Fanfic: DARK PARADISE | Tema: Lana Del Rey
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Gustavo sentiu os braços dele envolverem-lhe a cintura com candura, ao tempo em que seus lábios eram cobertos pelo doce e morno beijo dele. Um suspiro entrecortado irrompeu a sua boca quando as mãos de Yury invadiram a sua calça, apalpado com carinho todo o conteúdo.
Os beijos tornaram-se mais sôfregos no momento em que, rapidamente, Gustavo lançou Yury contra o carpete da sala e saltou sobre ele, retirando-lhe a calça jeans com a boca, abrindo o zíper e os botões habilmente. Yury deixou-se conduzir pelo toque suave de Gustavo, sentindo-o passar os lábios quentes pelo seu abdômen trabalhado, sua virilha, sua coxas. A boca do jovem Yury era uma linha comprimida, sufocando um grito de prazer que insistia em tentar sair sempre que Gustavo escorregava a sua boca molhada e quente. Espasmos repentinos estremeciam o corpo de Yury por inteiro, e seus pelos loiros eriçavam sob o calor do corpo de Gustavo, suando sobre o seu.
Money Power Glory, da Lana del Rey, vinda do som ligado, inundava a sala aquecida pelas chamas alaranjadas da lareira e que mantinham o frio característico de Petrópolis do lado de fora das paredes de madeira do charmoso chalé. Ao lado do carpete onde os corpos de Gustavo e Yury agora se tornavam um só havia uma garrafa de vinho tinto esvaziada e duas taças tombadas, assistido à movimentação faceira dos dois rapazes. Para lá das amplas janelas corrediças de vidro que davam para o exterior do chalé, a luminescência prateada do lua derramava-se sobre as copas da árvores grande que cercavam a casa distante da cidade.
Gustavo, entorpecido pelo momento, sentou-se sobre Yury que, dessa vez, não pôde conter o gemido abafado, enquanto o parceiro movia-se vagarosamente sobre ele de uma maneira enlouquecedora. Carinhoso, Gustavo silenciou os gemidos contidos de Yury com um beijo que lhe roubou o ar.
- Como foi a reunião com os empreiteiros? - perguntava Gustavo, enquanto vestia a cueca, ainda deitado no carpete da sala de estar.
- Incerta - respondeu Yury soltando a fumaça do cigarro e servindo-se de mais vinho de uma garrafa recém aberta. - Não se pode confiar nesses coreanos. Eles são quietos e observadores, nunca sei o que estão pensando.
- Seu projeto é muito bom. Você é o melhor arquiteto que eu conheço, na flor da idade, cheio de idéias novas e revolucionárias. É claro que eles vão aprovar o seu projeto.
- Fala isso para o meu pai - resmungou Yury. - Duvido que ele esteja acreditando que vamos conseguir fechar esse contrato. Não, por termos uma equipe sem competência. Muito pelo contrário. A nossa equipe é a melhor que poderia ser. Mas por termos um projeto que foi desenvolvido por mim.
- Seu pai não é tão ruim assim quanto você diz - Gustavo bebeu um gole do copo de Yury e passou as mãos cabelos loiros quase em tom de areia do namorado. Yury era um jovem arquiteto de vinte e cinco anos e muito talento, recém formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os cabelos alourados caiam-lhe sobre os olhos de um profundo verde-esmeralda e emolduravam seu rosto de traços firmes e alongados, de queixo proeminente. A pele marmoreada, extremamentente alva, refletia a luz alaranjada das labaredas vindas da lareira. O rosto de feições suaves completava-se com um sorriso esboçado no canto dos lábios quase permannente.
- Você fala isso porque não vive com ele - treplicou Yury, afastando as mechas escuras do rosto de Gustavo.
- E nem poderia. Ele nem cogita a possibilidade da minha existência - sorriu desconcertado sob o toque cálido de Yury.
Com vinte e cinco anos, Gustavo possuía um olhar castanho profundo e intimidador, que, por vezes, era capaz de atravessar a alma de Gustavo e enxergar o que ele não podia dizer ou explicar. O rosto brando e sereno, salpicado por uma barba cerrada e bem feita, iluminava-se sempre que sorria. Ao contrário dos outros sorrisos por aí, Gustavo sorria por completo, não só com os lábios, mas também com os olhos, as maçãs rosadas do rosto e até mesmo com a testa. Sempre que sorria, duas linhas verticais enrugavam-se de maneira charmosa entre os seus olhos, na base da testa. Os cabelos de um negro veludíneo, cortado em desalinho repicado, insistiam em cair no seu rosto sempre que ele se movia mais bruscamente. Sua beleza era simples e angelical. Não havia quem pousasse os olhos sobre ele não se demorasse a encará-lo. Ele, getil, retribuía o olhar.
- Ele logo saberá sobre você - disse Yury, afastando-se para atiçar as brasas na lareira, deixando o pensamento perder-se, visivelmente encabulado.
- Desculpa, não me entenda mal - Gustavo apressou-se para segui-lo, abraçando-o por trás, o rosto colado nas suas costas nuas e mornas. - Não estou pressionando para que conte a eles. De verdade. Para mim, está bom do jeito que está. Não podia ficar melhor. Posso te ver sempre que eu quero, te abraçar, sentir teu cheiro. è a minha maior felicidade.
Vagarosamente, Yury girou sobre os calcanhares e beijou de maneira doce Gustavo, que se entregou sem reservas. Contudo, o toque neurótico do telefone residencial tragou-os de volta. Lesto, Gustavo saltou por sobre as almofadas do carpete e atendeu a ligação.
- Gu? - soou a voz família do outro lado da linha. Melissa parecia aflita e agitada.
- Oi. Que aconteceu? - a expressão de Gustavo tornou-se séria quando a irmã começou a falar o que tinha ocorrido. Pensativo, ele ouvia tudo sem tecer qualquer comentário. - Tudo bem, já estou indo. Encontro vocês o mais rápido possível.
- O que houve? - indagou Yury, percebendo o rosto sério de Gustavo.
- Tio Elísio acabou de falecer - por alguns segundos, os únicos sons que se fizeram audíveis na sala foram o crepitar das chamas e o vento gélido uivando do lado de fora.
- Sinto muito…
- A gente já sabia que isso estava prestes a acontecer, a doença dele não retrocedeu. Estou sentido pela minha mãe, deve estar arrasada.
- Vou com você ao velório, se você quiser…
- Obrigado, amor...mas não precisa - Gustavo respondia em estado de transe, o olhar perdido nas lembranças que rememorava naquele momento. - Você tem de terminar o seu projeto e também você sabe que não gosto de velórios.
- Então, você não vai?
- Vou. Preciso dar um abraço na minha mãe e resolver algumas coisas.
- Que coisas?
- Melissa disse que tio Elísio me deixou algo - as palavras saiam pausadamente, enquanto em processava as recentes informações.
- Ela não sabe o que é…?
- Não. Disse que preciso ir para que o advogado converse comigo e explique os pormenores. Você se importa se eu tomar um banho rápido e voltar para o Rio?
- Claro que não, meu amor - Yury envolveu Gustavo em um abraço apertado. - Se você precisar de mim, estarei com o celular ligado.
Gustavo permaneceu preso no abraço de Yury por incontáveis segundos, pensando no que faria dali para frente. Estar junto ao corpo dele era melhor do que qualquer outra coisa que já tinha provado na vida e, silenciosamente, jurou poder ficar assim pelo o resto da sua vida.
***
A viagem de Petrópolis ao Rio durou pouco mais de quarenta minutos e Gustavo seguiu direto para o local onde Melissa informara que o corpo estaria sendo velado. Não tivera muito contato com o tio, apenas as formalidades familiares nos encontros das datas comemorativas. Ortodoxo, Elísio tinha sido um produtor de cachaça de grande expressão nacional. A sua indústria importava toda a sua produção para a Europa e Estados Unidos, levando o nome do Brasil para além de suas fronteiras. Pelo que sabia, Elísio não tinha deixado filhos, apenas uma jovem esposa que mais se preocupava em gastar em Paris todos os lucros possíveis do marido. Talvez por esse motivo tivesse legado a Gustavo algo em seu testamento. Gustavo só não conseguia ter a resposta do quê. Dono de uma empresa próspera e latifúndios férteis onde cultivava a cana, matéria-prima para produzir a cachaça de qualidade, Gustavo julgava impossível que o tio lhe tivesse deixado alguma dessas coisas. Deve ser algo pequeno, uma lembrança, concluiu o rapaz, concentrando-se na avenida à sua frente.
Em poucos minutos chegou à capela onde estava acontecendo e velório e estacionou o automóvel negro em um local próximo, tendo de caminhar um pouco até a entrada principal. Apesar do adiantado da hora, varando a madrugada, não era de se admirar que houvesse tantas pessoas dentro e fora da capela, conversando aos sussurros e aceitando chá quente de abacaxi que era servido por garçons uniformizados. À medida que avançava para dentro da capela, Gustavo era parado por presentes para receber os cumprimentos e pêsames. Diplomaticamente, agradecia, mas desejava mesmo estar longe daquele lugar com cheiro de morte.
Ao adentrar a capela, avistou sua mãe parada ao lado do caixão, chorando no ombro de Melissa, e encaminhou-se em direção a ela rapidamente, indiferente às mãos que se estenderam à frente do seu caminho. Queria apenas abraçá-la. E foi o que fez.
- Mãe… - sussurrou quando envolveu-a em um abraço forte e quente, deixando que ela chorasse profusamente sobre o seu terno. - Eu sinto tanto…
- Que bom que você veio - ela respondeu, balançada por um poderosos soluço.
- Estou aqui, mãe. Vai ficar tudo bem.
- Gu… - Melissa interrompeu meio sem jeito. - O advogado do tio Elísio pediu que fosse falar com ele assim que você chegasse. É importante.
- Que droga de herança é essa que não pode esperar nem o enterro?! Tio Elísio ainda está quente - Gustavo retrucou em tom baixo para que apenas a irmã conseguisse ouvi-lo.
- Ele informou que precisa viajar pela manhã e, por isso, vocês têm de se encontrar ainda hoje.
- Fica com a mãe, então, que eu vou conversar com ele - Gustavo beijou o rosto da mãe e saiu a passos largos da capela.
- Como é que é?! Você só pode estar brincando comigo - esbravejou Gustavo entre um risinho desacreditado. - É sério isso?
- Seríssimo - o advogado respondeu, soltando uma cortina de fumaça tragada do cigarro. Os dois conversavam do lado de fora da capela, um tanto distante dos presentes, sob a luminosidade da lua. A rua vazia fazia com que suas vozes se amplificassem. - Foi a última coisa que ele pediu que eu incluísse no testamento antes de morrer e que fosse feita de imediato. Você conhece a propriedade?
- Claro que conheço! - Gustavo bufou irritado. - É o maior fracasso da família, motivo de piada nos nossos almoços de domingo. O que que eu vou fazer com aquilo? Está caindo aos pedaços, não vai me servir para nada!
- Você pode recusar, se quiser - esclareceu o advogado.
- Então, eu quero recusar.
- Mas acredito que seja mais prudente que você converse com o restante da família antes de fazê-lo.
- Não é necessário. Todos vão concordar comigo. Aquele bar foi o maior erro da vida do tio Elísio, ele mesmo renegou aquilo, deixou jogado às traças. Por que diabos eu iria aceitar?
- Para deixar de viver às minhas costas - uma voz sonora e grave trovejou às suas costas, surgindo de detrás dos carros estacionados. Gustavo virou-se para encarar o pai que se aproximava. - Ou você pensa que vou bancar a sua vida boa para sempre?
- Nunca pedi um centavo do senhor - retorquiu Gustavo, impondo-se em frente ao pai, um senhor alto, corpulento e grisalho, que tinha nos cantos da boca uma expressão amarga e característica.
- Maldita hora que eu não deixei você afundar dentro daquele carro - o velho Bismark cuspiu as palavras do alto do seu desprezo por Gustavo.
- Pois devia! - o grito do rapaz propagou-se pela rua e chamou a atenção das pessoas que estavam paradas fora da capela. - Pelo menos hoje eu não seria obrigado a ver essa sua cara de monstro o tempo inteiro!
- Por favor, senhores, vamos manter a calma - o advogado tentou em vão apaziguar a situação.
- Você só tem me dados desgosto, Gustavo! Como eu me arrependo de ter cedido aos seus caprichos sempre que você pedia!
- O problema nunca fui eu, pai! O problema é o senhor! A sua amargura, o seu ódio pelo mundo, a sua habilidade de menosprezar e humilhar as pessoas...de humilhar o próprio filho! É por isso que está sozinho! - dito isso, Gustavo virou-se para o advogado. - Passo no escritório do senhor para assinar todos os documentos pendentes.
- Então, o senhor vai aceitar a herança? - assustou-se o advogado diante de uma cena tão embaraçosa.
- Vou. - Sem mais conversa, Gustavo rumou de volta para a capela, visivelmente irritado.
***
- O que você vai fazer com aquilo? - Melissa perguntou, enquanto dirigiam-se em direção a uma mesa no centro do restaurante, acompanhada por Gustavo.
- Ainda não sei. Implodir, atear fogo, doar como abrigo para mendigos. Ainda não tive tempo de pensar na solução mais criativa.
Gustavo e Melissa tinham saído do enterro e resolvido almoçar juntos, depois de passar em casa e deixar sua mãe sob os cuidados dos outros familiares. Dopada, ela não sentiria a falta deles, e a presença de Bismark na casa enojava Gustavo. Por tal razão, preferiam se afastar a almoçar sozinhos no restaurante do Hotel Fasano, em Ipanema.
- Você ganhou e presente um belo elefante branco - Melissa sorriu, deixando-se conduzir pelo maître até a mesa que tinham reservado.
- Eu sempre soube que tio Elísio nunca gostou de mim, mas não sabia que ele me odiava. Não tenho como manter aquele lugar. Talvez, a melhor solução mesmo seja atear fogo - Gustavo sorriu, sentando-se e recebendo o menu.
- Vocês vão beber alguma coisa? - indagou o maître.
- Um suco de limão, por favor - pediu Gustavo.
- O mesmo para mim - Melissa era uma bela mulher no auge dos seus vinte e sete anos, cabelos acastanhados e longos, com cachos volumosos. O rosto levemente rosado, encantador, capaz de entorpecer qualquer homem. - Não vamos ser pessimistas. Quem sabe você não consegue tirar aquele lugar do limbo e trazer ele das cinzas.
- Também não vamos ser irreais demais, Melissa. Aquilo nunca vingou. É mal localizado, ninguém sabe que existe, e está em ruínas.
- Você pode reformar…
- Não acredito que o investimento valha a pena. É possível que o retorno nunca venha, assim como aconteceu com tio Elísio. Por isso ele abandonou o negócio.
- É um imóvel, Gustavo. Não acredito que você deva se desfazer dele assim tão rapidamente, sem nem pedir para que um corretor avalie.
- Não precisa. Eu mesmo avalio. Não vale nada. Nunca valeu. A maior loucura que tio Elísio fez na vida dele. Mas, como ele tinha muito dinheiro, não fez nem cócegas nos bolsos dele. De qualquer forma, vou esperar a mãe melhorar e conversar com ela para saber o que ela acha sobre isso.
- Você recebeu a herança com resistência, por isso não quer ver o que pode haver de bom nela.
- Não sei. Melissa. Mas, com certeza, o que há nela é muita dor de cabeça.
- Olha quem está entrando no restaurante… - Melissa sussurrou, lançando um olhar de esguelha para a entrada.
Por cima dos ombros, Gustavo avistou Yury entrando no Fasano na companhia do pai. Os dois conversavam calorosamente sobre alguma coisa que ele presumiu ser o novo projeto para os coreanos. Nas mãos, Yury trazia alguns tubos brancos onde, provavelmente, estavam as plantas do projeto. Ver Yury ali roubou-lhe a sanidade por um momento e, de ímpeto, Gustavo levantou-se da mesa e foi ao encontro dele, sorrido e abrindo os braços para recebê-lo.
- Ainda bem que está aqui, tenho coisas para te contar - Gustavo abraçou-o.
Contudo, no mesmo instante, Yury retraiu-se e, com uma polidez exacerbada, repeliu o abraço de Gustavo, mostrando-se encabulado. Ao lado, o pai de Yury assistia à cena.
- Desculpa, - disse Yury, afastando-se - acredito que você esteja me confundido com alguém.
- Tudo bem com você, rapaz? - perguntou o pai de Yury, sem entender o que estava acontecendo.
- Sim… - desconcertado, Gustavo respondeu. O rosto ruborizado de vergonha queimava e ardia. - Foi só uma distração...um engano…
Gustavo olhou uma vez mais para Yury, que desviou o olhar e sentou-se a uma mesa próxima. De pé, no meio do restaurante, permaneceu assim, sabendo que todos os olhares do lugar estavam sobre ele naquele momento. Envergonhado, sorriu formalmente para o pai de Yury e começou a seguir em direção à saída. Rapidamente, Melissa conseguiu alcançá-lo, sem compreender o que tinha acabado de acontecer.
- Gustavo, espera! O que houve - ela corria para acompanhar o passo do irmão.
- Vamos embora, Mel. A gente almoça em outro lugar - o rancor em suas voz era evidente.
Autor(a): tiagofsantos
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
O automóvel cantou pneus na ponte e, descontrolado,atravessou as duas pistas antes de arrebentar violentamente a balaústre de proteção e cair em direção ao mar bravio abaixo. Dentro do carro, Gustavo não reagia. De mãos presas no volante, encarava assustado a imensidão azul que se aproximava do para-bri ...
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