Fanfic: Muito Quente para dormir(adaptada AyA) | Tema: ANAHI E ALFONSO/ AyA

CAPÍTULO XXI

A viagem de ônibus através da cidade foi uma tortura. Anahi
rememorava todos os eventos dos últimos dias em seqüência com as
mensagens deixadas na máquina, procurando por uma explicação diferente da
que deixara um nó em seu estômago. Mas continuava de mãos vazias. As
implicações eram de dar nojo: ela namorava um homem, comunicava-se em
telefonemas de sexo com outro, e fazia sexo real com um terceiro.
Quando foi que sua vida dera aquela virada vergonhosa?
Ela fechou os olhos. Sim, dera aquela virada quando permitira que suas
necessidades físicas passassem por cima de seu bom senso. Uma coisa era
certa, precisava estar com Manuel antes de ele encontrar a pequena nota que
deixara no dia em que fora à casa dele, pedindo-lhe que lhe telefonasse à noite
se quisesse ter um pouco de uma conversinha agradável. Depois disso, daria
um passo de cada vez, acreditando haver um meio de sair da confusão que
criara.
E assim, carregando a caixa com o telefone, desceu do ônibus e andou até
a casa de Manuel. Foi à porta de entrada. Quando viu o jornal de domingo no
degrau, ficou entre o alívio de ele ainda não ter chegado, e o desespero por
suas suspeitas começarem a parecer terrivelmente corretas.
Ela pôs a caixa no chão, remexeu na bolsa mas não encontrou logo a
chave; tinha as mãos trêmulas. Ouviu o som de uma buzina. Quando olhou
para trás ficou gelada. Manuel entrava com seu carro preto no jardim. O bilhete…
Tinha de encontrar o bilhete.
Manuel foi diretamente à garagem, e Anahi, enfim encontrando a chave,
abriu a porta. Esperava chegar no interior da casa antes de Manuel, que viria da
garagem. Mas quando entrou deparou com Manuel a dois passos de distância; e
de certo já vira o bilhete. Anahi pegou-o, de qualquer maneira.
— Bem-vindo de volta ao lar — ela disse com um sorriso.
— Obrigado. — Ele viu o papel nas mãos de Anahi e franziu a testa. — O
que é isso? — perguntou.
— Isso o quê?
— Esse papel que você acabou de agarrar.
— Oh, não é nada. Apenas uma nota que deixei aqui no outro dia quando
vim apanhar os jornais.
— Oh, então recebeu meus recados?
— Ahn… Sim. Sim, recebi.
— Eu começava a pensar que houvesse algo errado com seu telefone
novo, pois nunca a encontrava em casa.
Nada de errado com meu telefone, apenas comigo, ela pensou. Anahi
esperara ter uma luz de alegria, de excitação, ao ver Manuel, mas estava
meramente… triste. Triste porque ela e Manuel mantinham uma distância física e
emocional que não parecia capaz de uma abertura. Talvez nenhum dos dois
tivesse culpa, apenas não eram compatíveis em grau de intensidade. Nos
últimos dias que se passaram depois da última vez em que vira Manuel, ela
mudara muito, aprendera coisas que alarmariam e provavelmente
aborreceriam uma pessoa plácida e sem arroubos de paixão como Manuel Velasco.
Contudo, ainda devia a ele algum tipo de explicação.
72
— Algo errado? — Manuel perguntou. — Você parece… preocupada.
— Manuel, precisamos conversar.
— Por causa do casamento de Maite e Neil?
O jornal que Anahi apanhara no degrau da escada estava sobre a mesa,
com a notícia bem em evidência: Guarda local salva festa de casamento. Na
foto via-se o oficial Alfonso Herrera erguendo uma cadeira e com ela atingindo na
cabeça o homem louco, quando este ainda tinha uma faca na mão. Na outra
foto Alfonso algemava o homem. Anahi suspirou. Estaria ela destinada a ter de
se lembrar do caso a todo instante?
— Sim — disse Anahi. — Houve uma grande confusão, mas tudo acabou
bem. Por sinal foi seu amigo, Alfonso Herrera, quem salvou o dia.
— Meu amigo?
— Sim, o oficial Alfonso Herrera. Você o conhece, o oficial da academia de
ginástica. Encontrei-me com ele várias vezes nos últimos dias.
— Você está vermelha, Anahi. Tem isso a ver com o oficial?
— Bem… — Ela tentou apertar as mãos para disfarçar o nervosismo.
— Anahi!
A expressão de Manuel era um misto de fúria e pânico. E ele disse, irritado:
— Não gosto que ninguém fique bisbilhotando sobre mim nas minhas
costas.
— Mas eu não estava…
— Não conheço ninguém de nome Alfonso Herrera, e também não conheço
nenhum militar desta cidade.
— Mas ele disse…
— Cometi um erro certa vez, mas paguei pelo que fiz.
Anahi deu um passo atrás, assustada com o rumo que a conversa
tomara. Manuel tinha ficha na polícia?
— Por que não me contou? — ela lhe perguntou, com toda a calma que
conseguira ter.
— Porque você não tem nada a ver com meu passado. Foi uma estúpida
acusação de desfalque, alguns milhares de dólares de dívidas. O que significa
isso para você?
Anahi sentiu-se como uma idiota. Manuel não tinha intenção de estreitar o
relacionamento com ela, e, bem no íntimo, Anahi soubera disso desde o
início. Continuara com ele porque Manuel lhe dava segurança. Era o tipo de
homem que, ela pensou, lhe garantiria o mais estável dos lares. Alguém que…
resolveria todos os seus problemas?
— Você tem razão, Manuel, sua vida não é de minha conta. Vou-me embora
já.
— Anahi, espere. Desculpe-me por ter falado com você dessa maneira.
— Ele suspirou. — Mas as coisas não estão indo bem entre nós, não acha?
— Acho — ela concordou.
— Contudo, você é uma pessoa tão maravilhosa!
— Obrigada, Manuel. Digo o mesmo sobre você.
— Eu apreciaria muito se não falasse nada acerca da confusão que criei
em Ohio.
Anahi fitou-o e se perguntou o que um dia vira nele.
— Não direi nada a ninguém, pode ficar sossegado.
Ela colocou a chave da porta sobre a mesa e saiu, quase tropeçando na