Fanfic: Mais que confidentes | Tema: Big Brother Brasil

Marcelo sentou-se na cadeira com os olhos fechados, ouvindo o ruído do secador, enquanto deixava que Jack fizesse sua mágica. Havia acordado tarde naquela manhã, e fora ao salão cuidar dos cabelos e da barba.

Sorriu. Estava pensando em como tinha gostado de maquiá-la e aquilo foi improvisado. Gostou de ficar tão perto dela, tocar a pele de Angela, sentir o calor de seu corpo...

— Por que está sorrindo? Você ainda não viu como ficou sem a barba. — A voz de Jack o distraiu. — Ou está pensando numa certa magrela que esteve por aqui?

Marcelo abriu os olhos e lançou um olhar letal a Jack. O cabeleireiro desligou o secador, ignorando-o.

— Sou capaz de reconhecer esse sorriso em qualquer lugar, mesmo que nunca esperei vê-lo em você, querido.

Marcelo ergueu-se e se olhou no espelho, ignorando.

— Estou pronto?

— Ainda não. — Jack o puxou de volta para a cadeira.

— Não tem o direito de sair por aí espalhando cabelos pelo salão inteiro apenas porque eu descobri seu terrível segredo.

Marcelo franziu o cenho para si mesmo no espelho, avaliando o resultado.

— Sabe de uma coisa, percebi que você não está negando nada.

— Isso é porque estou ocupado te ignorando.

— Negue. Olhe para mim e diga que não está apaixonado por Angela.

— Eu não estou apaixonado por...

Marcelo se calou e desviou o olhar. Às vezes ser sincero demais o entregava mesmo que fizesse esforço.

— Não consigo!

Deixando de provocá-lo, Jack cruzou os braços.

— Marcelo, se gosta dela, por que diabos a está ajudando a fazer outro homem se interessar por ela?

— Quero que ela seja feliz — respondeu simplesmente.

Jack começou a rir.

— Você quer que ela seja feliz... — ironizou. — Lindo! Marcelo, eu não tinha ideia de que você fosse tão idiota! Nunca lhe ocorreu que Angela ficaria feliz se você revelasse seu segredo?

— Ela não me quer. Angela só me enxerga como amigo.

— Diga que a quer, Marcelo, ou eu mesmo vou contar a ela!

Angela atendeu ao telefone no primeiro toque.

— Alô?

— Sou eu.

— Marcelo, graças a Deus! Estava preocupada com você.

— Eu lhe disse ontem à noite que tinha marcado horário com Jack para cortar os cabelos.

Marcelo fez uma pausa.

— Ele... Ele não ligou para você, ligou?

— Jack? Por que ele ligaria para mim?

— Não sei. Ouça, estou muito atrasado.

— Sim. Você saiu e ficou tanto tempo fora que comecei a pensar que...

— Que...?

— Nada. — Angela suspirou, arrependida por ser tão impulsiva.

— No que você começou a pensar?

— Esqueça.

— No que? — Marcelo insistiu. — Que eu tinha ido embora?

— É... sim — ela admitiu.

Marcelo havia saído de manhã. No começo achou normal, mas conforme as horas passavam, tinha começado a pensar no pior.

— Muito obrigado por confiar em mim. — Todo o humor desapareceu da voz dele. — Quando foi a última vez que prometi alguma coisa e não cumpri?

— Nunca. Mas você anda tão estranho que pensei que...

— Você está enganada — ele a cortou. — Eu estou na loja. O alfaiate está terminando os ajustes no meu smoking. Vou para o apartamento o mais rápido que puder.

— Sinto muito, mas não posso esperar por você.

—Tem certeza de que não pode esperar? — ele indagou sem esconder a frustração. — Eu gostaria de ajudá-la.

— Não se preocupe. Eu mesma posso cuidar disso.

— Está bem. Use o vestido branco.

— Já estou usando.

— É mesmo? — O bom humor de Marcelo foi restaurado. — Isso é quase um milagre! Eu achei que teria de obrigá-la a colocar esse vestido.

Uma imagem do Marcelo vestindo-a passou pela sua mente e se envergonhou por isso.

— Tenho de ir. Tente não se atrasar.

— Talvez você não me reconheça com os cabelos curtos — ele provocou. — Caso isso aconteça, procure pelo homem mais elegante da festa.

Angela nunca vira tantos homens de smoking em sua vida.

O vestido branco, que ela havia considerado extravagante, tinha desaparecido em meio a tanto luxo.

Angela avistou Gabriel próximo à entrada da sala que seria usada para o discurso de Harcourt. Ele estava ainda mais atraente de smoking.

Seu estômago se apertou quando tentou imaginar uma conversa com ele. Poderia administrar as emoções enquanto falava de negócios, mas depois que terminassem de discutir a agenda de trabalho, não saberia mais o que dizer. Não tinha ideia dos interesses dele.

Enquanto o observava, aproximando-se lentamente, outro homem muito elegante o cumprimentou. Ele estava de costas para ela.

Não, não podia ser.

Naquele momento, Gabriel olhou ao redor e, ao vê-la, arregalou os olhos. Sorriu e, sem perder o contato visual, disse alguma coisa para o homem ao seu lado. Quando ele se virou, Angela identificou. Marcelo.

Ela se esqueceu de respirar. Sentiu o pulso acelerar enquanto a boca secava.

Quando se fitaram, Marcelo sorriu. Os olhos dele pareciam profundos ao percorrê-la de cima a baixo.

— Olá. – Gaguejou

Como se sentiu tão nervosa com a presença dele, Angela não entendeu.

— Olá. — Marcelo fez um gesto discreto e deu-lhe as costas. Angela seguiu o olhar dele. Gabriel! Ela quase se esquecera da presença dele.

— Boa noite. — Tomou a mão que ele oferecia. — Está preparado?

— Absolutamente. — Gabriel afirmou com um sorriso. — Você está linda.

Ele ainda segurava sua mão, e Angela puxou-a com delicadeza.

— Obrigada.

Com o canto dos olhos, viu que Marcelo sumia em meio à multidão. Estava apenas lhe dando privacidade.

Do outro lado da sala, Marcelo observou Angela conversar com Gabriel. A postura dela revelava que estava tensa. Ela precisava de ajuda. Ela precisava de uma mudança de atitude.

Viu Angela dizer alguma coisa que fez Gabriel rir. Porém, não era uma risada honesta.

Pensativo, Marcelo abriu caminho entre a multidão e seguiu Angela para outra sala.

Ela estava parada na porta principal, conversando com Gabriel e com Roberto, seu assistente. Viu quando Roberto se afastou, e percebeu o quanto ela ficou ainda mais tensa. Depois, Gabriel também desapareceu.

— Olá — Marcelo disse às costas dela. — A banda começou a tocar. O que acha de dançarmos?

— Desde quando você sabe dançar? — Angela ergueu uma sobrancelha. — Não é como se isso fosse uma das suas melhores qualidades.

— Minha mãe me ensinou.

— Você deve estar brincando!

— Não, não estou. Ela me disse que boa aparência não é tudo. Há três coisas que um homem tem de aprender na vida para ser bem-sucedido. Uma delas é dançar.

Marcelo colocou a mão dela sobre seu braço e conduziu-a até o salão.

— Quais são as outras duas? — perguntou, curiosa.

— Pesquisa — ele esclareceu. — Ela dizia que memorizar as respostas para um teste não faz que um homem seja inteligente, e sim um papagaio. Mas alguém que sabe pesquisar tem as respostas para praticamente qualquer questão na ponta dos dedos.

A banda tocava uma melodia lenta, e Marcelo levou-a para a pista.

— Certo, você pode saber dançar, mas eu não sei.

— Apenas acompanhe meus passos. Como foi com Gabriel?

— Ele me deixa nervosa — Angela admitiu.

— Eu notei.

— Fiz uma piada, e acho que ele não entendeu. Gostaria que...

Que fosse fácil como é com você. Completou Angela em pensamento.

— O que?

 Marcelo fitou aqueles incríveis olhos, tão suaves e puros.

— Nada. Só queria entender como você sabe a diferença entre amor e desejo?

— Está perguntando para a pessoa errada, tenho pouca experiência com amor.

— Não acredito nisso, Marcelo. Não pelo o que você já me contou.

— Nunca foi real. Eu me apaixonei de verdade somente uma vez.

— Então, há diferenças... Diga-me quais são.

— Angela...

— Por favor. Você é a única pessoa no mundo com quem posso conversar sobre isso e não me sentir desconfortável.

Ele permaneceu em silêncio.

— Você soube que era amor antes ou depois de dormir com ela? — Angela perguntou.

Marcelo se negou a responder.

— Angela...

— Marcelo...

— Antes. Eu soube antes.

— Tem certeza?

— Absoluta.

— Como pode ter tanta certeza?

— Porque nunca fiz sexo com ela.

Marcelo viu a surpresa nos olhos de Angela.

— Você deve estar brincando!

— Podemos falar de outra coisa? 

Marcelo parecia desesperado

— Como você pode estar apaixonado por alguém e não...

A falta de palavras calou Angela. E ficou simplesmente encarando o rosto de Marcelo. Percebeu como se encaixavam perfeitamente.

Fechou os olhos, imaginando um mundo onde Marcelo a enxergasse como uma mulher, e não apenas como amiga. Ele a manteria bem pertinho, e ela se derreteria...

— Sinto muito, mas me recuso a acreditar que exista uma mulher no mundo que te rejeitaria.

Marcelo apenas riu.