Fanfic: " Segue Em Frente " - DyC ❤

Por incrível que pareça eu dormi feito uma pedra, acho que estava tão exausta, que apaguei pouco tempo depois de Christopher sair do quarto
Arrumei-me cuidadosamente na manhã seguinte, coloquei o uniforme passado e lavado que Tia Lia tinha trazido para o quarto em algum momento enquanto eu estava dormindo, prendi a franja para trás e até passei um pouco de maquiagem ( coisa que não fazia desde que minha mãe morrera). Decidi que enquanto morasse aqui não tornaria as coisas constrangedoras para eles e para mim, não deixaria que me vissem chorando e reclamando pelos cantos. Deixaria que pensassem que eu tinha aceitado e até estava feliz aqui. E no final das contas eu faria 18 anos em poucos meses e aí poderia me mandar daqui. Olhei-me uma última vez no espelho e então desci para fingir que tudo estava bem.

~*~

- Lia disse que Dulce tem de ir à escola hoje. – Meu pai falou enquanto enchia uma xícara de café – Sua madrasta antes de sair me deixou a encarregado de ir chamar Dulce se ela não descer. Deus sabe que não estou ansioso para cumprir essa tarefa. Pobre garota, de bom grado deixaria que ela ficasse sem ir à escola o tempo que quisesse. Quando sua mãe morreu deixei que ficasse 1 mês em casa, lembra? Não tinha coragem para mandá-lo para o colégio.

- Eu tinha 6 anos, pai. Era só uma criança...Dulce é mais forte do que todo mundo pensa.

- Ora, ora... Mas você é a cara da sua tia. – Meu pai falou de repente. Eu virei a cabeça para olhar com que ele falava e ali estava ela. Parecia muito melhor do que ontem, até ensaiou um pequeno sorriso para meu pai. Mas não olhou pra mim.

- Sente-se aqui, Dulce. Fico realmente feliz que tenha se juntado a nós.

Ela sentou na cadeira que meu pai indicava de frente para mim.

- Sr., queria agradecer por permitir que eu fique qui por um tempo. É...hum...muito bondade sua.

- Você é minha sobrinha também. Não tem que agradecer por nada. A partir de hoje essa casa também é sua, quero que se sinta a vontade aqui.

- Obrigada...

Meu pai falou muito durante o café da manhã, até fez Dulce rir um pouco com uma piada velha que ele contava a todo mundo. Ninguém poderia dizer que ele não estava tentando fazê-la se sentir bem nessa casa. Eu fiquei calado, tentando me concentrar ao máximo no meu prato e não erguer os olhos para ela. Eu tinha muito fresco na minha mente o que ela tinha dito ontem a noite...

~*~

Quando terminamos o café da manhã, descobri que iria para escola em uma Mercedes dirigida por um motorista. Aquilo foi um choque e eu teria rido alto se o pai de Christopher não estivesse por ali.

Durante o trajeto todo Christopher ficou em silêncio olhando para fora pela janela. Eu disse para ele não ser gentil comigo, parece que levou isso bem a sério. Talvez eu o tenha o assustado ontem com a história de voltar a me apaixonar por ele. Tudo bem, talvez seja melhor assim. Eu falei sério, não seria fácil pra ninguém se nos apaixonássemos de novo. Isso não levaria a lugar nenhum...

Quando chegamos à escola, eu até entrei e fingi me dirigir para minha sala, mas assim que Christopher se separou de mim indo para a própria sala de aula eu voltei a sair pelos grandes portões do colégio. De jeito nenhum iria ficar nesse inferno de lugar aguentando os olhares e comentários maldosos desses riquinhos. Eu tinha planos melhores.

Peguei meu celular e liguei para o único malandro o suficiente para me trazer o que eu estava querendo. Meia hora depois de eu já estar em frente ao cemitério Poncho chegou. Ele ergueu a garrafa de uísque em uma mão e na outra o maço de cigarros. Eu sorri e lhe dei um abraço feliz.

- Doce Dulce, quanto tempo! Achei que tinha esquecido de mim. Que droga garota, isso aí é um uniforme? Cara, que coisa ridícula.

- Acredite, eu também odeio esse negócio. – Respondi enquanto sentávamos escorados na grade do cemitério.

- Não é melhor entrarmos?

- Não, vamos ficar aqui fora. – Eu sabia que se entrássemos eu acabaria indo até oo tumulo da minha mãe e eu não queria ficar completamente bêbada lá. Pareceria mais errado do que já é.

Poncho me olhou por um tempo antes de me passar em silêncio a garrafa de uísque. Ele sabia, eu percebi. Mas não tocou no assunto. É por isso que eu o escolhi para vir aqui, sabia que ele não ficaria dizendo “sinto muito pela sua mãe” e “ você está bem?” a cada cinco minutos.

- Então, só me liga quando quer alguma coisa alcoólica para beber? Estou ofendido.

- É a fama que você tem. Tipo, “ quem quer ficar bêbada? É só ligar para o Poncho”.

Ele riu e acendeu um cigarro.

- Ah, tudo bem. A culpa é minha se não consigo dizer não aos pobres menores de idade que não conseguem bebida sem minha ajuda.

- Você não presta.

- Adoro quando você me xinga. – Ele pegou a garrafa da minha mão e deu um longo gole.

- Idiota

- Assim você rouba meu coração, gata.

Eu ri e ele estourou em uma gargalhada também. Então ficamos ali nessa bobeira a manhã toda. Eu já estava MUITO bêbada quando o sino da igreja ao lado do cemitério bateu meio dia. Minha cabeça estava zonza e eu sabia que se tentasse ficar em pé cairia no chão. Achei que bebendo o vazio que eu sentia no peito talvez passasse, mas não. Piorou. Parecia que havia um buraco negro agora. Deus, eu me sentia péssima.

- Preciso de um café. – Falei com a voz embolada.

- Você está completamente bêbada, não está? – Poncho riu – Não é possível que esse tenha sido seu primeiro porre.

- Acertou. – Respondi fechando os olhos, de repente um sono absurdo me atingiu.

- Mas que diabos...? – Ouvi sua voz alta, quando abri meus olhos ali estava ele. Dois Christophers de pé me encarando. Peraí... Abri bem meus olhos e ele voltou a ser um só. A imagem estava borrada, mas consegui perceber que ele estava irado.