Fanfics Brasil - 9 A Madiadora aya adaptada

Fanfic: A Madiadora aya adaptada | Tema: Ponny AyA


Capítulo: 9

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Capítulo 9


Quando eu entrei no Rambler no fim do dia, Mestre estava todo agitado.


— Está todo mundo comentando! — gritou, pulando no assento. — Todo mundo viu! Você salvou a vida daquele cara! Você salvou a vida do Bryce Martinson!


— Eu não salvei a vida de ninguém — retruquei, ajeitando calmamente o espelho retrovisor para dar uma olhada nos cabelos.


Ótimo. O ar salgado definitivamente me faz bem.


— Salvou sim. Eu vi aquela tora de madeira. Se tivesse caído na cabeça dele, estava morto! Você o salvou, Any! Pode acreditar que salvou.


— Bem — disse eu, passando brilho nos lábios. — Talvez.


— Caramba, você só foi ao colégio um dia e já é a garota mais popular da área!


Mestre não conseguia mesmo se conter. Às vezes eu ficava pensando se um Lexotan não seria uma boa. Não que eu não gostasse dele. Na realidade, era o filho do Andy de que eu gostava mais – o que no fundo não quer dizer muita coisa, mas é o melhor que posso dizer.


Mestre chegara para mim na noite anterior, quando eu estava tentando decidir o que vestiria no primeiro dia de aula, e me perguntara, muito pálido, se eu tinha certeza de que não queria trocar de quarto com ele.


Fiquei olhando para ele como se ele estivesse maluco. Seu quarto era bem legal, e tudo mais, mas espera aí. Desistir do meu próprio banheiro e da vista para o mar? Nem pensar. Nem que isso significasse que eu estaria me livrando do meu incômodo companheiro de quarto, o Jesse, que na realidade não tinha voltado a aparecer desde que eu o tinha mandado passear.


— Por que diabos eu haveria de querer trocar o meu quarto? — perguntei.


Mestre deu de ombros.


— É que... é que este quarto aqui é meio horripilante, não acha não?


Fiquei olhando para ele. Vocês deviam ver como o meu quarto estava. Com o abajur da mesinha de cabeceira aceso, envolvendo tudo numa maravilhosa luz rosada, e o meu CD player tocando Janet Jackson – tão alto que minha mãe tinha gritado duas vezes para eu abaixar –, horripilante era a última coisa que alguém diria sobre o meu quarto.


— Horripilante? — repeti, olhando ao redor.


Nenhum sinal do Poncho. Nenhum sinal de nada anormal. Estávamos perfeitamente instalados no reino dos seres vivos.


— O que tem de horripilante aqui?


Mestre franziu a boca.


— Não diga nada ao papai — explicou então — mas tenho andado por aí pesquisando esta casa, e cheguei à conclusão, sem sombra de dúvida, de que ela é mal-assombrada.


Fiquei olhando para sua carinha sardenta, e vi que ele estava falando sério. Muito sério, como deixou claro o seu comentário seguinte.


— Embora a maioria dos cientistas tenha descartado quase todas as alegações de casos de atividades paranormais no país, persistem muitos indícios de fenômenos espectrais acontecendo no mundo sem explicação. Minha investigação aqui em casa ficou a desejar em matéria de indícios considerados tradicionais de presença de espíritos, como os chamados pontos frios. Mas ainda assim, Any, ficou perfeitamente evidente a variação de temperatura neste quarto, levando-me a concluir que provavelmente houve aqui pelo menos um caso de grande violência, talvez até um assassinato, e que alguns remanescentes da vítima (que você pode chamar de alma, se quiser) ainda estão por aqui, talvez na vã esperança de conseguir justiça para sua morte violenta.


Eu me recostei numa das colunas da cama. Caso contrário, poderia ter caído.


— Caramba — falei, fazendo força para manter a voz estável. — Ótima maneira de fazer uma garota se sentir mais bem-vinda.


Mestre ficou meio embaraçado.


— Lamento — disse ele, com a ponta das orelhas ficando vermelhas. — Não devia ter dito nada. Falei sobre isto com Christopher e Brad e eles disseram que eu estava maluco. Talvez esteja mesmo — e depois de engolir em seco, tomando coragem: — mas considero meu dever, como homem, me oferecer para trocar de quarto com você. Como vê, não estou com medo.


Eu sorri para ele, esquecendo completamente meu choque numa súbita onda de afeto. Fiquei realmente sensibilizada. Dava para ver que o garoto tinha precisado reunir toda a coragem para fazer aquela proposta. Ele realmente estava convencido de que o meu quarto era mal-assombrado, apesar de tudo que a ciência lhe dizia, e no entanto se mostrava disposto a se sacrificar por minha causa, por puro cavalheirismo.


Impossível não gostar dela. Impossível mesmo.


— Beleza, Mestre — disse eu, esquecendo completamente de tudo, numa onda de sentimentalismo, e chamando-o pelo apelido que inventara para ele. — Acho que seria perfeitamente capaz de enfrentar qualquer fenômeno paranormal que viesse a ocorrer aqui.


Ele não pareceu se importar com o apelido. Evidentemente aliviado, respondeu:


— Bom, se você realmente não se importa...


— Não, está tudo bem. Mas queria te perguntar uma coisa — continuei, abaixando a voz, para o caso de Jesse estar em algum lugar por ali. — Nessas suas pesquisas, em algum momento você ficou sabendo o nome desse pobre coitado cuja alma estaria vagando pelo meu quarto?


Mestre sacudiu a cabeça.


— Se quiser realmente, posso conseguir para você. Posso dar uma olhada na biblioteca. Eles têm lá todos os jornais que foram publicados aqui na região desde que começou a imprensa local, pouco antes da construção desta casa. Está tudo em microfilmes, e tenho certeza de que se ficar algum tempo dando uma olhada...


A coisa me parecia meio absurda, um garoto passando o tempo todo numa biblioteca bolorenta vendo microfilmes, com uma praia daquelas a dois quarteirões dali. Mas cada um na sua, certo?


— Beleza — foi tudo que consegui dizer.


Agora eu estava vendo que o fraco que Mestre tinha por mim ameaçava adquirir dimensões completamente desproporcionais. Primeiro eu tinha me prontificado a viver num quarto que segundo diziam podia ser mal-assombrado, depois tinha salvado a vida de Bryce Martinson. E depois, que grande façanha me esperava? Correr os cem metros rasos em 10s04?


— Veja bem — falei, enquanto Soneca lutava com a ignição, que aparentemente tinha certa tendência a não funcionar na primeira tentativa. — Eu fiz apenas o que qualquer um de vocês teria feito se estivesse lá.


— Brad estava lá e não fez nada — atalhou Mestre.


Dunga interferiu:


— Corta essa, eu não vi nenhuma droga de viga caindo, está bem? Se tivesse visto, também teria empurrado ele dali. Minha nossa!


— Tudo bem, mas você não viu. Provavelmente estava ocupado demais olhando para Kelly Prescott.


Dizendo isto, Mestre levou um belo safanão no braço:


— Fecha essa matraca, David — disse o Dunga. — Você não sabe do que está falando.


— Cala a boca todo mundo! — cortou Soneca, num raro acesso de mau humor. — Nunca vou conseguir tirar este carro do lugar se vocês continuarem me atrapalhando desse jeito. Brad, pare de bater no David, David, pare de gritar no meu ouvido, e Suze, se você não tirar esse seu cabeção daí do espelho nunca vou conseguir ver para onde estamos indo. Vou te contar, mal posso ver a hora de botar minhas mãos naquele Camaro!


 


 


 


Foi depois do jantar que o telefone tocou. Minha mãe teve de berrar lá de baixo porque eu estava com meus fones de ouvido. Embora ainda fosse o primeiro dia do novo semestre, eu já tinha um bocado de dever de casa para fazer, sobretudo de geometria. Na minha antiga escola nós só tínhamos chegado ao capítulo sete. Os alunos do primeiro ano da Academia Missionária já estavam no capítulo doze. E eu sabia que estaria acabada se não começasse a recuperar o atraso.


Quando desci para atender o telefone, minha mãe já estava tão furiosa comigo por ter precisado gritar – o trabalho dela exige que cuide muito bem das cordas vocais – que nem quis dizer quem era. Peguei o telefone e disse alô.


Houve uma pausa, e eu ouvi a voz do padre Dominic.


— Alô? Anahi? É você? Desculpe incomodá-la em casa, mas estive pensando muito, e realmente estou achando... cheguei à conclusão de que precisamos fazer algo imediatamente. Não consigo parar de pensar no que teria acontecido ao pobre Bryce se você não estivesse lá.


Olhei para os lados. Dunga estava jogando Coolboarder (com o pai, a única pessoa na casa que deixava ele ganhar), minha mãe estava trabalhando no computador, Soneca tinha saído para substituir um entregador de pizza que estava doente e Mestre estava na mesa da sala de jantar trabalhando num projeto de ciências que só teria de apresentar em abril.


— Hmm. Olha só, realmente não vou poder falar agora.


— Entendo — disse o padre Dom. — E não se preocupe, quem fez a chamada atendida pela sua mãe foi uma das noviças. Sua mãe está achando que foi uma nova amiga da escola. Mas o fato, Anahi, é que precisamos fazer alguma coisa, de preferência esta noite...


— Olha — respondi. — Não se preocupe. Está tudo sob controle.


Padre Dom pareceu surpreso.


— Está mesmo? Tem certeza? Como? Como você está conseguindo manter a coisa sob controle?


— Não tem importância. Mas eu já fiz isto antes. Tudo vai dar certo, prometo.


— Ora, está bem, é ótimo prometer que tudo vai dar certo, mas eu já a vi em ação, Anahi, e não posso dizer que fiquei impressionado com seu método. Daqui um mês o arcebispo chegará, e não posso realmente...


O telefone sinalizou que havia outra chamada e pedi que ele esperasse um minutinho. Apertei o botão e disse:


— Residência dos Ackerman e Portilla.


— Any? — disse uma voz de garoto, que não reconheci.


— Sim...


— Oi, tudo bem? É o Bryce. Então. Qual é a boa?


Olhei para minha mãe. Estava com a cara completamente enfiada na reportagem em que estava trabalhando.


— Hmm, nada demais. Pode esperar só um pouquinho, Bryce? Estou com uma pessoa na outra linha.


— Claro.


Voltei para o padre Dominic.


— Então — retomei, com cuidado para não falar seu nome em voz alta. — Agora preciso ir. Minha mãe está esperando uma chamada muito importante na outra linha. Um senador. Um senador muito importante.


Eu provavelmente iria para o inferno por causa disto – se é que este lugar existe –, mas não podia dizer a verdade ao padre Dominic: que eu ia sair com o ex-namorado do fantasma.


— Ora, mas é claro — disse padre Dominic. — Eu... bem, se você tiver um plano...


— Tenho sim. Não se preocupe. Nada vai estragar a visita do arcebispo. Prometo. Tchau.


E desliguei, voltando para Bryce:


— Oi, desculpe... O que foi?


— Nada. Eu estava só pensando em você. O que vai querer fazer no sábado? Quer dizer... quer sair para jantar, ir a um cinema, ou quem sabe as duas coisas?


A outra linha acendeu. Respondi:


— Bryce, sinto muito realmente, mas a casa aqui está uma bagunça... Pode esperar um minutinho? Obrigada. Alô?


Uma voz de garota que eu nunca tinha ouvido disse:


— Oi, tudo bem? É a Suze?


— Pode falar — eu disse.


— Oi, Annie, é a Kelly. Kelly Prescott, da sua sala. Só queria te dizer... aquilo que você fez hoje pelo Bryce... foi muito legal. Puxa, nunca vi tanta coragem na minha vida! Deviam abrir manchete para você no jornal, no mínimo. Vou reunir uns amigos em casa neste sábado, nada de mais, só uma festinha na piscina, o pessoal lá de casa vai viajar no fim de semana, e a piscina é aquecida, claro... Então achei que se você quisesse, poderia aparecer...


Fiquei ali segurando o telefone, completamente sem reação. Kelly Prescott, a garota mais rica e mais bonita do primeiro ano, estava me convidando para uma festa na piscina na mesma noite em que eu tinha um encontro com o garoto mais sexy da escola. Que ainda por cima estava na outra linha.


— Puxa, Kelly, claro — respondi. — Eu adoraria. O Brad sabe onde fica?


— Brad? — fez a Kelly, logo emendando: — Ah, o Brad! Claro, ele é seu meio-irmão ou algo assim, certo? Isso mesmo, traga-o também. Mas, olha...


— Adoraria ficar conversando, Kelly, mas estou com uma pessoa na outra linha. Podemos conversar sobre isto amanhã no colégio?


— Claro, sem problema. Tchauzinho.


Apertei de novo o botão do Bryce, pedi que esperasse mais um pouquinho, tampei o bocal do fone com a mão e gritei:


— Brad, festa na piscina da casa daí Kelly Prescott neste sábado. Se não for, eu te mato.


Dunga largou o controle remoto.


— Sem chance! — berrou, exultante. — O cacete que vou!


Andy deu-lhe um tapa.


— Olha a linguagem!


Voltei a falar com Bryce.


— Jantar seria genial — falei. — Qualquer coisa, menos comida natureba.


— Ótimo! Isso mesmo, eu também odeio comida natural. Não tem nada igual a um bom pedaço de carne, com umas fritas e molho...


— Beleza, Bryce. Desculpe, mas é aquela outra chamada de novo, lamento mesmo mas vou ter de ir, tá? Falo com você amanhã no colégio.


— Ok, tudo bem — concordou Bryce, mas parecendo surpreso. Aposto que eu era a primeira garota que se preocupava em atender a outra linha durante um telefonema dele. — Tchau, Suze. E obrigado de novo.


— Sem problema. Disponha — e desliguei, atendendo à outra ligação. — Olá.


— Any? É Maite!


No fundo, ouvi o Christian gritando:


— E eu também!


— E aí, garota? — foi dizendo a Maite. — Estamos indo para o Clutch. Quer que a gente te pegue? Adam acaba de tirar carteira de motorista.


— Sou perfeitamente legal! — gritou o Adam no telefone.


— Clutch?


— É, o Café Clutch, no centro. Você não gosta de café? Você não é de Nova York?


Aquela eu tive que pensar.


— Uh... sim. O problema é que tenho meio que um compromisso.


— Ah, corta essa! Que compromisso você pode ter? Vai lavar o casaco? Sei que você é a maior heroína e coisa e tal, e talvez não tenha tempo para nós, simples mortais, mas...


— Ainda não acabei minha redação sobre a batalha de Bladensburgo para o professor Walden — falei. — E preciso estudar muita geometria se quiser chegar perto de vocês, gênios.


— Ai meu Deus — retrucou Maite. — Falou, então. Mas vai ter que prometer sentar do nosso lado no almoço amanhã. Queremos saber direitinho como você apertou o seu corpo contra o do Bryce e como se sentiu e tudo mais...


— Não quero saber nada disso — cortou Adam, fingindo-se de horrorizado.


— É isso aí — concluiu Maite. — Eu quero saber tudinho.


Prometi a ela que não omitiria nenhum detalhe e desliguei. Olhei para o telefone, e, para grande alívio meu, ele não estava tocando. Eu nem podia acreditar. Nunca na vida eu havia sido tão popular. Sinistro.


Claro que eu tinha falado a maior mentira sobre o dever de casa. Já tinha escrito a redação e estudara dois capítulos de geometria – o máximo que eu conseguiria numa noite. Mas a verdade, claro, é que eu tinha uma missão a cumprir, e precisava me preparar.


Não é preciso muita coisa para fazer uma mediação. Cruzes e água benta são coisas que podem ser necessárias para matar um vampiro – e posso lhes garantir que nunca na vida encontrei um vampiro, e não foram poucas as horas que eu passei em cemitérios –, mas no caso de fantasmas, basta ter uma boa lábia.


Mas às vezes, para que o trabalho fique bem-feito, é necessário mesmo tomar certas providências. E para isso são necessárias algumas ferramentas. Recomendo sempre usar objetos encontrados no local, pois assim você não tem que carregar muita coisa. Mas não deixo de levar comigo um cinto de ferramentas com lanterna, uma chave de fenda, alicates e coisas assim, que eu uso por cima de um par de legging pretos. Eu estava apertando o cinto por volta de meia-noite, feliz porque todo mundo na casa já estava dormindo – inclusive o Soneca, que àquela altura já tinha voltado das entregas de pizzas –, e acabava de me vestir minha jaqueta de couro quando recebi uma visita, adivinha de quem?...


— Minha nossa! — exclamei ao dar com o reflexo dele por trás do meu no espelho em que eu estava me olhando.


Eu juro, há anos que vejo fantasmas, mas sempre me dá um calafrio quando algum deles se materializa na minha frente. Dei meia-volta, furiosa, não porque ele estivesse ali, mas por ter me apanhado de surpresa.


— Por que ainda está por aqui? Achei que tinha dito para você se mandar.


Poncho estava recostado relaxadamente numa das pilastras da minha cama. Com seus olhos negros, me examinava do alto do meu capuz à ponta dos meus tênis.


— Não acha que já é um pouco tarde para sair, Anahi? — perguntou ele com a maior naturalidade, como se estivéssemos no meio de uma conversa sobre, sei lá, a segunda Lei dos Escravos Foragidos, que deve ter sido promulgada mais ou menos na época em que ele morreu.


— Hmm — respondi, tirando o capuz. — Olha só, sem querer ofender, Poncho, mas este aqui é o meu quarto. Que tal você tentar se mandar? E que tal deixar que eu cuide da minha vida?


Poncho nem se mexeu.


— Sua mãe não vai gostar de saber que você está saindo tão tarde da noite.


— Minha mãe? — E fiquei olhando para ele, lá em cima, pois era surpreendentemente alto para alguém que está morto. — O que você sabe da minha mãe?


— Gosto muito da sua mãe — disse Poncho calmamente. — É uma boa mulher. Você tem muita sorte de ter uma mãe que a ame tanto. Acho que ela ficaria muito preocupada em ver que você está se expondo ao perigo.


Me expondo ao perigo. Certo!


— Tudo bem. Segura esta agora, Poncho. Há muito tempo eu saio de noite e minha mãe nunca disse uma palavra sobre isto. Ela sabe perfeitamente que sei cuidar de mim.


Ok, uma bela mentirinha, mas ele não tinha como saber mesmo...


— Sabe mesmo? — perguntou ele, erguendo em dúvida uma das sobrancelhas negras.


Não pude deixar de perceber que havia uma cicatriz cortando sua sobrancelha ao meio, como se alguém tivesse passado uma faca de raspão em seu rosto. Eu meio que senti a sensação que devia dar. Especialmente quando ele deu uma risadinha de satisfação e disse:


— Acho que não sabe não, hermosa. Não neste caso.


Eu levantei as duas mãos.


— Certo. Para começo de conversa: não fale comigo em espanhol. Em segundo: você nem sabe onde eu estou indo, de modo que sugiro que largue do meu pé.


— Mas eu sei perfeitamente onde está indo, Anahi. Você está indo para o colégio falar com aquela garota que está tentando matar o rapaz, aquele de que você parece estar... gostando. Mas estou lhe avisando, hermosa, você não aguenta com ela sozinha. Se tiver mesmo de ir, devia levar o padre com você.


Fiquei olhando para ele. Tinha a sensação de que meus olhos estavam saltando para fora, mas não podia acreditar no que estava acontecendo.


— O quê? Como pode saber de tudo isso? Por acaso você está... me stalkeando?


Ele deve ter percebido pela minha reação que não devia ter dito aquilo, pois se endireitou e falou:


— Não sei o que significa esta palavra, stalkeando. Só sei que você está se expondo ao perigo.


— Você anda me seguindo — insisti, apontando para ele um dedo acusador. — Vai dizer que não? Tenha dó, Poncho, eu já tenho um irmão mais velho, não preciso de outro. Não preciso que ande por aí me espionando...


— Oh, claro — disse ele, com todo sarcasmo. — Esse irmão cuida muito bem de você. Quase tão bem quanto cuida do próprio sono.


— Espera aí! — exclamei, saindo em defesa do Soneca, contra todas as probabilidades. — Ele trabalha de noite, ok? Está economizando para comprar um Camaro!


Poncho fez um gesto que muito provavelmente era grosseiro lá na década 1850.


— Você não vai a lugar nenhum.


— Ah, é mesmo? — desafiei, girando nos calcanhares e saindo porta afora. — Tente me segurar, bafo de cadáver.


Ele foi de uma precisão cirúrgica. Minha mão já estava na maçaneta quando a tranca da porta se fechou. Eu nem tinha notado que havia uma tranca na minha porta – ela devia ser muito antiga. O pino estava quebrando e só Deus sabia onde é que podia estar a chave.


Fiquei parada ali bem meio minuto, olhando para minha mão sem acreditar muito enquanto ela girava em vão a maçaneta. Até que resolvi respirar bem fundo, como havia sugerido a terapeuta da minha mãe. Ela não estava querendo dizer que eu devia respirar fundo quando estivesse enfrentando um fantasma stalkeador. Achava apenas que devia fazê-lo de maneira geral, sempre que estivesse me sentindo estressada.


Mas o fato é que ajudou. E ajudou muito.


— Ok — falei afinal, voltando-me. — Jesse, isto não é nada legal.


Poncho ficou muito sem graça. Bastava olhar para ele para perceber que não estava nada satisfeito com o que acabara de fazer. Não sei o que foi que causou a sua morte na vida anterior, mas certamente não foi por ele ser alguém cruel ou por gostar de machucar as pessoas. Ele era um bom sujeito. Ou pelo menos estava tentando ser.


— Eu não posso... — disse ele, já agora bem na minha frente. — Anahi, não vá. Essa mulher... essa garota, a Heather, não é como os outros espíritos que você pode ter encontrado. Ela está cheia de ódio. Se puder, vai matá-la.


Dei um sorriso encorajador:


— Aí mesmo é que eu devo acabar com ela, não? Vamos lá, abra a porta.


Ele hesitou. Por um momento, achei que ele ia abri-la. Mas ele acabou não abrindo. Apenas ficou lá, meio sem graça, mas firme.


— Como quiser — falei, e o contornei, caminhando direto para a janela.


Coloquei um pé no assento que Andy havia feito e levantei a persiana da janela. Já estava com uma perna sobre o peitoril quando senti sua mão agarrando meu pulso.


Virei-me para olhar para ele. Não consegui ver seu rosto, pois a luz da minha cabeceira estava por trás dele, mas ouvia perfeitamente sua voz e o tom suave em que pedia:


— Anahi...


Só isso: apenas o meu nome.


Eu não disse nada. Nem podia. Quer dizer, claro que podia, não era como se houvesse um caroço em minha garganta ou coisa assim. Simplesmente... sei lá.


Em vez disso, fiquei olhando para a mão dele, que era muito grande e meio escura, mesmo por cima do couro preto da minha jaqueta. Ele tinha bastante força naquela mão, para um sujeito que estava morto. E até para um sujeito vivo.


Ele percebeu onde meus olhos estavam focados, olhou na mesma direção e deu-se conta de que sua mão estava agarrando o meu pulso. Então me soltou de repente, como se minha pele tivesse começado a queimar ou coisa parecida.


Continuei saindo pela janela. Quando consegui atravessar o telhado da varanda e chegar ao chão lá embaixo, voltei-me em direção à janela do meu quarto.


Mas é claro que ele já tinha ido embora.


bedlens: para sua felicidade poncho apareceu




 



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Autor(a): ponnymym

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

  Capítulo 10 Era uma noite fresca e clara. De lua cheia. Ali, na frente da casa, eu a via sobre o mar, parecendo um lampião aceso – não um farol como o sol, mas uma daquelas lâmpadas de baixa potência que a gente põe em abajures na mesinha-de-cabeceira. O Pacífico, parecendo à distância um espelho tran ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 39



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  • maryangel Postado em 20/03/2015 - 17:15:12

    Continuaaaaa! Amooo essa fic, leio á muito tempo e é uma das minhas prediletas.

  • colucciwake Postado em 19/08/2014 - 19:51:29

    Continua pf eu n tive muito tempo essa semana e entro sempre que posso :)

  • colucciwake Postado em 08/08/2014 - 23:34:49

    ñ exclui ññññññnññññ ;~continua pf

  • bedlens Postado em 08/08/2014 - 19:59:56

    NÃOOOOOOOOOO!!! NÃO EXCLUA, POR FAVOR!!! EU AMO ESSA FIC <3

  • bedlens Postado em 04/08/2014 - 20:41:01

    Pressinto fortes emoções... POSTE MAAAAIS

  • bedlens Postado em 30/07/2014 - 21:55:04

    Por favor, poste maaaaais

  • bedlens Postado em 28/07/2014 - 23:31:20

    AAAAAAH! EU AMO O PONCHO <3 Algo me dizia que ele iria aparecer. Adeus Tad! Olá possível possibilidade de Ponny finalmente acontecer! Estou ansiosa para saber o que vai acontecer durante essa temporada da Dulce na Califórnia

  • colucciwake Postado em 28/07/2014 - 20:08:38

    eeeeee !!!! Dulce vai vim agora ss começa a ficar interessante

  • bedlens Postado em 28/07/2014 - 14:51:00

    Esse cara é um psicopata O.O Cadê o Poncho para salvar a Any? Cadê? Cadê?

  • bedlens Postado em 27/07/2014 - 16:41:46

    E eu que pensava que o Marcus era bonzinho. Cadê o Poncho para salvar a Any do tio maluco do Tad? Posta maaaaaais


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