Fanfic: A culpa e das estrelas_História original | Tema: A culpa e das estrelas
Depois disso, fiquei sem falar com o Augustus mais ou menos uma semana. Liguei para ele na Noite dos Troféus Destroçados e, como manda a tradição, agora era a vez dele de me ligar. Mas não
ligou. Não que eu estivesse com o celular na mão suada o dia inteiro, olhando para o aparelho, usando meu Vestido Amarelo Especial, esperando pacientemente que meu cavalheiro fizesse jus à sua alcunha.
Segui a vida normalmente: encontrei com a Kaitlyn e com seu (bonitinho mas francamente nada augustiniano) namorado para tomar um café numa tarde dessas; tomei a dose diária recomendada de Falanxifor; assisti às
aulas em três manhãs no MCC, e todas as noites sentei à mesa para jantar com minha mãe e meu pai.
Domingo à noite, comemos pizza com pimentão verde e brócolis.
Estávamos sentados em volta da nossa pequena mesa redonda na cozinha quando meu celular começou a tocar, mas eu não podia nem colocar a mão nele pois nós seguimos uma regra rígida de nada-de-telefone-na-horado-jantar.Então comi um pouco enquanto mamãe e papai conversavam sobre um terremoto que tinha acabado de acontecer em Papua-Nova Guiné.
Eles se conheceram no Corpo da Paz em Papua-Nova Guiné, por isso, sempre que alguma coisa acontecia por lá, mesmo sendo algo terrível, era como se, de repente, eles não fossem mais duas criaturas gordas e sedentárias, mas sim os jovens, idealistas, independentes e radicais que foram um dia. O êxtase deles era tão grande que nem sequer olharam para mim enquanto eu comia mais rápido que nunca, passando a comida do prato para a boca com uma velocidade e uma ferocidade que me fizeram até ficar um pouco sem fôlego, o que obviamente me deixou com medo de meus pulmões estarem de novo nadando numa piscina cheia de líquido.
Tentei ao máximo afastar esse pensamento. Eu tinha uma tomografia agendada para dali a duas semanas. Se algo estivesse errado, eu saberia logo. Não adiantava nada começar a me preocupar naquela hora.
Mas, mesmo assim, eu me preocupava. Gostava de ser uma pessoa. E queria continuar sendo. A preocupação também é outro efeito colateral de se estar morrendo.
Por fim, acabei de comer e disse:
"Vocês me dão licença?"
Mas eles não fizeram sequer uma pausa na conversa que estavam tendo sobre o que funcionava e o que não funcionava na infraestrutura guineana. Peguei o celular na bolsa, que estava na bancada da cozinha, e conferi as chamadas recentes. Augustus Waters. Saí pela porta dos fundos, em meio ao crepúsculo. Avistei o balanço, e pensei em andar até lá e me balançar enquanto falava com ele, mas a distância parecia muito grande levando em conta o fato de que comer já tinha me deixado cansada.
Em vez disso, deitei na grama junto à varanda, olhei para Órion, a única constelação que eu conseguia reconhecer, e liguei para ele.
— Hazel Grace — ele disse.
— Oi — falei. — Tudo bem?
— Maravilha — respondeu. — Tenho sentido vontade de ligar para você quase de minuto em minuto, mas estava esperando conseguir elaborar um pensamento coerente em ref. a Uma aflição imperial. (Ele disse "em ref.". Sem brincadeira. Aquele cara.)
— E? — perguntei.
— Acho que ele é, tipo. Ao ler esse livro, eu fico sentindo como se, se…
— Como se? — questionei, de provocação.
— Como se fosse um presente? — ele completou, num tom interrogativo. — Como se você tivesse me dado uma coisa importante.
— Ah — falei baixinho.
— Isso é brega — ele disse. — Foi mal.
— Não — falei. — Não. Não precisa se desculpar. — Mas o livro não termina.
— É — concordei.
— Tortura. Eu entendi totalmente, tipo, entendi que ela morre ou sei lá o quê.
— Isso mesmo, foi o que eu deduzi — falei.
— E, tudo bem, é justo, mas existe um contrato silencioso entre autor e leitor, e acho que o fato de ele não terminar a história do livro meio que viola esse contrato.
— Não sei — ponderei, me colocando na defensiva por Peter Van Houten. — De certa forma, esse é um dos motivos pelos quais eu gosto do livro. Ele registra a morte com fidelidade. Você morre no meio da vida, no meio de uma frase. Mas eu quero, ai, como eu quero saber o que acontece com os outros. Foi isso o que perguntei a ele nas minhas cartas. Mas, sabe como é, ele nunca respondeu...
— Tá. Você disse que ele vive recluso?
— Exatamente.
— Que é impossível de ser localizado?
— Exatamente.
— Totalmente inalcançável — o Augustus disse.
— Infelizmente, sim — falei.
— "Prezado Sr. Waters" — ele continuou. — "Escrevo para agradecer sua correspondência eletrônica, recebida por intermédio da Srta. Vliegenthart neste dia seis de abril, enviada dos Estados Unidos da América, conquanto se possa dizer que a geografia ainda exista na nossa contemporaneidade triunfantemente digitalizada."
— Augustus, que diabos é isso?
— Ele tem uma assistente — o Augustus disse. — Lidewij Vliegenthart. Achei o contato dela. Mandei um e-mail para ela. Ela repassou a mensagem para ele. Ele respondeu usando a conta dela.
— Tá, tá. Continue lendo.
— ‚Minha resposta está sendo escrita com tinta e papel na tradição gloriosa de nossos ancestrais e, em seguida, transcrita pela Srta. Vliegenthart numa série de 1s e 0s que viajam através da rede enfadonha que vem iludindo nossa espécie nos últimos tempos, por isso peço perdão por quaisquer erros ou omissões que disso possam resultar.
‚Dada a orgia de entretenimento à disposição dos jovens de sua geração, fico grato por qualquer um, em qualquer lugar, que destine a quantidade de horas necessárias para ler meu humilde livro. Mas me sinto especialmente em dívida com sua pessoa, senhor, tanto por suas gentis palavras a respeito de Uma aflição imperial quanto por se dar o trabalho de me dizer que o livro, e aqui o cito ipsis litteris, ‘significou muito mesmo’ para o senhor.
‚Esse comentário, no entanto, leva-me a elucubrar: o que quer dizer com significou? Dada a frivolidade derradeira de nossa luta pela vida, terá algum valor a efêmera carga de significado que a arte nos empresta? Ou o único valor estará em passarmos o tempo o mais confortavelmente possível? O que uma história ficcional deveria pretender emular, Augustus? O soar de um alarme? Um grito de guerra? Uma injeção de morfina? Obviamente, como todas as interrogações do universo, esta linha de investigação inevitavelmente reduz-nos a perguntar o que significa ser humano e — pegando emprestada uma frase dos jovens angustiados de dezesseis anos que o senhor sem dúvida repudia — se há algum sentido nisso tudo.
‚Temo que não haja, caro amigo, e que você receberia alentos insuficientes em encontros ulteriores com minha composição literária.
Porém, respondendo a sua pergunta: não, não escrevi nada mais, nem escreverei. Não creio que continuar a compartilhar meus pensamentos com os leitores irá beneficiá-los, ou a mim. Obrigado, novamente, por seu generoso e-mail.
"Atenciosamente, Peter Van Houten, por intermédio de Lidewij Vliegenthart."
— Uau — falei. — Você está inventando isso?
— Hazel Grace, eu seria capaz, com minha capacidade intelectual limitada, de escrever uma carta fingindo ser o Peter Van Houten, com frases como "nossa contemporaneidade triunfantemente digitalizada"?
— Não, não seria — admiti. — Você pode… você pode me passar o endereço de e-mail?
— Claro — o Augustus respondeu, como se não fosse o melhor presente do mundo.
Passei as duas horas que se seguiram escrevendo um e-mail para o Peter Van Houten. Parecia piorar a cada vez que eu reescrevia, mas eu não conseguia parar.
Prezado Sr. Peter Van Houten (a/c Lidewij Vliegenthart),
Meu nome é Hazel Grace Lancaster. Meu amigo, Augustus Waters, que leu Uma aflição imperial seguindo minha recomendação, acabou de receber um e-mail do senhor desse endereço. Espero que não se importe
pelo fato de o Augustus ter compartilhado o e-mail comigo.
Sr. Van Houten, eu entendo, pelo conteúdo da sua mensagem para o Augustus, que o senhor não planeja publicar outros livros. De certa forma, estou desapontada, mas também aliviada: não vou precisar mais temer que seu próximo livro não fique à altura da magnífica perfeição do primeiro.
Como sobrevivente, há três anos, de um câncer em estágio IV, posso dizer que o senhor acertou todas as medidas no Uma aflição imperial. Ou pelo menos o senhor acertou todas as minhas medidas. Seu livro tem um jeito de me dizer o que estou sentindo antes mesmo de eu sentir, e já o li várias vezes.
No entanto, gostaria de saber se o senhor se importaria em responder a algumas perguntas sobre o que acontece após o término do livro.
Entendo que acaba porque a Anna morre ou fica tão doente que não consegue mais escrever, só que eu gostaria muito mesmo de saber o que acontece com a mãe da Anna — se ela se casa com o Homem das Tulipas Holandês, se chega a ter outro filho, se continua no endereço 917 W. Temple etc. Além disso, o Homem das Tulipas Holandês é um vigarista ou ele as ama de verdade? O que acontece com os amigos da Anna — em especial a Claire e o Jake? Eles ficam juntos? E, para concluir — imagino que este seja o tipo de pergunta profunda e significativa que o senhor sempre esperou que seus leitores fizessem —, o que acontece com Sísifo, o hamster? Essas questões vêm me atormentando há anos — e não sei quanto tempo vou poder esperar pelas respostas.
Sei que não são perguntas literariamente importantes e que o livro é cheio de perguntas literariamente importantes, mas gostaria muito mesmo de saber.
E, é claro, se o senhor algum dia resolver escrever qualquer outra coisa, mesmo que não queira publicar, eu adoraria ler. Para ser sincera, eu leria até a sua lista de compras de supermercado.
Atenciosamente e com grande admiração, Hazel Grace Lancaster (16 anos)
Assim que enviei a mensagem, liguei para o Augustus e nós ficamos acordados até tarde falando do Uma aflição imperial, e li para ele o poema da Emily Dickinson de onde o Van Houten tirou um dos versos que usou como título, e ele disse que eu era ótima recitando poemas e que não fazia pausas muito longas nas quebras dos versos, e aí ele me disse que o sexto livro da série "O preço do alvorecer" — O sangue aprova — "começa com a citação de uma parte de um poema. Ele demorou um pouco para achar o livro, mas por fim leu o trecho para mim: ‚Dizer que sua vida acabou. O último beijo bem dado / Você deu e está distante no passado."
— Nada mal — falei. — Mas pretensioso. Acho que o Max Mayhem chamaria isso de "coisa de maricas".
— É, e sem dúvida diria isso com os dentes cerrados. Caramba, como o Mayhem cerra os dentes nesses livros. Com certeza vai acabar tendo distúrbio de ATM se sobreviver a todos os combates. — E, então, depois de alguns segundos, o Gus perguntou: — Quando foi seu último beijo bem dado?
Parei para pensar. Meus beijos — todos pré-diagnóstico — tinham sido meio sem jeito e muito babados, e, em algum nível, sempre tive a sensação de que éramos crianças brincando de ser adultos. Mas, obviamente, isso foi há muito tempo.
— Há muitos anos — respondi, por fim. — E você?
— Eu dei alguns beijos bem dados na minha ex-namorada, Caroline Mathers.
— Há muitos anos?
— O último foi há menos de um ano.
— O que aconteceu?
— Durante o beijo?
— Não, com você e a Caroline.
— Ah — ele disse. E então, depois de alguns segundos: — A Caroline não sofre mais de "pessoalidade".
— Ah — falei.
— É — ele disse.
— Sinto muito — completei.
Eu conheci várias pessoas que morreram, lógico. Mas nunca namorei uma. Não conseguia nem imaginar isso, sério.
— Não é culpa sua, Hazel Grace. Somos todos apenas efeitos colaterais, certo?
— Cracas no navio cargueiro da consciência — falei, citando o UAI.
— O.k. — ele disse. — Preciso ir dormir. Já é quase uma hora.
— O.k. — falei.
— O.k. — ele disse.
Eu ri e repeti:
— O.k.
Aí a linha ficou silenciosa, mas não completamente muda. Era quase como se ele estivesse ali no meu quarto comigo, mas de um jeito ainda melhor — como se eu não estivesse no meu quarto e ele, não no dele, mas, em vez disso, estivéssemos juntos numa invisível e tênue terceira dimensão até onde só podíamos ir pelo telefone.
— O.k. — ele disse, depois do que pareceu ser uma eternidade. —
Talvez o.k. venha a ser o nosso sempre. — O.k. — falei.
E foi o Augustus quem desligou.
Peter Van Houten respondeu ao e-mail do Augustus quatro horas depois, mas já se tinham passado dois dias e ele ainda não havia respondido ao meu. O Augustus me garantiu que era porque minha mensagem era melhor e exigia uma resposta mais elaborada, que o Van Houten estava ocupado redigindo as respostas às minhas perguntas e que uma prosa genial demorava para ser escrita. Mas, ainda sim, fiquei tensa.
Na quarta-feira, durante a aula de Poesia Norte-americana para Leigos 101, recebi uma mensagem de texto do Augustus: O Isaac saiu da cirurgia. Correu tudo bem. Ele está oficialmente SEC.
SEC queria dizer "sem evidência de câncer".
Uma segunda mensagem de texto chegou alguns segundos depois.
Quer dizer, ele está cego. Então é ruim.
Naquela tarde, mamãe concordou em me emprestar o carro para que eu pudesse ir até o Memorial visitar o Isaac.
Fui até o quarto dele no quinto andar, bati à porta mesmo estando aberta e uma voz de mulher disse:
— Entre.
Era uma enfermeira que estava fazendo alguma coisa com as ataduras nos olhos dele.
— Oi, Isaac — falei.
— Monica? — ele perguntou.
— Ah, não. Foi mal. Não. É a Hazel. A Hazel do Grupo de Apoio? A Hazel da noite-dos-troféus-destroçados?
— Ah — ele disse. — Pois é. As pessoas ficam me dizendo que os outros sentidos vão ficar mais aguçados para compensar, mas ISSO OBVIAMENTE AINDA NÃO ACONTECEU. Oi, Hazel do Grupo de Apoio. Chegue mais perto para que eu possa examinar seu rosto com as mãos e enxergar sua alma com mais profundidade do que qualquer outro ser que tenha o dom da visão.
— Ele está brincando — disse a enfermeira.
— É — falei. — Deu para perceber.
Dei alguns passos na direção do leito. Puxei uma cadeira e me sentei, pegando na mão dele.
— E aí? — falei.
— E aí? — ele disse.
E aí ficamos em silêncio um tempo.
— Como você está se sentindo? — perguntei.
— Bem — ele disse. — Não sei.
— O que você não sabe?
Olhei para a mão dele porque não queria encarar o rosto vendado pelas ataduras. O Isaac roía as unhas, e pude ver que havia sangue nos cantos de alguns dedos.
— Ela nem me visitou — ele comentou. — Tipo, nós ficamos juntos um ano e dois meses. Um ano e dois meses é muito tempo. Cara, isso dói.
O Isaac soltou minha mão para tatear à procura da bombinha que você pressiona para receber uma dose de analgésicos.
A enfermeira, ao terminar de trocar a atadura, deu um passo atrás.
— Só faz um dia, Isaac — ela disse, o tom de voz meio condescendente. — Você precisa de um tempo para se recuperar. E um ano e dois meses não é tanto tempo assim, não num contexto maior. Você está só começando a vida, rapaz. Você vai ver.
A enfermeira foi embora.
— Ela já saiu?
Eu fiz que sim com a cabeça, mas me dei conta de que ele não pôde ver meu gesto. — Saiu — falei.
— Eu vou ver? Sério? Ela disse isso de verdade?
— Qualidades de uma Boa Enfermeira: Liste — pedi.
— Primeira: não fazer trocadilhos com a deficiência alheia — o Isaac começou.
— Segunda: tirar o sangue na primeira tentativa — continuei.
— Na moral, essa é mega importante. Tipo, esse é meu braço ou o alvo de um jogo de dardos? Terceira: não falar de um jeito condescendente.
— Como está passando, querido? — perguntei, fazendo cara de nojo.
— Vou enfiar uma agulha em você agora. Pode ser que doa um pouquinho.
— O queridinho da titia está dodoizinho? — ele continuou. E, então, após alguns segundos:
— A maioria delas é legal, na verdade. Mas só o que eu quero é sumir daqui.
— Daqui, tipo, do hospital?
— Daqui também — ele disse. E comprimiu os lábios. A dor era visível. — Posso ser honesto? Eu penso muito mais na Monica que no meu olho. Isso é loucura? É loucura.
— É um pouquinho — concordei.
— Mas eu acredito em amor verdadeiro, sabe? Não acho que todo mundo possa continuar tendo dois olhos nem que possa evitar ficar doente, e tal, mas todo mundo deveria ter um amor verdadeiro, que deveria durar pelo menos até o fim da vida da pessoa.
— É — falei. — Às vezes eu queria que nada disso tivesse acontecido. Nada de câncer. A fala dele foi ficando mais lenta. O analgésico estava fazendo efeito.
— Sinto muito — falei.
— O Gus veio aqui mais cedo. Ele estava aqui quando eu acordei. Matou aula. Ele… — A cabeça tombou um tiquinho para o lado. — Melhorou — falou baixinho.
— A dor? — perguntei.
Ele fez que sim com a cabeça, bem de leve. — Que bom — falei. E aí, como a egoísta que sou: — Você estava dizendo alguma coisa sobre o Gus?
Mas o Isaac já estava fora do ar.
Desci até a lojinha sem janelas do hospital e perguntei à voluntária idosa sentada num banco atrás da caixa registradora qual flor tinha o aroma mais marcante.
— Todas têm o mesmo cheiro. Elas recebem um jato de essência aromatizante — ela respondeu.
— Sério?
— É. Eles borrifam isso nas flores.
Abri a porta de vidro do refrigerador de flores à esquerda dela, cheirei algumas rosas e depois me inclinei sobre alguns cravos. Mesmo cheiro. E mega forte. Os cravos eram mais baratos, então peguei uma dúzia dos amarelos. Custaram quatorze dólares. Voltei para o quarto; a mãe do Isaac estava lá, segurando a mão dele. Ela era jovem e muito bonita.
— Você é amiga do Isaac? — perguntou, o que soou para mim como uma daquelas perguntas involuntariamente genéricas e irrespondíveis.
— Humm… é… Sou do Grupo de Apoio. As flores são para ele.
Ela as apanhou e pôs no colo.
— Você conhece a Monica? — perguntou.
Fiz que não com a cabeça.
— Bem, ele está dormindo — ela disse.
— É. Eu falei com ele alguns minutos atrás, quando estavam trocando as ataduras, e tal.
— Fiquei chateada por ter de deixá-lo nesse momento, mas precisei buscar o Graham na escola — ela disse.
— Correu tudo bem — falei. Ela balançou a cabeça afirmativamente.
— Eu deveria deixá-lo dormir em paz.
Ela balançou de novo a cabeça. Eu saí.
Na manhã seguinte, acordei cedo e fui logo verificar meus e-mails. lidewij.vliegenthart@gmail.com tinha finalmente respondido.
Cara Srta. Lancaster,
Temo que sua fé tenha sido depositada no lugar errado — mas, para falar a verdade, é isso o que geralmente acontece com a fé. Não posso responder às suas perguntas, pelo menos não por escrito, porque redigir tais respostas constituiria uma continuação de Uma aflição imperial, que a senhorita poderia acabar publicando ou compartilhando na rede global que substituiu os cérebros de sua geração. Poderíamos utilizar o telefone, mas, nesse caso, a senhorita poderia acabar gravando a conversa. Não que eu não confie em você, é claro, mas não confio em você. Ai de mim, cara Hazel, eu jamais poderia responder a tais perguntas exceto pessoalmente, e você está aí, ao passo que eu estou aqui.
Dito isso, devo confessar que o recebimento inesperado de sua correspondência por intermédio da Srta. Vliegenthart me alegrou: que maravilha saber que criei algo que lhe foi útil — embora esse livro pareça estar tão distante de mim que sinto como se tivesse sido escrito por um homem totalmente diferente.
(O autor daquele livro era, comparativamente falando, tão sensível, tão frágil, tão otimista!)
Entretanto, se algum dia por acaso se encontrar em Amsterdã, faça-me uma visita em seu tempo livre. Em geral, estou em casa. Eu até permitiria que você espiasse minha lista de compras.
Atenciosamente,
Peter Van Houten a/c Lidewij Vliegenthart
— O QUÊ?! — gritei bem alto. — QUE RAIO DE VIDA É ESSA?
Mamãe veio correndo.
— O que aconteceu?
— Nada — garanti a ela.
Ainda nervosa, mamãe se ajoelhou para verificar o Felipe e se certificar de que estava condensando o oxigênio direito. Eu me imaginei sentada num café ao ar livre num dia de sol com Peter Van Houten, ele com os cotovelos apoiados na mesa, falando baixinho para que ninguém mais ouvisse o depoimento do que aconteceu com os outros personagens. Passei vários anos pensando naquilo. Ele disse que não poderia me contar exceto pessoalmente, e aí me convidou para ir a Amsterdã. Expliquei tudo para minha mãe e concluí com:
— Preciso ir.
— Hazel, eu te amo, e você sabe que eu realizaria todos os seus desejos, mas nós não temos… não temos dinheiro para uma viagem internacional, e a despesa que teríamos com o aluguel de equipamentos por lá… meu amor, isso não é…
— É — falei, interrompendo a frase dela. Percebi o quão absurdo tinha sido eu sequer considerar aquela possibilidade. — Não se preocupe.
— Mas ela parecia preocupada. — É tão importante assim para você? — mamãe perguntou e se sentou, a mão na minha batata da perna.
— Seria simplesmente fantástico se eu fosse a única pessoa, além dele, a saber o que acontece — admiti. — Seria fantástico mesmo — ela comentou. — Vou falar com seu pai.
— Não. Não fale — eu disse. — Sério, por favor, não gaste dinheiro com isso. Vou pensar em alguma coisa.
Passou pela minha cabeça o fato de eu ser o motivo pelo qual meus pais estavam sempre sem dinheiro. Eu havia esgotado as economias da família com as doses de Falanxifor, e mamãe não podia trabalhar porque
tinha assumido o cargo de Pairar Sobre Mim em expediente integral. Eu não queria deixar os dois mais endividados ainda.
Disse à mamãe que eu queria ligar para o Augustus só para que ela saísse do quarto, porque eu não conseguia suportar aquela cara triste do tipo não-consigo-realizar-os-sonhos-da-minha-filha.
Seguindo o estilo Augustus Waters, li a mensagem para ele sem nem dizer alô.
— Uau — ele devolveu.
— Pois é — falei. — Como é que eu vou poder ir até Amsterdã?
— Você tem um Desejo? — ele perguntou, se referindo a uma instituição chamada Fundação Gênio, que se dedica a realizar um desejo de crianças doentes.
— Não — respondi. — Gastei o meu antes do Milagre.
— O que você fez?
Dei um suspiro bastante ruidoso.
— Eu tinha treze anos — comentei.
— Ah, não. Disney não — ele disse. Fiquei quieta. — Você não foi à Disney World. — Continuei quieta. — Hazel GRACE! — ele gritou. — Você não gastou seu único Desejo indo à Disney World com seus pais.
— Ao Epcot Center também — murmurei.
— Ai, meu Deus! — o Augustus disse. — Não acredito que eu esteja a fim de uma garota com desejos tão clichês.
— Eu tinha treze anos — repeti, embora, é claro, só conseguisse pensar no a fim, a fim, a fim, a fim, a fim. Eu estava lisonjeada mas mudei imediatamente de assunto. — Você não deveria estar na escola ou coisa assim?
— Matei aula para fazer companhia ao Isaac, mas ele está dormindo, por isso fiquei aqui no saguão estudando geometria.
— E como andam as coisas por aí? — perguntei.
— Não dá para saber ao certo se o Isaac simplesmente não está pronto para enfrentar a gravidade da deficiência dele ou se está mesmo se importando mais com o fato de ter levado um fora da Monica, mas ele não fala de outra coisa.
— É — eu disse. — Ele vai ficar no hospital por quanto tempo?
— Alguns dias. Depois disso vai para uma clínica de reabilitação ou coisa do gênero por um tempo, mas tem permissão para dormir em casa.
— Que droga isso — eu disse.
— A mãe dele está vindo. Tenho que ir.
— O.k.
— O.k. — ele respondeu, e pude ouvir o sorriso torto em sua voz.
No sábado, meus pais e eu fomos à feira em Broad Ripple. O dia estava ensolarado, o que é raro em Indiana no mês de abril, e todo mundo lá na feira estava de manga curta, ainda que a temperatura não justificasse isso.
Nós, habitantes de Indiana — os famosos hoosiers —, somos excessivamente otimistas com relação ao verão. Mamãe e eu nos sentamos num banco de frente para um fabricante de sabonete de leite de cabra —um homem de macacão que tinha de explicar a cada uma das pessoas que passava por ali que, sim, as cabras eram dele e, não, sabonete de leite de cabra não cheira a cabra.
Meu celular tocou.
— Quem é? — Mamãe perguntou antes mesmo que eu olhasse para o aparelho.
— Não sei — respondi, mas era o Gus.
— Você está em casa? — ele perguntou.
— Ah, não — eu disse. — Essa era uma pergunta retórica. Eu já sabia a resposta porque estou na sua casa.
— Ah. Humm. Bem, nós estamos a caminho, acho.
— Beleza. Vejo você daqui a pouco.
Vimos o Augustus Waters sentado na escada quando embicamos na entrada de carros. Ele segurava um buquê de tulipas cor de laranja prestes a desabrochar e estava usando uma camiseta do Indiana Pacers por baixo do casaco, uma escolha de indumentária que parecia totalmente despropositada, mas até que caía bem nele. Ele fez força para se levantar, me entregou as tulipas e perguntou:
— Vamos sair para um piquenique?
Eu fiz que sim com a cabeça, pegando as flores. Meu pai veio por trás de mim e cumprimentou o Gus com um aperto de mão.
— Essa é a camiseta do Rik Smits? — perguntou.
— Essa mesma.
— Nossa, eu adorava esse cara — papai disse, e os dois engrenaram imediatamente uma conversa sobre basquete da qual eu não tinha condições de (e nem queria) participar, então levei minhas tulipas para dentro de casa.
— Você quer que eu as coloque num vaso? — mamãe perguntou assim que entrei, sorrindo de orelha a orelha.
— Não, obrigada — respondi.
Se colocássemos as tulipas num vaso na sala de estar, elas seriam de todos. E eu queria que fossem só minhas.
Fui para o meu quarto mas não troquei de roupa. Penteei o cabelo, escovei os dentes, coloquei brilho labial e a menor quantidade de perfume possível, o tempo todo espiando as flores. Elas eram excessivamente laranja, corriam até o risco de serem consideradas feias de tão laranja que eram. Eu não tinha um vaso nem nada parecido, então tirei a escova de dente de dentro do porta-escova de dente e o enchi até a metade com água, deixando as flores lá no banheiro.
Quando voltei para o quarto ouvi vozes, então me sentei na beira da cama por alguns instantes e fiquei escutando a conversa pela porta entreaberta.
Papai: "Então você conheceu a Hazel no Grupo de Apoio."
Augustus: "Foi, sim, senhor. Sua casa é adorável. Gostei muito das pinturas nas paredes."
Mamãe: "Obrigada, Augustus."
Papai: "Então, você também é um sobrevivente?"
Augustus: "Sou. Não cortei fora essa camarada aqui pelo simples prazer de fazer isso, embora seja uma estratégia de perda de peso excelente. Pernas pesam!"
Papai: "E como anda a saúde?"
Augustus: "SEC. Há um ano e dois meses."
Mamãe: "Isso é maravilhoso. As opções de tratamento disponíveis hoje… é realmente impressionante."
Augustus: "Eu sei. Tenho sorte."
Papai: "Você precisa entender que a Hazel ainda está doente"
Augustus: "e que ficará assim para o resto da vida. Ela vai querer acompanhar seu ritmo, mas os pulmões…"
Foi quando apareci, e ele parou de falar.
— Então, aonde é que vocês vão? — mamãe perguntou.
O Augustus ficou em pé e aproximou a boca do ouvido dela, sussurrando a resposta, e depois encostou o indicador nos lábios.
— Shh… — ele disse. — É segredo.
Mamãe sorriu.
— Você está levando o celular? — ela me perguntou.
Mostrei o aparelho para provar que estava, apoiei o carrinho do oxigênio nas rodinhas da frente e comecei a andar. O Augustus se apressou para me alcançar e me ofereceu o braço, que aceitei. Segurei no bíceps dele. Infelizmente ele insistiu em dirigir, para que a surpresa pudesse continuar sendo surpresa. Enquanto pulávamos aos trancos em direção ao nosso destino, falei: — Minha mãe ficou totalmente encantada com você.
— É, e seu pai é fã do Smits, o que ajuda muito. Você acha que eles gostaram de mim?
— Com toda certeza. Mas, quem se importa? Eles são só pais.
— Eles são seus pais — o Augustus falou, olhando de relance para mim. — Além disso, eu gosto de ser gostado. Isso é loucura?
— Bem, você não precisa sair correndo para abrir a porta para mim ou me encher de elogios para que eu goste de você.
Ele pisou bruscamente no freio e eu voei para a frente com tanta violência que meu fôlego ficou esquisito, quase o perdi. Pensei na tomografia. Não se preocupe. Não adianta se preocupar. Mas me preocupei mesmo assim. Fritamos o pneu dando uma arrancada quando o sinal abriu e viramos à esquerda na erroneamente designada Avenida Bela Vista (ela dá vista para um campo de golfe, mas não é nada bela). O único lugar que vinha à minha cabeça naquela direção era o cemitério. O Augustus enfiou a mão no console, abriu um maço cheio de cigarros e tirou um.
— Você nunca joga os cigarros fora? — perguntei.
— Um dos benefícios de não fumar é que os maços duram para sempre — ele respondeu. — Já tenho esse aqui há quase um ano. Alguns cigarros estão rachados perto do filtro, mas acho que esse maço consegue
chegar até meu aniversário de dezoito anos. — Ele segurou o filtro entre os dedos e o colocou na boca.
— Então tá — falou.
— Tá. Liste as coisas que você nunca vê em Indianápolis.
— Humm. Adultos magros — falei.
Ele riu.
— Boa. Continue.
— Humm. Praias. Restaurantes que passam de pai para filho. Relevo.
— Todos excelentes exemplos de coisas que faltam por aqui. E, também, programas culturais.
— Ah, é. Nós ficamos um pouco a desejar no quesito programas culturais — falei, deduzindo, enfim, aonde ele estaria me levando. —Estamos indo ao museu?
— De certa forma.
— Ah, nós vamos àquele parque, e tal?
O Gus pareceu esvaziar.
— É. Nós vamos àquele parque, e tal — falou. — Você já descobriu, não descobriu?
— Humm. Descobri o quê?
— Nada.
Havia um parque atrás do museu onde vários artistas fizeram grandes esculturas. Já tinha ouvido falar dessa instalação, mas nunca a visitara.
Passamos de carro pela porta do museu e estacionamos perto de uma quadra de basquete repleta de arcos de aço enormes, azuis e vermelhos, que simulavam a trajetória de uma bola quicando. Andamos por um caminho que, para os padrões de Indianápolis, é considerado uma ladeira, até chegar a uma clareira onde crianças escalavam a escultura de um esqueleto de proporções gigantescas. Os ossos iam mais ou menos até a altura da cintura e o fêmur era mais comprido que eu. Parecia o desenho, feito por uma criança, de um esqueleto brotando do chão.Meu ombro doía. Fiquei com medo de o câncer ter se espalhado para além dos pulmões. Imaginei meu tumor metastatizando para os ossos, abrindo buracos no meu esqueleto, uma enguia rastejante com intenções perversas.
— "Ossos Maneiros" — o Augustus disse. — Criado por Joep Van Lieshout.
— Parece holandês.
— E é — o Gus falou. — Assim como o Rik Smits. E as tulipas.
O Gus parou no meio da clareira com os ossos bem na nossa frente e tirou a alça da mochila de um dos ombros, e depois do outro. Abriu o fecho e tirou de lá uma toalha cor de laranja, uma garrafa de suco de
laranja e alguns sanduíches de pão de forma sem casca embalados em plástico filme.
— Qual é a desse laranja todo? — perguntei, ainda não querendo me permitir imaginar que tudo aquilo levaria a Amsterdã.
— É a cor nacional da Holanda, obviamente. Você se lembra de Guilherme I, o Príncipe de Orange, e tal?
— Ele não caiu no teste que fiz para conseguir o diploma do ensino médio. — Sorri, tentando conter minha empolgação.
— Vai um sanduíche? — ele perguntou.
— Deixe eu adivinhar... — falei.
— Queijo holandês. E tomate. Os tomates vieram do México. Foi mal.
— Você é sempre tão decepcionante, Augustus. Não podia pelo menos ter comprado tomates cor de laranja?
Ele riu, e nós comemos os sanduíches em silêncio, vendo as crianças brincando na escultura. Eu não podia simplesmente perguntar nada a respeito daquilo, por isso só continuei sentada ali, rodeada de holandesidades, meio constrangida, meio esperançosa.
A distância, banhado pela luz solar imaculada, tão rara e preciosa em nossa cidade natal, um bando de crianças barulhentas fazia um esqueleto de playground, pulando para a frente e para trás entre os ossos protéticos.
— Tem duas coisas que eu adoro nessa escultura — o Augustus disse.
Ele segurava o cigarro apagado entre os dedos, dando batidinhas nele como se descartasse as cinzas. E o colocou de novo na boca. — Em primeiro lugar, a distância entre os ossos é tal que, se você é criança, não consegue resistir à tentação de pular entre eles. Tipo, você simplesmente tem que pular da caixa torácica até o crânio. O que significa que, em segundo lugar, essa escultura essencialmente força as crianças a brincar
nos ossos. As ressonâncias simbólicas são infinitas, Hazel Grace.
— Você gosta mesmo de símbolos — falei, na esperança de conduzir a conversa de volta na direção dos muitos símbolos da Holanda presentes em nosso piquenique.
— Certo. Por falar nisso, você deve estar se perguntando por que está comendo um sanduíche de queijo ruim e bebendo suco de laranja, e por que eu estou usando a camiseta de um holandês que praticava um esporte que eu aprendi a odiar.
— É, isso passou pela minha cabeça — falei.
— Hazel Grace, como várias crianças já fizeram, e digo isso com todo respeito, você gastou seu Desejo precipitadamente, sem se preocupar muito com as consequências. O ceifador a encarava e o medo de morrer ainda carregando o Desejo não concedido em seu bolso proverbial fez com que corresse atrás do primeiro Desejo em que conseguiu pensar, e você, como tantos outros, escolheu os prazeres inexpressivos e artificiais do parque temático.
— Na verdade, eu me diverti muito naquela viagem. Eu conheci o Pateta e a Minn…
— Estou no meio de um monólogo! Eu escrevi isso e decorei, e se você me interromper vou errar tudo — o Augustus me cortou. — Por favor, continue comendo o sanduíche e prestando atenção. — (O sanduíche estava tão seco que não dava nem para morder, mas eu sorri e tirei um pedaço mesmo assim.) — Certo. Onde eu estava?
— Nos prazeres artificiais.
Ele guardou o cigarro no maço.
— Certo. Os prazeres inexpressivos e artificiais do parque temático.
Mas deixe-me ressaltar que os verdadeiros heróis da Fábrica de Desejos são os jovens homens e mulheres que esperam, como Vladimir e Estragon esperam Godot, e como boas moças cristãs esperam o casamento. Esses jovens heróis esperam estoicamente, e sem reclamar, até que seu único e verdadeiro Desejo venha até eles. É certo que talvez o Desejo nunca chegue, mas pelo menos esses jovens podem descansar em paz em seu túmulo sabendo que fizeram sua parte na preservação da integridade do Desejo como um ideal. Porém, pensando bem, talvez seu Desejo vá se revelar, no fim das contas: talvez você perceba que seu único e verdadeiro Desejo é visitar o genial Peter Van Houten em seu exílio amsterdamês, e você ficará feliz, de fato, por ter poupado seu Desejo. O Augustus fez uma pausa longa no discurso, o suficiente para que eu
percebesse que o monólogo tinha chegado ao fim.
— Mas eu não poupei o meu Desejo — falei. — Ah — ele disse. E, então, após o que pareceu ser uma pausa calculada, acrescentou: — Mas eu poupei o meu.
— Sério?
Fiquei surpresa com o fato de o Augustus ser elegível para um Desejo, afinal de contas ele ainda estava estudando e a remissão do câncer dele já durava mais de um ano. Era preciso estar muito doente para que os Gênios lhe concedessem algo.
— Ganhei o meu em troca da perna — ele explicou. Um facho de luz batia no rosto do Gus, de uma forma que o fazia apertar os olhos para me olhar, o nariz enrugando de um jeito adorável. — Bem, eu não vou dar meu Desejo para você nem nada. Mas também tenho interesse em conhecer o Peter Van Houten, e não faria sentido conhecer o homem sem a menina que me apresentou ao livro dele.
— Definitivamente não faria sentido — falei.
— Por isso conversei com os Gênios e eles concordaram em gênero, número e grau. Disseram que Amsterdã fica linda no início de maio. E sugeriram que viajássemos no dia três e voltássemos no dia sete.
— Augustus, isso é sério?
Ele estendeu o braço, tocou minha bochecha e, por um instante, pensei que iria me beijar. Meu corpo todo ficou tenso, e acho que ele percebeu, porque afastou a mão.
— Augustus — falei. — Sério. Você não precisa fazer isso.
— Claro que preciso — ele disse. — Eu encontrei o meu Desejo.
— Cara, você é demais — falei para ele.
— Aposto que diz isso para todos os garotos que bancam viagens internacionais para você — ele retrucou.
Autor(a): pedry
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+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Quando cheguei à minha casa, mamãe estava dobrando minhas roupas lavadas enquanto assistia a um programa de TV chamado The View. Contei para ela que as tulipas, o artista holandês e todo o resto eram porque o Augustus estava usando o Desejo dele para me levar a Amsterdã.— Isso é um exagero — ela disse, balançando a cabe&cc ...
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