Fanfics Brasil - 67 A Madiadora aya adaptada

Fanfic: A Madiadora aya adaptada | Tema: Ponny AyA


Capítulo: 67

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Capítulo 2


Juro que foi isso que ele disse.


Igualzinho ao garoto daquele filme, com as mesmas lágrimas nos olhos, o mesmo medo na voz.


E eu tive mais ou menos a mesma reação de quando vi o filme. Falei por dentro: Panaca chorão.


Mas por fora só disse:


— E daí?


Não queria parecer insensível. Só fiquei surpresa demais. Quero dizer, em todos os meus 16 anos, só conheci mais uma pessoa com a mesma capacidade que tenho – a capacidade de ver e falar com os mortos — e essa pessoa é um padre de sessenta e tanto anos que por acaso é o diretor da escola que frequento atualmente. Sem dúvida, nunca esperei encontrar um colega mediador no Pebble Beach Hotel and Golf Resort. Mas mesmo assim Jack se ofendeu com o meu “E daí?”.


— E daí? — Jack se empertigou.


Era um garotinho magricelo, com o peito fundo e cabelos castanhos encaracolados, com os do irmão. Só que Jack não tinha a forma lindamente musculosa do irmão, por isso o cabelo encaracolado, que parecia sublime em Paul, dava a Jack a aparência infeliz de um cotonete ambulante.


Não sei. Talvez por isso Rick e Nancy não quisessem andar por aí com ele. A aparência de Jack é meio estranha, e parece que ele tem conversas frequentes com os mortos. Deus sabe que isso nunca fez de mim a miss popularidade.


Quero dizer, o negócio de falar com os mortos. Não tenho aparência estranha. Na verdade, quando não estou com o short do uniforme, os peões de obra costumam me elogiar pela aparência.


— Você não ouviu o que eu disse? — Jack estava deprimido, dava para ver.


Eu era provavelmente a primeira pessoa com quem ele falava sobre seu problema especial e que não parecia nem um pouco impressionada.


Coitadinho. Ele não fazia ideia de com quem estava lidando.


— Eu vejo gente morta — disse ele, esfregando os olhos com os punhos. — Eles aparecem e começam a falar comigo. E estão mortos.


Inclinei-me para frente, pousando os cotovelos no s joelhos.


— Jack.


— Você não acredita — seu queixo começou a tremer. — Ninguém acredita. Mas é verdade!


Jack enterrou o rosto de novo na toalha. Olhei na direção de Soneca. Ainda não havia sinal de que ele tivesse achando estranho o comportamento de Jack.


O garoto murmurava sobre todas as pessoas que não acreditavam nele no decorrer dos anos, uma lista que parecia incluir não apenas os pais, mas todo um bando de especialistas médicos aos quais Rick e Nancy o tinham arrastado. Esperando curar o filho mais novo daquela ilusão: de que podia falar com os mortos.


Coitadinho. Não tinha percebido, como percebi muito cedo, que o que ele e eu podemos fazer... bem, que a gente não deve falar nisso.


Suspirei. Verdade, aparentemente seria demais pedir que eu tivesse um verão normal. Quero dizer, um verão sem nenhum incidente paranormal. Mas afinal de contas nunca tive um assim na vida. Por que o décimo sexto seria diferente?


Pus a mão num dos ombros magros e trêmulos de Jack.


— Jack. Você viu aquele jardineiro agora mesmo, não foi? O que estava com a tesoura de poda?


— Você... você também viu?


— Vi. Era o Jorge. Ele trabalhava aqui. Morreu há alguns dias, de ataque cardíaco.


— Mas como você... – Jack balançou a cabeça atrás e para frente, devagar. — Quero dizer, ele... ele é um fantasma.


— Bem, é. Provavelmente precisa que a gente faça alguma coisa por ele. Bateu as botas meio de repente, e pode haver coisas, você sabe, que deixou inacabadas. Veio falar conosco porque precisa de ajuda.


— É... — Jack me encarou. — É por isso que eles me procuram? Por que querem ajuda?


— Bem, é. O que mais iriam querer?


— Não sei — o lábio inferior de Jack começou a tremer de novo. — Para me matar.


Não pude deixar de sorrir um pouquinho.


— Não, Jack. Não é por isso que os fantasmas procuram você.


Pelo menos não por enquanto. O garoto era novo demais para ter feito o tipo de inimigos homicidas que eu tinha.


— Eles o procuram porque você é um mediador, como eu.


Lagrimas tremeram nas pontas dos grandes cílios de Jack, enquanto ele me olhava.


— Um... o quê?


Ah, pelo amor de Deus, pensei. Por que eu? Como se minha vida já não fosse complicada demais. Agora tenho de bancar Obi Wan Kenobi para o garoto ser um Anakin Skywalker? Não é nem um pouco justo. Quando é que eu vou ter a chance defazer coisas que as adolescentes normais gostam de fazer, tipo ir a festas, ficar na praia e... bem...


O que mais?


Ah, sim, namorar. Namorar com o garoto de quem eu gosto seria legal. Mas eu namoro? Ah, não. O que eu tenho, em vez disso?


Fantasmas. Principalmente fantasmas procurando ajuda para limpar a sujeira que fizeram quando estavam vivos, mas algumas vezes fantasmas cuja única diversão é fazer sujeiras ainda maiores com a vida das pessoas que deixaram para trás. E isso frequentemente inclui a minha.


E pergunto: será que tenho um cartaz na testa dizendo: serviço de arrumadeira? Por que sou eu que tenho de limpar a sujeira dos outros?


Porque tive o azar de nascer mediadora.


Devo dizer que me acho mais adequada para o serviço do que o coitado do Jack. Puxa, eu vi meu primeiro fantasma quando tinha dois anos e posso garantir que a reação inicial não foi medo. Não que, com dois anos, eu pudesse ajudar a pobre alma sofredora que me procurou. Mas também não gritei nem saí correndo aterrorizada.


Só mais tarde, quando meu pai – que faleceu quando eu tinha seis anos – voltou e explicou, comecei a entender completamente o que eu era, e por que podia ver os mortos, mas os outros – como minha mãe, por exemplo – não podiam.


Mas uma coisa eu soube desde muito cedo: dizer a alguém que podia ver gente que eles não podiam? É, não é uma ideia fantástica. Pelo menos seu eu não quisesse ir para o nono andar de Bellevue, que é onde eles enfiam todos os pirados de Nova York.


Só que Jack parece não ter tido o mesmo sentimento instintivo de autopreservação com o qual eu aparentemente nasci. Abria o bico sobre o negócio de fantasma para qualquer um que quisesse ouvir, com o resultado inevitável de que os coitados dos pais não queriam ter nada a ver com ele. Aposto que as crianças da idade dele, deduzindo que ele mentia para atrair a atenção, achavam a mesma coisa. De certa forma, o próprio garotinho havia provocado todos os seus sofrimentos atuais.


Por outro lado, se você me perguntar, quem quer que esteja lá em cimaentregando crachás de mediador precisa se esforçar mais para garantir que quem receba o emprego esteja mentalmente à altura do desafio. Eu reclamo um bocado porque isso provocou uma cãibra significativa na minha vida social, mas não tem nada nesse negócio de mediador que eu não me sinta perfeitamente capaz de fazer...


Bem, a não ser uma coisa.


Mas venho me esforçando um bocado para não pensar nisso.


Ou melhor, nele.


— Um mediador — expliquei a Jack — é alguém que ajuda as pessoas que morreram a ir em frente, para a próxima vida.


Ou para onde quer que as pessoas tenham de ir quando chutam o balde. Mas eu não queria entrar numa discussão metafísica com esse garoto. Quero dizer, afinal de contas, ele tem só oito anos.


— Quer dizer que eu devo ajudá-los a ir para o céu?


— Bem, é, acho que sim.


Se houver um céu.


— Mas... — Jack balançou a cabeça. — Eu não sei nada sobre o céu.


— Não precisa saber.


Tentei pensar num modo de explicar, depois decidi que mostrar era melhor do que dizer. Pelo menos é isso que o Sr. Walden, que foi meu professor de inglês e história da civilização no ano passado, sempre dizia.


— Olha — falei, pegando Jack pela mão. — Venha. Fique observando, para ver como a coisa funciona.


Mas Jack pisou no freio imediatamente.


— Não — ofegou ele, com os olhos azuis, tão parecidos com o do irmão, loucos de medo. — Não, não quero.


Puxei-o de pé. Ei, eu nunca disse que fui feita para esse serviço de babá, lembra?


— Venha — falei de novo. — Jorge não vai te machucar. Ele é legal. Vamos ver o que ele quer.


Praticamente precisei carregá-lo, mas finalmente consegui levar Jack ao lugar onde tínhamos visto Jorge. Um instante depois o jardineiro – ou devo dizer, seu espírito – reapareceu, e depois de muitos cumprimentos de cabeça e sorrisos educados, partimos para os negócios. Foi meio difícil, considerando que o inglês de Jorge era tão bom quanto meu espanhol – ou seja, nem um pouco bom —, mas no fim pude deduzir o que impedia Jorge de ir desta vida para a próxima, qualquer que ela seja: sua irmã tinha se apropriado de um rosário deixado pela mãe dele para a primeira neta, filha de Jorge.


— Então — expliquei a Jack, enquanto o guiava ao saguão do hotel — o que temos de fazer é conseguir que a irmã de Jorge devolva o rosário a Teresa, a filha dele. Senão Jorge vai ficar por aí enchendo nosso saco. Ah, e ele não conseguirá encontrar o descanso eterno. Sacou?


Jack ficou quieto. Só foi andando atrás de mim, atordoado. Tinha permanecido num silêncio mortal durante minha conversa com Jorge, e agora parecia que alguém o havia acertado duzentas vezes um bastão na cabeça.


— Venha cá.


Guiei Jack até uma elegante cabine telefônica de mogno, com porta de vidro deslizante. Depois de nós dois nos enfiarmos lá dentro, fechei a porta, peguei o telefone e pus uma moeda de 25 centavos na fenda.


— Olhe e aprenda, gafanhoto.


O que se seguiu foi um exemplo bastante típico do que faço quase diariamente. Liguei para informações, consegui o telefone da figura culpada e liguei para ela. Quando a mulher atendeu e eu me certifiquei de que ela falava inglês o bastante para me entender, informei os fatos sem qualquer enfeite. Quando a gente está lidando com os mortos, não há necessidade de nenhum tipo de exagero. O fato de alguém que morreu ter contatado você, com detalhes que apenas o falecido saberia, geralmente basta. No fim da conversa, a obviamente abalada Marisol garantiu que o rosário seria entregue, naquele dia, nas mãos de Teresa.


Fim de conversa. Agradeci à irmã de Jorge e desliguei.


— Agora — expliquei a Jack — se Marisol não fizer isso, teremos notícias de Jorge outra vez, e teremos de partir para alguma coisa um pouquinho mais persuasiva do que um mero telefonema. Mas ela pareceu bem apavorada. É arrepiante quando um estranho liga para a pessoa e diz que falou com o irmão morto dela, dizendo que ele está furioso com ela. Aposto que a mulher vai fazer o que eu pedi.


Jack me encarou.


— É só isso? É só isso que ele queria que você fizesse? Pedir à irmã para devolver o colar?


— O rosário — corrigi. — E sim, era isso.


Não achei importante acrescentar que esse caso tinha sido particularmente simples. Em geral os problemas associados a pessoas que vêm do outro lado da sepultura são um pouco mais complicados e exigem muito mais do que um simples telefonema. De fato, frequentemente acontecem brigas e socos. Eu havia me recuperado há pouco tempo de algumas costelas quebradas por um grupo de fantasmas que não tinham apreciado nem um pouco minhas tentativas de ajudá-los a ir para a outra vida, e na verdade acabaram me mandando para o hospital.


Mas Jack tinha muito tempo para aprender que nem todos os defuntos eram como Jorge. Além disso, era o aniversário dele. Eu não queria pirar o moleque de vez.


Em vez disso abri a porta da cabine telefônica de novo e falei:


— Vamos nadar.


Jack ficou tão pasmo com a coisa toda que nem protestou. Ainda tinhas perguntas, claro... perguntas que respondi com o máximo de paciência e detalhes que pude. Entre uma resposta e outra, ensinei um pouco de nado livre.


E não quero contar vantagem nem nada, mas devo dizer que, graças às minhas instruções cuidadosas e minha influência calmante, no fim do dia Jack Slater estava agindo – e até nadando – como um garoto normal de oito anos.


Sem brincadeira. O pirralho tinha ficado completamente leve. Estava até rindo. Era como se, ao mostrar que ele não tinha o que temer dos fantasmas que o vinham incomodando durante toda a vida, eu tivesse retirado seu medo de... bem, de tudo.


Não se passou muito tempo até ele estar correndo em volta da piscina, pulando e espirrando água e irritando as mulheres dos médicos que tentavam se bronzear nas espreguiçadeiras próximas. Como qualquer outro garoto de oito anos.


Até conversou com um grupo de outras crianças cuidadas por uma das outras babás. E quando uma das crianças jogou água na cara de Jack, em vez de irromper em prantos, como teria feito na véspera, ele jogou água na cara do garoto, fazendo Kim, minha colega babá, que estava na água ao meu lado, perguntar:


— Meu Deus, Any, o que você fez com Jack Slater? Ele está agindo quase como se fosse... normal.


Tentei não deixar o orgulho aparecer.


— Ah, você sabe — falei dando os ombros. — Só o ensinei a nadar. Acho que isso lhe deu um pouco de confiança.


Kim ficou olhando quando Jack e outro garoto, só para serem irritantes, mergulharam espirrando água num grupo de menininhas que gritaram e tentaram acertar os garotos com suas boias de espuma.


— Bom — disse Kim. — Vou dizer uma coisa. Nem acredito que é o mesmo garoto.


 


 


Nem a família de Jack, pelo o que ficou aparente. Eu estava ensinando-o a nadar de costas quando ouvi alguém dar um assobio, grave e longo, do outro lado da piscina.


Jack e eu olhamos para cima e vimos Paul ali parado, todo tipo Pete Sampras, vestido de branco com uma raquete de tênis.


— Olha só isso — disse Paul, atarantado. — Meu irmão numa piscina. E curtindo, veja só. Será que o inferno se congelou, ou algo assim?


— Paul — gritou Jack. — Olha para mim! Olha para mim!


E em seguida Jack estava disparando pela água em direção ao irmão. Eu não chamaria o que o Jack estava fazendo exatamente de nadar, mas era uma imitação bastante passável, mesmo aos olhos de um irmão mais velho. E, mesmo não sendo bonito, não havia como negar que o garoto se mantinha à tona. Isso a gente precisava admitir.


E Paul admitiu. Agachou-se e, quando a cabeça de Jack apareceu logo abaixo dele, estendeu a mão e a empurrou para dentro d’água outra vez. Você sabe, brincando.


— Parabéns, campeão — disse Paul quando Jack voltou à superfície. — Nunca pensei que veria você sem medo de molhar a cara.


Sorrindo de orelha a orelha, Jack falou:


— Olha eu nadando de volta!


E começou a espadanar pela água até o outro lado da piscina. De novo não foi bonito, mas foi eficaz.


Mas em vez de olhar o irmão nadando, Paul se virou para mim, que estava de pé com a água azul na altura do peito.


— Certo, Annie Sullivan — disse ele. — O que você fez com Helen*?


Dei de ombros. Jack não havia mencionado os sentimentos do irmão com relação ao negócio de “eu vejo gente morta”, por isso eu não sabia se Paul tinha conhecimentos da capacidade de Jack ou se, como os pais, achava que tudo estava na cabeça do garoto.


Um dos pontos que eu havia enfatizado para Jack era que quanto menos pessoas – particularmente adultas – soubessem, melhor. Tinha esquecido de perguntar se Paul sabia. Ou, mais importante, se acreditava.


— Só o ensinei a nadar — falei, tirando parte do cabelo molhado de cima do rosto.


Não vou mentir nem nada dizendo que fiquei sem graça com um gato como Paul me vendo de maiô. Fico muito melhor no maiô azul-marinho que o hotel nos obriga a usar do que naquele short medonho.


Além disso, meu rímel é totalmente à prova d’água. Puxa, não sou idiota.


— Há seis anos meus pais vêm tentando fazer esse garoto nadar — Paul apontou. — E você consegue num dia só?


Sorri para ele.


— Sou extremamente persuasiva.


É, certo, eu estava flertando. Pode me processar. Uma garota precisa de alguma diversão.


— Você é simplesmente milagrosa. Venha jantar conosco esta noite.


De repente eu não sentia mais vontade de flertar.


— Ah, não, obrigada.


— Venha — insistiu ele.


Devo dizer que ele parecia excepcionalmente bem com camisa e short brancos. Destacavam o bronzeado da pele, assim como o sol do fim de tarde destacava alguns fios de ouro nos cachos castanho-escuros.


E não era só o bronzeado que Paul tinha e o outro gato da minha vida não: por acaso Paul também tinha o coração batendo.


— Por que não? — Paul estava ajoelhado perto da piscina, com o antebraço moreno pousado num joelho igualmente moreno. — Meus pais vão adorar. E está claro que meu irmão não consegue viver sem você. E vamos ao Grill. Você não pode recusar um convite para o Grill.


— Desculpe. Realmente não posso aceitar. É a política do hotel. Os funcionários não devem se misturar com os hóspedes.


— Quem disse alguma coisa sobre se misturar? Estou falando de comer. De dar uma festa de aniversário ao garoto.


— Não posso mesmo — falei, dando-lhe meu melhor sorriso. — Tenho de ir. Desculpe.


E nadei até onde Jack estava lutando para subir numa pilha de boias que tinha recolhido, e fingi estar ocupada demais ajudando-o para ouvir Paul me chamar.


Olha, sei o que você está pensando. Está pensando que recusei por que a coisa seria muito tipo Dirty Dancing, certo? Namoro de verão no hotel, só que com os papéis invertidos: você sabe, a pobre garota trabalhadora e o rico filho de médico, ninguém encosta Baby no canto, blábláblá. Esse tipo de coisa.


Mas não é. Não é mesmo. Para começar, eu nem sou tecnicamente pobre. Quero dizer, estou ganhando dez pratas por hora aqui, além das gorjetas. E mamãe é âncora de TV, e meu padrasto tem seu próprio programa.


Tudo bem, claro, é só um noticiário local, e o programa de Andy é na TV à cabo, mas qual é! A gente tem uma casa nas colinas de Carmel.


E tudo bem, claro, a casa é um hotel de 150 anos reformado. Mas cada um de nós tem seu próprio quarto, e há três carros estacionados na porta, e todos com os quatro pneus no lugar. Não somos exatamente candidatos ao bolsa-família.


Também não é a outra coisa que mencionei, sobre haver uma política contra os funcionários se misturando com os hóspedes. Essa política não existe – como Kim se sentiu obrigada a me dizer alguns minutos depois.


— Qual é a sua, Portilla? O cara está a fim, e você deu uma de pelotão de fuzilamento com ele. Nunca vi alguém levar um fora tão depressa.


Ocupei-me tentando pegar uma formiga que estava se afogando na superfície da água.


— É que eu estou... bem... ocupada esta noite.


— Nem vem com essa, Any.


Ainda que eu não conhecesse Kim antes de começarmos a trabalhar juntas (ela estuda na Carmel Valley High School, a escola pública que mamãe está convencida de que é cheia de viciados em drogas e membros de gangues), nós ficamos bem próximas, devido à insatisfação mútua por sermos obrigadas a acordar tão cedo para o trabalho.


— Você não vai fazer nada esta noite. Então por que o tiroteio?


Finalmente capturei a formiga. Mantendo-a na mão em concha, fui para a beira da piscina.


— Não sei — respondi enquanto ia. — Ele parece maneiro e coisa e tal. O negócio... — sacudi a mão do lado de fora da piscina, libertando a formiga — é que eu gosto de outro.


Kim levantou as sobrancelhas. Uma delas tinha um piercing de ouro. Caitlin a obriga a tirar antes do trabalho.


— Diga — ordenou Kim.


Olhei involuntariamente para Soneca, cochilando em sua cadeira de salva-vidas. Kim soltou um gritinho.


— Aaargh! Ele? Mas ele é seu...


Revirei os olhos.


— Não, não é ele. Meu Deus. Só que... olha, eu gosto de outro, certo? Mas é tipo... segredo.


Kim respirou fundo.


— Uuu! Esse é o melhor tipo. Ele estuda na Academia? — Quando balancei a cabeça ela tentou: — Então na escola Robert Louis Stevenson?


De novo balancei a cabeça.


Kim franziu o nariz.


— Ele não estuda na CVHS, não é?


Suspirei.


— Ele não está no segundo grau, certo, Kim? Eu preferiria...


— Ah, meu Deus. Um cara de faculdade? Sua doida. Mamãe me mataria se soubesse que eu saio com um cara de faculdade...


— Ele também não está na faculdade, certo? — Dava para sentir as bochechas esquentando. — Olha, o negócio é complicado. E não quero falar nisso.


Kim estava pasma.


— Bem, tudo bem. Meu Deus. Desculpe.


Mas ela não podia deixar o assunto de lado.


— Ele é mais velho, certo? — perguntou menos de um minuto depois. — Tipo bem velho?


Tudo bem, você sabe. Eu já saí com um cara mais velho, tipo quando tinha uns 14 anos. Ele tinha 18. Minha mãe não sabe. Por isso posso entender completamente.


De algum modo, realmente não acho que você possa.


Ela franziu o nariz de novo.


— Meu Deus. Quantos anos ele tem?


Pensei em contar. Pensei em dizer: Ah, não sei. Mais ou menos um século e meio. Mas não contei. Em vez disso, falei para Jack que estava na hora de ir para dentro, tomar um banho antes do jantar.


— Meu Deus — ouvi Kim dizendo enquanto eu saí. — É tão velho assim, é?


É. Infelizmente. Tão velho assim.


 


*Referência à peça O milagre de Anne Sullivan, muito popular nos EUA (N. do T.)


 



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Autor(a): ponnymym

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 39



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  • maryangel Postado em 20/03/2015 - 17:15:12

    Continuaaaaa! Amooo essa fic, leio á muito tempo e é uma das minhas prediletas.

  • colucciwake Postado em 19/08/2014 - 19:51:29

    Continua pf eu n tive muito tempo essa semana e entro sempre que posso :)

  • colucciwake Postado em 08/08/2014 - 23:34:49

    ñ exclui ññññññnññññ ;~continua pf

  • bedlens Postado em 08/08/2014 - 19:59:56

    NÃOOOOOOOOOO!!! NÃO EXCLUA, POR FAVOR!!! EU AMO ESSA FIC <3

  • bedlens Postado em 04/08/2014 - 20:41:01

    Pressinto fortes emoções... POSTE MAAAAIS

  • bedlens Postado em 30/07/2014 - 21:55:04

    Por favor, poste maaaaais

  • bedlens Postado em 28/07/2014 - 23:31:20

    AAAAAAH! EU AMO O PONCHO <3 Algo me dizia que ele iria aparecer. Adeus Tad! Olá possível possibilidade de Ponny finalmente acontecer! Estou ansiosa para saber o que vai acontecer durante essa temporada da Dulce na Califórnia

  • colucciwake Postado em 28/07/2014 - 20:08:38

    eeeeee !!!! Dulce vai vim agora ss começa a ficar interessante

  • bedlens Postado em 28/07/2014 - 14:51:00

    Esse cara é um psicopata O.O Cadê o Poncho para salvar a Any? Cadê? Cadê?

  • bedlens Postado em 27/07/2014 - 16:41:46

    E eu que pensava que o Marcus era bonzinho. Cadê o Poncho para salvar a Any do tio maluco do Tad? Posta maaaaaais


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