ser? Nenhum deles – a não ser o padre Dominic – podia ver Poncho ou os Anjos da RLS. Só podiam ver nós dois, Michael e eu, ambos espancados, aparentemente quase até a morte. Claro que presumiram que tínhamos feito isso um com o outro. Quem mais havia para culpar?
Poncho. Lembrando dele, meu coração começou a martelar no peito partido.
Onde estava Poncho? Levantei a cabeça, olhando em volta e procurando-o freneticamente no que havia se tornado um mar de policiais uniformizados. Será que Poncho estava bem?
O padre Dominic entendeu mal meu pânico. Falou em tom tranquilizador:
— Michael vai ficar bem. Está com a laringe muito machucada, alguns cortes e hematomas. Só isso.
— Ei — o paramédico se empertigou. Estavam se preparando para me colocar na ambulância. — Não se venda por pouco, garota. — O sujeito estava falando comigo. — Você o pegou de jeito. Ele não vai esquecer essa pequena aventura por muito tempo, acredite.
— Não com todo o tempo que ele vai passar atrás das grades por causa disso — falou o parceiro, piscando.
E, sem dúvida, enquanto me colocavam na ambulância pude ver que Michael não estava, como eu tinha esperado, numa outra ambulância, e sim na parte de trás de um camburão. Suas mãos pareciam algemadas às costas. A garganta devia doer, mas ele estava falando. Falava rápida e ansiosamente, se a expressão em seu rosto indicava alguma coisa, a um homem de terno que eu só pude presumir que fosse algum tipo de detetive de polícia. Ocasionalmente o homem anotava alguma coisa numa prancheta.
— Está vendo? — riu o primeiro paramédico para mim. — Cantando como um canário. Você não vai ter de se preocupar em dar de cara com ele na escola na segunda-feira. Não por um longo tempo.
Michael estava confessando?, eu pensava. Nesse caso, o quê? O que fez com os Anjos? O que fez com o Rambler? Ou estaria meramente explicando ao detetive o que lhe aconteceu? Que fora atacado por alguma força invisível, incontrolável – a mesma força que tinha partido minhas costelas, aberto minha cabeça e arrebentado meu lábio?
Pela cara do detetive, o que Michael estava contando não era tão extraordinário assim. Mas por acaso eu sei, pela experiência, que a expressão dos detetives é sempre essa.
No momento em que estavam fechando as portas da ambulância, o padre Dominic gritou:
— Não se preocupe, Anahi. Eu aviso à sua mãe onde te achar.
Posso dizer que, se a intenção era me tranquilizar, não tranquilizou nem um pouco.
Mas logo depois a morfina bateu. Descobri que, felizmente, não me importava mais.
Capítulo 18
Era isso que eu pretendia que acontecesse o tempo todo?
Não sei. Certamente houvera um momento no quarto de Dunga em que fui tomada por uma espécie de fúria. Foi a fúria, e não os pedais da bicicleta, que me levou para o Vale, e foi a fúria que me fez colocar uma moeda naquele telefone público e ligar para Michael.
Mas parte dessa fúria se dissipou quando falei com a mãe de Michael. Sim, ele era um assassino. Sim, ele tinha tentando me matar e matar várias pessoas de quem eu gostava.
Tinha uma mãe, porém. Uma mãe que o amava a ponto de se empolgar porque uma garota estava telefonando para ele, talvez pela primeira vez na vida.
Mesmo assim entrei naquele carro. Falei para ele ir ao Ponto, mesmo sabendo o que o esperava. E fiz com que ele admitisse. Tudo. Em voz alta.
E então os chamei. Não havia dúvida disso. Chamei os Anjos da RLS. E quando eles apareceram, tudo o que fiz foi sair calmamente do carro.
Isso mesmo. Saí do caminho. E deixei que eles fizessem o que estavam querendo há tanto tempo... desde a noite em que tinham morrido.
Olha, não sinto orgulho disso. E não posso dizer que fiquei ali parada, olhando, com prazer. Quando o cinto de segurança que Michael havia tirado se enrolou subitamente em sua garganta e o banco ajustável do carro começou a se inclinar inexoravelmente em direção ao volante, esmagando suas pernas, não me senti bem.
Mas os Anjos pareciam estar se sentindo.
E provavelmente deviam se sentir. Dava para ver que seus poderes telecinéticos haviam melhorado muito. Agora não estavam mexendo com algas marinhas ou enfeites de carnaval. A força de seu poder combinado era suficiente para acender as luzes e os limpadores de para-brisa do carro alugado. Pelas janelas erguidas, pude ouvir o rádio se ligar. Britney Spears estava gemendo sua última dor de cotovelo enquanto Michael Meducci agarrava o cinto de segurança em volta do pescoço. O carro tinha começado a balançar e estava fantasmagoricamente iluminado por dentro, quase como se as luzes do painel fossem lâmpadas halógenas.
E o tempo todo os Anjos da RLS estavam ali parados em silêncio, com as mãos estendidas para o carro e o olhar fixo em Michael. Puxa, até para fantasmas eles pareciam assustadores, brilhando daquele modo irreal; as meninas de vestido longo e pulseiras com flores, os garotos de smoking. Estremeci olhando-os, e não era só por causa da brisa fria que vinha do oceano.
Odeio dizer, mas foi Britney que quebrou o feitiço para mim. Bom, dá para gostar dela, mas morrer ouvindo aquilo? Não sei. Pareceu meio pesado demais.
E havia a pobre Sra. Meducci. Ela já havia perdido uma filha – bem, mais ou menos. Será que eu podia simplesmente ficar ali parada vendo-a perder o filho?
Minutos – talvez até segundos – antes, a resposta a essa pergunta poderia ter sido sim. Mas quando chegou a hora, não pude. Não pude, apesar do que Michael tinha feito. Eu simplesmente tinha muitos anos de mediação nas costas. Anos demais e mortes demais. Não podia ficar ali parada deixando que mais uma acontecesse diante dos meus olhos.
O rosto de Michael estava contorcido e roxo, com os óculos tortos, quando finalmente gritei:
— Parem!
Instantaneamente o carro parou de balançar. Os limpadores de parabrisa se imobilizaram. A voz de Britney foi cortada no meio de uma nota e o banco de Michael começou a deslizar lentamente para trás. O cinto se afrouxou em volta de seu pescoço o bastante para ele ofegar. Michael desmoronou de encontro ao encosto, parecendo confuso e apavorado, com o peito arfando.
Josh olhou para mim como se alguém o tivesse acordado de um transe.
— O quê? — perguntou ele, parecendo incomodado.
— Desculpem — falei. — Mas não posso deixar vocês fazerem isso.
Josh e os outros se entreolharam. Mark foi o primeiro a falar. Deu um risinho e disse:
— Ah, certo.
Então o rádio foi ligado de novo, e de repente o carro estava balançando nos amortecedores.
Reagi rápida e decisivamente dando um soco na barriga de Mark Pulsford.
Isso foi o suficiente para afastar a concentração dos Anjos e permitir que Michael pudesse abrir a porta e se jogar para fora do carro antes que mais alguém pudesse começar a estrangulá-lo. Ficou caído no cascalho, gemendo.
Mark, por outro lado, se recuperou bem depressa de meu ataque.
— Vaca — disse ele, parecendo ligeiramente ofendido. — Qual é a sua?
— É — Josh estava claramente lívido. Seus olhos azuis pareciam pedaços de gelo brilhando para mim. — Primeiro diz que a gente não pode matá-lo. Depois diz que pode. Depois diz que não pode. Bem, sabe de uma coisa? Estamos cansados dessa droga de mediação. Vamos matar esse cara e ponto final.
Foi então que o carro começou a balançar a ponto de parecer que ia capotar em cima de Michael.
— Não! — gritei. — Olha, eu estava errada, certo? Quero dizer, ele tentou me matar também, e admito que fiquei meio pirada. Mas acreditem, esse não é o modo...
— Fale por você — disse Josh.
E um segundo depois eu estava voando para trás, jogada longe por um choque de energia tão forte que me convenci de que o carro de Michael havia explodido.
Só quando caí violentamente na terra, no lado mais distante do estacionamento, percebi que não tinha sido o carro explodindo. Tinha sido meramente a força combinada do poder psíquico dos Anjos, lançada casualmente na minha direção. Eu fora jogada longe com tanta facilidade quanto uma formiga numa mesa de piquenique.
Acho que foi aí que eu soube que estava numa encrenca de verdade. Percebi que tinha libertado um monstro. Ou quatro, melhor dizendo.
Estava lutando para ficar de pé outra vez quando Poncho se materializou ao meu lado, parecendo quase tão furioso quanto Josh.
— Nombre de Dios — ouvi-o ofegar enquanto absorvia a visão à sua frente. Depois me olhou. — O que está acontecendo aqui? — perguntou, estendendo uma das mãos para me ajudar a ficar de pé. — Eu dei as costas um segundo e eles sumiram. Foi você que os chamou?
Encolhendo-me – e não de dor – segurei sua mão e deixei que ele me levantasse.
— Chamei — admiti, limpando a sujeira da roupa. — Mas não... bem, não queria que isso acontecesse.
Poncho olhou para Michael, que estava andando de quatro pelo estacionamento, tentando se afastar do próprio carro que girava.
— Nombre de Dios, Anahi — disse Poncho outra vez, incrédulo. — O que você esperava que acontecesse? Você traz o garoto logo aqui? E agora pede para eles não o matarem?
Balançando a cabeça, Poncho começou a andar na direção dos Anjos.
— Você não entende — protestei, correndo atrás dele. — Ele tentou me matar. E tentou matar Mestre, Gina, Dunga e...
— E então você faz isso? Anahi, você já não sabe que não é uma assassina? — Os olhos escuros de Poncho se cravaram em mim. — Por favor, não tente agir como se fosse. A única pessoa que vai acabar se machucando com isso é você.
Fiquei tão abalada com a censura em sua voz que lágrimas me encheram os olhos. Sério. Lágrimas de verdade. De fúria. Foi o que disse a mim mesma. Estava chorando porque fiquei furiosa com ele. Não porque ele havia magoado meus sentimentos. De jeito nenhum.
Mas Poncho não notou minha fúria. Tinha me dado as costas e então foi até os Anjos. Um segundo depois o carro parou de se sacudir, os limpadores de para-brisa e o rádio se desligaram e as luzes se apagaram. Os Anjos eram fortes, verdade. Mas Poncho estava morto há muito mais tempo.
— Voltem à praia — ordenou ele.
Josh riu alto.
— Está brincando comigo, não é?
— Não estou brincando.
— De jeito nenhum — reagiu Mark Pulsford.
— É — Carrie apontou para mim. — Puxa, ela chamou a gente. Ela disse que podia.
Poncho não virou a cabeça na direção em que Carrie apontou. Estava bastante claro que se sentia enojado comigo.
— Agora ela diz que não pode — informou Poncho. — Vocês farão o que ela diz.
— Você não sacou? — Os olhos de Josh estavam relampejando outra vez, brilhando com a energia psíquica da qual estava tão cheio. — Ele matou a gente. Ele matou a gente.
— E vai ser punido por isso — disse Poncho em tom calmo. — Mas não por vocês.
— Então por quem?
— Pela lei — respondeu Poncho.
— Besteira! — explodiu Josh. — Isso é besteira, cara! A gente está esperando o dia inteiro pela lei! O velho disse que era isso que ia acontecer, mas não estou vendo esse garoto ser levado pelos caras de uniforme azul. Você está? Não acho que isso vá acontecer. Então deixe a gente dar uma lição do nosso modo.
Poncho balançou a cabeça. Era um gesto perigoso diante dos quatro jovens fantasmas furiosos e descontrolados que o enfrentavam. Mas mesmo assim fez isso.
Dei um passo mais para perto de Poncho ao ver os Anjos da RLS brilhando de fúria. Fiquei na ponta dos pés para ele me ouvir quando sussurrei:
— Eu pego as garotas. Você pega os garotos.
— Não — a expressão de Poncho era séria. — Vá, Anahi. Quando eles estiverem ocupados comigo corra para a estrada e pare o próximo automóvel que vir. Depois vá embora em segurança.
Ah, é. Certo.
— E deixar você lidar com eles sozinho? — Olhei-o irritada. — Ficou maluco?
— Anahi — sibilou ele. — Você não entende. Eles vão matá-la...
Ri. Ri mesmo, toda a minha raiva contra ele havia sumido. Poncho estava certo. Eu não entendia.
— Deixe que eles tentem — falei.
Foi então que nos atacaram.
Acho que os Anjos deviam ter combinado um arranjo parecido com o que eu havia tentado fazer com Poncho, já que as garotas vieram para cima de mim e os rapazes para Poncho. Não fiquei muito chateada. Quero dizer, dois contra um é injusto, mas, a não ser pelo negócio do poder telecinético, eu achava que estávamos niveladas. Carrie e Felicia não haviam sido briguentas enquanto eram vivas – isso ficou claro no instante em que me atacaram –, de modo que não tinham uma ideia sólida de onde era melhor aplicar um soco para causar mais dor.
Pelo menos foi o que pensei antes que elas começassem a me acertar. A coisa com que eu não tinha contado era que essas garotas – como seus namorados – estavam muito, muito furiosas.
E se você pensar bem, eles tinham todo o direito. Certo, talvez tivessem sido uns panacas enquanto eram vivos – não me pareciam exatamente o tipo de pessoas com quem eu gostaria de andar, com sua obsessão por festas e atitudes elitistas – mas eram jovens.
Provavelmente cresceriam e virariam cidadãos, ainda que não sensíveis, pelo menos produtivos.
Mas Michael Meducci havia interrompido isso. E por isso eles estavam doidos de pedra.
Acho que você pode argumentar que o comportamento deles não fora exatamente imune a censuras. Quero dizer, tinham dado aquela festa em que Lila Meducci se ferrou, devido não somente à própria estupidez mas também à negligência deles – e dos pais.
Mas pareciam não pensar nisso. Não. Para os Anjos da RLS, eles tinham sido trapaceados. Foram trapaceados e perderam a vida. E alguém teria de pagar por isso.
Esse alguém era Michael Meducci. E qualquer um que tentasse ficar no caminho desse objetivo.
A fúria deles era sinistra. Sério. Não creio que eu já tenha estado tão completamente, cem por cento furiosa como aqueles fantasmas. Ah, já fiquei louca da vida, claro. Mas nunca a tal ponto, e nunca por tanto tempo.
Os Anjos da RLS estavam furiosos. E jogaram essa fúria contra Poncho e contra mim.
Nem vi o primeiro soco. Fez com que eu girasse do mesmo modo como a picape fez com o Rambler. Senti meu lábio se partir. O sangue jorrou como uma fonte no rosto. Parte dele pingou nos vestidos de baile das garotas. Elas nem notaram. Só bateram de novo.
Não quero que você pense que não bati de volta. Eu bati. Eu era boa. Boa mesmo.
Só que não o bastante. Tive de reavaliar toda a minha teoria sobre aquele negócio de duas contra uma. Não era justo. Felicia Bruce e Carrie Whitman estavam me matando.
E não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer.
Nem podia olhar para ver se Poncho estava se saindo melhor do que eu. A cada vez que virava a cabeça, parecia que outro punho me acertava. Em pouco tempo não conseguia enxergar. Meus olhos estavam cheios de sangue, que parecia escorrer de um corte na testa. Ou isso ou alguns vasos sanguíneos nos olhos tinham estourado com a força daqueles socos. Esperava que Poncho ao menos estivesse bem. Afinal, ele não podia morrer. Não como eu. A única coisa que continuava me passando pela cabeça era: bem, se elas me matarem, finalmente vou saber para onde todo mundo vai. Depois de ser despachado por um mediador, claro.
Num determinado ponto, durante o ataque de Felicia e Carrie, eu tropecei em alguma coisa – algo quente e meio macio. Não tive certeza do que era – não podia ver, claro – até que aquilo gemeu meu nome.
— Any — disse a coisa.
A princípio não reconheci a voz. Depois percebi que a garganta de Michael devia ter sido esmagada por aquele cinto. Ele só conseguia grasnar.
— Any — chiou ele. — O que está acontecendo?
O terror na sua voz mostrava que provavelmente se sentia tão apavorado agora quanto Josh, Carrie, Mark e Felicia tinham estado quando ele acertou o carro deles e os mandou voando para a morte.
Bem feito, pensei em alguma parte distante da mente que não estava se concentrando em tentar escapar dos socos que choviam em cima de mim.
— Any — gemeu Michael embaixo de mim. — Faça com que isso pare.
Como se eu pudesse. Como se eu tivesse algo parecido com controle sobre o que estava me acontecendo. Se eu sobrevivesse a isso – o que não parecia provável – seriam feitas algumas grandes mudanças. Em primeiro lugar, ia praticar kickboxing com muito mais dedicação.
Então alguma coisa aconteceu. Não posso dizer o que era porque, como falei, eu não conseguia enxergar. Mas conseguia ouvir. E o que ouvi talvez tenha sido o som mais doce que já escutei na vida.
Era uma sirene. Polícia, carro de bombeiro, a ambulância, não sei. Mas estava chegando perto, mais perto, mais perto ainda até que, de repente, pude ouvir os pneus do veículo esmagando o cascalho diante de mim. Os socos que choviam sobre meu corpo pararam abruptamente, e eu caí frouxa contra Michael, que estava me empurrando debilmente, dizendo:
— A polícia. Saia de cima de mim. É a polícia. Preciso ir embora.
Um segundo depois, mãos tocavam em mim. Mãos quentes. Não mãos de fantasma. Mãos humanas. Então uma voz de homem estava dizendo:
— Não se preocupe, moça. Nós estamos aqui. Estamos aqui. Você consegue ficar de pé?
Eu conseguia, mas ficar de pé provocava ondas de dor que me atravessavam. Reconheci a dor. Era o tipo de dor tão intensa que parecia ridícula... tão ridícula que comecei a rir. Verdade. Porque era simplesmente engraçado alguma coisa doer tanto. Uma dor assim significava que alguma coisa, em algum lugar, estava quebrada.
Em seguida havia alguma coisa macia apertada embaixo de mim, e mandaram que eu me deitasse. Mais dor – dor que queimava, que rasgava, dor que me deixou rindo debilmente. Outras mãos me tocaram.
Então escutei uma voz familiar chamando meu nome, como se viesse de um lugar muito distante.
— Anahi.Anahi, sou eu, o padre Dominic. Está me ouvindo, Anahi?
Abri os olhos. Alguém tinha enxugado o sangue. Dava para enxergar de novo.
Eu estava deitada numa maca de ambulância. Luzes vermelhas e brancas piscavam a minha volta. Dois paramédicos cuidavam do ferimento no couro cabeludo.
Mas não era isso que doía. Era o peito. As costelas. Eu tinha partido algumas. Dava para sentir.
O rosto do padre Dominic pairou acima da maca. Tentei sorrir – tentei falar – mas não conseguia. Meu lábio estava machucado demais.
— Dulce me ligou — disse o padre Dominic, acho que em resposta ao olhar interrogativo que lhe dei. — Ela disse que você ia se encontrar com Michael. Achei, depois que ela contou o que você disse sobre o acidente de hoje, que era para aqui que você iria trazê-lo. Ah, Anahi, como gostaria que você não tivesse feito isso!
— E — disse um dos paramédicos. — Parece que o cara trabalhou direitinho nela.
— Ei. — O parceiro dele estava rindo. — Quem você quer enganar? Ela levou mas deu de montão. O garoto está um estrago só.
Michael. Estavam falando de Michael. De quem mais podia ser? Nenhum deles – a não ser o padre Dominic – podia ver Poncho ou os Anjos da RLS. Só podiam ver nós dois, Michael e eu, ambos espancados, aparentemente quase até a morte. Claro que presumiram que tínhamos feito isso um com o outro. Quem mais havia para culpar?
Poncho. Lembrando dele, meu coração começou a martelar no peito partido.
Onde estava Poncho? Levantei a cabeça, olhando em volta e procurando-o freneticamente no que havia se tornado um mar de policiais uniformizados. Será que Poncho estava bem?
O padre Dominic entendeu mal meu pânico. Falou em tom tranquilizador:
— Michael vai ficar bem. Está com a laringe muito machucada, alguns cortes e hematomas. Só isso.
— Ei — o paramédico se empertigou. Estavam se preparando para me colocar na ambulância. — Não se venda por pouco, garota. — O sujeito estava falando comigo. — Você o pegou de jeito. Ele não vai esquecer essa pequena aventura por muito tempo, acredite.
— Não com todo o tempo que ele vai passar atrás das grades por causa disso — falou o parceiro, piscando.
E, sem dúvida, enquanto me colocavam na ambulância pude ver que Michael não estava, como eu tinha esperado, numa outra ambulância, e sim na parte de trás de um camburão. Suas mãos pareciam algemadas às costas. A garganta devia doer, mas ele estava falando. Falava rápida e ansiosamente, se a expressão em seu rosto indicava alguma coisa, a um homem de terno que eu só pude presumir que fosse algum tipo de detetive de polícia. Ocasionalmente o homem anotava alguma coisa numa prancheta.
— Está vendo? — riu o primeiro paramédico para mim. — Cantando como um canário. Você não vai ter de se preocupar em dar de cara com ele na escola na segunda-feira. Não por um longo tempo.
Michael estava confessando?, eu pensava. Nesse caso, o quê? O que fez com os Anjos? O que fez com o Rambler? Ou estaria meramente explicando ao detetive o que lhe aconteceu? Que fora atacado por alguma força invisível, incontrolável – a mesma força que tinha partido minhas costelas, aberto minha cabeça e arrebentado meu lábio?
Pela cara do detetive, o que Michael estava contando não era tão extraordinário assim. Mas por acaso eu sei, pela experiência, que a expressão dos detetives é sempre essa.
No momento em que estavam fechando as portas da ambulância, o padre Dominic gritou:
— Não se preocupe, Anahi. Eu aviso à sua mãe onde te achar.
Posso dizer que, se a intenção era me tranquilizar, não tranquilizou nem um pouco.
Mas logo depois a morfina bateu. Descobri que, felizmente, não me importava mais.
Autor(a): ponnymym
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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Capítulo 19 — Não foi nem um pouco assim que eu imaginei passar as férias de primavera — disse Dulce. — Ei — ergui os olhos do exemplar da Cosmo que ela havia trazido. — Eu pedi desculpa. O que mais você quer? Dulce pareceu surpresa com a veemência do meu tom de voz. — Não estou dizendo que n&ati ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 39
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maryangel Postado em 20/03/2015 - 17:15:12
Continuaaaaa! Amooo essa fic, leio á muito tempo e é uma das minhas prediletas.
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colucciwake Postado em 19/08/2014 - 19:51:29
Continua pf eu n tive muito tempo essa semana e entro sempre que posso :)
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colucciwake Postado em 08/08/2014 - 23:34:49
ñ exclui ññññññnññññ ;~continua pf
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bedlens Postado em 08/08/2014 - 19:59:56
NÃOOOOOOOOOO!!! NÃO EXCLUA, POR FAVOR!!! EU AMO ESSA FIC <3
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bedlens Postado em 04/08/2014 - 20:41:01
Pressinto fortes emoções... POSTE MAAAAIS
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bedlens Postado em 30/07/2014 - 21:55:04
Por favor, poste maaaaais
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bedlens Postado em 28/07/2014 - 23:31:20
AAAAAAH! EU AMO O PONCHO <3 Algo me dizia que ele iria aparecer. Adeus Tad! Olá possível possibilidade de Ponny finalmente acontecer! Estou ansiosa para saber o que vai acontecer durante essa temporada da Dulce na Califórnia
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colucciwake Postado em 28/07/2014 - 20:08:38
eeeeee !!!! Dulce vai vim agora ss começa a ficar interessante
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bedlens Postado em 28/07/2014 - 14:51:00
Esse cara é um psicopata O.O Cadê o Poncho para salvar a Any? Cadê? Cadê?
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bedlens Postado em 27/07/2014 - 16:41:46
E eu que pensava que o Marcus era bonzinho. Cadê o Poncho para salvar a Any do tio maluco do Tad? Posta maaaaaais